CONTOS ESQUIZÓIDES
(Sofia Santelly Show)
#1 – MENSTRUAÇÃO FAZ BEM OU MAL
À SAÚDE?
— Amanheci assim, com vontade de
falar de meus devaneios e memórias, e, desde já admito... Estou em crise, e
pergunto:
O que é capaz de me inspirar? O
que é capaz de me contaminar? O que (ou quem) conspira contra mim? Quando a
ameaça vem de fora é ruim... Pior mesmo é quando vem de dentro (do meu útero,
por exemplo), algo assim, volumoso, doidivano, com disposição para fazer de mim
o que bem quer, com agilidade para fazer e acontecer... A vitima? Eu mesma...
Sofia Santelly.
Ainda ontem, voltando das compras
quase enlouqueci, tomei um escorregão daqueles!
Minhas sacolas caíram no chão, foi
só laranja que rolou! Tentaram me ajudar, foi um dantesco corre-corre danado,
catei laranja daqui, catei laranja de lá, xinguei até ficar vermelha,
desfaleci, sentei no chão e berrei como uma cabrita tratei mal a um transeunte
que quis me entregar algumas laranjas que conseguiu resgatar em meio a toda
aquela confusão... Quem mandou ele falar comigo?
Fiquei ali, parada por cinqüenta e
sete minutos, nervosa, zonza, confusa... Depois, mais serena, fui para casa,
não sem antes picar o pé na sacola.
Aqui estou, em meu barraco, de
barbeador em punho, quero acertar as contas comigo, de hoje não passa!
Quero extrair de mim, à força,
esses horríveis pêlos indesejáveis... Que o processo seja no estilo tosquia de
ovelha felpuda, sei que não sou desse naipe, estou mais para corvo ou gralha...
Nem tantos pêlos assim eu tenho, é
que sou meio exagerada. Minhas tendências obscuras precisam ser extirpadas,
quero tosquiá-las, arrancá-las de mim (estou viajando na maionese)...
Bem, existem alguns problemas...
Primeiro, elas não me abandonarão com uma simples depenada... Segundo,
tendências, digo, pêlos nascem novamente... Que vou fazer? (Uma faca é
avistada... De posse dela a jovem destrambelhada retorna à cena do possível
crime).
Agora não tem jeito eu tô numa
cilada... Só tenho eu por mim (contra mim) e mais nada, huuummm... Eu quero
morrer como eu quero! (só parafraseando o grupo oitentista Kid Abelha para
tomar coragem)... Vou arrancar minha própria pele! Vou desfigurar meu corpo! (O
barbeador é lançado ao chão repentinamente, com força, já não serve mais para
consumar o ato masoquista e selvagem, a faca é a opção escolhida) mas, eis que
surge um momento de hesitação:
O que é que eu tô fazendo? Por um
instante quase ponho tudo a perder! Esse meu rostinho lindo, de miss, precisa
ser preservado! Tudo bem que em meu dia-a-dia uso diversas máscaras, tenho
muitas personalidades, cada uma mais charmosa que a outra, sem elas fica
difícil dar meus shows shakespereanos... Fica difícil me deitar no divã com
Freud... Como poderei representar Jackyl & Hide ou Rapunzel assim?Como ser
Hitler ou dar uma de Madre Teresa de Calcutá? Não é fácil ser quem eu sou... Só
eu sei a delicia e a dor de ser assim, versátil...
Todo mês é assim, a mesma coisa!
Minha depressão aflora; meu lado senhora se esvai quando estou de TPM, meu lado
Aristóteles se transforma em Nietzsche, fico menos serena...
(Após um rápido corre-corre Sofia
finalmente encontrou seu absorvente, e a tão preciosa paz voltou àquele lar).
Lenta e escarlate conclusão:
— Em tempos de sangria fico mais
convulsiva, fico doida mesmo, quando tô nervosa atiro primeiro e pergunto
depois.
Onde foi que eu deixei o meu
absorvente mesmo? Não consigo encontrá-lo!Sem ele eu fico pelada e sem rumo, o
que é que eu vou fazer?
Acho que minha menstruação
desceu...
(Após um rápido corre-corre ela
encontrou novamente o seu absorvente, e a tão preciosa paz voltou àquele lar).
Ela estava mais lúcida agora, antes não estava
conseguindo nem pensar direito, continuou, porém a dialogar consigo mesma:
— Que dia é hoje mesmo? Dois de
novembro... Dia dos mortos segundo os religiosos... (Alguém muito importante
para mim nasceu nessa data, mas, não consigo me lembrar quem é, quer saber? Que
se dane, tanto faz), se bem que é muita coincidência, eu tinha que menstruar
logo hoje?
Em determinados dias costumo amanhecer poeta,
hoje fiquei com vontade de acabar com tudo, de enfiar o pé na jaca, logo eu,
que sou tão doce e meiga!
Não gosto de cemitério, não gosto
de flores, não gosto de defuntos, não gosto desse negócio de céu, purgatório ou
inferno... Eu mereço! Eu aqui, toda calminha e pronto, sempre surge alguma
coisa para me tirar do sério!
Eu tinha que pensar em defuntos
logo hoje? Nesse mato tem Carcará! (Depois de confabular consigo mesma e
descobrir que não havia nada de anormal em seu lar, exceto ela mesma, deu
vários berros, rodopiou, caiu no chão e bateu a cabeça na parede, desmaiando
desengonçadamente a seguir – só assim deu sossego a si mesma).
Ter uma crise atrás da outra não é
para qualquer mulher não!
C 02 – VOCÊ GOSTA DE GALINHA CAIPIRA? (Este
conto foi unificado ao de 03, ambos agora fazem parte do conto 112)
Sou mesmo uma boba...
Às vezes tenho vontade de pensar
errado, de falar errado, de agir como se eu fosse um bicho da roça, esquecer
meu lado society, que sou quase formada (tenho uma honra sétima série do ensino
fundamental.)...
Sou cheia de cultura, o esperma da
sabedoria está dentro de mim, não estou para cochinha ou quibe, estou mais para
scargot e caviar...
Comigo ninguém pode...
Decidi usar minha imaginação e
vivenciar as coisas do campo, deu até vontade de comer capim comum e dar um
beijo na boca de uma égua magrela, isso me dá sempre vontade de comer peixe
(quem sabe um Pintado, um Pacu ou um Pirarucu? Pode ser... Tanto faz).
Senti vontade de escrever e falar
errado...
Se for assim, vamos nessa então:
Caipirage inté qui é bão... Qui
tal bebê cachaça e cuspí bem grosso nu chão?Qui tar coçar a periquita cum a
ponta dum facão? Fumá? Só si fô cigarru di paia, e o fumo tem qui sê ruliço e
cheiroso. Êta nóis! Tô com umas coisas garradas na guela... Cumi farofa demais.
Caipira muié também mija sangue,
nóis usa é umas tira de pano limpinho pra sigurá as sangria... Minhas podre ignorânça
só levanta nessas ocasião... Êta ferro! Qui trem chato sô! Larga deu nojeira!Sô
pobre, mas, sô limpinha, num gosto di sujera em excessu...
Sou apaixonada pur criação, meu
leitão é minha paixão, só num gosto dus bichos- de- pé... Si bem qui as coceira
é inté gostosa!
Num gosto é di carrapatu, catá eles é inté
fácil, difícil é istralá eles nus dente... Agora eu vô drumi, o jumento do meu
vizinho tá me esperando pra modi nóis fazê uns trem gostoso...
Ensopado de piranha inclusive, dá
pra nóis, dispois, inté brincá di pescá Truta e cumê umas coisa cremosa
misturadas com uns trem macio e uns trens duro.Óia sê e fazê qui nem eu é uma
diliça, ocês num acha?
C 03 – VOCÊ GOSTA DE GALINHA CAIPIRA? (Este
conto foi unificado ao de 02, ambos agora fazem parte do conto 112)
Mês de junho e julho... Época de
inverno, de festas, de canjica, fogueira e quentão uai!Não tem jeito não, meu
lado caipira aflorou uma vez mais:
Gosto di dançá quadrilha, é danado
de bão! Aprecio o frio batendo nas minhas coisa, mas, ando percisando apará os
cabelo do suvaco e da perseguida... Tô com as unhas rachada...Das frieiras já
cuidei, o povo fala muito... Gostu de galinhas e pacas, na panela de pressão de
preferência...
Não sô muito religiosa, mas, toda
vez que vou às festa junina da vila onde moro acabo sempre ficando com os
bichos jovens, que ficam fantasiados de padres, uns peixim bunito, nóis brinca
do tipo Namorado... É que dá vontade de vê o que é qui tem debaixo daquelas
batina que eles usa.
Gostu muito de caldo, bebu vários,
bem apimentados! Sou apaixonada com eles! É cada mandiocão que eu vejo... Dá
umas ziguezira nas entranha!
Arremato as noitadas cum muito
quentão, dá uma suadeira dentru da carcinha qui é uma diliça!
A prosa tá boa, mas, vô me
retirar, já é hora de drumi... Não tenho marido, mas, tô ajeitada com um
espantalho que fiz... Gostu muito de abraçá-lo, principalmente quando ele
incosta aquele sabugão de milho ni mim, inté riviro os zói...
E pru falá em cumida, óia eu aí de
novo me lembrando dos pe(s) cadores e de suas vara enorme e dus peixão qui eles
traça, óia só a lista grandona qui fiz dos danado:
Surubim, Bicuda, Barbado,
Cachorra, Pacamum, Mantrixã, Piapara, Piraputunga, Trairão, Truta arco-íris,
Bijupirá, Caranha, Cavala, Pampo, Pirapema e Xaréu... Sabe qui é qui acontece
cumigo? Quandu falu ou façu umas peixada cuns parcero meu, nóis brinca de
apelidá uns aos outro dessa nomaiada toda... Inté batizamo umas coisas íntima
qui nóis faiz com us nome dus bichu; nóis ri até inquanto faiz uns trem moiado
na cama, na rede, na varanda, inté nas barraca ou nas casinha de sapé...
Inté mais vê!
C 04 – SUA VAIDADE É EXCESSIVAMENTE NOJENTA?
Não me levem a mal... Eu me amo
demais, reservo mim as primícias, sou exagerada na distribuição dos meus afetos
por mim... Se eu não me amasse tanto assim como poderia gostar dos outros?
Sim... Eu também sei filosofar!
Eu não me idolatro, só não vou
fingir que não penso em esculpir uma imagem de mim mesma para que eu fique a me
venerar, gosto de me admirar, sou vaidosa sim, sou, como dizia Parmênides (o
filósofo grego) a medida de todas as coisas... Seria uma idiotice desperdiçar
tanta formosura.
Lembro-me de quando comprei um
espelho grande, oval, cheio de detalhes exóticos, um luxo!
Quando ele chegou nem acreditei, fiquei horas
estudando todos os meus ângulos, mas, minha alegria durou pouco, uma pedra,
vinda não sei de onde, atravessou a janela e detonou meu precioso espelho! Que
tragédia!
Descabelei-me toda, corri até a
rua, mas não vi ninguém, sentei no meio-fio e desandei chorar – fiquei
cinqüenta e sete minutos em estado de choque, na seqüência fui até a casa da
minha vizinha, dona Andróbia, expliquei o que houve, pedi que arrumasse a
bagunça na minha casa e, assim que lhe entreguei as chaves saí sem rumo pelas
ruas da vila Fogaréu, onde moro, um lugar muito doido...
Dias depois comprei um outro
espelho, dessa vez bem mais simples do que o outro não, não foi a minha vaidade
que se acomodou, foi meu dinheiro, que encurtou, e, além do mais não posso
deixar de retocar minha maquiagem, e tem mais, ainda não consegui deixar de
jogar beijinhos para mim – esse meu espelho é mesmo lindo!
C 05 – CERTAS FALSIDADES SE
EXTENDEM ÀS MANICURES?
Falsidade é como vidro lapidado,
pode até parecer diamante, mas, tem pouquíssimo valor real – quis fazer uma
média com um namoradinho meu e me dei mal, ele me pediu para ir com ele até sua
casa, queria me apresentar sua mãe, eu, fingi do gostar da idéia, concordei (só
por concordar), eu não queria ir, mas ele disse:
— Então tá (tirou as mãos de
dentro de mim e me fez largar o cigarro que eu estava segurando dele). Limpei
meus lábios com uma toalhinha que ele tirou do porta-luvas do seu carro, um
Chevette 77; ele penteou seu cabelo e devolveu minha blusa de frio e minha
calcinha amarrotada, que estava jogada no banco traseiro daquela furreca
amarela.
Seguimos então em direção à casa
da velha, digo, da mãe dele.
No caminho ele me disse coisas
lindas, estava até pensando em se casar comigo (é ruim heim?!). Eu, por via das
dúvidas, pedi a ele que me desse logo o meu dinheiro (não, eu não estava
fazendo programa, é que ele já estava mesmo me devendo uma grana a um tempão,
sou muito esquecida e não quis me arriscar).
Chegando lá, cinqüenta e sete
minutos depois, descemos, ele foi à frente, para abrir a porta, e adentrou no
velho barracão, chamando por sua mamãe, virou-se para mim e disse que eu
ficasse à vontade, que já-já voltaria... Não me fiz de rogada, peguei um CD,
liguei o som e comecei a ouvir uma música qualquer, enquanto analisava o
conteúdo da sala (poderia haver ali alguma coisa para afanar, digo, afagar, não
é mesmo?).
Fiquei toda arrepiada quando ele
trouxe a coroa pela mão, ela também ficou branca que nem cera, tonteou quando
me viu, respirou fundo, e numa fração de segundos já estava com as unhas
cravadas na minha garganta, já foi logo berrando:
— Mundo pequeno em sua vagabunda!
Paga! Paga agora o que você ficou me devendo lá no salão de beleza! Sua cadela
sem-vergonha!
Eu rolei com ela pelo chão e disse que não
tinha dinheiro suficiente para quitar tudo, pois estava desempregada...
O rapaz, sem entender nada, e
desesperado, tentava nos separar; consegui sair debaixo dela e desci ladeira
abaixo, entre correndo e rolando, e sumi na primeira esquina.
Ficar devendo não é fácil,
principalmente para manicuras com memória de elefante!
C 06 – VOCÊ FICA DOIDO QUANDO
BEBE?
(Os “provérbios” de Sofia,
alcoolizada) ou (Em prol da Neurose Filosófica)
De gole em gole, de torresmo em
torresmo, Sofia quando fica embriagada sabe ser verborrágica, digo, filosófica
como ninguém.
Vejamos algumas pérolas de sua
mente brilhante...
1 – Se alguém fizer feito foi, se
ninguém fizer ninguém que há de vir.
2 – Se tiver que ser... Cereja!
3 – As substituições intuem
diferenças entre si mesmas.
4 – O que não foi superado,
superstição ainda é, e será enquanto for assim.
5 – Tudo posso se alguém me
empresta... Tudo devo, e um pouco mais, por causa disso.
6 – Se doer é porque houve dor.
Paranóias sem céu e sem véu!
Trevas! Escarcéu! Pobres formas foscas! Pobres formas tortas! Minhas lamas e
minhas alvinegras banhas! Podre é o meu pensar! Podre é o meu andar, algo assim
rastejante... Sabe o que é? Acordei de mau humor...
7 – Podres ignorâncias! Podres
tardes de sábado! Podres noites de sexta! Podres nóias!
8 – Sou patologicamente saudável,
sou organicamente úmida e única, sei representar muito bem!sou algo assim
esquizóide... Razões aristotélicas... Saliva e gazes.
9 – Finalmente triunfei, aqui
estou, poderosa e descartável – quem sou? Meu nome é Sofia, qual é minha
função? Filosofar! Sou assim, doidivana, mas sou intestinalmente sábia.
10 – Se conseqüências houver é
porque algo ocorreu – ou deu certo ou deu errado.
11– Desde quando haverá se não
houver quem possa?
12 – Nunca é tarde para que nunca
seja!
13 – Antes tarde do que nunca,
antes torto que rasgado, antes faltar um pedaço do que nada ter! Se nunca mais,
sinuca antes!
14– Desde sempre pouco se soube,
desde nunca muito pouco é sempre muito, se há ignorância é porque há mesmo!
15 – Nem todo pretexto procede,
nem todo contexto condiz.
16 – Se utopias houver,
ornamentadas ficarão as ilusões... Se a mente entorpecida ficar, mentiras e
tremores hão de se juntar à meleca resultante.
17 – Se óbvio for é porque tinha
que ser mesmo, algo assim pálido e sem consistências maiores, mas, ainda assim
verdadeiro.
18 – Andai com os bons e serás um
gostoso!
19 – Se estiver podre, perfumado
como talco há de deixar de estar...
20 – Andai com os porcos se
quiserdes, mas, não terás direito à toalha e sabão.
21 – Uva-passa, desaforo não.
22 –Toco torto e fosco toca fogo
em foca tonta, mesmo se a touca for pouca e frouxa; não haverá salvação.
23 – Tudo o que já me deram podem
não ter para me da outra vez.
24 – Nem tudo o que reluz seduz,
nem ao âmago conduz.
25 – Dai-me, se me deres terei, se
não me deres, tomarei.
26 – Se assim for, que seja... Que
esteja por ai, sem peleja, que pelo menos sertanejo não.
27 – Alguns mais do que outros,
são menos do que imaginam ser, outros são mais do que gostariam.
28 – Uma vez nunca poderá ser
duas, se duas houver, três é que não será.
29 – Se houver gritos é porque não
houve falas, se houver sussurro é porque assim se quis.
30 - Uma vez mais poderá ser, quer
seja bem menos, ou mais.
31 – Nada do que for será? E se
vier a ser do mesmo jeito? Não será isto, mas, aquilo, grilo ou um felpudo e
esquisito esquilo.
32 – Se não houver um caminho
rasgue um por sua conta e risco, se quiser furar outro, que fure!
ser
toupeira compete a cada um.
33 – Tudo é frágil, mas, nem tudo
é, ser ou não ser – ser assim compete ao Parmênides interior de cada um.
34 – Se do que digo nada sei, tu,
com certeza, também não sabes.
35 – Se deu certo é porque alguém
se deixou seduzir.
36 – Caso vejas... Observe então.
37 – Toda marcha pressupõe dois
pés, mas, pode ser que se seja perneta, ai não será marcha, mas, racha!
38 – Deslocamentos podem
acontecer, mas, se houver avanço prossiga.
39 – Se há cicatriz é porque houve
a intenção antes da queda do facão, mas, nem sempre.
40 – Não nego, mas, insisto.
41 – Tentar sempre não é a sua
única opção – desistir também.
42 – Quem nada quer nada terá, ou
melhor, terá tudo... De muito nada.
43 – Doa a quem doer, caso sangres
vais gritar.
44 – Se estiveres com sono, durma
um pouco, caso haja sede, beba, caso tenhas fome, coma, caso contrário vai
dormir.
45 – Que eu aborreça os outros
antes que façam o mesmo comigo! Detesto cabeças de bagres; peixe que muito
esperneia a gente corta a cabeça e come o rabo!sou curta e grossa, comigo ou
vai ou racha!
46 – Caso vejas um cobrador,
fujas.
47– Pra sempre é tempo demais,
porém, é algo assim, que pode ser muito diante do que pode ser menor.
48 – ontem, hoje, amanhã... Quanta
coisa em prol do tempo! Que tanto pode ser ou não, se o relógio não parar!
49 – Pra mim todo mundo é um Zé;
pois é...
50 – Amortecedores verbais? Não
mesmo!não lido com palavrinhas, só com palavrões, isso ajuda a colocar cada um
no seu devido lugar! Sai pra lá totó!
51 – Se eu conversar com alguém
exigindo um não significa que estou tento sucesso em minhas manipulações, não
importa; de todo jeito farei o barco navegar a meu favor...
Se não der certo basta afundá-lo!
É preciso conduzira mente alheia em meu próprio beneficio, não importa o
artifício,para mim nada é difícil, principalmente se eu usar a lei da opressão
e da intimidação a meu favor, seja de que jeito for!
52 – Pra que eu não sofra...
Alcachofra! Pra que eu não morra... Borra!
C 07 – VOCÊ É UMA PIRIGUETE DO
TIPO “SANTA DO PAU OCO”?
Minha carne às vezes é creme, às
vezes é crime, suor, emoção... Sacramento ou profanação; existo, não nego,
desapareço quando puder...
Tudo isso depende do dia e também
da ocasião... Coisas do meu falho coração.
Tem dia que minha carne é lama,
tem dia que é bacana, tem dia que não passo de uma banana...
Às vezes se sujar faz bem, não é o
que diz certa propaganda de sabão em pó? Às vezes me sinto um doce, as vezes um
pavê estragado, o que tenho não me basta, as vezes cobiço ao que a mim deveria
pertencer, odeio dividir, sou egoísta sim...
Se eu não puder ter algo planejo
tomar à força, e se não conseguir aprecio a idéia de um incendiozinho básico...
Não gosto de deixar evidências de meus fracassos.
Quer saber? Preciso controlar
certas iniqüidades, afinal sou uma pessoa boa, pelo menos teoricamente, se eu
perder a pouca moral que eu tenho estou perdida...
Que eu reflita, que eu pense mais
em Deus, que eu use mais meus olhos da Fé, onde anda o meu amor ao próximo?
Preciso controlar as minhas ilusões e malícias... A quantas andam minhas
emoções? Um dia desses ouvi em uníssono, de um padre e de um pastor:
— Contenha-se Sofia, que de Santa
só tem o nome, ou você vai acabar colhendo os destroços do vendaval divino, se
conseguir sobreviver a ele (hei! Por acaso isso é uma ameaça? Não vem me
oprimindo não heim?); palavras condenatórias sempre me chegam aos ouvidos, e
nem sempre me importo, só sei que me basta assumir (bem resumidamente) o que
faço, o resto se vê depois...
Belas palavras, só que eu sou tão
safada que vivo passando a perna até em mim mesma, finjo que não é comigo,
desconverso, e, quando me assusto, já fiz o que deveria ter evitado, é foca!
Tudo isso me lembrou Schopenhauer,
um filósofo alemão, ele, em seu livro O mundo como vontade e representação não
deixa dúvidas, não deixa pedra sobre pedra, parafraseando-o digo:
Sou fruto do que quero; tudo que
faço é consciente (se bem que Freud diz que é o subconsciente (ou inconsciente)
quem a tudo comanda... Quer sabe? Não acredito muito nisso não, pelo menos no
meu caso, tudo o que faço é cem por cento consciente... E ai? Quem tem
razão?)...
Vivo traçando planos, com
princípio, meio, rota de fuga e fim...
Só sei de uma coisa:
Se eu não tomar jeito vão acabar
me colocando dentro de uma jaula, e com certeza não mereço isso, borboletas
devem viver soltas, pousando de pau em pau, digo, de galho em galho, ou melhor:
De flor em flor.
C 08 – THOR E SOFIA JUNTOS NUMA
MESMA DESGRAÇA? COMO ASSIM?
Noutro dia estava eu na fila do
banco, pronta, disposta a esperar a minha vez, que já estava chegando, eis que
um velhinho chegou e se posicionou bem à frente do primeiro da fila, querendo
ser atendido, o jovem, impaciente, disse que o vovô deveria pegar a fila, como
todo mundo; no mesmo instante me subiu um fogaréu na rota calcinha-coração, e
me envolvi na peleja como um guerreiro nórdico, do tipo Thor, o deus do
trovão... Aos berros fiz que o pirralho
entende-se que ele estava errado, e que o idoso tinha prioridade, não só
existencial, mas, também legal, jurídica.
O rapaz, num misto de vergonha e
raiva, me mandou para os quintos dos infernos e foi-se embora, indignado, todos
ficaram boquiabertos, mas, e daí?
Às vezes eu preciso praticar meu
pacifismo, nem que seja aos berros!
Toda satisfeita por ter colocado
para fora meu lado super-heroina aguardei minha vez, eu sabia que as pessoas
estavam me admirando, quase pude sentir a capa vermelha tremulando em minhas
costas (morra de inveja Super-Homem), passei, a mão por meu imaginário martelo
encantado e me dirigi até o caixa, minha vez chegou finalmente. Mal sabia eu o
que me aguardava na saída...
Saí contando meu lindo dinheiro,
descontraída e satisfeita, mas, repentinamente fui surpreendida por um grito de
ódio, e quando dei por mim já estava no chão me engalfinhando com o rapaz que
humilhei dentro do banco (possesso ele mais parecia o vingativo deus do mal,
Loki, meio-irmão de Thor), clamei pela ajuda de Odin, o deus dos deuses...
Imediatamente senti minhas forças
voltarem, enfiei a mão na cara do meu inimigo, que caiu para o lado, fiquei de
pé, cerrei o punho, disposta a quebrar os dentes dele, com a outra mão peguei
minha bolsa e a girei no ar (fiz dela o meu martelo invencível e disparei); a
danada da bolseta foi parar no meio das pernas do meu opositor, que deu um
berro de dor, revirou os olhos e caiu no chão, tremendo e babando como um cão
recém castrado venci a indesejada batalha, fui aclamada pela multidão que tudo
tinha visto...
Os Guerreiros de Asgard, digo, a
policia, veio e grampeou o safado, tive que ir à delegacia também para prestar
depoimentos.
Meu pacifismo é assim mesmo, se
fez valer mesmo em meio às trevas, à custa de muita pancadaria.
C 09 – VOCÊ ASSUME QUE
DISSIMULA QUEM DIZ SER DE FATO?
Passeava eu pela Avenida Afonso
Pena (lá pelas bandas de Belo Horizonte), toda gostosa e bem arrumada...
Estava com um top ultra rosa e uma
mini - saia de listras verdes e vermelhas, um sapatinho básico, tipo Xuxa vem
que vem, e meias de bolinhas roxas...
Um charme só.
Deixei meu sutiã em casa (também
com os melões que tenho nem preciso deles), estava sem calcinha (que é pra não
machucar a ordinária) e com uma bolsinha porta-tudo debaixo do sobaco...
Meu destino?
Estava a caminho da zona, não ia
rodar minha bolsetita na Praça Sete e nem nas imediações da Rodoviária,
pretendia mesmo era ver um daqueles filmes de qualidade duvidosa, para
relembrar como é que se faz o que há muito tempo não faço (engatar uma ré, se é
que vocês me entendem), há muitos cinemas classe B por ali, pra mim que, sou
uma excelente desclassificada, o ambiente lá é até acolhedor.
Eu só não contava com um
imprevisto, um não, vários; primeiro, quanto mais eu avançava mais era
observada (as pessoas estavam me admirando ou me depreciando?)...
Acho que estavam é me confundindo
com alguma celebridade, alguns até me perguntaram quanto era um programa, e eu
disse que estavam enganados, eu não faço nenhum programa televisivo, só
faltaram me pedir autógrafos...
E por falar em pedir teve um
mendigo que me pediu uns trocados, é claro que eu não dei afinal eu tinha um
sessão de cinema para assistir.
Novos problemas ocorreram depois
disso, quase que instantaneamente, o tal mendigo bateu minha bolsinha e se
mandou, sai correndo atrás dele, quem nem uma desesperada, gritando pega
ladrão, digo, pega mendigo...
Corri e berrei até cair (sim, eu
cai), um comparsa do safado maltrapilho colocou seu pé (com unhas grandes,
rachadas, fedorentas e pretas) bem no meu caminho, cai em cima de uma barraca
de frutas e foi só banana e goiaba que voaram...
O camelô me deu uma gravata
achando que eu estava tentando lhe roubar, uma velhinha me deu uma cutucada com
a ponta fincuda de sua sombrinha (tipo aquela do inimigo do Batman, que não é o
Duas - Caras e sim, o Pingüim).
O final dessa história? Fácil, não
vi meu filminho básico, e ainda fiquei presa por sete horas, por tentar roubar
bananas, nas imediações do baixo meretrício belo-horizontino...
C 10 – VOCÊ É ESTÚPIDO(A) O
BASTANTE AO PONTO DE PENSAR QUE É MAIS INTELIGENTE QUE OS OUTROS?
(ALGUMAS MANEIRAS PARA SE VIVER
BEM EM MINAS GERAIS )
Uma das coisas mais importantes
para Sofia é a comunicação, especial é o jeito que ela tem de pensar e falar,
seu cérebro é uma bomba!
E ela, acreditando que o que
disser de negativo influenciará no resultado dos fatos, de forma positiva,
decidiu elaborar, cuidadosamente, algumas maneiras para que cada um consiga
viver se bem consigo mesmo.
O importante é ser feliz! Ela não aceita
humilhações, por isso não leva desaforos para casa, acha que guardar rancores
só faz mal, por isso põe suas coisas para fora.
Achando que os seus conselhos
poderiam ser úteis a alguém ela resolveu registra-los, por escrito:
1 – Que eu use palavras como
não... Mas... Talvez e nunca. Negar e relativizar também tudo pode me tirar de
grandes confusões!
2 – Que eu use o verbo ser no
lugar de ter, por exemplo:
Sou preguiçosa, no lugar de estou
preguiçosa... É que a gente deve admitir o que se é de fato!
3 – Que eu substitua a frase isso
ou aquilo dará certo por espero que dê certo ou não vai dar certo, afinal quase
nunca dá mesmo.
E mais, se acabar dando certo
ficarei surpresa, pois, é legal receber o que não se esperava que viesse... Não
dando certo poderei dizer então:
Eu sabia que não daria certo
mesmo, isso é bem melhor do que ficar ansiosa à toa!
4 – Que eu diga estou nervosa! Se
eu disser que estou calma poderão se aproveitar de mim, dizendo que sou brava
as pessoas pensarão mil vezes antes de me encher a paciência latir às vezes;
espanta gente mal intencionada, mas, se for preciso, eu mordo também!
5 – Que eu diga como sou
ignorante! Assim fazendo poderei deixas as pessoas à vontade, isso fará com que
muitos mostrem as suas garras – ai eu descubro no ato quem é amigo ou inimigo.
Tem gente que é exibicionista e gosta de aparecer, e é ai que eu arrebento a
sapucaia, colocando os folgados pra correr!
6 – Que eu não tenha objetivos na
vida, é bom ser como o peixe, que só nada, o que vier eu traço! A vida tem que
ser misteriosa, sem essa de pensar no amanhã, meu negócio é com o agora, viver
a vida, instante a instante, é bem melhor!
C 11 – SOFIA TEM A ILUSÃO DE
CHEGAR À PRESIDÊNCIA DO QUÊ?
No dia em que eu for presidente(a)
(pode ser de qualquer coisa, dos vendedores de caixa de fósforos artesanais,
por exemplo), emitirei decretos que terão os seguintes enunciados:
1 – Fica decretado que toda mulher
deve ser chamada de senhora para o deleite do público GLSBT, pois todos os
sexos, inclusive os quase femininos são o que são, e ponto final.
2 – Fica decretada a entrada
gratuita em sítios, fazendas, forrós, cinemas, boates, puteiros e pardieiros de
qualquer ordem, com permissão de usufruto liberado do conteúdo integral desses
recintos (desde que haja algum evento programado, churrascos, shows, etc, que
impliquem em pagamento de entradas, que serão desconsideradas, como ficou
estabelecido no início da frase).
3 – Fica decretado que toda mulher
poderá ser o que quiser na vida, inclusive ser sapatona, com direito a usar o
tipo de sapato que quiser; inclusive os da moda, com concessão gratuita deste
governo, através da arrecadação mensal de valores a serem estipulados numa
ocasião oportuna...
Afinal precisamos nos solidarizar
com aquelas que têm pés grandes...
4 – Fica decretado que todas as
mulheres poderão dormir até meio-dia, ou mais. Todos os dias... Depois de ter
dado muito o que elas acharem que devem dar, por traz ou não.
5 – Fica decretado que viverão a
pão de ló e caviar, recebendo na boca, se quiserem tais petiscos, da parte de
seus maridos ou amantes (caso tenham).
6 – Fica decretado que não mais menstruarão,
exceto quando quiserem (é que algumas se sentem mais fêmeas assim).
7 – Fica decretado que farão uso
de salões de beleza quantas vezes quiserem no mês, com direito a cabelo
escovado, maquiagem, manicura e pedicura grátis, pagos pelo governo.
8 – Fica decretado que quem arcará
com todos os gastos acima serão os homens de todo tipos, raça, cor, credo ou
condição sexual, econômica e política... Gente da Terra ou de outra dimensão;
isso me é indiferente, o que me importa é deverão pagar a coisa em si.
Que os dito cujos acima se danem, que se virem
e consigam dinheiro do modo que bem entenderem se não o coro vai comer!
9 – Fica decretado que as mulheres
frescuróides não terão direito às regalias aqui propostas, que sumam de nossas
vistas, e passem a viver em túmulos de cemitério...
Mocréias? Dispenso! Mutungas?
Víche, tô fora! Zan-nha-nhans? Nem Pensar!
C 12 – VOCÊ JÁ TEVE “CURTO-CIRCUÍTOS”
MENTAIS?
Para Nietzsche convicções são
prisões... A questão é:
Devo ser dogmática ou devo em cima
do muro ficar, lambendo meu ceticismo como David Hume e Kant... Não quero falar
de ceticismo ou de idealismo agora... Como posso ter certeza de que não estou a
errar?
Aprecio a esperança, costumo
apostar nos verdes tempos, nos verdes ventos, nos verdes adventos (que a Aurora
de um novo dia desponte, que o alvorecer flua, que verdes ondas de otimismo
borbulhem, há um mundo a se desbravar, há cores mais vibrantes por aí,
dispostas a nos cativar.).
A maldade que me oprime é a mesma
que te comprime, as obscuras tendências estão a me rodear; que eu não me deixe
sucumbir, esse meu jeito tosco tem me deixado fosca, carente dos rubros tons do
amor, tenho estado cada vez menos azul, sem a brancura da serenidade, há muito
cinza em meus neurônios. Vivo em um
intenso curto-circuito mental.
Ando assim, sem convicções, que me
sirvam de âncoras medianas, pelo menos... Tempos atrás o cristianismo já me
serviu de ópio, hoje? Não sei certo...
Não lhe fechei as portas, ela está
entreaberta, mas, pouquíssima luz adentra em meu coração. Às vezes minha Fé é
rica, as vezes se desvanece.
Sabe o que costuma ocorrer comigo?
Chamo de estática o que me acontece...
Dia desses estava na igreja,
sentada, ouvindo o sermão do pastor, e uma frase dele me lembrou uma letra de
uma canção de rock’ n’ roll, pouco depois, na hora do hino, um trecho dele me
lembrou uma balada roqueira.
Estou contaminada, dispersa, se eu
contar isso para os outros ouvirei comentários do tipo:
Estas endemoniada ou estas com probrema de
cabeça, mas, poderá haver quem diga estas com probrema de orgasmo.
Mas, se alguém disser que meus
níveis de convicção estão baixos não vou discordar tanto assim.
Que ninguém me leve a mal, mas, o
que é que está acontecendo comigo?
Só me falta concordar com as
idéias de filme Matrix, pelo menos por enquanto...
C 13 – VOCÊ TEM NOJO OU NÃO DE
MENDIGOS?
Moscas? Aos montes! Morre uma,
outras surgem no lugar, a ziguezaguear (eu sou mais Raulzito, sacou?)...
Enquanto houver sujeira existirão
banhos a serem dados.
Água é saúde, excelente bem-estar,
suavidade, essências podem perfumá-las agradavelmente.
Estou a falar de higiene, mas, e
quanto à falta de moral? Água não surte efeito nela.
E quanto á falta de caridade?
Difícil também...
Passeando pelas ruas vejo a
mendicância e a vadiagem pedindo passagem, pessoas perambulam pelas ruas (essas
grandes passarelas da vida), lixo é purpurina, é enfeite para elas, suas roupas
são um show à parte, rasgadas, sujas compõem um visual sempre vistoso; a
maquiagem? Fuligem e graxa.
Essa festa não tem hora para
acabar, a todo dia tem desfile, gordinhos aqui não tem vez, ser magro aqui é
regra, diversão? Tem de sobra, um carnaval bizarro, doenças, puz, fome,
canivete, porrada, sirene, polícia, bandido, ladrão, cola de sapateiro,
cocaína, crack, maconha, sangue, suor, mortandade.
Os mendigos não têm do que
reclamar! Tá tudo oskey, né? Tá tudo
inté mió... Qui sê um vermi é pió... Qui sê prolíticu é du kux riscadix...
Há fartura geral (farta tudo, é
como muitos dizem), e a cidade? Vive a varrer para debaixo do tapete o cartão
postal da insensibilidade geral.
C 14 – VOCÊ É
REALMENTE SENSUAL OU VIVE NUMA IMBECIL ILUSÃO?
Meus problemas terão a dimensão
que eu der a eles, meus limites serão sempre aqueles que eu me impuser, se é
assim que eu imagine pequenos os meus inimigos, internos e externos, que pela
inteligência eu possa vencer as armadilhas e os lobos da floresta do mal.
Que eu, de posse da segurança
almejada, consiga viver de êxtase (Epicuro, outro daqueles filósofos gregos
antigos, já falava sobre algo assim), esse doce mel, pelo meu corpo a fluir,
pelas entranhas a subir, mágico, febril, incendiando meu fifo, fagulha fecunda
de ardor, desnudando minha gentil genitália perfumada, sangrando de paixão,
rasgando meu útero, me fazendo singelamente gemer e ronronar de prazer.
Eis a pura emoção, eis o tesão,
liricamente me pondo de quatro e introduzindo seu falo em minha fala, enchendo
minha boca de letras e orgasmos, me satisfazendo com sua apetitosa e grossa
língua, invadindo meu reto pensar, manjar pleno de sonhar e penetração
quântica.
Fazendo-me mijar poesia, fazendo
meu coração fervilhar, percorrendo meu corpo de norte a sul, se espalhando,
lavando e melecando meu ser.
Quero mais dessa fissura
emoliente, que nutre meus neurônios e rins; não quero mais nada a seguir, só um
cigarro e papel higiênico para me limpar... Foi bom pra você meu bem?
C 15 – VOCÊ E OS OUTROS VIVEM
NA GRAÇA OU NA DESGRAÇA?
Falsidade é como vidro lapidado,
pode até parecer diamante, mas, tem pouco valor real, não é saudável como a
vida no campo, mas, dá pro gasto.
Se as pessoas conseguem se
contaminar fumando e achando isso cool, que aproveitem isso ao máximo, em suas
vidas mandam elas mesmas, embora nem sempre.
Ser falso também pode ser interessante...
Sofisma? Nem tanto... A transparência deveria estar no lugar desse vômito
social, mas, não é bem assim, a flatulência da falsidade fede longe, há quem se
satisfaz fungando-lhe, há até que consegue tragar-lhe como se estivessem
deliciosamente fumando (porque não metem a boca diretamente nas pregas do
problema? Podem vir até a revirar os olhos de prazer).
Há falsidade no seio familiar? Com
certeza! Para muitos a questão família não passa de migalhas sem valor algum,
de flores plásticas, artificiais por demais (mas ela é o pilar da sociedade!
Sim de fato é, mas, quem disse que ela está imune ao caos?) – família, nesses
casos, é uma foto velha, desbotada, mas, pior é não tê-la, se assim é melhor é
acalentá-la, mesmo que hipocritamente.
Quando é que a sinceridade irá
prevalecer? Difícil, dizer, não é mesmo?
Muitos me perguntam se eu tenho
família, pois moro sozinha, sim tenho uma mãe que é meio degringolada (tive a
quem puxar), tenho um pai omisso (nunca veio se quer me visitar, tratou foi de
constituir outra família; por causa disso tenho uma madrasta e vários
irmãozinhos)...
Minha mãe também se casou de novo,
me deu um irmãozinho desgraçado (nunca nos demos bem, ele se casou oficialmente
e vive até hoje como um homem ridículo), já meu padrasto é um Zé dentro de água
ausente, cachaceiro de marca maior, é cheio de manias (não o suporto, já tentou
até me comer, como não dei mole, espalhou pra todo mundo que eu era sapatona,
prostituta, maconheira, essas coisas).
Sou como sou em parte, por causa
da família que me serviu qual modelo - agrego, é verdade, muitas coisas do
meio... Desde sempre, sou uma esponja, retenho e solto meus podres conforme a
ocasião, tudo bem, posso até escolher o que ser e ter, mas, o passado ficou
indelével no meu cérebro, posso até nem usar o material que tenho em meus
arquivos mentais, mas, esquecer que eles existem não dá – não vivo remoendo
tragédias, estou só comentando a coisa por comentar (tudo bem, estou a mentir,
mas, nem tanto assim).
Nem tudo está perdido, no dia em
que eu constituir uma família vou tentar não repetir os erros da família que
ganhei. É sempre possível recomeçar outra vez, mesmo mancando, devido às
cicatrizes e amputação interna (no futuro eu tentaria algumas vezes,
oficialmente, e quebraria a cara em todas elas – coisas diretamente ligadas a traições
descaradas das companhias que escolhi – fazer o que? Ninguém tem a estrela da
virtude na testa – e por falar nisso o que me sobrou disso tudo foram chifres
bovinos da pior qualidade em minha testa, por causa de alguns relacionamentos
tortos com umas pessoas com as quais morei por um tempo)...
Eu só tomo no fifo, não tem jeito!
C 16 – VOCÊ É PERFECCIONISTA OU
ISSO É SÓ PATOLOGIA?
Se assim for, que seja... Fazer o
que? Só me resta gritar viva a imperfeição! Cinqüenta e sete horas por dia de
dor e prazer, cinqüenta e sete mil segundos diários de agonia, meleca e
fragmentações, em meio ao pus despontam enfim.
Mesmo quando eu a ignoro a tal da
imperfeição tá lá, sentada em seu trono, imponente, sarcástica, podre e
poderosa, zombando de mim, de todos os povos da terra, criminosa, fazendo
vítimas aos milhões, massacrando jovens e velhos.
Monstrenga maldita, medonha
tutuzona entranhada dentro de nós!
Como farta-la com a ausência de
meu ser? Não tem jeito, essa coisa me devora de um jeito ou de outro, entupindo
minhas vísceras com excrementos ácidos.
Sou uma faca de dois gumes, fatio
e fatiada sou, senhora e escrava de mim mesma (culpa-se Adão por sermos assim,
tortos... Adão, Adão, você é um FDP!), sou uma flor despedaçada, cheia de
espinhos, que me fazem sangrar. Quanto perfume, quanta dor!
Eu não pedi pra nascer, eu não pedi pra
sofrer, e só me resta viver (não vou defender o filósofo Schopenhauer nesse
momento, que acalentava o suicídio, futuramente concordarei com ele, e até
experimentarei a coisa em si)...
Nesse instante só me resta sofrer,
sorrir, chorar e por fim dormir ao término de cada dia, não sem antes praguejar
e berrar!
C 17 – DE QUE
COISAS VOCÊ MAIS GOSTA (ILUSÓRIA E VAIDOSAMENTE FALANDO)?
Coisas do tipo vida, coisas do
tipo reais... Coisas incertas demais, coisas sensatas... Coisas incendiárias,
coisas vãs, ilusórias, sem nexo... Coisas racionais, anormais, legais... Nem
todo tipo de coisa pode ser algo mais, nem tudo é farto, às vezes o fato se
sobrepõe ao nada... Quem uma coisa quer deve por ele se dedicar, quem não quer
coisa com coisa pode vir a se machucar.
Certas coisas podem ser do tipo
assim, sem volta, do tipo vermelho-sangue, do tipo necrose, algo assim
descartável demais.
A todo instante tudo muda;
adaptar-me é o que há! Quero ser feita de persistência e adaptabilidade, coisas
do tipo vim, vi e venci.
Se a vida é do tipo única, toda e
qualquer situação trará em si a marca da novidade.
Conflitos, estagnações e derrotas
fazem parte do meu processo, sou do tipo aprendiz. Porque coisas do tipo
comodismo, desespero e falência, infestam meu coração? Não tenho respostas
definitivas, só opiniões paliativas, do tipo:
Dúvidas mais que certezas...
Porque a misericórdia, o perdão e o afeto me são negados com freqüência do tipo
comuns? A fratura está exposta, e coisas do tipo desespero, costumam por ela
passar...
E eu, no auge de minhas limitações
poéticas... Sigo a diante, soluçando sem parar.
C 18 – VOCÊ TEM OU NÃO UM MEDO
TRÁGICO DA MORTE?
Que eu tenha por metas melhores
concepções, evitando agora (e depois) desnecessárias decepções.
Que eu almeje o bem viver,
evitando agora (e além) sofrer, pois isso não me fica bem.
Que haja consolo, que eu seja
confortada, mas, sem muita esfregação (o que é muito alisado ou cresce ou logo
desaparece, o sabonete que o diga).
Sem motivos vou vivendo por ai,
por viver (dá de mil José Augusto! Ou será Roberto Carlos?)...
Não sou assim todo dia, costumo
ser estrela às vezes, incandescente, cheia de luz, motivada; só que um calafrio
percorre minha pele toda vez que eu penso na morte, essa bestalóide, nada a
ver, dirão muitos, menas, por
favor...
Só de saber que ela anda à
espreita, fazendo vítimas por aí, bem debaixo do meu nariz, fico toda arrepiada
– odeio velório, caixão, cemitério, essas coisas são fúnebre por demais (não
serão no futuro, vou tentar me suicidar para ver como é que a coisa é).
Sabe o que é pior? Eu sei que vou
morrer! Vê se pode?
Uma gostosa como eu morrendo
devido a uma fatalidade ou de velhice! (Eu, enrugada? É ruim heim!)...
Fazer o que? Serei estuprada pela
grossa língua da morte, murcharei como maracujá e por fim virarei farelo, do pó
ao pó, repito sempre... Virarei resto, estrume, adubo para as plantas, meu bem,
virarei purpurina.
Quer saber? Prefiro ser
abduzida... Prefiro não preferir a tudo o que não me é nada, exceto um mero
não, sacou? Prefiro calar a boca, ando falando demais... É que estou sem meus
remédios. Prefiro... Nem sei mais o que dizer.
C 19 – VOCÊ TEM ALGUM TIPO DE
RETARDAMENTO OU ISSO É PURO FINGIMENTO?
Quando eu era uma fosca forma, não
mais do que uma pequenina nuvem, vivia livre, leve e solta, vivia uma falsa
maciez, desejando extrapolar prazeres ilusórios, disposta a viver de brisa,
singrava sem rumo, navegava ao sabor do acaso, instável demais, estável de menos,
zonza.
Vivia num falso céu anil, de pura
ociosidade, de pura banalidade, de intensa morosidade, de intenso escarcéu.
Puro fogaréu fugaz. Hoje ainda sou
nuvem, porém muita coisa mudou:
Mais agregada, plena, serena,
densa, menos tensa, menos torta, hoje sei mais para onde vou, erro menos, minha
malícia é mais refinada, encorpada, pelo menos faço esforços mais planejados,
mais coerentes. Mais diligentes.
Ser nuvem me convém, isso eu posso afirmar
(pelo menos por enquanto), amanhã não sei, enquanto eu puder sonhar estarei bem
assim, satisfeita, sem medo de voar – não me importa o nexo, você pode até não
entender, mas quando eu era nuvem ainda sou o que sempre quis ser quando hoje
fui o que sempre serei (eu sei, as palavras estão doidivanas), mas, não se preocupe
não estou drogada, só estou brincando com as letras... Essa é uma das vantagens
de ser nuvem, entendeu agora?
Elas mudam de formato
constantemente...
C 20 – VOCÊ TEM UM JEITO PORCO
DE SER? GOSTA OU NÃO DE RESTOS?
A primeira coisa que pensei filosoficamente
foi assim:
Mal me conheço, mas insisto em
desvendar as nuances de meus semelhantes, diferenciados por demais.
Anos depois escrevi isso:
O resto é resto, é purpurina e
carnaval, quanto ao resto o que fazer? Nada me resta a não ser rastejar? Longe
disso! Que me restem alternativas! Que não fique a comer restos, migalhas? Não!
Que eu não fique assim só vendo restos passarem, resta-me bem mais, que eu
reaja então.
Tem a ver com flexibilidade? Tem,
tem a ver com convicção? Tem só que eu sou uma medrosa (mas, eu já não disse
mais de uma vez que sou corajosa? Não confunda, uma coisa é uma coisa, outra
coisa é outra coisa. Tem a ver com vaidade, tem a ver com masoquismo.).
Minha irritabilidade me conduz
direto ao rancor, deixa marcas em mim que quase sempre não consigo apagar, nem
sempre procuro esquecer, alimento a fera dentro de mim (ela só pensa em
vingança, sexo, essas coisas).
Uma coisa leva a outra coisa que
me conduz ao prazer – não tento esquecer, só procuro me lembrar, e eu passo de
vítima a culpada pelas mãos desse sentimento asqueroso e gostoso.
Muitas coisas estão a meu dispor
por força de convenções sociais, ou seja, decidiram que certas coisas deveriam
ser assim ou assado, e pronto, adotaram como regra para todos, mas, a verdade
em si está toda impressa nisso? Longe disso!
Finalizando:
O que eu quero mesmo é colocar o
meu bloco na lua e na rua, brincar, gozar e gemer – é flutuando no espaço que
consigo suportar tantos devaneios e desventuras. Fui!
C 21 – COMO VOCÊ REAGE DIANTE
DA TRAGÉDIA E DA VITÓRIA?
Você tem muitas opções, e, entre
elas a superação, a reação – isso mesmo:
A vitória ou a derrota.
A super frase abaixo é clichê até
demais, porém funcional sempre:
A vida é como um jogo de xadrez,
diário, ininterrupto; que a isso se some outra coisa:
Você só tem uma bala na agulha de
sua arma – ou acerta o alvo, em cheio ou está fora.
E, você só tem uma vida, uma única
oportunidade, uma única possibilidade, disponível, para jogar, dar algumas
avançadas pelo tabuleiro...
Se toda vez que você jogar
conseguir não perder peças (pelo menos não as mais importantes, poderá avançar,
rumo á vitória).
Perguntas:
Qual é o tipo de vitória a que me
referi aqui? Quem é o adversário? O adversário é a morte (e como no fim, quem
ganha é ela, há algum tipo de vitória nisso?).
Há sim, ficar vivo o mais que se puder
(isso é muito pouco, dirão alguns, é xeque-mate, dirão muitos).
C 22 – SUAS FANTASIAS SÃO PURAS
OU IMPURAS?
As fantasias são como brisas, são
quais vinhos bons, também me servem de ninhos, podem ser velório ou festa,
podem ser delícias evidentes, desgraças decadentes, podem ser tempestades ou
benditas beldades, podem ser roseirais ou profundos lamaçais, são como douradas
jóias ou venenosas najas letais.
São cem por cento ilusão, me
servem de navios rumo a diversas expedições infinitas, às vezes são excessivas,
não mais do que grandiosas confusões.
Certas fantasias que tenho são não
mais do que paliativos analgésicos, verdadeiramente não podem curar os males da
minha realidade, mas, sonhar me faz bem!
Por meio delas descarrego todo meu
stress feminino, injeto uma densa masculinidade no meu ser, e isso me revigora,
e eu fico com um saco enorme para suportar as agruras do dia-a-dia.
Eu não vivo só disso, isso me
aniquilaria, mas, eu vivo muito com elas, nem sempre sou comedida, e me deixo
estuprar, e gozo feito uma égua!
Só que no reino da fantasia eu
peido, acho graça e ainda por cima cheiro, a esterilidade da imperfeição se
estanca momentaneamente por causa disso, e eu consigo ser mais gente ocasionalmente,
mesmo comendo a meleca que sai do meu nariz.
Se minhas objetividades se esvaem
ficu tonta, distorcida, vurgá.
Se minhas plasticidades se
desplastificá eu fico assim, meio qui pelada, entendem?
Se minhas alianças se alinhavá com
as sua, preenchidos taremos; nó só num vai casá...
Se minhas necessidades percisá eu
inté vô, só num sei si vô vortá...
Se minhas vontades acabam é pru
quê acabo mermo...
C 23 – PROSTITUTAS...
TRAFICANTES... PALHAÇOS... POLÍTICOS... POLICIAIS (SOFIA TEM ALGO A DIZER?)
E se eu fosse prostituta? Êita
profissãozinha fácil... Abrir as pernas, lucrar muito, conhecer novas pessoas
assim:
Intimamente, por dentro, sabe?
Trocar fluidos, olhares, suores, lucrar mais (sem fazer esforço, é só deixar,
deita ou em pé, relaxar e se entregar – depois basta dar só uma lavadinha na
danada, pois, ficar fedena nem pensar!). Comprar tudo o que eu quiser; gastar
até o zói rivirá... E quando o dinheiro acabar volto lá, deito na cama e faturo
de novo!
E se eu fosse maconheira? Viajar
sem sair do lugar, melhor impossível! Não seria uma traficante, não faz meu
estilo, muito gente seria prejudicada, e isso, definitivamente, nem pensar!
Eita erva farta, é pequenininha, mas, que potência! Espairecer, rir que nem
doida, depois ficar muda, com a boca seca, doida por litros d água e doces,
muitos doces. Um colírio, por favor! Meus olhos parecem estar cheios de grãos
de areia... Meus bofes iam inté inchá di tanta fumaça e azeitona com cachaça e
pão de mel... Uma fumaceira esperta, muitas reflexões, tonteiras e uma vontade
doida de dormir a seguir, para recomeçar quando acordar.
E seu fosse palhaça? Cara pintada,
roupa engraçada, folgada, sapatos enormes, uma bola vermelha, de prástico, no
nariz e um arsenal de piadas para fazer todo mundo rir. Profissão difícil essa... Não é tão simples
assim agradar ao povo, tem tanta gente amarga por ai...
E se eu fosse política? Senhoras e
senhores sou mentirosa, sou egoísta, e só quero o salário gordo a que tenho
direito, vocês são só um mero detalhe, instrumentos das minhas realizações
pessoais.
E seu eu fosse um PittBull do asfalto? Tipo assim, uma
bad-girl inconseqüente de uma gangue qualquer? Chutar latas, apertar
companhias... Essas coisas, não mais... Demais! Superfaturar! Lucrar! Enrolar!
Lucrar! Viajar! Lucrar! Iludir! Lucrar! Eis uma verdadeira mina de dólares,
adrenalina e corrupção... Sei não!
E se eu fosse policial? Em nome da
lei e da ordem? Da sociedade em geral? Não, essa vou deixar passar batido; se
eu fosse policial eu ia me dar mal... Ou melhor, passar mal, De tantu trem bão
qui eu ia fazê... Seriam tantas as emoções, lutar contra o crime; essas
coisas... Eu não resistiria...
C 24 – O QUE VOCÊ FAZ DE ERRADO
ENTRE QUATRO PAREDES?
Nem todo tipo de coisa é algo de
bom, pode ser lixo, pode ser lama... Possivelmente bacana, pode ser ouro, pode
ser nada, pode ser nádegas.
Eu sou assim, uma coisa bem
especial, descartável, mas, essencial (pelo menos pra mim), sou única, uma
fruta única, exótica, especial, que incomoda, mas, que se arrasta sem nunca
parar.
Vivo andando pela superfície das
coisas, sem nunca me aprofundar em nada, comendo pelas beiradas, repleta de
trivialidades – às vezes sofro, mas, isso passa logo. Quantas tribulações!
Em meio a tantos escombros
verborrágicos, vou sobrevivendo sem um arranhão da caridade de quem me detesta,
a minha piscina está cheia de ratos, minhas idéias não correspondem aos
fatos... O tempo não para, não para não, não para (Só mesmo me baseando na
música é que eu consigo dizer alguma coisa, sem Cazuza fico confusa) – se bem
que também sou dependente do Renato Russo, do Humberto Gessinger e do grandioso
Marcelo Nova... Eu sei, tem também o Lenine e o Zeca Baleiro... Tô bem
amparada, com as bênçãos do Chico Buarque, do Fagner, do Belchior, do Djavan e
do Caetano Veloso, sem contar a Elis Regina e a Cássia Eller...
A maior prova de minhas
trivialidades está no que faço entre quatro paredes, fico plantando bananeira
na cama, arroto, desenho, danço as músicas do É o Tchan, pelada; fico imitando
coisas, às vezes finjo que sou uma bailarina, e até quando imito galinha fico
desengonçada (a parte em que eu tenho de ajustar o espanador na caverna é o que
mais me incomoda, mas, depois que eu relaxo fico linda como um pavão).
Há muito tempo atrás eu tentei
fazer yoga, não deu certo, fiquei toda desconjuntada, e ainda por cima quebrei
a cama tentando sair da posição que estava (tirar a perna de traz do pescoço
foi a pior parte), da próxima vez vou treinar algumas posições do Kama Sutra,
Farei isso acompanhada por um
lindo garoto-de-programa (não tenho conseguido arranjar namorados, é o que eles
não aceitam a idéia de fazer tudo ao mesmo tempo agora, já propus o uso de um
creme de goiaba nessas confraternizações, mas ninguém aceita. Bando de anormais
insensíveis!).
Sou muito criativa entre quatro
paredes, até dormir eu consigo!
C 25 – EVA E ADÃO DÃO TESÃO OU
DECEPÇÃO EM SOFIA?
A culpa é toda de Adão, tudo bem,
de Eva e Adão (fiquei tentada a usar o famoso trocadilho é viadão, pois é,
usei!).
Por ser como sou, imperfeita, mortal, pecadora
e doida, são vinte e quatro horas por dia assim, de dor e prazer, são 3.600
segundos diários de agonia e limitações.
Às vezes acho que eu sou um
monstro, um tutu torto e sanguinário, às vezes sou angelical (já doei até meias
velhas para um asilo!)... Fazer o bem é comigo mesmo, depois que almoço sempre
penso em dar os restos para um cachorro qualquer, mas, sempre me esqueço.
Não me esqueci de Eva, aquela égua
despeitada, foi ela quem pôs tudo a perder!Cobra? Que cobra? Ela foi só uma
vítima das artimanhas do anjo das trevas – ou será que ela também sabia do
plano de rebeldia daquela corja toda? Não sei, e nem quero saber, só me resta
seguir em frente, já que somos aleijados só nos resta pegar nossas muletas e
avançar rumo ao desconhecido.
Por falar nisso dia desses decidi
andar de muletas para ver qual seria a reação das pessoas, fiquei muito
satisfeita com os resultados... Para dar um toque especial coloquei meus óculos
escuros e me dirigi até a porta de uma igreja, joguei meu chapéu no chão e
aguardei.
Não demorou muito e o dito cujo
estava transbordando de moedas! Fui para casa toda feliz, daria para comprar um
monte de sorvete, garrafas de uísque e camisinhas!
Meu desgosto foi total quando
comecei a contar o din-din, não havia nem uma única moeda de valor no chapéu,
só dinheiro sem respaldo sócio-econômico (quem gosta de ser passada para traz?
Até pensei em voltar lá e reclamar, mas, eu poderia ser linchada! Descobririam
que eu enxergo muito bem... Deixa estar, um dia eu dou o troco!).
Imperfeição é isso ai, um dia dá
tudo errado, no outro também (pelo menos prá mim).
E tem mais, como é possível que
haja tanta gente por ai, assim, maldosa, fingindo que está a fazer o Bem? Onde
é que esse mundo vai parar?
Fiquei decepcionada!
C 26 – VOCÊ ODEIA OU NÃO PESSOAS
IDOSAS? (SKATE NA VÉIA)
Sonhei que tinha cinqüenta e sete
anos, estava me sentindo tipo assim:
Cheirando a naftalina e mofo, uma
nojeira só; eu sei que geralmente não se fica tão na bagaça como eu estava,
mas, é que abusei demais de coisas lícitas e ilícitas até recentemente, se é
que me estou fazendo entender...
É que estava aposentada por
invalidez (não sei como nem porque).
Era uma solteirona, ainda
imprevisível, como sempre, tinha uma charmosa bengala que me servia de consolo
nas noites solitárias (não é o que você está pensando, é que eu ficava
conversando com ela quando queria fazer uma fofoquinha básica).
Todas as minhas tragédias se
intensificaram, já não tinha mais dentes naturais na boca, que pena gosto tanto
de boquete, digo, croquete, me divertia com uma dentadura que insistia em cair
quando eu tentava voar com minha vassoura...
Eu explico, é toda a vez que eu ia
varrer dava risadas quando me lembrava que as bruxas voavam em vassouras
velozes, e eu ficava me imaginando voando por ai, fazendo zigueziras com meus
vizinhos.
Eu não suportava barulho de
espécie alguma, apreciava o silêncio mais que tudo, mas, eu não tinha sossego,
um bando de moleques da vizinhança cismou de fazer do passeio em frente à minha
casa uma pista de Skate, toda tarde –
que algazarra infernal!
Não adiantava reclamar, eles não
me ouviam e ainda zombavam de mim, me chamavam de bruxa velha, de múmia do
Egito, de mocoronga e sei lá mais o que; deu vontade de ir lá e descarregar uma
metralhadora giratória cheia de balas neles! Ah se eu tivesse algumas granadas!
Miseráveis!
Teve um dia que eu acordei
encafifada, toda torta e neurótica, não achei minha dentadura nem minha
calçola, não achei meus óculos fundo-de-garrafa, não encontrei meus remédios e
ainda puz sal no café, andava pra lá e pra cá, trombando nas coisas (onde é que
a minha bengala foi parar?)... Tudo ficaria pior à tarde, quando aqueles
pivetes chegassem; e eles chegaram...
Manobras radicais daqui, manobras
doidonas de lá, deram muitas risadas e fizeram farras absurdas que me deixaram
desgovernada, e decidi ir até lá acabar com aquela zorra; com muito custo
cheguei até eles, que nem se intimidaram, ficaram fazendo malabarismos ao meu
redor e debochando de mim; zonza ameacei cair, catei uns cavacos (é assim que
aqueles pestinhas falavam).
Ao me virar desengonçadamente para
a esquerda dei de frente com um deles, que não teve tempo de se desviar, e
pimba, fui atropelada; o moleque se misturou comigo, e juntos caímos no chão, o
susto se transformou em pânico, ao berrar de susto e dor, abri tanto a boca que
minha dentadura deu um salto tríplice e saiu pulando como se estivesse viva.
A gangue do mal fugiu e nunca mais
voltou - dos males o menor, o skate
na véia surtiu efeito, minha paz finalmente chegou.
E eu acordei morrendo de rir dessa
bagunça toda... Pior mesmo foi ter que ir ao médico, isso me custou caro!
Remédios, pomadas, banhos quentes, calmantes... Achei bom também comprar um
fixador de dentaduras melhor, meus dentes postiços estavam caindo demais – será
que racharam?
C 27 – VOCÊ É ALGUÉM CONVÍCTO
OU SE SENTE UM MERO VERME?
Pra mim convicções são prisões,
não gosto delas como fins imutáveis (ainda mais que aprecio ir e vir pelas
avenidas da vida), não sou muito dogmática, gosto mesmo é de ser problemática,
gosto ficar lambendo meu ceticismo moderado, ficar em cima do muro é comigo
mesmo, não gosto de ficar em baixo da cama, ficar debaixo dos lençóis é uma
delícia, principalmente acompanhada.
Aprecio a esperança, mas, sei me
desesperar facilmente, arrancar os cabelos enche meu coração de adrenalina, é
melhor do que ver filme de terror.
Minhas ondas de otimismo borbulham
como bolinhas de sabão dentro de uma bacia velha, furada, torta e enferrujada.
A maldade que me oprime também
comprime tudo à minha volta, por causa dela dou shows gratuitos até sem querer
- minhas obscuras tendências fazem de mim uma mulher mais doida do que quem usa
loló, tenho estado cada vez menos azul (afinal sou atleticana por convicção,
glória e puro sofrer... Ser rubro-negra não é fácil não, a segunda divisão vive
lambendo nossas botas, digo, chuteiras; já estivemos lá uma vez, inclusive, foi
de quase morrer).
Ando assim, cheia de convicções
medianas, sem ancoras firmes, vivo a deriva.
Tempos atrás o cristianismo já me
serviu de ópio, hoje não mais, fico assim, que nem rádio velho, nem ligo, parei
de ir à igreja, fico muito dispersa lá, fico cantando rock‘n’roll mentalmente enquanto o pastor sua a camisa para
convencer suas ovelhas – eu sei, não presto mesmo.
Sou uma pecadora, estou contaminada
com a minha liberdade (e gosto disso). Se eu contasse isso para alguém diriam
que estou endemoniada, há quem diria que estou com depressão, com problemas
financeiros ou com orgasmos raros, sei lá, porque simplesmente não podem dizer
que não estou com vontade de não fazer nem isso e nem aquilo?
O que é que está acontecendo
comigo afinal? Só me falta concordar com as idéias do filme já citado filme
Matrix:
O que é real ou
imaginário? O que é verdade ou mentira? É muito complexo tudo isso... Nem sei
quando estou com fome ou com dor de barriga, tipo assim diarréia.
Será que Sócrates estava certo? Só
sei que nada sei...
A vida é meio assim, muitas opiniões
e poucas certezas. Ou será que estou errada? É muito difícil – é ou não é
Geraldo Magela? Meu amável doce de côco! (Diga aí, qual é a cor do sobredito?
Vê se não me ferra com tua bengala, ok meu chapa belzontino?)...
Não pensem que eu me esqueci de Como
sobreviver a festas com Buffet
escasso e das Pérolas do Tejo do melhor ator dessas Minas Gerais, Carlos Gomes,
né?
Quer
saber? Cansei, não tenho mais nada a dizer por agora, daqui a pouco talvez...
C 28 – ATÉ QUE PONTO VOCÊ É UMA
PESSOA MISERAVELMENTE ILUDIDA?
Eis meus novos devaneios:
Estou sentada em meu gabinete, dourado,
cravejado de pedras preciosas. Não sei por onde começar. Já sei, vamos
esclarecer uma coisa, eu não sou a mulher do padre, eu sou o G.W. Bush, negro
de saias, eu sou o Barak Obama, branco, de calcinha.
Façamos algumas reflexões:
Há tantas pessoas precisando ouvir
o que tenho a dizer... Elas precisam muito de conforto social... Mas eu preciso
mesmo é de um sanduíche duplo, de uma cerveja bem gelada, e de uma boa noite de
sono; gostaria que as pessoas que estão aguardando meus decretos fossem embora
para suas casas e me deixassem em paz, estou tão cansada, já não agüento mais!
Onde é que eu fui me meter?
Fazendo-me de entendida! Estou mesmo é fud...
Já sei! Cancelarei todos os meus
compromissos hoje, alegarei que estou menstruada e com dor de cabeça! Não quero
mais chefiar a comunidade de ninguém, não consigo nem controlar meus gazes!
Quero sair do meio desses abutres
que ficam o tempo todo desejando estar no meu lugar.
Quero mesmo é estar perto dos meus
verdadeiros amigos (de gole, principalmente), há muito tempo não sei o que é
fazer amor, estou cansada do prazer solitário.
Quero tirar essas roupas pesadas,
por demais enfeitadas, exageradas, gostaria de usar um vestidinho bem curtinho
agora...
Quando optei pela vaga de prefeita
(de onde mesmo?) só pensei em prestígio, dinheiro e poder, mas, me cansei de
tanta hipocrisia.
Acho que vou renunciar. Se não for
envenenada antes...
Acho que vou me deitar agora,
amanhã o circo e o teatro recomeçam novamente, tenho muito que fingir ainda, há
dividas a serem perdoadas (Francamente! Mal posso perdoar a mim mesma!) fazer o
que? Tem besta pra tudo nessa cidade, que é bela, diga-se de passagem, que
horizonte!
Vou ordenar um ataque mundial
contra todos os líderes, não só aos políticos, como também aos filósofos, e não
vou me esquecer dos comerciantes que roubam na balança
(se pelo menos eu ainda recebesse uma porcentagem... Mas, não, eles querem tudo para eles! Cambada de FDP!).
(se pelo menos eu ainda recebesse uma porcentagem... Mas, não, eles querem tudo para eles! Cambada de FDP!).
Vou dormir sem calcinha, de novo!
Fui!
C 29 – POR QUE
CREMILDA PINTO MELO REGO E JOANA CRUZ DO PAU PODRE SE ODEIAM?
Detesto uma mulher com todas as
minhas forças, ela também sente o mesmo por mim; seu nome é Jocasta Batista da
Cruz. Alguns a chamam de J.B.C., e, não sei, por que alguns a denominam ora de
Joana Cruz do pau podre ou Joaninha Edredon, alguns apelam e a chamam sarcasticamente
de Joana de São Tomás Medieval da Silva... Tudo bem, tem mais: alguns a chamam
de folha de taioba também, outros a definem como chaga de Cristo e o ser-em-si
do saco de bosta universal...
Vou fazer um exercício de
imaginação e me colocar em seu lugar, pensando coisas estranhas, tipo assim,
falando como se fosse ela, sobre alguns vizinhos que temos em comum, entende?
Vamos lá então:
— Sou vizinha da Dona Luzia, uma
jovem senhora muito batalhadora, que ganha a vida como faxineira (já ouvi falar
que se exercita como manicura, mas, tenho minhas dúvidas)... Ela é casada com o
Seu Benedito, um santo homem, calmo, honesto, bom pai, não bebe e nem fuma (sua
mulher é que é chegada numas cachaças de vez em quando); Petrônio é o filho
deles, um capeta bagunceiro, morbidamente mal-educado, não gosta de estudar
(vive matando aula) e vive roubando doce na padaria ao lado da casa de Sofia,
uma solteirona doida, seu sobrenome deveria ser Dionísia Nietzschiana (já ouvi
dizer algo sobre seu verdadeiro nome, dizem que é Cremilda Pinto Melo Rego,
também conhecida como capitão Cacilda), ninguém sabe ao certo, mas acho que ela
é sapatíssima, se não for isso com certeza é galinha, pois, acho que já a vi
rodar bolsinha na Praça Sete.
Ao que tudo indica ela também é
roqueira, dia desses ela estava ouvindo um som barulhento na maior altura,
dizem que não gosta de tomar banho, é preguiçosa e não trabalha (como é que ela
faz para pagar suas contas? A explicação só pode estar na tal vida noturna, em
sua condição galinácea).
A tal de Sofia vive explorando a
coitada da Dona Luzia (a pede para fazer todo tipo de serviço, e ouvi dizer que
está lhe devendo uma boa grana há muito tempo, e está enrolando pra pagar).
Outro dia a coisa ficou preta na
casa do Seu Benedito, Dona Luzia chegou da rua com a cabeça cheia de água-que-gato-não-bebe,
meteu a mão em seu marido, chutou o rabo do vira-lata, o Paçoca, que ela tem
como cão de guarda (só que ele não guarda nada, só vive a se coçar, a comer ou
a dormir, é um imprestável), deu uns Safanões até no seu filho, O Pepeu... Foi
só panela que voou!
Pouco tempo depois a policia
chegou... Ouvi dizer que foi a desvairada da Sofia que chamou, algemaram a
coroa e levaram pra delegacia. Cinqüenta e sete minutos depois Dona Luzia
voltou do cárcere, toda envergonhada, por causa disso há dias ela não põe o pé
na rua; coitada, é uma sofredora...
Essa gente se arrebenta demais,
passa por necessidades incríveis (pra complicar Seu Benedito está desempregado,
o cachorro pegou sarna, o Pepeu está com diarréia e Dona Luzia anda com muita
dor de dente, também com aquela boca podre... A desengonçada da Sofia anda meio
que sumida (será que ela tá usando drogas? Não quero nem saber, quero é
distância desse tipo de mulher), antes só do que mal acompanhada... Dá licença
que eu vou ali e já volto.
C 30 – O “ARRANCA-RABO”
ENTRE CREMILDA PINTO MELO REGO E JOANA CRUZ DO PAU PODRE TEM OUTRA VERSÃO?
Pra quem não me conhece meu nome é
Sofia, vizinha de Dona Luzia, uma mulher que luta muito na vida, ela tem um
filho pra criar, o jovem Pepeu, que é até muito bonzinho...
Ela é casada com o seu Barbosa, ou
será Seu Benedito? Não importa, só sei que ele é um otário de marca maior, um
preguiçoso, um egoísta, um cara que não gosta de tomar banho e um mal-educado
nojento, não passa de um vigia qualquer.
O grosso da sustentação da casa
vem sempre por meio dela, que além de cuidar do lar ainda quer ajudar mais,
trabalha fora, como manicura (ela é uma gordinha linda, tem olhos lindos,
levemente puxadinhos) ele, seu marido, é um gorducho semi-careca (ambos têm
dentes podres em suas bocas, têm sovacos fedorentos e peidam demais).
Dona Luzia tem o cabelo sarará, Seu
Barbosa é baixinho, o menino, deles, dizem, tá cheio de vermes, vira-e-mexe
adoece, e anda mal na escola... É um vagabundinho safadão...
Eles têm um cãozinho Poodle que se
chama Elvis, encardido de dar dó, e vive cheio de sarna, carrapatos e perebas
de toda sorte.
Às vezes eu faço minhas unhas com
Dona Luzia, coitada, vive levando cano dos outros (eu mesma já fiz isso com
ela, quando a dita cuja reclama lhe dou uns pacotes de feijão e ela fica toda
feliz, é uma otária mesmo, uma trouxa).
Ainda ontem o bicho pegou lá em
sua casa, seu marido chegou bêbado, deu umas tapas nela, enfiou o pé no rabo do
cachorro e deu um cocão no menino – a cobra fumou!
Ela revidou e a coisa fedeu, deu
até polícia... Por mim não estou nem me defendo, já meus vizinhos...
Tem uma vizinha minha, mais
conhecida como J. B. C. que é uma fruta pra lá de podre, nunca fui com a cara
dela, quero mesmo é distância dessa ralé toda!
Dá licença que eu vou ao banheiro
dar uma mijada... Quem disse que eu num possu saí assim, de finim?
C 31 – POR QUE CERTAS MULHERES
SE ODEIAM TANTO?
Minha irritabilidade me conduz direto ao
rancor, deixa marcas em mim, que quase sempre não consigo apagar, que nem
sempre quero esquecer, fico alimentando a fera dentro de mim, e só fico
pensando em vingança.
Fiquei sabendo que uma moradora da
vila chamada vulgarmente de J.B.C. estava falando mal de mim pra todo mundo,
tive notícias tortas disso no açougue, na quitanda, na farmácia e até na
padaria... Cretina, como é que pode?
Andou dizendo por ai que sou uma sem-vergonha, que não pago ninguém,
que sou burra e finjo ser inteligente, que sou “politiqueira”,andou dizendo
inclusive que meu nome verdadeiro é Cremilda Pinto Melo Rego (ou algo parecido,
não me lembro bem, mas, pouco me importa – o que vem de fora não me atinge, eu
é que gosto de atingir o que vem de fora com uns pescotapas bem dados).
Isso não ficará assim, ele não
ficará impune, eu me vingarei...
Fiz alguns contatos, e alguns elementos tipo
especialistas em violência urbana aceitaram dar uma sova na linguaruda, dei a
eles o que eles me pediram (doeu um pouco mais passou rápido); eles ficaram de
tocaia já na mesma noite, esperando a dita cujo passar (ela faz supletivo à
noite, nas proximidades da Vila), o que ninguém esperava é que tudo daria
errado por demais (eu mereço!).
Nessa mesma noite um amigo da
minha vizinha, Dona Luzia, resolveu fazer uma visitinha às escondidas à sua
casa (fiquei sabendo depois que o Seu Barbosa, digo, o Seu Benedito estava
fazendo um bico nessa noite pra ganhar uns extras... Muito estranhas todas
essas coisas, mas, não tenho nada a ver com a vida dos outros mesmo)... O lerdo
do tal visitante tinha algumas características similares à da vitima que eu
queria descascar, com uma diferença:
Ele desceu de um Monza preto tipo
segunda divisão (como é que os imbecis não se tocaram? Quem faz supletivo e
mora onde a gente mora pode ter um carrão desses? Só que o leite derramou, não
teve jeito, a galera cobriu o sujeito de pancada e se mandou).
Cinqüenta e sete segundos depois
cinqüenta e sete viaturas da Polícia Civil cercaram todo o bairro, o homem que
apanhou era delegado! Cinqüenta e sete minutos depois todos estavam presos,
inclusive eu, os desgraçados deram com a língua nos dentes...
Fiquei cinqüenta e sete dias
presa, estou respondendo processo até hoje!
O crime não compensa mesmo, da
próxima vez que eu resolver me vingar de alguém que eu faça a coisa certa ou me
esqueça de tudo o que me fizeram de ruim; a safada da J. B. C. não pode me ver
que faz “top-top” com as mãos, mas, o que me mata é a cara de deboche que faz
pra mim, dói mais que tudo.
Quando eu ficar outra vez com as
entranhas quentes ela há de se ver comigo, isso ainda não acabou; me aguardem!
Não me darei por vencida, agora é uma questão de honra, a pancada vai comer, a
poeira vai levantar e será um Deus nos acuda. De uma coisa eu sei: a impunidade
não ficará impune! Tenho meios para reverter a situação, afinal sou a melhor
naquilo que nem sempre faço, sou um côco du bão, coisa fina qui nem agulha
pontuda, mas não vivo assim tão a toa, tô numa boa... A coisa ainda vai feder,
eu juro!
C 32 – O ÓDIO ENTRE CERTAS
MULHERES PODE ACABAR?
O resto é resto, é purpurina e
carnaval, quanto ao resto o que fazer? Rastejar é que não vou! Que me restem
alternativas! Que eu não fique com os restos! Migalhas? Não! Que eu reaja então
quando for ameaçada!
Sou corajosa, mas nem sempre, o
medo, digo o pavor costuma ser uma companhia pra mim às vezes... Odeio morcegos,
esse é meu segredo (ou pelo menos era), tenho recebido pelo correio algumas caixas
pelo correio cheias deles! Mortos e ensangüentados! Eca!!!
Da última vez que abri uma delas
senti todo o meu sangue fugir, tonteei, as pernas fraquejaram e vomitei uma
gosma esverdeada (não foi a bílis, é que
eu havia comido uma farofa de couve com ovo na noite anterior).
Quem havia descoberto o meu segredo?
Kafka que me desculpe, mas baratas, digo, morcegos nem nos livros de Biologia!
Desconfiei de imediato da J. B. C. (de novo), mas como provar?
Deveria eu me mudar pra longe dali?
Deveria incendiar a casa da minha inimiga? Deveria dar queixa a policia?
Nenhuma dessas alternativas era interessante, mas tal afronta tinha que ter um
fim a todo custo!
Decidi que vigiaria todos os
passos dessa fedorenta... Comecei a fazer anotações, comprei uma luneta e
ficava observando-a à noite de cima de uma árvore... Descobri coisas incríveis
sobre ela:
Havia um entra e sai de homens fora
do comum na casa dela, quase caí do galho quando descobri que ela tinha umas
protuberâncias meio que esquisitas por entre as pernas... Será que... Não, acho
que não... O que eu faria com informações tão preciosas? Era macho pur dimais
entrando e saindo dela ao mesmo tempo só pela porta dos fundos da vagabunda,
ninguém nem colocava a mão nos penduricalhos da frente, dela se é que me
entendem...
Das duas uma, ou eu enviaria uma
série de ameaças a ela pelo correio, ou chegaria nela pessoalmente e contaria
tudo o que descobri a seu respeito?
Optei pela segunda sugestão, mas
preferi não vacilar, gastei toda a minha grana na aquisição de uma máquina
fotográfica digital de alta resolução; registrei tudo, e mandei revelar.
Assim que o material chegou fui
até a casa dela, nem pisquei, assim que a filha duma égua atendeu na porta
entreguei-lhe as cópias das fotos, e lhe disse que possuía os originais, ela
manteve-se firme, como toda bicha, digo, como todo bicho acuado, recuou alguns
passos, e já foi logo dizendo que não mandaria mais as cartas com os morcegos
ensangüentados pra mim – aí eu disse:
— Tudo bem, negócio fechado, virei
as costas e fui embora toda lambuzada por entre as pernas de emoção! Venci a
maldita vaca malhada!
Simples assim... O gosto da
vingança, digo, da vitória é danado de bão!
C 33 – DUAS MULHERES PODEM VIR
A SE AMAR?
Jogo de xadrez é assim mesmo, tem
que ter paciência, sei jogar, mas não sou calma, fico roendo as unhas, com a
calcinha encharcada, ansiosa, querendo vencer, querendo que o jogo acabe, me dá
um formigamento nos miolos, as vistas escurecem, o bico do peito esquerdo coça,
dá vontade de peidar, de fumar charuto, de beber cachaça.
Eu amo esse jogo, ou melhor, eu
amo odiar esse danado desse jogo de tabuleiro, o melhor do mundo, diga-se de
passagem...
A vida é como um jogo de xadrez,
duas são as opções, a vitória ou a derrota, esse jogo é ininterrupto, pelo
menos enquanto houver vida, quem morre é porque tomou um xeque-mate, fora isso
é batalha atrás de batalha.
Nesse tabuleiro gigante é
importante estar bem posicionado, é preciso perder o menor número de peças
possíveis; avançar? Sim, retroceder? Por que não?
Das últimas vezes que eu joguei
xadrez com a J. B. C., nossos conflitos sobre o tabuleiro foram descomunais
(ué, ele não era minha inimiga? Era, mas acabamos ficando amigas, eu acho;
depois daquele episódio dos morcegos e
de protuberâncias suspeitas ela veio até a minha casa, disse que tinha
inveja de mim, por isso fez o que fez... As intrigas, as caixas com aqueles
bichos escrotos... Esclarecemos tudo e decidimos ficar brothers – foi a melhor coisa que fizemos, a coisa estava indo de
mal a pior... Ela, digo, ele (ou ela mesmo? Deixa pra lá), acabou se tornando minha
melhor amiguinha).
Por mais que passamos a nos gostar
e chupar ocasionalmente, num delicioso sessenta e nove, a disputa entre nós é
(e sempre será) muito grande, quando jogamos então quase nem nos falamos, não
queremos perder, aproveitamos esses momentos e lavamos muita roupa suja,
ficamos tensas, eu de grelim duro e ela com as tais protuberâncias
duríssimas... Nos levantamos, suamos, comemos nossas unhas, rodopiamos como
frangas malucas! Ás vezes trocamos de posições, às vezes ela me come no meu
tabuleiro, às vezes eu a como no seu mesmo... Da última vez a chapa esquentou,
J. B. C. perdeu de vez o controle, ameaçou não voltar nunca mais, fincou o pé
no meu tabuleiro e foi embora, acabou voltando no dia seguinte, pedindo
desculpas... Ela é temperamental demais, mas também sou, por isso somos assim,
duas bichas do mato).
A vida é mesmo assim,
bestalóidica, costumo dizer:
— Basta! Sem essa, por favor!
Chega dessa coisa misteriosa que nem jogo de Xadrez, imprevisível; às vezes
perdemos, às vezes ganhamos, que tortura da peste! O resultado parcial de
minhas disputas com a J.B.C. está assim, empatado (e assim as coisas vão
seguindo, ocasionalmente estamos pra piões, às vezes pra cavalos ou éguas... Não
dá pra ser rainha todo dia).
C 34 – POR QUE HÁ TANTAS
RELIGIÕES NO MUNDO? EIS BABILÔNIA (A GRANDE MERETRIZ)...
Eis-me aqui, bancando a escritora
teóloga de novo... Sentada no banco da igreja, entre sonolenta e desperta
adormeci e sonhei que era uma mulher muito curiosa chamada Sofia Nietzsche, e
que ouvia a pregação de um tal pastor Eros Sagratti, mais desatenta que o
normal, estava o cansada, trabalhei até as dezoito e cinqüenta e sete na única
mercearia de minha vila, mesmo sendo sábado tive que ficar até mais tarde, a
pedido do Seu Horse, que decidiu
arrumar as prateleiras de mercadorias de um jeito diferente, pela terceira vez na
semana... Fazer o quê? Não pude dizer não... Vida de empregada é assim mesmo,
cheia de desmandos...
Num dado momento o tal pastor,
citou o Evangelho de Atos Capítulo onze, versículo vinte e seis, e teceu um
comentário que prendeu minha atenção, me despertando de vez!
Disse assim:
— Por isso, prezados irmãos,
notamos que foi por obra do Espírito Santo que desde o primeiro século somos
todos conhecidos como cristãos; se permanecermos no caminho espiritual seremos
todos salvos, por que o Senhor quis assim, desde os tempos daquela santa
reunião, na congregação de Antioquia.
Custei a me conter, ansiosa para que o culto
acabasse para que pudesse fazer perguntas da mais alta importância ao pastor.
Vieram as palavras finais, o
cântico, a oração e o amém, a seguir me pus de pé e passando por entre os
irmãos que se confraternizavam cheguei até o pregador, cumprimentei-o, e fui
logo dizendo:
— Pastor Sagratti, tenho uma
pergunta importante a fazer ao senhor.
Pergunte, disse ele...
—Veja bem, pelo que pude entender
a Providência Divina determinou que todos os que seguissem Jesus deveriam ser
chamados apenas de cristãos, por que então existem tantas religiões nesse vasto
mundo? Isso me fez lembrar do que o Apóstolo Paulo disse em Efésios capítulo
quatro, versículo quatro, sobre um só corpo, um só espírito, um só Senhor, uma
só fé e um só batismo – o que o senhor tem a dizer sobre isso?
Senhorita Sofia Nietzsche, é
simples, todos os que são evangélicos, e que estão sob a ideologia de Lutero, é
quem, por direito, devem ser chamados de cristãos, mais ninguém (mal acabou de
falar me pediu licença para atender a outros que o chamavam). Que falta de
educação! Filho da puta!
Saí cabisbaixa, cumprimentando a
todos mecanicamente, minha cabeça fervilhava... Essa seria a última vez que
freqüentaria a Congregação Luterana Nacional.
Algumas perguntas não se calavam:
Porque tantas denominações
religiosas? Porque tantas interpretações diferentes da Bíblia?
O que dizer da Religião Católica?
O que dizer da Inquisição (praticada não só pelo catolicismo, mas, também por certos
setores do protestantismo?) Onde é que minhas dúvidas teológico-filosóficas
iriam me levar afinal? Não sei...
O tempo me proporcionaria
respostas? Realmente estava disposta a tirar satisfações com Deus; esse Deus
pra mim está morto da silva e já que assim é, concluo:
— Qual é mesmo o nome verdadeiro,
oficial, do Deus que não sirvo mais? O de meu ex-pastor, rude, nem quero mais
me lembrar... Parece nome de ator pornô... Quero um deus novo pra mim, que seja
Dionísio, o da mitologia grega... Sei que sou safada, pois, de vez em quando
dou meus dotes a seu concorrente, o deus Apolo, quando ele me fode eu adoro...
C 35 – VOCÊ GOSTA DE FICAR
FUÇANDO A VIDA ALHEIA?
Reflexões monetárias:
— Tô sem grana, tô numa pior, o que
vou fazer? Vender Caqui (só caqui que é bom; acho que não levo jeito para
comerciante). Já sei, vou alugar um dos dois quartos de meu barraco... Vou ter
que fazer umas mudanças aqui e ali, mas, tudo bem.
Sofia abriu uma porta para os fundos de seu
meio-lote (a que dava para a sala ela fechou).
No terreiro ela fez um banheiro,
colocando água e luz... Abriu um portão lateral, no muro, ao lado do seu
(inquilino precisa ter independência, não é mesmo?).
Só uma coisa ficou estranha:
Seu quarto ficou parede e meia com
o quarto que seria do novo inquilino que viria a ocupar aquele novo espaço (a
possessividade de Sofia não tem limites! Ela queria saber o que se passaria do
outro lado, usando a tática do copo na parede; êta mulher bicuda!).
Ela pôs uma placa de aluga-se
quarto na frente de sua moradia e ficou aguardando algumas semanas.
Eis que um homem todo engravatado
apareceu, cabelo lambido, terno xadrez, óculos de grau no rosto, magro, cara
fechada, e uma Bíblia debaixo do braço (era um católico fundamentalista).
Conversaram daqui, conversaram
dali, um acordo surgiu, e o homem se mudou para seu novo endereço (Beco
Labareda Nº. 666, vila fogaréu, Bairro São Lucas, Belo Horizonte, Minas Gerais)
no mesmo dia.
Trouxe apenas uma cama, um fogão
de duas bocas, um penico, um filtro, uma cadeira, uma mesa e alguns utensílios
domésticos... Pouca coisa... Coube tudo na carroça do seu Zé das Couves.
Seu nome? Matilson Madeira Machado
(vulgo MMM), esse era o mais novo inquilino de Sofia.
Ele era um homem fervoroso, gostava
de fazer cruzadas em prol do Senhor.
Ele só não sabia que armou sua tenda ao lado
de uma filha da perdição... Em breve ele descobriria isso da pior maneira...
C 36 – O QUE VOCÊ ACHA DO NÚMERO
666, O SINAL DA BESTA?
Sofia bateu a porta violentamente,
saiu furiosa, praguejando, insatisfeita, e impaciente desceu as escadas do
hotel Glória às pressas, não quis esperar pelo elevador; os muitos degraus não
a intimidaram...
Atravessou o hall principal a
passos largos, passou pela porta giratória tão rapidamente que quando se deu
conta já estava dentro de um táxi que estava parado em frente ao
estabelecimento (direto para a rodoviária, por favor, disse ela) – cinqüenta e
sete minutos depois ela deixava o Rio de Janeiro rumo a Minas Gerais.
Foi confabulando consigo mesma
durante a viagem:
— O que me cança mais é ter que
descer em Belo
Horizonte , ter que pegar outro ônibus e encarar mais alguns
longos quilômetros até meu lar, a Vila Vésper, um cantinho bom de viver, bem
perto da cidade mineira de Barbacena...
Ah Cassiovaldo, seu tonto... Quer
saber? É bem feito, quem mandou me fazer raiva? Onde já se viu? Tá pensando que
eu sou dessas que circulam por aí? Comigo não gavião! Não é fácil conviver com
você, estou mais para vampira e você para lobo, e romances assim não se
misturam bem...
Fui perguntar a ele para quando
marcaria a data do nosso casamento e ele teve o desplante de me perguntar:
— Como assim?
Aquela foi a gota de água! Já
estava mesmo por aqui com essa história dele ficar me enrolando, quando ele voltar
vai ser ver comigo. Também quem mandou eu aceitar viajar com ele, ficar lhe
importunando? Ele viajou a trabalho, eu não tinha nada que ficar na cola dele.
Entre um pensamento e outro, Sofia
começou a chorar baixinho, acabou adormecendo durante sua longa viajem.
Rodopiando de um lado para o outro
Cassiovaldo ainda podia ver a cena, a briga, a saída abrupta, a porta batendo
violentamente.
Pensou:
— Sofia, você é nervosa demais...
Eu, pensando na enorme quantidade de tarefas que o Seu Horse me pediu para
executar aqui em São Paulo
e você me azucrinando... Sou mesmo um
pobre office-boy de luxo e do lixo... Além de fazer meus serviços internos na
mercearia ainda tenho que fazer os externos e ainda ficar agüentando chilique
de mulher desvairada...
Ter que viajar para resolver
problemas dele já é demais! Fazer o que... Tô pensando em deixar de trabalhar
com ele; embora meu salário não seja lá essas coisas, aproveito para relaxar um
pouco quando viajo, ele me deixa em bons hotéis, essas coisas... Também com tantas
lojas... Até me deixa trazer a Sofia, desde que eu não abusemos, é claro.
Eu cheio de coisas na cabeça e ela
querendo falar de casamento!
Pouco depois a campainha tocou,
ele atendeu, um senhor com um boné tipo Milton Nascimento o cumprimentou, entregou-lhe
um envelope aberto (estava no banco de tráz do meu táxi, disse ele); como você
sabe que é meu? (Perguntei), estava com uma passageira, que se identificou como
Sofia (continuou o taxista), durante todo o percurso até a rodoviária ela me
falou de seus problemas com você, seu nome é Cassiovaldo, não é mesmo? (Ele
confirmou com a cabeça).
— Peguei sua noiva aqui, na porta
do hotel... Aqui estou, expliquei tudo à recepcionista, que me disse em qual
quarto você estava.
Ah, e a propósito não precisa de gorjeta
não, tchau, até um dia, se precisar fico sempre parado na frente do Hotel (quem
disse que ele ia lhe dar gorjeta?)... Antes de o motorista ir ele fez uma
pergunta desconcertante para o noivo abandonado:
— Sabe não resisti e olhei o que
tinha dentro do envelope. Por acaso vocês são de alguma seita satânica? (É
claro que não! Cassiovaldo responde; que pergunta idiota meu caríssimo
senhor!).
Pediu-lhe licença, fechou a porta
de seu quarto, indignado, e só depois que viu o que estava dentro do envelope é
que entendeu o porquê daquela pergunta estranha daquele senhor...
Aquilo, escrito com uma tinta
prateada, num pedaço de papel vermelho o deixou arrepiado e cheio de dúvidas
assombrosas – qual seria o que significado do número, seis, seis, seis,
impresso de forma bem grande, com a letra S seguida de um ponto, escrita no
cantinho daquele papel?
Sua cabeça disparou, ele ficou boa
parte da noite andando pra lá e pra cá, pensando... Só conseguiu pegar no sono
de madrugada. Estaria Sofia fazendo parte de uma seita do mal? E aquela
misteriosa letra, o que representava? Seria talvez a inicial de Satã? Ou talvez
Senhor das Sombras? Ele realmente ficou apavorado... Não era dado às coisas
ocultas.
Cassiovaldo acordou mal humorado,
suando frio, com dor de cabeça, o dia ia ser longo, ele não via a hora de se
encontrar com Sofia e tirar essa história a limpo. Ligou imediatamente para um
amigo seu, James, conservaram:
— Cara, tô mal, preciso de
ajuda...
— Sofia ou tá me traindo ou tá
aprontando alguma coisa feia.
— Que isso Cass, que piração,
explique isso direito pô!
— É o seguinte... (E foi se
explicando gradualmente, concluiu que quando chegasse à vila Vésper voltariam a
falar mais sobre toda aquela macabra confusão).
A vida é mesmo engraçada, quando
Cassiovaldo voltou de viajem nem passou em casa, foi direto para a casa de
Sofia e já foi logo metralhando quando ela atendeu a porta:
— Conta! Conta tudo agora! Tô
sabendo que tem coelho nesse mato (disse asperamente, com o papel em mãos,
mostrando-o pra ela).
— Bem que eu sabia que tinha
deixado alguma coisa naquele táxi, só não me lembrava o que era, estava nervosa
com você e nem terminei de escrever o que tinha em mente, acabei foi dando uma
desabafada com aquele taxista e deixei esse papel dentro de um envelope jogado
no banco traseiro, onde estava sentada.
— Isso não explica nada! Pelo
menos não tudo, desembucha vai! Tá mexendo com macumba? Tá fumando maconha? Tá
tendo um caso com alguém?
— Você é mesmo um tonto docinho,
se acalme, é o seguinte, lembrasse que brigamos porque falei em casamento e
você desconversou?
— Me lembro, e daí?
— Daí que o que está contido aí
nesse rascunho é o dia, o mês e o ano da data que eu gostaria de me casar
contigo, se esqueceu que estamos em maio de 2006? A letra é a inicial no papel
é a inicial do meu próprio nome seu abestado!
— Aaah... Agora tá explicado
(disse ele todo sem jeito), se é assim, para apagar esse equívoco podemos falar
sobre nosso casamento então, a data é meio estranha, mas, como foi você quem
escolheu tudo bem.
— Tudo bem o escambau! Vai tirando
seu time de campo, já tava meio que na dúvida se queria ficar com vossa pessoa,
depois dessa, nem morta! (ao mesmo tempo em que concluiu a frase já foi logo
batendo a porta na cara dele – depois disso nunca mais ela se quer olhou para
ele, vai ser desconfiado assim lá no inferno!).
C 37 – O QUE VOCÊ ACHA DAS
BANDAS DE ROCK?
Se Sofia trabalhasse numa agência
de bandas de rock a disritmia digo, a melodia seria mais ou menos assim:
Sofia:
— Agência de bandas de rock, boa
noite.
Cliente:
— Por favor, senhora, quanto custa
contratar o Iron Maiden, O Black Sabbath ou Judas Priest? Vê também o preço do
Ozzy, do Dio e também do Saxon, ok? Vê aí o preço médio da coisa...
Sofia:
— Você quer o preço de cada um
separado ou todo mundo junto?
Cliente:
— Tanto faz...
Sofia:
— Tanto faz uma ova, vamos ser
mais claros, por favor? Tá quase na hora de eu ir embora, e telefone anda muito
caro por sinal, e tem mais, aqui não tem esse negócio de média não, as bandas
são de primeira linha e o preço é um só, todas cobram cinqüenta e sete pratas,
com estrutura de show completa, e senhora é a sua mãe.
Cliente:
— Escuta aqui, se tá com pressa
por que atendeu? E quem tá pagando a ligação sou eu, desembucha logo, vai dar
ou não?
Sofia:
— O que você disse antes não vem
ao caso, e se eu dou ou não isso é problema meu.
Cliente:
—Dona, vamos parar de frescura?
Sofia:
— Aqui não tem esse negócio de dá
pra ser ou vai demorar não, ok? Quem tem pressa come cru, e se o senhor quiser,
sabe como é, os honorários vão se multiplicar por quatro, vai querer ou vai
correr?
Cliente:
— Vamos ver... E se eu contratar
cinco bandas, tipo o Scorpions, O Bon Jovi, o Arch Enemy, o Guns’ N’ Roses, o
Metallica e também o Stratovarius, o Nightwish, o Angra e o Sepultura?
Sofia:
— Por acaso você é burro? Não sabe
fazer conta não? Pede cinco, mas, cita nove? Santo Heavy Metal!
Cliente:
— É que me empolguei.
Sofia:
— O negócio é o seguinte, aqui não
é mercado pra gente ficar dando desconto, mas, em todo caso, se você levar
quinze pagas doze, entendeu?
Cliente:
— Aonde é que eu vou colocar tanta
banda? O lugar que eu tô descolando só cabem duas, pô!
Sofia:
— Esse papo não tá meio louco não
heim? Tá parecendo papo de pagodeiro...
Cliente:
— De fato, sou um dissidente do
Grupo Molejo, tentei uma vaga no Fundo de Quintal e na banda do Zeca Pagodinho,
mas, não deu; a coisa tá feia! Resolvi
tentar um novo ramo musical.
Sofia:
— Não trato nada com ninguém do
pagode, do axé, do funk, nem do rap... Vê se te manca, vai procurar sua turma,
traíra!
Cliente:
—Alô!Alô! Não é que a danada
desligou, só pra contrariar?
C 38 – VOCÊ GOSTA OU NÃO DE SUPER-HERÓIS?
Se Sofia trabalhasse em uma
agência de super-heróis a confusão, digo, (des)ventura seria tipo assim:
Sofia:
— Agência de super-heróis, bom
dia, boa tarde, boa noite...
Cliente:
— Já começamos mal heim? Não sabe
que horas são não? Deixa pra lá, e por falar nisso, não tem nada de bom
acontecendo aqui, tô na maior roubada! Acabei de ser assaltado, ainda agorinha!
Mande um desses seus super-heróis para a Rua dos Desesperados, meia-meia-meia,
centro dessa joça de capital. O cara afanou minha carteira e se escafedeu, tá
virando a esquina ainda!
Sofia:
— Não se agonize; ok? Já iremos
resolver isso já-já. Vai ser a vista ou no cartão de crédito?
Cliente:
— Tô sem um pulto no bolso e você
me vem com negociatas? Francamente!
Sofia:
— Aqui não é casa de caridade não
meu filho, mas, como a coisa tá feia a gente manda junto uma nota promissória,
depois você acerta – e a propósito, vai querer o Thor com seu martelo
encantado, o Capitão América com seu escudo imponente, o Homem de Ferro com sua
mais nova armadura high tech, ou o
Hulk com suas pancadas verdes e possantes? Temos o Homem-Aranha também, os
Vingadores, os X - Men...
Cliente:
— Eu quero é o Batman ou o
Super-Homem ou a Mulher-Maravilha ou a Liga da Justiça!
Sofia;
— Então o senhor ligou para a
agência errada, esses nomes aí são da nossa concorrente...
Cliente:
— Ai caceta... Que seja então...
Sofia:
— Qual vai ser? E seja menos
histérico, por favor, que meu ouvido não é penico! E se tá com pressa ligasse
mais cedo!
Cliente:
— Sua desalmada, isso lá é hora
para me dar sermão? Manda então o Demolidor ou o Justiceiro, tanto faz! Eu
quero é minha carteira de volta! Eu quero é uma solução para o meu caso, dá pra
ser ou vai demorar?
Sofia:
— Quem tem pressa come cru, e se o
senhor quiser o Quarteto Fantástico vai sair mais caro, com ele a gente
multiplica o preço por quatro!
Cliente:
— Claro que não os quero, manda
dos mais baratos, pode ser o Homem-Formiga, a Vespa, o Pantera Negra... E anda
logo com isso que os créditos do meu celular estão acabando...
Sofia:
— Eu entendo o seu problema, eu já falei
com o Pantera Negra pra instalar o serviço 0800, mas, ele diz que a coisa tá
preta, que tem que economizar. Nossa agência não anda bem das pernas...
E me diz uma coisa, por que você
não muda para um celular de linha? E por falar nisso, que ladrão mequetrefe é
esse que leva sua carteira e deixa o celular pra traz? O cara não sabe nem
roubar... Parece o Duende Verde.
Cliente:
— Como é que é! O herói vem ou não
vem? Ah, é quanto vai me custar o serviço? Só posso pagar até cem pratas...
Sofia:
— Só isso? Por esse preço eu vou
te mandar o Super F.
Cliente:
— Nunca ouvi falar...
Sofia:
— Esquenta não, ele vai dar um
jeito, ah, só pra finalizar, o F é de faxineiro, viu?
O telefone ficou mudo de repente.
C 39 – VOCÊ
TEM A CARA DE PAU DE NEGAR QUE NÃO TEM OS “SETE PECADOS CAPITAIS” DENTRO DE SUA
CARCAÇA?
Dizem que sou cheia de defeitos,
que nada! Só tenho sete, e eles não são tão cabeludos assim, tire a prova das
nove e você verá. Sou nota dez:
Avareza...
Eu sei... Eu sei... Não sou muito
dada...
Sou mão de ferro, admito, mas, se
ponha no meu lugar! O que tenho consegui sem muito esforço, por isso a
possibilidade de perder tudo é fácil demais, preciso cuidar do meu patrimônio,
entendeu?
Não me levem a mal, não sou
avarenta, pelo menos não com todas as letras, digamos que sou precavida.
Gula...
Comigo a vaca
vai pro brejo mesmo! Adoro vaca atolada! Quando começo a comer ninguém me
segura, sou como um caminhão sem freio! Depois de cheia fico com as quatro
rodas pra cima. Mexer só se for com os olhos, entro na história de ovelhinha e
saio como uma porca...
Não consigo me controlar,
guloseimas, chocolates, feijoadas, pizzas. Ai como é bom comer! Gostaria de ser
comida, não me entendam mal, tô falando da dita cuja mesmo...
Inveja...
Não é bem assim uma inveja, mas, o que vejo no corpinho das meninas me
atrai e me traio, aprecio os balangandãs alheios...
Não levem a mal, é em nome da
estética que estou a me pronunciar... Pego emprestado nas coisas delas por
empréstimo, só não consigo devolver com facilidade – seguro e não quero largar!
E tem mais, quando vejo minhas colegas acompanhadas dou mole mesmo, fico fácil-fácil,
para quem quiser pegar.
Ira...
Minha ira todo mundo já conhece, dou show de
graça, arrebento as ventas e dou bordoada três por quatro, comigo a sanfona
geme de fato. A rebimboca da parafuseta fica desgovernada e, quando acho que
não vou já fui, e é só poeira que levanta! Fico até fedorenta de tão nervosa!
Sai de baixo que eu fico doida mesmo!
Luxuria...
Só gosto do bom e do melhor, meu negócio é
ficar desenfreada, meus prazeres apitam e pedem passagem, gosto de ficar
encharcada, comigo não tem lomba, sou libertina, sensual, supérflua. Sou
luxenta com orgulho... Miss é assim mesmo!
Preguiça...
Dá até sono quando eu toco neste assunto, meus
olhos ficam pesados, procuro o aconchego do colchão, do travesseiro e da
coberta. Fico assim, querendo cafuné, querendo um dengo.
Eu olho pra cama, ela olha pra mim
e a gente se entende com muita facilidade!
Soberba...
Como couve e arroto lombo, sou nariz empinado
sim, orgulhosa com H maiúsculo! Poderosa com pH! Gostosa com Jota de qualquer
tamanho!
A vida me fez assim, o que eu
posso fazer? Que se danem as mal amadas e feias, eu sou eu e dobro!
Pra encerrar:
Valho por sete, mas, de lambuja deixo na
banguela, se alguém precisar vai ter que pagar.
C 40 – VOCÊ BEIJARIA UM
JUMENTO?
Dia desses, sentada na praça, vi
um jovem carroceiro sentando o cacete em seu jumento, o cara batia e berrava
com o bicho, sem dó nem piedade!
Tomei as dores do pobre coitado,
me levantei, corri e dei um salto mortal bem na cara do sujeito, que caiu no
chão feito fruta podre.
Eu gritei:
— Seu desgraçado! Vai bater na sua
mãe, não tem alma não?
Sabe qual foi a resposta dele?
Puxou um facão de sua mochila, e partiu com tudo para cima de mim! Só não me
arregaçou toda porque na hora H o jumento me salvou, dando um coice no meio do
saco do safado!
Deixei o vagabundo sangrando, não
resisti (não sei bem porque), e levei o jumento comigo para casa.
Chegando lá rolou uma química
estranha e, quando dei por mim já tava com ele na cama!
Olhos nos olhos, aquilo na mão, a
mão naquilo, beijos de língua, uma delicia só.
A coisa só não engrenou mais
porque ele tentou uma entrada por trás, eu não agüentaria um carinho tão grande
dentro de mim!
Ele insistiu muito, relinchando
sem parar, eu tive que fugir! Saltei a janela, desesperada, e desci em
disparada ladeira a baixo, o miserável tava atrás de mim, de mastro em pé!
Atravessei o cruzamento a mil,
mas, ele não teve a mesma sorte, morreu atropelado ali mesmo, por um caminhão
carregado de porcos que estavam indo para o abate!
Só então me dei conta que estava
pelada, no meio da rua, pagando o maior mico!
Depois desse vexame todo ainda
tive que gastar um troco dobrado com dois caixões:
Um pro jumento e outro pra
mandioca dele, afinal morreu com a coisa dura! (Foi algo muito difícil pra mim,
perdi o que tanto temi e ao mesmo tempo amei!).
Eu sou mesmo uma desorientada, só
me meto em confusão, e essa foi das grandiosas... Se bem que vou sentir saudade
daquele bafo quente de capim molhado em meu corpo... Misericredo!
C 41 – VOCÊ GOSTA DE BARATA COM
ARROZ DOCE?
Estava comendo um delicioso arroz
doce um dia desses (com direito a copo, colher, canela e côco ralado, extraído
de um panelão que fiz com o dito cujo, com leite de cabra, creme de leite, de
vaca, e leite condensado de leitoa, numa boa).
Ainda arde na lembrança de me ver
ali, tão contrariada, pensando na sopa de jiló, com abobrinha e bucho de bode
que comi na noite passada com jurubeba...
A coisa pesou geral e, tive um
contato extraterrestre com o bocão, meu vaso (in)sanitário, por mais tempo do
que gostaria, na manhã seguinte, voltemos porém, ao doce supra citado.
Estava eu super bem, me deliciando
com aquele manjar branco, quando (vinda não se sabe de onde) uma barata tonta,
voando assimetricamente, com um absurdo espírito de porco pousou dentro do meu
copo!
Quase cai de costas, odeio esse
bicho (já não me bastam aqueles morcegos gigantes e roxos da Indonésia? Já não
me basta a mosca que caiu na minha sopa e na do Raul Seixas?).
Por muito pouco não lhe dei uma
dentada!Que perfume! Que asas compridas! Que antenões! Que buzanfa gorda e
cremosa! Que nojo miserável!
Estiquei a mão, peguei a vassoura,
disposta a empalar a bicha, suando frio me afastei e sentei o braço, digo, a
piaçava, naquela maldita!
A parede ficou toda lambuzada de
arroz doce, foi caco de vidro pra todo lado, mas, a desgraçada saiu rodopiando
pelo ar, indo se esconder atrás da geladeira.
Para me acalmar tomei um Prozac
com cachaça e pensei em dois antigos namorados meus, um era especialista em
detetização, se chamava Denis, Pé- de –mesa, o outro era pedreiro e filósofo
autodidata nas horas vagas, se chamava Zé Tripé – ambos eram unânimes:
Barata é igual a mulher feia, tem
que ser exterminada!
Decidi acabar com aquela bandida,
revirei a cozinha, que ficou de pernas para o ar, e nada! A safada escapou!
Algum tempo depois, já descansada,
peguei outro copo, me servi outra vez, e fiquei a degustar aquele néctar.
Pouco depois senti um gosto
estranho na boca (após ouvir uns estalos crocantes), a ordinária, não sei como,
conseguiu entrar, de novo, no copo, e se misturou com o arroz doce, sem que eu
visse! Cheguei à seguinte conclusão:
— Ela também era viciada na coisa
como eu!
Caí no chão, tremendo, espumando,
revirando os olhos e vomitando tudo o que comi, até os restos daquela sopa
infeliz – na seqüência não vi mais nada, depois, desmaiei por sete horas.
C 42 – VOCÊ JÁ SONHOU COM O
ARMAGGEDON?
Fiquei assombrada com um pesadelo
que tive certa noite, que misturou cenas do Armaggedon (aquele troço ligado ao
Apocalipse, final dos tempos, essas coisas).Sonhei com um lugar cheio de cobras
e bodes multicores, ao mesmo tempo... Dava a luz a um menino (a quem chamei de
Pornélio) e me casava com um nordestino porreta, chamado Maurélio Fudênzio,
dentro de um cemitério! Misericréu! Tá Amarrado!
Durante a sessão uma estranha luz
invadiu o lugar e, de uma só vez, peguei bicho de pé, sarna, mau hálito e
frieira, no sovaco e na cabeça, além de ter ficado com piolhos aos quilos até
dentro da calcinha!
Desesperada comecei a me coçar com
caco de vidro, levei o pé a boca e comecei a morder uma bolinha gorda que no
dedão surgiu, fiquei tonta por um momento, o chulé tava de matar!
Disse para o Senhor, aos berros:
— Obrigado por essa provação, eu
tava precisando de uma lição, mas, da licença que eu vou ficar pelada, pois, estou
ardendo em brasa, da cabeça ao fiofó!
Mal tirei a roupa e me deparei com
algo estranho, dois auxiliares do pastor também estavam desesperados, batendo
os queixos, de tanto frio (a tal luz também lhes iluminou)...
Começamos a nos ajudar, uns
coçavam, outros aqueciam.
Pra piorar, quem chegou a seguir?
O pastor, que entrou derrapando na
história, também pelado, a gritar:
— Me chupem, me lambam, me cuspam,
me alisem, que eu também tô pegando fogo, irmãos, valei-me, uma luz quentinha
me pegou bem no meio das pernas!
Engalfinhamos-nos no chão, nos
ajudando mutuamente, que muvuca doida!
Não teve jeito, era para ser um
ato de solidariedade pura...
Terminou em pura sacanagem!
O nosso tesão foi crescendo,
crescendo e nos absorvendo, e nós nos vimos assim, completamente profanos, numa
suruba dos infernos!
O fato é que gozamos (como os
anjos, se é que eles gozam, ou como os quatro cavaleiros do apocalipse).
A seguir saímos correndo, meio que
envergonhados, mas, felizes, só que sem entender que putaria foi aquela dentro
daquele recinto eclesiástico.
Melhor esquecer tudo, não é mesmo?
Esquecer? De que jeito?Tô assombrada até hoje... Tô encantada, ou melhor,
destrambelhada... Mas, vou guardar isso na memória pra sempre!
C 43 – VOCÊ DEPILARIA SUAS
PARTES ÍNTIMAS?
Só me dei conta que tava pagando
mico depois que dei três coçadas na perseguida em plena Avenida Paraná.
Tirei a mão da calcinha, dei uma cheirada e constatei:
Tava muito peluda havia suado
muito, e percebi que o cheiro de bacalhau com queijo tava de travar... Decidi,
pela primeira vez, que precisava dar uma depenada mais showbiz na Fifi, a quem costumo chamar também de Pufinha.
Parei num desses salões básicos da
região, perguntei se tinham o serviço de extração básica de anti-petunias
hippies (tinham), me perguntaram se era para dar uma geral ou se eu queria só
uma parcial (desconhecendo a profundidade da questão disse que já que era para
arrebentar que fosse no estilo barba, cabelo e bigode – maldita hora que eu
falei aquilo!).
Preço acertado e fui para o
abatedouro, digo, mandaram me deitar numa cama semi-alta (deitei)... Mandaram
tirar a calcinha (tirei)... Mandaram-me abrir as pernas (abri)... Isso tava até
parecendo um filme pornô!
Perguntei:
— Minha senhora, precisa disso
tudo? Tô meio que arreganhada de mais, gosto de ficar assim, mas, não tão
assim, digo, com a senhora passando esse negócio quente em minha virilha.
Ela não disse nada, estava super
compenetrada em sua iminente tosquia, como uma oficial médica nazista, pronta
para mais uma experiência esquizóide – colocou uns papéis por cima daquela
cera, deu dois ou três puxões e tchan-tchan- tchan-tchan!
Não sei se tava sendo dominada ou
se tava tomando uma surra sado masoquista bem na cara. Das minhas coisitas
particulares (agora nem tanto assim)... Meus olhos se encheram de água, e eu
mordi os lábios nervosa e energicamente, para não berrar como uma cabrita doida
no cio!
Puxa daqui, puxa dali, e foi só
tufo atrás de tufo saindo, em meio ao mel com papel.
Ai, enfim ela disse:
— Fica de quatro, que agora vou
dar uma rapidinha na garagem.
— Mas, o que o Clóvis tem a ver
com tudo isso? O que, que a senhora tá querendo? Tá a fim de arrebentar minhas
pregas?
Ela disse secamente:
— Faz o favor de ficar no jeito? É
só uma depilada, para refrescar sua traseira, e evitar as famosas freadas de
Bicicleta.
Concordei com relutância, tanto
que fiquei com as nádegas extremamente retraídas, mas, não teve jeito, e ela,
já um pouco impaciente disse:
— Querida, use suas mãos e separe
uma banda da outra sim?
Concordei de novo, mas, que
constrangimento! Se ela ousar enfiar algum instrumento no Clóvis a pancada vai
comer!
Ela deu uma breada com aquela
coisa quente na minha buzanfa... Eu tava até gostando, mas, no que ela puxou eu
vi até estrela! Foi pior do que ter sido arrebentada por um elefante, que
tragédia! Entre rindo, chorando e soluçando paguei pelo serviço e sai toda
torta avenida a fora.
Maldito dia! Maldita hora!
Sabe o que é pior? Fiquei quase
biruta com a coceira desconcertante que toda aquele sebo provocou em mim!
Que os cabelos da Fifi cresçam de
uma vez para sempre, e se multipliquem, livres leves e soltos, tô nem ai!
Depilação? Nunca mais!
C 44 – O QUE
PODE RESULTAR DA FILOSOFIA DE UM URUBU COM A TEOLOGIA DE UM JUMENTO?
A razão não tem primazia em questões
de fé... Prova disso é o barulho resultante que fizeram dois bichos com idéias
diferentes, que um dia se encontraram por acaso
(um Urubu, que filosofava e um Jumento que teologava)... Quando o orgulho passa
longe, tudo o mais também passa, com exceção da ignorância.
O que conversaram foi mais ou
menos assim:
— Sou mesmo muito inteligente,
dependo apenas de mim mesma para viver, só a minha razão me basta para ser
feliz (disse Seu Urubu).
— O que você diz é a mais pura
ilusão, as coisas do além são bem mais reais, e dependemos delas para vivermos
bem (retrucou Seu Jumento).
Seu Urubu:
— Quem é que vive iludido, eu ou
você? Só acredito naquilo que vejo, se estas coisas estão além como é que você
pode afirmar que existem se nunca as viu e nunca teve um contato direto com
elas?
Seu Jumento:
— Você uma vez mais se engana,
existem coisas que a gente não vê, mas, nem por isso deixam de ser reais, o
vento, por exemplo.
Seu Urubu:
— O seu exemplo é falho, o vento é
real, sendo composto de coisas reais, coisas atômicas, químicas, perceptíveis
por equipamentos mais potentes que nossos olhos... Você está cego e deslumbrado
com ficções e ilusões de toda sorte.
Seu Jumento:
— Cego é quem não quer ver, você é
fruto do acaso ou foi criado por outros bichos?
Seu Urubu:
— Fantástico o seu poder de
alucinação!
Só por que nasci de outro bicho
quer dizer que há uma outra coisa, superior, que originou todas as outras
coisas?
Seu jumento:
— Sim, se essa não for a resposta,
qual será então?
Seu Urubu:
— Vou inverter a situação,
responda-me, você tem como provar isso? Não precisa responder... Digamos que,
se não tens como provar o meu ponto de vista você também não tem como provar o
seu, ou tem?
Ambos estamos transitando por um
caminho delicado, a única certeza que temos é que não temos certeza sobre essas
ou outras questões.
Seu Jumento:
— Assim, com exatidão não tenho
como provar mesmo... Mas nem por isso vou me deixar intimidar por você sua
criatura preta e asquerosa!Você é um herege! Está querendo me desviar dos
caminhos da fé! És um bicho pagão e absurdo! Vou mandar te prender! Eu mesmo
vou te incinerar!
Seu Urubu (visivelmente
transtornado, como seu opositor, concluiu):
— Se aproxime e vais tomar umas
pancadas que é pra deixar de ser burro!Você é um estúpido! Um limitado! Um
ignorante! Uma diarréia da inteligência! Um bicho esquizóide e psicopatológico
incorrigível! Um fundamentalista metafísico e ilógico!
Mereces mesmo é tomar cicuta, seu
safado de uma pinóia!
Qual foi o fim dessa tortuosa
seção de acusações, ofensas e verborragias?
Os bichos em questão partiram
mesmo para as vias de fato, foi só pena e pêlos que pelo chão ficaram; deixando
bem claro o quanto eram ambos ignorantes.
Quando um não quer e o outro
também não o que se vê?
A mais plena confusão irracional,
nitidamente animal!
C 45 – BICHO-DE-PÉ
COM BICHO-DE GOIABA QUE TIPO DE CARNIÇA DÁ?
Dois vizinhos, que a muito não se
viam, um bicho-de-pé e um bicho-de-goiaba...
Se encontraram na floresta, numa
bela tarde de chuva fina, primaveril, e conversaram muito, colocando as suas
aventuras em dia.
— Como vai você?
— Estamos bem, pelo menos eu
(respondeu o bicho-de-pé), o caipira que eu ando comendo é um tremendo porco,
gordo, sujo e fedorento, o mais incrível é que o bobão gosta da coceira que eu
provoco!
— Será que ele um dia não se
cansará de você e o espremerá com puz e tudo?
— Já pensei nisso, tanto que já
coloquei meus ovinhos na companheira dele, se isso voltar a acontecer faço o
mesmo outra vez, ou seja, me garanto lá ou cá, eu e os meus, é óbvio...
— Sua vida é muito complicada, eu
tenho uma vida mais tranqüila, vivo numa plantação de goiabas, com fartura, e
sem preocupações, com moradia, e raramente me preocupo com predadores.
— Acho que você se esqueceu de um
detalhe, o bicho de onde tiro o meu sustento gosta de um suculento doce de
goiaba, é bom que você não se esqueça que ele mora bem perto de onde você se
instalou.
— Quer saber? Acho que você está é
com inveja, pois, eu moro num lugar chique e você mora num chiqueiro de
terceira classe.
— Veja lá como fala seu
lambisgóia! Semana passada eu acabei com um carrapato, com uma lombriga e com
um piolho que se engraçaram comigo, olha que eu te arrebento também!
— Pode vir seu bicho podre, eu não
tenho medo de porcarias como você!
Como se viu, mais um caso de
confusão generalizada, os contornos mudam, mas, as entrelinhas costumam ser as
mesmas:
Os bichos não assimilam com
facilidade suas diferenças internas e externas, e o que realmente se vê? A mais
plena confusão, de novo!
Talvez, um dia, quem sabe, todos
os bichos possam vir a se entender plenamente...
Quem sabe possam ficar um no
quadrado do outro, descendo ou subindo, redondamente...Quem sabe possam
partilhar as mesmas carícias... Quem sabe possam ficar alternando posições
diferenciadas... Quem sabe possam se beijar e se abraçar sem ter medo de se
lambuzar...
Quem sabe possam até mesmo vestir
as mesmas camisas ou camisolas...
C 46 – SOFIA FOI MESMO AMANTE
DE JOHN LENNON?
Sofia sentiu-se mal, caiu e bateu
a cabeça no chão, quando acordou deu de cara com John Lennon saindo dos
estúdios Abbey Road.
Ele saiu fumando, a passos largos,
nervoso, coçando a barba... Havia uma jovem em seu caminho:
Sofia.
Ele tentou se desviar, deu um
passo para a esquerda, mas, ela também deu, deu outro para a direita, e ela
também; impaciente ele disse:
— O que você quer? Um autógrafo?
— Não, engasgou Sofia, quero te
amar, disse engolindo em seco.
— Eu poderia te dar um autógrafo,
sei lá, até um beijo, mas, você quer de cara o meu amor! Pensou um pouco, coçou
de novo a barba, pegou-a pelo braço e disse:
— Vem comigo, vamos andar um
pouco...
Sofia aceitou e, suspirando, o
acompanhou, foram se falando pelo caminho:
— Você sabe quem eu sou? Perguntou
ele.
— Claro que sei Lennon!
— Não, sou o cara mais triste do
mundo! A gente tá quase se separando, sabe... A banda...
– Eu sei.
— Como é que você sabe se isso
ainda é confidencial? Nem os bestaloucos da imprensa sabem pó?
— Não é nada disso, quer dizer, vi
em seus olhos, em seus gestos nervosos.
— Ah bom! Saca só, tem uma garota
na parada, a Yoko. Sabe o que é... Ela é demais, me deu uma nova visão
supra-oriental da vida.
Cara, tô a fim de viver de paz e
amor, chega de mídia, sucesso e hipocrisia! Quero curtir mais a onde hippie.
E você, que roupa esperta que tá usando! De
onde você é da América?
— Do Brasil.
— Longe paca, bicho! A capital é
Buenos Aires, não é mesmo?
— Como é que tu vieste parar aqui?
— É muito complicado, deixa pra
lá, exceto que a capital é outra meu chapa...
— Tudo bem, eu entendo seu estado
de confusão... Mais complicado do que minha vida com Paul, Ringo e Harrison, te
garanto que não é, pode se abrir... Fala que eu te escuto, com carinho e paz...
Quer um careta?
— Aceito. Promete que não vai rir
de mim?
— Podes crer, vai nessa.
— Bem, eu vim do futuro.
— Depois sou eu quem fuma baseado
demais...
— Tô falando sério!
— Foi mal, continue...
— Ando numas de viagens
fantásticas, idas para o passado, para o futuro, coisas assim... Bem ao estilo
Vestido de Noiva do Nelson Rodrigues:
Realidade, memória e alucinação...
São atos cênicos e também cínicos...
— Como assim? Na boa, explica
melhor!
— Acho que você não vai entender
mesmo, tenho pouco tempo contigo, tipo cinqüenta e sete horas e/ou cinqüenta e
sete segundos, sei lá, o processo é muito instável. Deixa pra lá, canta uma
canção pra mim?
— Tem uma música que eu tô
bolando, para o caso de uma carreira solo, vou te mostrar em primeira mão, quer
ouvir?
— Como se chama? Imagine?
— Bicho! Tu leste meus
pensamentos?
— Não, imaginei...
Ambos ficaram cantando, fumando,
trocando carícias e batendo papo de montão.
Lennon pediu um tempo, voltou de
onde veio para buscar mais cigarros, quando voltou não a viu mais. Ficou só
pensando nela:
—Que peitões, que mulher maluca,
que neura!
Enquanto procurava por ela, ia
assoviando Come Togheter.
E Sofia? Sumiu... Nunca mais ele a
viu... Sofia Santelly já estava em outra dimensão...
C 47 – FREUD É FODA OU NÃO
PASSA DE UMA FRAUDE?
Sofia estava agitada, rolava de um
lado para outro na cama, não conseguia dormir. Foi até a cozinha e tomou sete
comprimidos para tentar pegar no sono.
Não satisfeita, tirou o garrafão
de conhaque do armário, deu umas cinco ou sete goladas caprichadas no mesmo, e
voltou a se deitar.
Em poucos minutos apagou, dormiu
feito uma pedra, se remexendo e suando feito chaleira no fogo, só se acalmando
quando começou a dialogar com Freud, o maior psicanalista de todos os tempos.
Freud:
— Em que posso ajudá-la minha jovem?
Sofia:
— Se eu soubesse não te procurava;
se vira se não vai tomar bordoada.
Freud:
— Agressividade gratuita... Descontrole...
Vejamos, fale-me de sua infância, nela pode estar a raiz de alguns de seus
problemas.
Sofia:
— Sei lá, tudo é tão confuso...
Sinto alguém me bolinando, não, não é isso, é um cão cheirando minha boca...
Acho que vomitei; meu pai tá na cozinha berrando com minha mãe... Vejo um
facão, muito empurra-empurra. O que é que está acontecendo doutor?
Freud:
— É seu inconsciente aflorando...
Sofia:
— Não tem nada aflorando não, vejo
um monte de flores despetaladas, alguns vultos, uma mula sem cabeça, um
velório, alguém morreu:
— Eu, sou eu mortinha em cima de
uma lápide do Zé do Caixão!
Como tô feia! Descabelada!
Derrepentemente me levanto, feito uma disgracenta duma Maria-Zumbi, saio pelada
pelas ruas, vejo luzes, muitas luzes, tô num show de rock, encontrei um cara
lá.
Vejo um motel, uma bailarina e uma
garrafa de conhaque; que neura! Por falar nisso, vejo meu irmão Neurox, agora a
gente tá no chão, se engalfinhando, ele me chamando de safada, eu enfiando a
mão na cara dele. O que significa tudo isso?
Freud:
— Você está patologicamente
perturbada... Precisa fazer várias sessões comigo para acharmos uma cura para
seus males. Vou prescrever uns tranqüilizantes para você.
Sofia:
— Alto lá vovô! Perturbado é você!
Não tô doente, porque tenho que me curar? Quem tá mal é tu, saca só teu visual:
Cabelo pixaim, olho esbugalhado,
estás todo mal arrumado! E tem mais, meu tranqüilizante é pinga com mel ou
conhaque com ribite, até nunca mais!
O dia já estava amanhecendo...
Cinco e cinqüenta e sete... Sofia acordou assustada, havia urinado na cama,
estava trêmula, tinha sido um pesadelo psicanalítico.
Foi até a cozinha, fez um café bem
forte, tomou e ficou assombrada o dia todo devido ao seu (des) encontro com
Freud.
C 48 – SÓCRATES E PLATÃO
REALMENTE AMAVAM SOFIA?
Sofia, remexendo em seus bagulhos,
encontrou um livro de Platão com muitos diálogos socráticos.
Após uma rápida folheada, decidiu
lê-lo... Cinqüenta e sete páginas depois, já estava dormindo sobre ele, e só
acordou quando alguém tocou seu ombro, dizendo:
— Acorde senhorita, babando desse
jeito o livro irá estragar!
— Quem é você? Perguntou Sofia.
— Sou Platão, discípulo de
Sócrates, maior filósofo da Grécia, vamos filosofar um pouco?
— Com você, nem morta! Não falo
com discípulos, quero falar é com o dono dos porcos! Cadê o seu mestre?
— Está ali, veja.
— Hei Seu Sócrates, psiu! Vem cá,
vamos trocar umas idéias?
Ele se aproximou e disse:
— Sobre o que desejas falar?
— Sei lá, o inteligente aqui é
você.
— Só sei que nada sei, porém mais
ignorante é quem acha que sabe algo.
Como pode ver; não me acho
inteligente. Porque acha que sou?
— Olha aqui, primeiro quem disse
que você é inteligente foi o seu discípulo, eu nem te conheço...
Segundo, como é que você sabe que
não sabe de nada? Isso já não é saber algo?
— Ignoro.
— Deixa de embromação, ou é ou
deixa de é, que saco!
— O que sabes sobre o ser? Pareces
estar bem informada.
— Vou perder a compostura já-já,
meu sangue está subindo e quando eu me descontrolo, fico imoral e anormal, viu?
— Insisto e complemento, o que
sabes sobre o ser, sobre moral e o equilíbrio das coisas? Ensina-me, digas o
que sabes!
— Eu? Quer dizer, saber eu sei só
que pra mim mesma e se você é um ignorante o problema é seu!E mais, depois
dessa lengalenga toda me vou embora.
Noutra ocasião vou dar uma ligada
para o Aristóteles, este sim eu sei que sabe muito.
Tchau mané, e vê se dá uma
melhorada no teu visual, falô? Fui.
Sofia olhou para um lado, olhou
para o outro, não vendo ninguém.
Levantou-se da mesa, fechou seu
livro e foi até o banheiro...
Sentiu vontade de filosofar, mas,
desistiu, preferiu mijar...
Sentiu saudades de Sócrates, mas,
desistiu, lembrou-se de sua pouca formosura estética...
Pensou em Platão, desistiu também,
foi até a cozinha e preparou um mexidão...
— Mesmo que o tal Sócrates fosse o
que fosse eu não fui na dele tanto assim, só no começo, no meio em si eu já
desconfiava de seu demônio interior, inferior...
Mas, do tal Platão eu pude algo
entender, ele era um pratão, cheio de macarrão à grega...
C 49 – SOFIA MATOU MESMO JANIS
JOPLIN?
Sentada no chão, Sofia deixou de
lado um livro sobre como praticar yoga em cinqüenta e sete lições. Queria
levitar... Meditar, fazer viagens astrais, essas coisas...
Assumiu uma postura meio zen,
cruzando as pernas, etc e tal...
Em poucos minutos já estava num estado
alfa-beta-gama, mas, uma voz rouca, em princípio estranha, a conectou a uma
viagem diferente.
Ela, percebendo que algo de
terrível estava para acontecer, e reconhecendo de quem era a voz gritou:
— Janis, não faça isso! Pare!
Pare! Pare!
— Não enche o saco! Faço o que bem
quero! E tem mais, como é que você entrou em meu quarto? Se manda bicho!
— Qual é Janis, sou tua fã, se
você continuar nessa onda vai morrer!
Larga essa garrafa de whisky,
apaga esse baseado, solta essas cartelas de comprimidos, mulher! Saca só a
bagunça! Tu já detonaste sete garrafas!
Olha só quanta bituca no chão! Pô!
Veja quantas cartelas vazias
espalhadas em seu quarto! A vida não é assim não! Tu és amada pelo mundo todo!
Tua voz, Teus blues, Teu visual, é tudo fantástico! Não nos deixe, não desista!
Que tal fazer yoga? Sei lá, trocar umas idéias com o Bob Dylan, ou com Lennon,
desabafa, faça alguma coisa, mas, não se mate; eu te amo! Vê se me dá um beijo na boca, sua cantora
gostosa!
Pros diabos com tudo! Tô cansada!
A vida é um lixo! O luxo e a fama são pura ilusão! Essa onda hippie já me deu
no saco! Estou sofrendo por amor, é muita dor!
Quer saber? Vou descolar uma corda
ou um trinta e oito agora mesmo!
Sai da minha frente!
— Não saio! Só por cima do meu
cadáver tu vai te matar!
— É pra já sua vagabunda!
As duas começaram a brigar, a se
estapear e a arrancar os cabelos uma da outra.
Sofia deu uma rasteira em Janis,
que caiu desengonçada, batendo a cabeça na quina de uma mesa, caindo desacordada,
em meio a muito sangue e hematomas.
— Não pode ser! Matei a Janis!
PQP!
O que faço agora?
Quer saber?
Vou me mandar!
Cinqüenta e sete minutos depois
Sofia abriu os olhos, sonolenta, saindo do transe que havia entrado, lembrou-se
de ter matado Janis Joplin...
Olhou para o livro de yoga, foi
até a cozinha, rasgou e queimou o miserento...
Yoga? Nunca mais!
C 50 – MOISÉS, O FARAÓ E SOFIA
ERAM AMANTES?
Caída no deserto escaldante do
Egito a vida de Sofia tem sido um só correr... Para não morrer... Os cavaleiros
de Set a encontraram lá quase sem vida, com areia por todos os lados,
delirando, desejando as águas do Nilo, desejando a improvável sombra de um
oásis...
Ela foi levada até o palácio de
Ramsés, para se explicar ao todo-poderoso - afinal, que roupas esdrúxulas eram
aquelas? O que era um tal de Belo Horizonte, que ela murmurava por entre os
dentes? Porque gritava e gemia toda vez que gritava Galo? Que deus era esse?
(Estaria ela a blasfemar contra os animais sagrados que a todos protegiam?)...
O que significava Oh Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais? Que ela
parecia cantar enquanto delirava pedindo também por conhaque?
— Levante-se infiel, ou melhor,
proste-se diante do supremo Mon-Aha-Denai do nosso reino (Disse o grão-vizir,
aquele que estava segurando um cetro cravejado de jóias e duas serpentes de
ouro entrelaçadas).
Sofia, se recobrando aos poucos
disse:
— Eu quero... Quer dizer, cadê o
Seu Benedito? Eu quero o meu pai! (Disse ainda zonza a dita cuja).
— Seu único pai está diante de vós,
insolente! Tragam-me a espada, vou decepar a cabeça dessa bestialidade! Só pode
ser uma discípula de Babilônios ou Assírios!
— Cale-se! (Disse o Faraó) Minha
jovem, em nome de Therion, quem é você, e o que estava fazendo no deserto
incandescente?
— Num sei, só sei que desmaiei,
estava no Shopping Oi, numa loja de produtos esotéricos... Acho que foi o
cheiro daquele incenso com cheiro de pitanga com jerimum, sei lá – desmaiei com
a catinga reinante, e quando dei por mim tava toda mijada naquele monte de
areia de depósito de construção. Cara, tu é muito feio, que pintura doida! Que
geringonça estranha na tua cara! E que coisa é essa em tua cabeça?E porque tá
de mini-saia misturada com cueca, sentado nessa cadeira irada?
— Joguem-na no calabouço! Ou
melhor, não! Atirem aos crocodilos do Nilo!
— O que foi que eu fiz seu
farofento? Quero falar com Moisés agora! Ele vai me tirar dessa!
-— Conheces o israelita?
— É meu grande chapa!
— Chamem-no aqui agora! (Gritou o
soberano).
— Que assim seja.
Pouco depois o dito cujo se
aproximou, fez a reverência ao todo-poderoso, e já ciente de toda a confusão
disse:
— Sofia, pelo amor de Jeová, outra
vez no Egito?
— Como assim outra vez? (Ela
perguntou), nunca estive aqui!
— É verdade, mas, só em parte,
lúcida assim não, porém embriagada eu já perdi a conta! Só não entendo porque
sempre apareces em meus aposentos, quando estou no banho, exceto hoje, é
claro...
Bem, vamos encurtar a história, amado faraó,
deixe-a sob meus cuidados, pode ser?
— Sim, suma com essa coisa medonha
daqui.
Moisés a levou consigo, e chegando
a seu quarto deu a ela uma bebida exótica e a fez dormir, ele sabia que só
assim ela sumiria... Para o bem de ambos.
Horas depois Sofia foi encontrada
caída perto da Rodoviária de Belzonte – foi embora para casa sentindo um
desconforto muito grande na baixa região, afinal sua calcinha estava cheia de
areia.
C 51 – CONTO IMPURO Nº. 1:
SOFIA E BRANCA DE NEVE FIZERAM
COISAS ESTRANHAS NA CASA DA MÃE JOANA?
Esta quem me contou foi o vovô
Noel, quando eu tinha uns cinco ou sete anos, safadamente, digo,
carinhosamente, me colocou no colo e fez um cafuné genital, digo genial, legal
em minha pufinha, digo, em uma das tufinhas do meu cabelo (nos de cima ou nos
debaixo? Deixa pra lá né?)... Apalpou-me, digo, acalmou-me e contou uma
história, que era mais ou menos assim:
— Eu nasci há 10 mil anos atrás,
não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais (ah que saudades do Raul
Seixas)... Era uma vez uma jovem chamada Sofia Cachinhos Dourados do Vale
Profundo, andando pela floresta, pelada, digo, gelada (sim, estava um frio de
rachar goiaba), ela encontrou uma casinha bonitinha e decidiu pedir abrigo
lá... Já era noite (esse negócio de ficar namorando no mato até de madrugada
não estava dando certo não).
Bateu na porta e aguardou várias
vezes; lá de dentro perguntaram:
— Quem é?
E Sofia respondeu:
— Uma menina da cidade grande, com
frio, com fome e com sede, me deixem entrar, por favor!
— Pode entrar! (Todos
responderam).
Já lá dentro, Sofia viu muita
gente, mas, uma delas, a mais linda entre todas (mas, com alguns dentes podres
na boca e semi-banguela) disse:
— Como vai? Sente-se que já lhe
dou um guisado, mas, antes, deixe-me apresentar toda a galera:
Eu sou a Branca de Neve, aquele
ali é o Príncipe, do outro lado estão os Sete Anões, só não me lembro mais de
seus nomes, e aquela, no teto da casa, de cabeça para baixo, é Bruxa, hoje ela
está meio que morcegona, tipo uma mulher do Batman às avessas, anda sentindo
falta de fazer amor com o Coringa...
— Ué, não tem nada errado aqui
não? Na fábula clássica não havia essa casa da mãe Joana não...
— Os tempos ficaram difíceis, a
gente tá dividindo um barracão de terceira, é gente cuidando de gente, sabe
como é... Depois daquele final feliz, vivido por nós outrora, nos contos
infantis, a coisa apertou:
Recessão, queda do dólar, crise
mundial, Bush, novas eleições americanas, a coisa ficou preta por lá depois
disso, ou melhor, em todo o planeta, minha filha.
O Príncipe, que era rico, perdeu
tudo em jogatina e cachaça, eu tive que fazer faxina para que pudéssemos
segurar nossas ondas com maconha, os Sete Anões foram todos demitidos da mina,
e a Bruxa ficou esclerosada. A gente é quem cuida dela.
Sofia
perguntou:
— Me responde só uma coisinha,
porque tá todo mundo vestido de baby-doll?
— Ah minha filhinha, esta é uma
outra história... Deixa pra lá, coma essa sopa aí e beba esse líquido aí, sei
que você vai gostar...
— Como é que você adivinhou que eu
gosto de canjiquinha com cachaça?
— Sei lá, você parece levar jeito
pra coisa, tua cara te condena, e a propósito, vê se não demora não, na
seqüência vem pra cama você também, que é pra todo mundo dormir pelado,
agarradinho...
Vamos fazer umas gostosuras supimpas,
genitais, digo, geniais!
C 52 – CONTO IMPURO Nº. 2:
O QUE HAVIA DEBAIXO DAS PARTES
ÍNTIMAS DE CHAPEUZINHO VERMELHO?
Vovô Noel tinha um novo caso pra
me contar, recheado de confusão e bastante adrenalina – foi assim:
Sofia
estava de caso com o Caçador, que ultimamente estava muito brusco e distante...
Desconfiada de uma possível trairagem, de coisas chifrudas e similares, decidiu
astutamente segui-lo... Será que ele estava de novo encafifado com aquela
piranha da Chapeuzito Vermelho? Se isso fosse verdade ele teria uma
desagradável surpresa, pois, ela ia botar pra fundir, ou seja, o desmascararia
no ato em si!
Não é que ela estava certa? Só que
de um jeito que ela não imaginava...
O Caçador seguiu pelas trilhas do
sem fim, pouco depois se encontrou mesmo foi com o Seu Lobo! Juntos eles
seguiram rumo à casa do felpudão, que dias antes havia se engraçado com o
Patinho Feio e o Bambi... Dizem também que já andou pela noite muito com uma
galera até bem conhecida:
O Peter Pan, A Pantera cor de
rosa, o Pica-Pau, o Mickey, o Pluto, o Donald, o Shrek, e até com o tonto do
Pateta... Esse povo inventa cada coisa!
...Voltemos à central Glóbulo de
produções, nas imediações da Sbtão, esquina com a Recortz e a Band - Aid:
O casal Seguiu para a casa de sua
rival, que ficava à beira de um penhasco, na cidade de Natal.
Aguardou
um pouco aberas de uma moita, e, bingo! Deu o flagra que queria dar, enfiou o
pé na jaca, digo, na porta, de vez, derrubando-a.
Sua surpresa só não foi maior por
falta de espaço em sua cabeça de amendoim com esperma, Chapeuzinho Vermelho
estava sentada no colo da Miss Brasília amarela 2000 (tava rolando Rita Lee e
os Mutantes na radiola), com a mão enfiada dentro da calcinha dela, parecia que
estavam atrás do grilo perdido; não estavam dando muito algo do tipo, o maior
amasso? Não sei ao certo, estava tudo meio confuso ali naquele ambiente erótico
e com pouquíssima claridade, só uma pequena lâmpada vermelha de sessenta watts
iluminava o lugar... Mão naquilo, aquilo na mão... Uma segurava dois mamão e a
outra umas perereca (coisa das mais estranhas que já vi!).
O Caçador estava de quatro, e o tal do
dentução estava carcando por detrás, não me entendam mal, o sentido é que:
Vestidos até que ainda estavam,
mas, coladinhos um ao outro procuravam pelo livro O Senhor dos Anéis, afinal há
busca mais interessante do que essa? Pareciam também estar à procura de roscas
queimadas e ruelas perdidas... Uma confusão dos diabos!
Sofia, para ser notada disse, aos
berros:
— Que zona é essa aqui? Vamos
parar com toda essa bagunça? Exigo uma explicação agora! E essa inversão de
papéis confusa, alguém pode me explicar também?
A vovó de Chapeuzito (saindo de
dentro do armário, sem sua calçola, e chupando três grandes pirulitos, um do
Seu Madrusga, o outro do Champolim Coloraço e outro da Chisquinha) pediu a
palavra:
— O que está rolando aqui é o
seguinte, cada um de nós, a seu próprio modo, com o tempo, descobriu que tinha
muita coisa em comum, temos até uma comunidade na Internet, essas coisas de
Orkut, você sabe... Caiu na rede é peixe... Depois de muito troca-troca o amor
brotou entre nós, somos uma galera do bem, da paz, e também fazemos tudo com
muito amor... Una-se a nós.
— Tá tudo muito bom, tá tudo muito
bem, se eu não desse uma blitz surpresa aqui nunca teria descoberto o que vi,
mas, vocês tão querendo me fazer de trouxa ou o quê? Eu vou é quebrar todo
mundo no cacete!
Foi um alvoroço danado, todos
queriam tipo no corre-corre, se escafeder, mas, Sofia fez com que se acalmassem
ao dizer:
— Vão pará com essa algazarra? Cês
não entenderam nada, né? Também quero fazer parte dessa trama, desse trem da
alegria, vão me deixar de fora dessa?
Um sonoro não foi ouvido, e a
velha disse finalmente:
— Solta o som aí DJ! Mas, vê se
não põe pagode, axé, funk ou rap – o clima está mais para os anos setenta,
queremos Bee Gees, ABBA, Village People e muito croquete com rabanada, mexilhão
à moda, cerveja a zói e muita pinga com limão!
Foi uma das noites mais loucas,
longas e prazerosas que já se viu nos últimos tempos... Entrou para a história
como o caso do Pacu com Pirarucu...
C 53 – CONTO IMPURO Nº. 3:
O QUE UM CIRCO BIZARRO TEVE A
VER COM A SEPARAÇÃO DA BELA E A FERA?
Vovô Noel desta vez me contou uma
história simples, mas cheia de emoção:
Em suas caminhadas Sofia se
encontrou com uma jovem que era bela muito bela, mas estava chorando muito,
perguntou a ela o que ocorreu:
— Diga-me jovem bela, o que a faz
sofrer tanto assim?
— Ele me deixou! Covarde!
Pilantra!
— Ele quem e por que fez isso?
— A fera, o meu marido, o danado
recebeu uma proposta de um circo bizarro para viajar pelo mundo fazendo
apresentações, e se foi com eles!
— Mas ele não era rico e cheio de
posses?
E por que não te levou com ele?
— Rico até demais, só que é
chegado em aventuras, exibicionismo, essas coisas.
— Que fera sem coração! Deixar uma
jovem tão bela na rua da amargura.
— Não foi só isso, ele se
enrabichou com a mulher-barbada (disse que ela estava mais ao gosto cabeludo
dele)...
Depois que a conheceu começou a me
maltratar, só voltava tarde da noite para nosso castelo, com muitos fios de
cabelo enroscados em seu pêlo, cheirando a fumo de rolo e bebida...
Começou a ficar viciado em sinuca
e em bingo! Um homem tão bom!
Mas, mudou de repente, começou a
me bater e a me xingar de mocoronga, um horror!
— Que traíra heim? Vou te dar um
conselho, segure seu homem, lute por ele!
Vá atrás desse circo, não o
entregue de mão beijada àquela Maria-cabeluda de uma figa!
— Mas eu não sei fazer nada, o
dono do circo não vai me aceitar!
— Pense bem, você não tem nada de
diferente em seu corpo que possa chamar uma a atenção, por exemplo, três peitos
ou uma perna de pau?
— Não, sou bela e pura, só sei
fazer amor e comida, o que é que você acha?
— Não vai da certo, mas, eu tenho
uma idéia, você sabe fazer caretas?
— Não sou boa nisso.
— Pode dar certo se você comer
repolho misturado com ovo cozido, vai peidar que é uma beleza!
— Desse jeito quem vai fazer
careta é o público.
— Mas se ficar conhecida como a
bela mais fedorenta do mundo a coisa pode dar certo!
— Tens razão, obrigada, já estou
de partida, até um dia!
— Até nunca mais!
Do jeito que você vai ficar, com o
intestino atrapalhado, quero mais é distância!
Desejo-te boa sorte...
Pode até ser que encontres outro
bicho por aí, para te preencher com mais profundidade...
Tchau catinguenta!
C 54 – CONTO IMPURO Nº. 4:
HOBIN HOOD COMANDAVA MESMO UMA
GANGUE DE ASSALTANTES?
Segundo vovô Noel a gangue do
conto infantil se formou por causa das más influências de uma raposa, foi
assim:
Sofia, caminhando sem destino, por
ai, tomou um grande susto, quando um tal de Hobin Hood chegou de repente, lhe
fazendo uma proposta, puxando-a para um beco escuro - lá estavam também alguns
personagens conhecidos do grande público mas,
quem se enveredaram para o mundo do crime por estarem em dificuldades
financeiras.
A conversa foi assim:
— Se você nos ajudar vai receber
uma boa comissão, o que acha?
— Me conte antes como é que rola o
esquema e eu verei se me encaixo ou não nessa tramóia.
— Precisamos que você faça uma
sondagem prévia dos lugares que queremos afanar, basta você usar seus peitões
como isca, entende?
— Sei... Sei... E depois?
— Depois de tudo esquematizado a
gente ataca; na calada da noite, a Bela Adormecida põe os vigilantes para
dormir com agulhas envenenadas, Rapunzel jogará suas tranças, e a gangue vai
subir o muro com elas – o Pinóquio a gente tá usando como arrombador; ele chega
perto do cofre, enfia o nariz na fechadura, conta uma mentira cabeluda e
pronto, não tem porta que resista à seu narigão de pau duro!
— E o tal João com seu pé de
feijão?
— Alguém tem que dar de comer para
essa gangue, né?
— E ele dá conta de dar para todo
mundo?
— O sujeito é delicado, mas, é
prendado... Ele é nosso cozinheiro de plantão, não entenda mal, viu? Ninguém
faz uma feijoada e oferece uma rabada como ele...
— Suas conversas têm duplos,
triplos sentidos, não sei não... Cê tá mais pra Dick Vigarista, sabe? Aquele
que é dono do Mootley, aquele cachorro sarnento, dos desenhos da Hanna
Barbera...
— Sei, sei, mas, aprecio mais o
Tião Gavião, aquele que vive tentando comer, digo, capturar a Penélope
Charmosa.
— Isso não vem ao caso agora, só
preciso saber de uma coisa, como é a divisão da muamba?
— Setenta por cento é meu, vinte e
nove por cento é da gangue, pra você darei um por cento, afinal cê vai ser a
novata da parada, entende?
— Vou te dizer uma coisita, sou
doida, mas, sou gostosa, mas não pense que sou burra, seu malandro miserável!
Tá pensando que eu não sei fazer contas? Se eu não ficar com meio por cento de
tudo a cobra vai fumar, a vaca vai voa ou vai pro brejo, e vai ter pena de
galinha para todo o lado!
— Tá chegando agora e já quer
botar banca? A gente começa é de baixo, mas, pensando bem sua proposta é bem
melhor do que a minha...
— Não tô chegando a lugar nenhum,
tô é saindo, vou nessa, seu interesse rapidíssimo é muito suspeito! Não quis
nem negociar um pouco mais! Cambada de trambiqueiros, fui!
O negociador concluiu ao vê-la
partir:
— Vai entender essa mulherada de
hoje tá cada vez mais não sei o que...
C 55 – CONTO IMPURO Nº. 5:
O LOBO MAU QUERIA COMER OS TRÊS
PORQUINHOS EM QUE SENTIDO ?
UM POSSÍVEL “MÉNAGE À TROIS”?
Vovô Noel continuou a me contar as
suas coisas malucas, ultra - fictícias, com um quê de esquisitices realistas
aeroespaciais...
Disse
ele:
— Era uma vez, a mesma jovem,
Sofia, andando, de novo, pela floresta, pela montanha mágica, catando coquinho
e cavaco... Ela estava com o saco cheio quando ouviu um pedido triplo e quase
afeminado, de socorro – curiosa, foi ver o que estava acontecendo.
Chegando
ao local, viu a seguinte cena:
Seu
Lobo estava do lado de fora de uma casinha pequenina, tentando entrar de
qualquer jeito, mas, como não conseguiu, começou a soprar muito forte, tentando
derrrubá-la.
Lá dentro, Os Três Porquinhos,
acuados, clamavam por ajuda de Odin, Thor, Ultraman, e de Zeus... No balaio até
os nomes de Lucivando Hulk, Silvino Santos, Raul Gilson, Angu Liberado, e
também Grevtchen e Risca Cadillac, foram inexplicavelmente mencionados.
Sofia
gritou:
— Pare com essa carniça, Seu Lobo
Mau dos infernos de Dante! Doravante, que haja purpurina e paz!
Seu Lobo disse:
— Não paro não, sua intrometida
horrorosa! Não sou mais você, sou mais eles, que estão a me dever vários meses
de aluguel... Não querem pagar nem desocupar o lugar! Se não saírem por mal
sairão em direção a um hospital, a um necrotério, ou para dentro de uma panela
de mingau!
— Deixe-me então pelos menos
conversar com eles, daqui a cinco ou sete minutos dar-te-ei um retorno, minha
buzanfa ou minha pufinha, o que você quiser... Ok?
Ele
concordou, ela entrou e já foi logo perguntando:
— Que disgreta toda é essa aqui? O
que aquele gostosão peludo lá fora tá dizendo, é verdade?
Um dos porquinhos respondeu:
— Você não sabe da missa a
metade... Ele andou se engraçando com a gente, se tivéssemos o deixado
comer-nos, ele perdoaria nossas dívidas assim como nós nem sempre perdoamos aos
nossos devedores, é claro que não aceitamos em princípio, mas, estamos quase
cedendo, sabe como é, aquela potência toda... Digo... Aquela opressão toda...
— Ué, se ele fizer guisado de
vocês, perderá não só seus inquilinos como não terá como obter seus dividendos,
não é mesmo?
— Acho que você não está
entendendooo...
— Quer dizer que...
— Isso mesmo...
— Mas que lobo safado! Que bicho
desavergonhado! Defenderei vocês dele, darei a ele o que vocês não podem dar
tão bem como eu, mas que nenhum de vocês fique tentado a dar a ele o que ele
tanto quer, deixem isso comigo.
— Que assim seja, ficamos muito
tentados, mas tudo bem, nos contentaremos uns com os outros...
— Ué, vocês não são irmãos?
— Que besteira é essa minha filha!
Somos apenas amiguinhos coloridissimamente falando, com todos os tons de rosa
possíveis, somos frutas frescas, borboletas do ramo da cosmética e da costura,
também somos cabeleireiros e manicuros – só que falamos que somos irmãos que é
para evitar as fofocas da vizinhança, sabe como é né?
— Entendo... Já que é assim até
mais ver, um dia a gente da uma cruzada por aí, tchau.
Sofia então se foi, chamou Seu
Lobo de meu bem, deu-lhe as mãos e se foram rumo a um matagal que ficava ali
perto... A vida, a natureza selvagem, é assim mesmo... Os instintos precisam
ser aplacados – quem tem fogo no rabo precisa apagá-lo rapidamente...
Posteriormente ela voltaria à casa
daqueles porquinhos, para tingir os cabelo e fazer outras porcarias...
C 56 – TODA ÉGUA É MUITO LOUCA?
Sofia era uma égua pacata, não
vivia empacada, só se servia de mato, e erva da boa, a quem muitos chamam de
podes crer. Ser usuária de um cigarrinho do capeta a colocava em situações
tortas, esquizóides, vivia se esquecendo de tudo, ás vezes pensava que era uma
alcachofra ou uma alfafa aeroespacial. Cera vez imaginou que era o John
Travolta!
Sofia tinha uma namorada, uma
eguinha do tipo pocotó, que gostava de Bezerra da Silva, gostava de um molho
apimentado, de funk e de ouvir a banda Calípso e da raça ruim do bicho homem,
do tipo Bossa Nova.
Por causa de brigas constantes acabaram indo
para o xilindró, lá comeram a erva que o Saddam amassou, sofreram muito.
Mas, um dia ouviram as palavras mágicas de uma
dupla de bispos de uma seita sinistra, chamada Renascer das Trevas.
Converteram-se, e foram nomeadas
ministras da fé e do dólar.
Cumpriram suas sentenças, e saíram
limpas, renovadas, e ricas. Só voltaram a se sujar no terceiro dia,
ressuscitando seus monstros interiores.
Um ano depois a égua de sua
namorada morreu, e ela foi para uma clínica de recuperação para viciados, lá
passou a passou a se relacionar com um pica-pau dos grandes - só que ele
cortava dos dois lados, explica-se:
Ele era cortador de cana, gostava
de botas rosadas, mas, era macho como uma franga, além de ser muito ciumento.
Por causa disso ela teve que fugir
para um convento chamado São Bento, na rua dos romanos, nº. XVI (antiga Paulo,
o bom, nº. II), por ter se engraçado com uma cobra das grossas, que se tornou
sua senhora, cheia de graça, por uns tempos; rezavam separadas de dia e
dançavam juntas a noite, num cabaré qualquer).
C 57 – VOCÊ TEM ALGUM GRAU DE
PARENTESCO COM ANIMAIS RASTEJANTES?
Tem gente que é capaz de tudo pra
se dar bem... Eu, por exemplo, sou especialista nisso, nasci assim, sou uma
cobra, com todo o respeito! Mas, quem não é? Responda quem puder...
Há certo tipo de cumplicidade no
ar no serpentário em que vivo, entre todas as rastejantes, que mais do que
interessante é interesseira.
Eu sei, são acusações sérias (é
que hoje estou envenenada), continuemos...
Há, por aqui, e até em muitos
outros serpentários, pelo menos em boa parte deles, as chamadas trocas de
favores, trambiques, sutilezas e agrados. Coisas assim, pouco ou nada
evidentes, silenciosas, não menos reais, safadas.
Eu sei de tudo, pois, também sou
sócia, digo, cúmplice, digo, vítima disso tudo.
Aos que trapaceiam só restam as
barganhas, compras e vendas nas relações, ditas naturais, entre os que não têm
nada a perder; as negociatas são astutas, quase mudas, nada públicas, impuras,
lesivas.
Se pronunciar nesses casos nem
sempre é seguro, gesticular, chacoalhar de leve... Ás vezes é melhor apenas
sibilar ou sussurrar, subentender-se costuma ser o melhor caminho, sob a relva,
por de trás das moitas... Tudo isso sob
a batuta de segundas e terceiras intenções.
Afinal, não estamos todos dispostos
a preservar nossas vidas e nosso patrimônio? Muitas negarão... Tudo bem, não
generalizemos, mas puríssima nenhuma cobra é – estou mesmo interessada nas que
são como eu, imperfeitamente justa; mentira tem rabo curto, o tempo dirá quem
tem razão.
Aos que são, tipo assim, anjos, e
estão mais pra rolinhas:
Que tal se entre nós rolasse um
negocinho? Tipo assim uma agência de proteção a pilantras mal-sucedidos? Eles
precisam do quê? De contenção? Foi isso que eu quis dizer... Algemas nessa
corja de línguas rasgadas ou não!
É o que eu sempre digo, rasteje
conforme as ondas, se não a cobra vai fumar, se não as penas desses, e de
outros bichos vão voar!
Ficamos assim, enroladas, que é pra
melhor acomodarmos nossas estruturas; e quando a coisa apertar a gente troca de
pele e se manda, precisamos proteger nossos ovos, pra que não se quebrem, não é
mesmo?
C 58 – VOCÊ GOSTA DE
"TROCA-TROCA”?
Quando aquela jovem foca fofa
decidiu revelar ao mundo que gostava de mandioca de terceira, ouviu reprimendas
de toda a bicharada:
De um castor pastor, de um urso de
pelúcia e até de uma enguia radical. A delicada foca, chamada Lili chorou
muito, mas foi adiante com seus sonhos e suas vontades.
Lembrava-se sempre de um exemplo
bacana, de uma piranha bacana, que era apaixonada por um tubarão, com quem
discutia; se aventurava e fazia bolotas, sem deixar de dar toquinhos e selinhos
em um frango que vivia ciscando em seu terreiro.
Lili sofreu tanto quanto se podia
sofrer, e, pra se ver livre dos
preconceitos, quis mudar, à força, sua natureza:
Deixou a mandioca de lado, e se
engraçou com outras frutas e legumes.
Acabou conhecendo um cãozinho
poodle, que havia recentemente se separado de uma gatinha feia como uma
perereca rosa, com quem havia ido pro brejo por mais de cem vezes, numa moita
farta, outrora.
Só que o totó acabou ficando mesmo
foi com outra rolinha, cheia de balangandãs, ou seja, decepção na certa para
Lili; traição e pilantragem a incomodavam por demais? Um pouco, mas nem tanto
assim...
Pensou em se matar, mas preferiu
viajar... Quem não gostou nada da história foi a gatinha daquele poodle safado;
e foi só pena que voou quando ela o reencontrou – houve óbito no final, é
claro.
Todo objeto comum (a muitos) deixa
qualquer mandioca com gosto de quero mais (ou não).
C 59 – VOCÊ GOSTA OU NÃO DE
PIRANHA?
Seu nome de guerra era Sofia, ela
era uma piranha do tipo Raimunda, era feia de cara e boa de língua – erótica
por demais, e, não era uma prostituta, como muitos pensavam.
Era uma peixona de família, mãe
enérgica, trabalhadora e cheia de filhotes, tinha inclusive um grande coração,
apesar de ser pequenina, pois, além de ser gente fina tinha algumas doenças, de
chagas, e outras mais.
Ela tinha um quê de intimidade com
a religião, só que sem deixar de lado seus vícios (gostava de mentir pra todos,
por exemplo) sem se esquecer dos prazeres da carne, é claro... Amava seu Juca,
o jacaré (que não amava Maria, sua esposa, uma baleia legal e tonta), só que
ela transava também com Bob, o bagre batuta, com José, o cágado esperto, e com
Sandro, o boto escroto... Sem deixar de lamber pacus, ou pirarucus, de águas
vizinhas.
Seria carência ou excesso de amor?
Seria uma típica sacanagem ou será
que ela era um misto de ninfomaníaca, algo do tipo Solange batalhão? Dizem que
ela gostava de mesa farta, de farelada, de carne grelhada, de lombo assado na
brasa, de lasanha com lascas de bacalhau (sem deixar de ler os Evangelhos,
entre um mexidão e outro).
Aos amantes de uma boa comida,
Sofia deixa algumas sugestões:
*Picanha pau-a-pique, com molho shoyo e
café...
*Truta ao molho
cremoso, com bisteca e mel...
C 60 – VOCÊ GOSTA DE GALINHA
COM CACHAÇA?
Sofia era linda, suave e também
desequilibrada, tinha um porte bacana, umas penas sedosas e umas nervosas
tendências pró-ativas. Como toda galinha, cuidava de seu único pinto, os outros
fugiram desesperados...
O que ela mais desejava era dar pra
a vizinhança – queria muito amar e ser amada (não sem antes dar de si para a
cachaça com milho maduro).
Só assim, bêbada, é que ela se
sentia feliz de verdade, só assim ela se sentia desinibida para dar pra alguém
o que lhe era mais caro (ou barato, conforme a marca da mardita).
Ela já namorou muitos bichos,
galos, cavalos, cabritos, e com tucanos também, mas gostava mesmo era de um
jegue preto, por quem era secretamente apaixonada...
Preferência é assim mesmo... Uns
preferem sertanejo, outros não abrem mão do rock’n’roll.
Um dia ela acabou conhecendo um
belo coelho pequeno, quase se casou com ele, mas esperto como um beija-flor,
ele voou pra um outro ninho, a deixando alcoolizada e zangada.
O que pode ser pior do que beber
em turvas águas? O que pode ser melhor do que ter como companhia um grande
amor, mesmo que seja em forma de garrafa com pinga, e acompanhada com lingüiça
Maria Rosa? Vai saber...
C 61 – COMO UMA VACA SAFADA
PODE SE PASSAR POR UMA TÍMIDA OVELHINHA?
Esse povo fala demais... Já
disseram que Sofia era meio que assim:
Uma bela vaca malhada, mas vivia se passando
por uma tímida e doce ovelhinha... Que sempre escolhia o que plantaria na vida,
mas que nunca saberia o que dela colheria... Ela Tinha um belo jeitoso e um
lindo beiço bacana.
Tinha uma simpatia interior latente,
mas ocasionalmente seu rabo ficava quente, isso nem sempre de forma evidente,
era de fato muito carente... Normal externamente, só que por dentro havia um
quê diferente, era quente, ardente, voraz (como até bem pouco delicadamente
citou-se).
Desejava ser desejada, mas era morna e cinza
em suas relações florestais.
Só que as paredes de sua toca
lilás conheciam as cores vermelhas de seus anseios incandescentes, nada
aparentes; só elas sabiam o quanto era criativa no uso de suas curvas, de sua
boca e de suas coxas e patas.
Enquanto nada de novo ocorria
usava sua imaginação dos modos mais variados e pros mais variados fins, seus
orifícios eram manipulados com arte, e deles brotavam suores, tendências e
delícias múltiplas, gelatinosamente fartas e fáceis.
Um dia, após ter voltado da mata,
e já quase chegando em casa se encontrou, meio que por acaso, com Gugu, um tatu
esbelto, com barriga de tanquinho e uma torneira mediana, mas de fluxo
constante – se olharam, se apaixonaram, se falaram um pouco e muito se entenderam.
Rompendo com a timidez ela o
convidou para conhecer sua coleção, linda e peculiar, de figurinhas
fantásticas, em seu cercadinho.
Lá ela lhe deu muitos beijinhos, e
ele, em retribuição lhe deu um chá (a quem muitos chamam de boa noite
Cinderela).
Três horas depois ela acordou
zonza, sem saber direito o que havia lhe acontecido, só mais tarde percebeu que
o tatu tinha ido embora com todo os seus dólares, jóias e sua coleção de
figurinhas especiais.
C 62 – ROSAS COM MPB E PIPOCA
COM FILMES PORNÔ? COMO ASSIM? (A VOLTA DA VACA SAFADA)
Sofia era uma vaca malhada, tinha
um belo rabo, e um beiço que era de uma incandescente belezura impar.
Era carente, e extremamente
normal, mas, por dentro havia um quê diferente nela, era quente, úmida, voraz.
Desejava ser devorada por um ou
três touros carnudos, só que uma volumosa timidez a consumia cotidianamente. Só
as paredes de sua gruta (lilás, verde, roxa e laranja, com listras brancas e
vermelhas) conheciam seus desejos safados – ela usava sua imaginação e seus orifícios
com artifícios criativos e gelatinosos.
Um dia, voltando do pasto, se
encontrou com Gugu bode-velho, bicho jeitoso, dono de uma torneira gotejante,
mas com pouca ferrugem ainda.
Olharam-se, e, de imediato se
apaixonaram. Sofia o convidou para conhecer sua gruta aconchegante – só que
antes deram uma rapidinha, ali mesmo, entre a relva e as raízes... Coisas do
coração, e do tesão.
Lá dentro, no doce ninho,
encomendaram um bichinho, que só não nasceu porque o chifre, que ornamentava
sua cabeçorra, furou a bolsa dela, e a coisa não foi adiante.
De uma coisa todos tiveram
certeza:
Eles foram felizes para sempre, em
meio a rosas, MPB, pipoca e filmes pornôs (que eles alugavam sempre que a
locadora tinha uma promoção da hora).
C 63 – VOCÊ JÁ SE SENTIU COMO
UMA PATA SUICIDA?
Houve um tempo em que Sofia se sentiu como
uma pata suicida, e teve um sonho paticida, tipo assim:
... Quando, entrou em seu quarto,
trancou sua porta e se despediu de seu ninho, no jardim. Orou como pôde, afagou
suas penas, gemeu, sentiu-se nua e crua, sem rumo, sem esperança – chorou, mas
não gritou, abriu a gaveta, tremeu, acariciou um punhal que outro dia encontrou
perdido, caído junto ao lago, travou o bico, suspirou, fechou os olhos e cravou
o mesmo no coração.
Para os que a amavam restaram
lamentos, dúvidas, lágrimas e saudades (nem se quer um bilhete a suicida
deixou), para os que a odiavam restaram aplausos, sorrisos, comemorações e
alívio (Ainda bem que ela não deixou um bilhete... Disseram aliviados, por
entre os dentes).
C 64 – O QUE DIZER DO SUICÍDIO?
(A VOLTA DA PATA SUICIDA)
Sofia voltou a se sentir uma pata
suicida, sem entusiasmo, sem luz, só pensava em se matar, em morrer, em desaparecer. Desejava
o silêncio total, não queria mais ver nem ouvir ninguém.
Quantas vezes sonhou em ser uma
águia veloz para poder voar, se isolar, para além de suas relações apáticas?
Queria mesmo era paz, aquela do tipo tumular.
Só que certa covardia em seu peito
ardia, e o seu máximo que conseguia era travar o bico e morder sua língua, fazendo-a
sangrar – apreciava gotas de sangue, vendo-as macular suas penas brancas, só
assim é que conseguia acalmar sua depressão suicida...
C 65 – O QUE
DIZER DA TRAIÇÃO E OUTRAS DESGRAÇAS DO GÊNERO?
Sofia era uma foca fofa, linda
mesmo, excessivamente inteligente conhecia os rituais sagrados, mas jogou tudo
por água abaixo e com uma lula chamada Leléx, de bom coração, foi morar.
Trouxeram ao mundo uma cria
híbrida, especial, aquática e borbulhante (afinal casamento sem prole é como
mar sem peixe), deram a esse ser o nome de Pepê.
Entre idas e vindas ficaram
enclausurados numa concha de periferia por muitos anos, pulando de galho em
galho (quer dizer, de onda em onda, a sorrir e a chorar à medida que o tempo ia
passando).
Um dia uma lagosta obscura, Carlão,
ofereceu a ela uma pérola – ela não só aceitou, mas optou também por morar
extra-conjugalmente com a tal criatura, usufruindo de sua casa-caracol e deu
seu veículo possante, puxado por muitos cavalos-marinhos – não sem antes gozar
com suas ferramentas secretamente (se encontravam às escondidas atrás de uma
grande rocha).
Foi-se toda feliz, deixando sua
cria pra trás e também seu marido simples demais, que nunca lhe bateu... Que
não gostava de beber, fumar ou jogar, nem de baladas marítimas... Os excessos
no viver não lhe diziam respeito, apesar de que tinha alguns defeitos tais
como: imaturidade. Certo grau incômodo de egoísmo e irresponsabilidade.
Ela não apreciava relações
desgastadas, mesmo que pudessem ser concertadas.
Leléx, apesar de toda a sua parafernália
filosófica, sociológica e psicanalítica ficou inconsciente e sem luz, exceto
pela permanência de sua cria com ele.
Quanto sofrimento! Só fragmentos
ficaram, mesclando-se com decepções, castrações angústias e ejaculações
precoces debilitantes, que fizeram a tal lula ficar torta cheia de nós em seus
tentáculos, para o resto de seus dias.
Atualmente a foca fofinha planeja,
com gosto, um ou mais monstrinhos lagostinianos, pro mês de agosto, sem
desgosto, num esgoto qualquer.
C 66 – VOCÊ CONHECE A VIDA DE
LULA (A QUE SOFIA TRAIU)?
A vida dessa lula, não era nada
especial, nadava sem rumo no princípio, mas depois pegou uma onda melhor...
Algumas nuances de certas guerras interiores fluíam como jatos de água, em meio
a um turbilhão de dicotomias triturantes, de essência convulsiva e febril
filosofia versus religião, erotismo versus moralismo, válvulas de escape versus
razão versus emoção, literatura versus depressão, rock’n’rol versus MPB,
experiência versus inatismo, senso-comum versus conhecimento, ilusão versus
desprezo, ódio versus amor, angústia versus dor, vingança e guerra versus paz, a
parte e o nada versus o todo, a preguiça versus a atividade geral... A
inteligência e a ignorância reinante... A permanência versus a tendência
esquizóide... O egoísmo versus o altruísmo, a lama versus o ouro, o mel versus
a melda, a pancada versus a harmonia, a paz versus o caos; e um monte de
excessos utilitaristas/pragmáticos... Disposto a não se entregar sem lutar
Leléx rastejava mais que nadava pelas entranhas da vida, ousava, mas nem sempre
orava, nem sempre sorria,gozava e amava, mas nem sempre. Vivia, mas nem sempre,
sofria freqüentemente por causa de uma certa Sofia, o grande amor de sua vida,
que, sem sofrer, o esfregou de si,
arrancando-lhe de seu corpo e de sua vida como um monte de estrume, o que antes era bolo virou bosta, o que era
refeição virou vômito... Sem desgosto jogou no esgoto os restos podres da tal
lula...
C 67 – SOFIA
TEVE AS VÍSCERAS DILACERADAS POR MALDOSAS HIENAS?
A raiva era o instrumento de que daquela
tigreza-de-bengala chamada Sofia e sua dor dispunham para viver, se opor,
compor, causar temor, transpor, radicalizar, brilhar, ousar, sonhar e também
rugir ou fugir (o intuito de sua própria fuga tinha razão de ser), fazia jus à
necessidade de ficar só – lamber e sangrar suas frustrações escaldantes do stress provocado pela hipocrisia das
odiosas hienas.
Ela era uma estranha no ninho,
viera pelos caminhos da Índia, mas acabou se perdendo pelos caminhos e
descaminhos da África, num jardim paradisíaco, mas nem tanto...
Aquele lugar cinza e inóspito era
sua agonia, fazia-a suar, ranger os dentes e morder sua própria carne, vermelha
e trêmula.
Sim, ela estava doente e já não
conseguia mais ir pra muito longe, a bengala (de seu nome) não era só um objeto
lingüístico, era seu instrumento de mobilidade fragmentária.
O sangue e as lágrimas resultantes
(relutantes e nada triunfantes) proclamaram um basta...
Então, numa noite ébria, ela se
deitou, no meio de uma tempestade, entre folhas secas e pedras soltas, e ficou
esperando a morte chegar... Esta não veio, ela acabou sobrevivendo... O que
veio em seu lugar? Malditas criaturas risonhas que, entre rindo e brincando,
rasgaram a essência daquela intrigante e debilitada tigreza triste, sem a
matar...
O que dela restou? Estuprada que
foi... Tripas, não mais.
C 68 – SOFIA MARIA E CRISTÓX
FORAM VÍTIMAS DE JOSÉ? (UMA RELEITURA NATALINA ESQUIZÓIDE)
Para a natureza, a linguagem da
dor e do sacrifício é uma só; lágrimas despontam quando os bichos precisam correr
para sobreviver.
Foi assim que aquela lebre, Sofia Maria, meiga
e grávida de um filhote, Cristóx (dizem, erroneamente, que, mesmo grávida, era
virgem, e que sua cria seria o maior milagre da natureza), passou por aquela
trilha oriental:
Aos saltos, desesperada e em fuga.
Logo atrás vieram duas balas,
disparadas por José, o caçador; e, como um raio partiram a barriga dela em mil
pedaços!
Com a queda, os soluços do felpudo
e branco bichinho se misturaram com terra e sangue.
E daí? O contraste entre o Eros e
o Tânatos era evidente, aquele decadente dia instantaneamente deixou de
existir, e só algumas farpas ficaram no ar:
O riso, o sarcasmo, o sadismo,
certa glória, uma volumosa desgraça, a náusea, o vômito e por fim a ausência da
luz. Dizem por aí que o filhote dela ressuscitou no terceiro dia, e a toda a Natureza
salvou das trevas por ter sido filho de quem foi... Mas por causa disso nunca
mais o natal foi comemorado em Cristolândia...
C 69 – VOCÊ É DO TIPO LÉSBICA
GRALHA?
Sofia das Graças, a gralha grelhada,
queria, um dia, viajar para o céu com seus belos filhotes, mas enquanto não
realizava seu desejo angelical passeava pela praça secretamente à noite com seu
grande amor, uma cegonha, a quem todos conheciam como Risoleide – é claro, sem
que o seu marido o João–de–barro, soubesse de nada. Sofia era mesmo uma
vagabunda...
A tal cegonha não era alguém assim
tão sem problemas, abusava muito das palavras, fazia delas um instrumento de
corte e dor, sua saliva era ácida, sua prosa, venenosa, sua língua e seu bico
intoxicavam toda a bicharada constantemente. Gostava de mentiras, disfarces e
promessas muito estranhas – sem que seu caso (Sofia) soubesse também arrebitava
as penas para uma égua charmosa, conhecida como Tigrão Batalhão.
Sofia, bêbada de amor, não
percebia o que acontecia – Risoleide, a obscura, preenchia tudo o que ela
precisava, e que João, o bobão, não dava – isso tinha razão de ser, a danada da
cegonha sem-vergonha, parecia uma camaleoa, de tão teatral que era... Apenas
Sofia não entendia porque apelidaram
Risoleide de Aninha víbora branca, e nas entrelinhas, de Judas.
Como tudo tem fim, o chifrudo do
João–de–barro um dia pegou as duas no flagra, no ninho, num sessenta e nove de
tirar as penas e o fôlego – desesperado e um tanto irado, quase fatiou de vez
as duas com seu facão, mas elas conseguiram fugir, e estão desaparecidas desde
então.
Num outro canto daquele lugar,
todo sujo de penas, tripas e sangue, sete filhotinhos, agora órfãos, esperavam
pela hora de jantar.
C 70 – PAULA COELHA SABE MESMO
ESCREVER? (O QUE SOFIA PENSA SOBRE ISSO)?
Muitos bichos gostavam do que
aquela coelhinha escritora fazia literariamente (exceto Sofia, é claro), e isso
tornava quase improvável que tantos leitores pudessem estar errados quanto à
mesma opinião sobre ela...
Sejamos sinceros, porém:
Mil animais enganados não fariam,
jamais, de um grande engodo uma grande verdade...
Sejamos honestos uma vez mais:
Muito do que ela escrevia, não era
totalmente ruim (pois, bebeu em fontes mais antigas, e melhores, o que dava
raiva é que ela quase nunca citava suas fontes nominalmente).
Era uma especialista em
maquiagens, sua farofa mágico-literária parecia ser aos olhos de todos (ou
quase todos).
Um apetitoso manjar, só que por
dentro era cheia de cascalho e serragem, mas por fora, enfeitando, havia uma
deliciosa cereja graúda.
Muitos associaram o nome dessa
coelha à sabedoria milenar, outros, porém, a associaram a uma safada
picaretagem, mesclada com superficialismos e uma audácia marron-ferrujinosa.
Um dia, decidida a se redimir, ela
fez um livro contando sobre todas as suas trapaças, costuras e travessuras...
O tal exemplar arrebentou de
vender, tendo da mídia uma total consagração. Ela, e o público, aclamaram tal
livro como o melhor livro de ficção já feito até então... Paula era mesmo muito
espertinha....
Sua alquimia foi perfeita ninguém
acreditou que ela estava falando a verdade sobre suas mentiras... Desiludida,
nunca mais escreveu nada, e sumiu no mundo, sem deixar pistas.
Na floresta fizeram uma estátua
daquela coelha astuta e encantadoramente falsa...
C 71 – TODA TATUZINHA É PUTANESCA?
A massa italiana puttanesca (pasta
alla puttanesca) é um prato elaborado com um molho denominado sugo alla
puttanesca... Só que no caso de uma tatuzinha chamada Sofia vale só como
trocadilho pra não dizer que não se falou de flores (embora chafurdadas de lama
e sacanagem)... Um dia ela fez do dinheiro o seu Deus, a tudo o mais disse
adeus, reinava nela uma explosiva tendência golpista, que fez dela um
retirante, uma gatuna em pele de cordeiro.
Ela nunca ficou por muito tempo no
coração de ninguém, inclusive muitos bichos a retiram de suas vidas (à força),
tentaram, mas não conseguiram amá-la.
Quantas guerras provocou, quanta
solidão cultivou ao saquear seus semelhantes covardemente!
A tatuzinha só queria prestígio,
riqueza e poder, os bichos eram um mero detalhe, apenas desejava as coisas
materiais que tanto a satisfaziam, instrumentos físicos e emocionais de
primeira ordem.
Naquele dia em que aplicou suas
tramóias com a tonta de uma lontra, ela se deu bem, levou consigo coisas
valiosas, que fizeram muita falta à sua dona, mas ela com isso não se importou,
levou-a sim, e dai?
Ela era uma obstinada, usava de
todos os meio possíveis para aplicar seus trambiques, essa onda de galanteadora
estava dando tão certo que ela resolveu entrar pra a política, um campo farto,
um mar de lama onde ela poderia ser sacana e ao mesmo tempo bacana sem se
estrepar.
Sabia que nesse meio havia muitos
bichos honestos, mas nada que uns golpes funestos não pudessem mesmo sufocar.
Ela facilmente se elegeu, prometendo acabar de vez com as sanguessugas. Deu
tudo certo... Mas com o tempo a eles se uniu, secretamente, querendo também o
seu quinhão, em nome da lei dos mais espertos.
A vida é assim mesmo, cheia de
delícias, buracos de tatu, de goiabeiras, pereiras, macieiras, pererecas e pedreiras...
Sabe o que é mais legal? Sabe o
que é mais absurdamente legal? Viveu e morreu assim, a impunidade a premiou
desde sempre num buraco chamado Brasmil...
C 72 – UM BICHINHO CHAMADO SOFIA
ESPERANÇA PODE AMAR OU SÓ SE ESTREPAR?
Leve como o vento, pequenina, mas
com uma aura interior valente... Assim era aquele bichinho que Sofia dizia ser:
Um frágil e carismático bichinho
verde, que recebeu da mãe Natureza o
nome de Esperança.
Desde o princípio nada foi fácil pra
ela, e até hoje, continua não sendo.
Não foi muito feliz no seio
familiar, e buscou em dois casamentos a harmonia desejada, do primeiro (com uma
traça, que mais parecia uma lombriga doentemente amarela) restou uma cria
especial, do segundo (com um besouro) surgiram duas enteadas, duas joaninhas
danadinhas.
Nas entrelinhas uma sombra sempre
se fez presente, e preencheu (em parte) um vazio enorme e constante em seu
coração de melão (porque motiva ela e um amante do tipo minhoca grande não
selaram uma tão desejada união, conforme os requerimentos exigidos pelas leis
das flores? Ele já estava preso a um juramento com outro bichinho, ou seja, dava
de si metade aqui e metade acolá... Desse jeito não tinha mesmo como casar com
Sofia)...
Fazendo valer seu nome ela nunca
desistiu, trabalha muito (como as formigas) e ora constantemente (como um louva-a-deus),
pede sempre à mãe Natureza um bichinho, que a ame verdadeira e integralmente, e
que com ela queira de verdade se casar...
Parece que a resposta virá do mar,
um dia, à beira da praia, surgirá um molusco simpático, que com seus tentáculos
a abraçará e a aquecerá com muito amor... Realmente, ter a esperança sempre
presente não decepciona quem quer a luz encontrar. Realmente, de ilusão também
se vive...
C 73 – VOCÊ GOSTA DE PICA-PAU?
Quando aquele jovem pica-pau jovem
e excessivamente delicado, que por nome de batismo se chamava Sofiano, decidiu
revelar ao mundo sua suave condição, e que passaria a se chamar Sofia, ouviu
reprimendas de um castor, de um grande urso e até mesmo de uma enguia radical,
sofreu muito, mas foi adiante com seu estilo light purpurinado.
Um dia um cachorro poodle, chamado Chimbó, adentrou na vida
de Sofia
( aquele pica-pau simpático e afeminado),
se conheceram numa moita roxa, ao sul das entranhas de uma gruta fofa, ou seja,
uma paixão doce e meiga surgiu entre eles.
INTERLÚDIO: A MUTAÇÃO DE OUTRO
BICHO, DONA POMBA
Quando dona pomba também se
revelou para o mundo, desabrochando de vez em prol da cutia, sua namorada, em
detrimento do que disseram o tamanduá, a barata e alguns vermes, sofreu tanto
quanto se podia sofrer, só que também foi adiante em seus propósitos pró-pererecas...
Um dia o suave Poodle também caiu nas graças daquela
pomba bombástica (que estava sem namorada, pois tinha picado o pé naquela cutia
vadia)...
Ou seja, era a primeira vez que
ela se relacionava com o sexo oposto...
E gostou.
Quem não gostou nada foi Sofia, o
pica-pau transformado... Transtornado não quis abrir mão de seu bofe, e partiu
pro combate em plena praça pública, foi só pena que voou naquela cena insólita.
O saldo não foi dos melhores pras
aves em questão...
Além de terem ficado mutiladas,
perderam seu objeto de desejo comum, o tarado cachorro juntou os panos com a
cutia e fugiram pra bem longe dali... Deixando a ver navios dois pássaros
apaixonados e frustrados e agora também mutilados...
C 74 – VOCÊ GOSTA DE PIRARUCU,
BAIACU OU PACU?
Meu sonho dia desses foi assim,
disse Sofia:
Vivia em um aquário gigante, era
uma pirarucu de nascimento (muitos diziam que eu era uma baiacu, uma pacu ou
talvez uma piranha, o que nunca foi verdade); mãe de três sanguessugas – sempre
fui apaixonada por um tubarão bacana (que era casado com uma égua-marinha...
Sei, com certeza, que só existem cavalos marinhos, mas não resisti ao
trocadilho).
Veja bem, já fui casada com um
peixe velho e depois com um ouriço do mar, só que o tal tubarão, presente desde
cedo em minha vida aquática chegou e tomou conta do pedaço – ele, em princípio,
era solteiro, mas mesmo depois que se casou com outra, circulando por aí com os
filhotes legítimos que tinha, não deixou de pular a cerca, digo a moita de
musgos, comigo, seu grande amor; saíamos por aí de cara limpa, todo mundo sabia,
mas eu não tava nem aí, tinha orgulho de ser uma tremenda cara-de-pau...
Resultado:
De cópula em cópula comigo, de
presente em presente, pra mim e pros meus filhotes, ele acabou sendo
considerado por mim um quase marido (muitos pensavam que éramos casados de
verdade!). Ele foi inclusive chamado por meus trubufuzinhos de papai... O pai
presente que não tiveram, mas que substituiu os anteriores numa boa, afinal ele
era o máximo, grandão, forte, carismático, dezoito centímetros de puro prazer,
cheio da grana, funcionário municipal, e com veículo próprio!
O amor é cego, surdo e torto? Que
nada, sabíamos o que de fato estava acontecendo, até minha família apoiava!
Vivia me separando dele, mas
sempre voltava pra ele várias vezes depois.
Num desses distanciamentos acabei
ficando com uma lula chamada Lelé por um
ano, talvez mais... Chegamos até a dividir a mesma concha... Eu, ele e o
filhote oficial dele – os meus não estavam mais comigo, um passou a morar sozinho,
alugou uma moita, paga por mim, as outras duas crias entreguei de bandeja ao
verdadeiro pai delas, um abutre gordo e feio (as pegaria de volta no futuro,
reuniria a todos de novo, poria fim à diáspora aquática que promovi, é claro
que o tubarão estaria no esquema, mas secretamente – mas isso é um momento
futuro da história... Tanto é verdade que entre uma bolota e outra eu dava uma
beliscada na barbatana desse tal tubarão supimpa, o verdadeiro amor da minha
vida! (Amor é amor, né? A trouxa tentacular até que percebeu tudo, sentiu o
chifre de corno que lhe apliquei, mas carente, coitada, suportou o mais que
pôde... Quer saber? Foi muito cômico ver o bicho assim, cornélio, na lama).
Sabe o que foi mais engraçado?A
lula se mandou, se separou de mim, não por causa disso, sofreu mesmo foi com as
crises de meus filhotes que, de tanta saudade do papai tubarão, fizeram de tudo
pra que ele voltasse a me ver e me comer quase que diariamente, e deu certo!
Fiquei aliviada! Livrei-me daquela lula metida
a filósofa esperta, mas pobre de fundir - não tinha nem onde cair morta, quanto
mais sustentar meus caprichos e os de meus monstrinhos...
Eu gostava mesmo era de carne de tubarão... De
vez em quando ouvia um discurso sobre fidelidade na igreja... Coisas sobre
honestidade e honra, entre outras coisas sobre ética e retidão, pois era
evangélica, fui batizada nas águas de Netuno há muitos anos, mas fazia “ouvido
de mercador” na hora do culto, afinal não sou de aço né? A “perseguida” vivia
em chamas, meu negócio era levar ferro grande!
Sabe o que foi mais interessante?
Tempos depois acabei ficando com os dois ao mesmo tempo! Senti-me realizada,
disputada por duas criaturas distintas!
Sabe qual foi o final desse sonho
duplamente picante? Acabei largando o tubarão e me casei de verdade com a
retardada da lula Lelé... Ela provou seu amor por mim de um jeito que ninguém
tinha feito ainda, tentou suicídio! Até parece que foi pra me comprar... Até na
igreja começou a ir comigo, mas essa farsa não durou muito (ele pertencia a
outro deus); não me importei, fiquei com ela assim mesmo, pois, estava doida
pra me casar de verdade – o desgraçado do tubarão não se separava de sua
baranga égua-marinha nunca, que carniça sô)!
Final da história (pelo menos
momentaneamente):
Passei a morar com a tal lula, com seu
filhote, e com sua mãe, uma baleia maluca, uma Maria Doida, que nos cedeu seu
lar – morar de favor é uma desgraça, mas fazer o quê? Eu não era rica, vivia de
fazer faxinas em conchas alheias, não sabia fazer outra coisa...
A lula, meu novo amor (não tinha
os centímetros de prazer do mesmo tamanho que o gostosão anterior, além de
outros atributos de que eu tanto gostava, mas, quem não tem cão caça com gato)
– ela, a lula retardada, acabou, de fato, entrando pra uma faculdade, foi fazer
mesmo a tal da Filosofia, e isso nem dava tanto dinheiro assim... Continuou
sendo uma besta mesmo – e meus filhotes? Passaram a morar em uma das casas da
mãe de minha lula fofunchinha (com o tempo sairiam de lá, voltaria a morar com
o pai delas), e eu, claro, sempre odiando seu jeito doido de ser – meus
filhotes sempre me jogaram na cara que tomei a decisão errada, também pensei
nisso, só que não teve como ser diferente...
Que sonho mais besta, né? Estava
mais para pesadelo...
Eu sou mesmo uma destrambelhada,
mas pelos meus filhoticos faço qualquer negócio da China, ou de qualquer outro
lugar – no total prejuízo não posso me dar ao luxo de ficar...
C 75 – SOFIA JÁ FOI UMA EX-PECADORA? (FASE 1)
Foi assim que a (curta) vida
católico - evangélica de Sofia começou...
Noite do sétimo dia, do sétimo mês
de 2007...
Sofia, vinda, não se sabe de onde, descia a
Avenida Olegário Maciel, em
BH... Cheirava a bebida e perfume barato... E, quando se
abaixou para apanhar uma bituca de cigarro, em frente ao templo da Igreja
Universal, tropeçou e caiu de quatro.
No que ia soltar uma rajada de
palavrões, ouviu uma voz, que veio de uma jumenta, saída, não se sabe de onde
também, que lhe disse:
— Porque me maltratas? Pegue a sua
Cruz, siga-me! Entre aqui comigo, agora, se não vai tomar coices até ficar
abestada!
E Sofia disse:
— Fazer o quê?
Vamos nessa, que o trem vai ficar
bão a bessa!
Agora sou uma fervorosa defensora
das coisas celestiais, comigo o buraco é mais embaixo, digo, é mais em cima,
meu negócio é com Deus, para o inferno com o capeta! Sai pra lá desgraçado! Sou
rápida no gatilho, minha conversão foi instantânea, mas, poderosa!
Sigo os caminhos de Jesus, mas,
sou fã de um atalho, e, quando me dou conta já me lasquei.
Prefiro pecar
pelo excesso, não aceito que façam coisas que vão ofender aos céus perto de
mim, custe o que custar, afinal sou uma guerrilheira do Senhor, uma
ex-condenada, que tinha mil vícios esquizóides, mas, mudei, e agora faço parte
do lado branco da força! Lux triumphanx!
Quero ser sábia e santa como o meu
nome, só uma coisa me impede fazer mais, minha imperfeição, essa safada, que
tanto tenta tirar o brilho da minha cruzada, mas, tá amarrado!
Com o Senhor vencerei, quando me
sentir fraca é que serei forte! Tenho muitos espinhos na carne, mas, não vou
desanimar!
A lei e a ordem divina hão de
prevalecer, nem que eu tenha que dar qualquer tipo de show, pela fé hei de
combater a galera do chifre e da foice! O sangue de Jesus tem poder, e não vou
desistir de minha missão de resgatar almas, nem que seja na marra ou na
marreta!
Essa batalha vai ser infernal,
digo, celestial, contra quem ficar no meu caminho – tô andando armada não é à
toa, tô de armadura pela causa... Minha espada é o evangelho, e o penduricalho
é o fogo da vitória divina! Tremam infiéis!
C 76 – SOFIA JÁ FOI UMA
EX-PECADORA? (FASE 2)
Sou muito talentosa, não preciso
ser modesta, afinal, a força está comigo, como já disse, a força do Senhor.
Isso causa a fúria e a inveja das
hordas do mal. Que venham então!
Estarei com o porrete da fé e o
escudo da salvação diante dos cavaleiros da capa preta e as caveiras de fogo,
em meio às trevas ou na esquina da favela, com o evangelho debaixo do sovaco,
digo, aberto, com a garganta arreganhada expulsarei, demônios, corcundas, lobos
e dragões obscuros.
Dia desses tava a caminho da
igreja, e dei de cara com um padre, ele me convidou para ir à missa, e ficou
elogiando meus dotes (não, tava olhando muito para minhas coisas íntimas não,
tava falando de meus dons religiosos, etc e tal).
Eis que chegou um pastor, e foi só
ver o dito cujo começou a dar chiliques, dizendo:
— Dando testemunho a essa alma
perdida Sofia?
O padre nem bem deixou o pastor
falar, e já emendou uma gravata no cidadão, enquanto dizia que ovelha
desgarrada era ele.
Foram só batina e gravata que
voaram.
O pastor, em retribuição deu um pescoção no
seu oponente...
Engalfinharam-se no chão por
cinqüenta e sete minutos!
Deixei o pau quebrar e saí em
disparada rumo a um boteco...
E fiquei lá até aquela crise
passar. Fui uma covarde, mas, depois pedi perdão a Deus.
Pior mesmo foi ter me adentrado em
um antro de cachaça que outrora tanto amei, minha boca inté salivou, mas, eu,
com muito custo resisti.
Aleluia Senhor da Glória! Sem
vossa proteção o que seria de mim?
Sou apenas uma alma depenada, mas,
do teu lado, sob a sua proteção as minhas penas chegam até a brilhar!
C 77 – SOFIA JÁ FOI UMA
EX-PECADORA? (FASE 3)
Sabe a tal briga de que falei
daqueles ministros religiosos? Pois é, ela teve um final surpreendente, pena
que não fiquei lá para ver mais esse milagre celestial, fui saber só depois.
Estavam eles a se digladiar no
chão, cada um com a mão nas coisas do outro, falando mil bobagens, um em cima,
o outro embaixo, num rala e rola nada cristão, numa capoeira de boxe no estilo Saikieudô.
O pastor, desgovernado, começou a
falar mal da mãe do padre, que não gostou:
— Da minha mãe, a doce Cleonésia Gioconda das
Dores Barra Funda ninguém fala mal não heim?
O pastor, petrificado, parou por
um instante, e pediu com os olhos cheios de água, que ele repetisse o nome da
dita cuja.
O milagre estava consumado!Ambos
eram irmãos, e não se viam a mais de trinta anos!
A vida se encarregou de separá-los
no passado, mas, os uniu naquele momento de tensão, de forma espetacular!
Ambos eram cearenses, advindos do
vilarejo de Coquinhos Morenos, e foram embora dali, ainda jovenzinhos, para
tentar vencer na vida, cada qual em seu ritmo.
Chegaram a conclusão, inclusive,
que eram gêmeos, só não descobriram antes porque, à sua maneira, cada um era
mais feio que o outro!
Dias depois fundaram uma nova
igreja, e seguiram felizes a louvar a Deus.
O meu Senhor é fantástico! Gloria, Glória,
Aleluia! Adonai, xarope anay!
C 78 – SOFIA JÁ FOI UMA
EX-PECADORA? (FASE 4)
Sangue, suor e lágrimas são o que
se espera de um pregador no altar, mas, tem uns que parecem estar com anemia,
assim não dá! Uma pregação é como um show de rock tem que ter adrenalina! Cadê
o carisma, a explosão, a garra, o feeling?
Há dias que até penso em levar
travesseiro e coberta, mas, desisto e ponho os pés pra traz (oro de joelhos),
com a cara no pó, pelos fracos.
PQP! Que mocoronguisse! (Quando
uso a sigla acima não a associo ao palavrão correspondente para mim significa
Perdão, querido Pai, e quando digo FDP Quero dizer Filha do Pai, ok, maldosos
infiéis!).
Dia desses, assistindo a um
programa de TV, vi um pastor, que mais parecia um astro de cinema, coisa fina,
bem ao estilo do padre Marceleza, aquele, da outra galera. O fato é que me
apaixonei pela sua mensagem (e por ele!), que sacrilégio, suada, estava
disposta a conhecer aquele homem, digo, aquele servo de Deus, de qualquer
jeito!
E foi o que fiz... Só que me
arrependi profundamente! De perto o cara era um bagaço, e mais, a TV, só o
filmava da cintura para cima porque o cara era um tampinha, ao estilo Nelson
Mad! Que desilusão! Por causa disso a minha fé esfriou, e não sei quando
voltarei para a igreja, seja do tipo católica ou protestante – fraquejei, eu
sei, mas, eu sou humana!
Sou assim mesmo, volúvel se assim
não fosse não seria quem sou!
Até mais...
C 79 – SOFIA
FOI FORJADA DAS TREVAS DO BURACO NEGRO TRANSCENDENTAL?
Em meio aos corpos mutilados
Sofia, a jovem guerreira, forjada das trevas do buraco negro transcendental,
retirou seu elmo, e beijou a face do líder da resistência de Darkânia, que
ainda segurava a cabeça do lorde impiedoso em suas próprias mãos (ele, por sete
anos, reinou sobre o vale de Neooon, humilhando, escravizando e massacrando a
população indefesa).
— Vencemos
(disse ela), relaxe um pouco, exterminamos o exército inimigo.
Passarem-se alguns minutos até que
ele disse:
— Eu sei. Quantos de nós restamos?
— Contando
conosco, uns cinqüenta ou setenta guerreiros.
— Éramos cinco
mil! Desgraçados sejam os Magistrados!
Com a ajuda de
Sofia o guerreiro Zyon se levantou só então se deu conta que estava mortalmente
ferido no peito, esvaindo-se em sangue, caiu de joelhos, enquanto sorria
satisfeito...
Sua morte não
seria em vão, seu triunfo foi maior, Darkânia estava livre para voltar a
brilhar uma vez mais.
C 80 – UMA
NOVA GUERREIRA DO BURACO NEGRO TRANSCENDENTAL?
Por sete séculos a espada do
imperador de Warmag esteve desaparecida, foi retirada de suas mãos por uma
horda suicida de bruxos sanguinários, dispostos a destruir Mercúria, e humilhar
os adoradores de Xandrázia, a deusa triúnica.
Alternando períodos de guerra e
paz a cidade precisava reaver a espada do poder, aquele que a encontrasse
seria, por direito, o vingador, justiceiro e rei de um reino que precisava
mostrar para os seus inimigos a mão forte da glória.
A espada foi encontrada por uma
jovem camponesa, Sofia, nas montanhas de Amoran...
Só que ela era um adorador de
Targos, o deus vingador, e, pelas suas mãos Mercúria conheceu o exílio
eterno...
O poder aos dois lados convinha.
C 81 – EXISTE ARTE NO ATO DE
ROUBAR?
A Torre, toda incrustada por
dentro de esmeraldas e outras jóias preciosas, por ficava bem no centro de
Dragxilar, rota comercial da mais alta importância entre os povos do norte.
Era imponente e trágica, uma
prisão para traidores.
Sofia, a maior ladra de jóias
daquela terra miserável, estava disposta a ser presa pela guarda imperial,
nunca havia sido capturada, por isso a reação foi imediata quando se entregou
espontaneamente:
— Estás presa, infiel filha do
mago Dássilon.
Toda a cidade comentou, admirada,
a prisão da jovem mercenária...
A aparente surpresa da população
só não foi maior do que o desaparecimento da própria Torre!
Sofia e seu pai conseguiram aplicar o maior
golpe que já Dragxilar já viu!
C 82 – O QUE VOCÊ TEM A DIZER
SOBRE A HUMILHAÇÃO?
Todo o corpo de Sofia, a
mercenária vermelha, estava coberto de lama...
Trincando os dentes para evitar
que aquela podridão entrasse em sua boca, ela tentava alcançar as margens do
que antes fora um riacho.
Aquela tempestade infernal assustou
seu cavalo e ambos caíram ali.
Em vão ela tentou se libertar,
mas, uma inesperada ajuda lhe salvou:
D`Xar, robusto esposo de sua pior
inimiga, a rainha branca, jogou-lhe uma corda, e assim que ela a segurou
firmemente, o cavalo de seu salvador a puxou Dali.
Fizeram amor ali mesmo...
Uma tripla vitória para a lendária
guerreira de Foxy Krammer:
Sua vida foi preservada, e teve
para si um grande momento de prazer debaixo de uma chuva torrencial, que só não
foi maior do que a satisfação de ter arrancado os testículos daquele homem que
o humilhou ao salva-la.
C 83 – O SABOR DA VINGANÇA TE
SATISFAZ?
Sofia teve seu braço decepado, e
um olho perfurado, pelos gigantes de Angster na sua última batalha que travou
com eles, seu dragão esmeraldino, num vôo rasante, conseguiu resgatá-la no
último instante, abocanhando sua armadura semi despedaçada.
A vingança com certeza viria...
Já na Cidade das Nuvens ela foi
medicada e teve sua vida preservada pelo velho e sábio curandeiro mestre; após
sete meses, e um implante do membro que lhe faltava, elaborado com a mais pura
energia das entranhas do meteoro divino, voltou a treinar incansavelmente com
sua espada de Tiburion.
O contra-ataque foi brutal, ela e
o exército de cavaleiros alados sob seu comando, deceparam a cabeça de centenas
de gigantes, que foram surpreendidos em meio a uma bebedeira descomunal – nem
um deles sobrou para contar a seus netos o quanto uma vingança pode ser injusta
e sangrenta.
C 84 – VOCÊ GOSTA DE COLECIONAR
COISAS BIZARRAS?
Sofia era a mais hábil polidora de
lentes da sua comunidade, era cega de um olho e uma apaixonada por sua
profissão, entendia tanto dela que extrapolava, era uma profunda conhecedora de
fisiologia ocular.
Para ela nada era mais fantástico
na anatomia humana do que os olhos.
Cansada de violar túmulos em busca
de cadáveres recém-enterrados para compor sua coleção especial de olhos (que
guardava em frascos de vidros transparentes) decidiu extraí-los de rapazes,
moças e crianças de todo o tipo, em plena luz do dia, com seu punhal
prateado...
Dentro da floresta de Valstark
havia uma trilha muito utilizada pela população local para chegar de um extremo
a outro, passando da vila Gnay para a cidade de Joxtawn – o local era perfeito
para que ela se escondesse e agisse; só que não matava ninguém, apenas as
mutilava, retirando delas o que tanto deseja para si.
Mas, começou a ter problemas:
As sete pessoas mutiladas estavam
falando demais, e a população ficou com medo, e passou a evitar a floresta...
A ausência de doadores poderia comprometer
sua linda coleção, ela as matou todas em suas próprias casas, na calada da
noite, e dali em diante esse foi seu novo padrão:
Punhaladas no coração, seguidas de
extrações oculares.
C 85 – É MÓRBIDO ARRANCAR ASAS
DE BORBOLETAS?
Sentada em uma enorme rocha Sofia
descansava, olhando com prazer para o saco transparente, cheio de borboletas
que ela capturou no bosque de Neoplaza. Ela não estava satisfeita, ainda não
havia encontrado a mais bela das borboletas, não sabia como era uma, saberia,
com certeza, ao encontrá-la.
Decepcionada esmagou com os dedos
as cabeças de todas as borboletas que encontrou, soltando-as correria o risco
de pega-las novamente, perdendo um tempo precioso.
Qual seria a solução para o seu
dilema?
A resposta estava a poucos metros
dela:
Um jovem magnífico passeava por
entre as flores, ele sim, era mais bonito do que qualquer s borboleta!
Aproximando-se sorrateiramente a golpeou-o com uma pedra, mas, não o matou, só
o desmaiou; com ele caído ao chão, ela em êxtase, pode ficar admirando-o!
Porém, havia uma pequena cicatriz
em seu rosto! Decepcionada ela esmagou sua cabeça, e partiu em busca de outro
ser mais belo.
C 86 – O QUE VOCÊ PENSA SOBRE O
CANIBALISMO?
Sofia, uma jovem esplêndida na
cozinha, preparava pratos deliciosos, sua especialidade eram as carnes. Ela não
só fazia as mais tradicionais receitas com carne de porcos, de bois e de
carneiros, como também apreciava fazer exóticos e refinados pratos com javalis,
rãs e serpentes.
Seu restaurante começou a ficar
cheio depois que ela criou um prato novo, delicioso, com uma receita secreta,
ao qual batizou de Snamuh – um requintado e milenar assado africano, à base de
sangue de hienas, com muita cebola, azeite e especiarias da Índia e do México.
Alguns meses depois, no final de um
dia cansativo de trabalho ela desapareceu misteriosamente... Estaria ela
inconsciente dentro de seu frigorífico particular? Sim, ela teve um fulminante
ataque cardíaco lá dentro – só que para a surpresa da polícia foram encontrados
lá vários sacos, todos tinham rótulos escritos Snamuh, e eles estavam cheios de
órgãos humanos!
Foi então que todos descobriram
que o nome do famoso prato era humanos (humans,
em inglês).
C 87 – O CONTO MONSTRUOSO AQUI CONTIDO DEVE
SER LIDO?
Desde sua infância Sofia tinha uma
predileção especial por concertar coisas quebradas:
A boneca de sua irmã estava com a
cabeça torta, ela a colocou no lugar. O mergulhador de seu amiguinho, de
madeira, precisou ter a perna trocada, e ela o ajudou.
Sua habilidade com seu canivete
era genial...
Numa manhã de primavera ela
quebrou um vaso finíssimo de porcelana chinesa de seu pai, que além de ter-lhe
dado uma surra memorável, a obrigou a reconstituí-lo, sem sucesso, por horas.
Como não obteve resultado desejado
teve sua cabeça empurrada contra a parede, violentamente.
Hoje ela nem se lembra mais de ter
degolado seu próprio pai com o seu canivete, colocando a cabeça e os pés dele
na posição que considerava correta, pra traz...
Assim também ocorre com as lindas
jovens encontradas nuas e ensangüentadas, com as cabeças e os pés virados, com
letra S, riscada em seus rostos, a canivete.
C 88 – DEPENANDO ANJOS? (OUTRO
CONTO MONSTRUOSO)
Sofia da Consolação sempre foi
fiel às suas tradições religiosas – sua fé nas coisas espirituais aumentou depois
que esteve à beira da morte, após uma forte febre, que só cessou depois que ela
foi curada pelas mãos do próprio anjo Gabriel.
Desde aquela ocasião ela passou a
ter uma enorme criação de pombos, ela mantinha a todos bem alimentados,
dava-lhes remédios e conversava com eles com uma Bíblia enorme nas mãos.
Cantava louvores e vivia fazendo
preces a seu anjo salvador. Decidiu então fazer-lhe uma homenagem especial.
Com uma foice bem amolada começou
a arrancar as asas de todos os seus pombos, sua indumentária branca em poucos
minutos ficou banhado em sangue (e seu corpo todo também), pois, começou a usar
as mãos e os dentes naquela tarefa especial:
Confeccionar um novo par de asas
gigantes com as asas de todos aqueles pombos, para oferecer como presente a quem
tanto a ajudou na vida.
C 89 – QUANDO UM AMOR DOENTIO
PASSA A SER ABOMINÁVEL?
Sétimo dia do sétimo mês de
2007...
Adoro a Deus, você não. Eu viverei
você morrerá! Eu te amo Madeleine, mas, amo mais a Deus, e não permitirei que
você continue a fazer o que está fazendo; queria tanto que tivesse continuado
pura, mas, não, você me rejeitou para poder ficar com homens de toda sorte,
imunda, incrédula, vadia!
Oitavo dia do sétimo mês de 2007...
Comecei a segui-la:
Minha mente está em chamas, por
Cristo e por ela.
Já me penitenciei por isso, estou
banhada em sangue, cheia de dores, mas, limpa e pura agora.
Nono dia do sétimo mês de 2007...
Ela se encontrou com um homem,
foram ao motel!
Minha adaga clama por vingança e
justiça! Estarei com ciúmes? Não é isso! Não pode jamais ser isto!
O que é então?
O que significa tudo isso afinal?
Eu sei o que é, estou agindo em
nome do Criador, desejo eliminar a sua mais ordinária criatura, uma mulher
infiel, promíscua e que não merece a vida, mas a morte!
Décimo dia do sétimo mês de 2007...
Em princípio amarrei minhas partes
íntimas com Nylon, mas, depois decidi costurá-las definitivamente – eu seria
pura para sempre afinal...
Preciso me esquecer da carne,
entrar em comunhão com meu Salvador.
Consegui entrar escondido na casa
dela, hoje ela morrerá!
Espalhei gasolina por toda parte.
A amarrei, a estuprei. Pequei, eu sei, mas, a
culpa é dela! Fugi, não tive coragem de matar aquela vaca.
Décimo primeiro dia do sétimo mês de
2007...
Hoje deixo esta vida, pago por nós
duas os pecados de nossas vidas, adeus, amo ao Senhor, mas idolatro você,
Madeleine, meu grande e impossível amor.
Sofia.
C 90 – UM DESGRAÇADO
SENSACIONALISMO IMBECIL? (NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 1)
+ EDITORIAL
...Frutas do meu Brasil, minha
gente amiga, bons dias!
...Encharcada de prazer dou inicio
a este primeiro número de meu jornal, dando tudo de mim, literalmente. Tenho
muito que mostrar, por dentro e por fora, de forma popular, light e
culturalmente super.
...Vamos nos divertir, refletir,
criticar e fazer um monte de gostosuras de agora em diante, juntinhos, ok? Não
se esqueçam:
...A maçã tá podre, mas, tem
partes boas aqui e acolá, a esperança está no ar, afinal dentro dela há
sementes para outras safras melhores!
...Beijo na cara meus fofunchos, e
no mais até breve!
+ SEÇÃO TERNURA
...Recentemente recebi uma
cartinha de uma moça evangélica, desesperada, dizendo mais ou menos assim:
— Não sei mais o que fazer, não
sou santa, mas tô querendo muito, o problema é que tenho um namorado, e quando
dou por mim já dei. Quando tudo acaba fico arrependida, querendo termina nosso
relacionamento, e ele, todo cínico diz:
— Não te entendo, acabamos de
terminar um agora, quer mais não ou tá fazendo mãnha para a gente da mais uma
relacionada mais caprichada?
...Tô a fim de contar tudo pro
pastor, só que não tenho coragem!
...Ando querendo me matar, mas,
enquanto não me decido vou enchendo a cara de cachaça e dando de graça o que me
custou tão caro, pro meu libidinoso amor.
...O que é que eu faço?
...Minha amiga, ou você continua
dando ou desce, ficar trepando em cima do muro só vai te fazer mal – decida de
uma vez a quem quer amar, ao Senhor ou ao seu namorado, só depende de você!
Enquanto isso não acontecer vê se pelo menos não toma cachaça ruim, belê?
...Beijo na cara, fofuncha, no
mais até breve!
+ SEÇÃO GRELHADOS E BABADOS
...Se a fome apertar, que tal uma
galinhada grelhada, pra começar? Jogue numa panela uns peitos de galináceas,
dentes de alho, pimenta e manjericão, sal e óleo a gosto. Coloque ½ tablete de
caldo de galinha, uma mandioca picada, torresmo sem cabelo e chá de cogumelos
frescos.
Modo de fazer:
...Ponha pra cozinhar e depois é
só comer... A porção é pra dois, mas, se você quiser comer a três o problema é
todo seu.
...Britney Spears ainda é motivo
de muito bafafá e ti- ti -ti, a dessa vez é que ela tá gorda, mal acabada e mal
arrumada, mal tem conseguido fazer suas coreografias. E até no play-back tem
desafinado, mas, a poderosa sempre se recupera...
...Eita minina fuerte qui nem égua
da boa! Só falta agora casar com Michael Jackson e fazer musical tipo Disgrace Monster.
+ SEÇÃO PORRETADA DA HORA
...Se beber não dirija!
...Se comer coma gostoso!
...Se dirigir não chame o Renan,
alguns Calheiros são do carvalho, trepam, e ainda ficam famosos!
... Se alguma coisa tosca te
incomodar faça o seguinte, taca nela um atum véio em chamas.
... Se tudo o que fosse bom fosse
realmente interessante que bom seria, né?
... Se antes ir você decidir
voltar vá assim mesmo ou não, sei lá... Se faltar é por que houve escassez em
demasia, chegou a faltar inté bacia.
...Beijo na cara e na língua meus
fofunchitos, meus batatinhas!
C 91 – UM DESGRAÇADO
SENSACIONALISMO IMBECIL? (NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 2)
+ EDITORIAL
...Glória, glória, aleluia!
Finalmente uma boa notícia, o
Garanhão de Brasília (Renam Calheiros) finalmente se licenciou da presidência
do senado, não suportando a pressão, iniciada, pela mídia, em maio – isso, é
claro, não o isenta das investigações que tramitam no conselho de ética daquela
casa – só não sei se vai acabar em pizza – sei lá, pode ser que acabe em uma
bela feijoada – festa eu sei que vai ter!
...Enquanto isso sua ex-amante vai
bem obrigado, ganhando uma grana preta com as vendagens da revista daquele
bicho comedor de cenouras...
Eita Brasil; vê se acorda! Gostosa
mesmo sou eu! Tenho tanto prá mostrar lá...
Quando fico pelada sou um show à
parte...
Enquanto isso não ocorre, vou
mostrando, do lado de cá, as minhas deliciosas coisas pra vocês, queridos
leitores!
...Beijo na cara, fofunchos!
...Inté mais.
+ SEÇÃO TERNURA
...Neste número a seção fica de
luto, a razão? Sabe a tal moça evangélica da edição anterior? Pois é, acabou
fugindo com o pastor, mas, acabaram sendo presos depois de tentar roubar um
armazém de bebidas, especializado em vodka e whisky importado.
+ SEÇÃO GRELHADOS E BABADOS
...A dica de hoje é:
...Café com pão e manteiga, de
primeira!
...O preço de ocasião é da padaria Rosca
Queimada e da lanchonete Vem Comer Gostoso!
...A bola da vez é a do Chicletes
Sem Banana, mês das crianças! (Heim? Essa nem eu entendemos!).
...Sabe como é... Não sou chegada
em Axé... (Respeito, mas, condeno o assim mesmo, faz mal para meus neurônios e
dentes).
+ SEÇÃO PORRETADA DA HORA
...Na verdade a porretada vai com
vaselina desta vez:
...Enquanto você não encontrar a
mulher certa para a sua vida, não deixe de se divertir com as erradas (essa
frase não me pertence, ouvi por ai).
...Beijo na cara pra todos!
...Fui!
C 92 – UM DESGRAÇADO
SENSACIONALISMO IMBECIL? (NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 3)
+ EDITORIAL
...Esse número surgiu de algumas
reflexões que fiz no jardim do meu barracão, de caneta em punho eu delirava,
digo refletia, suspirando ai de mim, enquanto comia aipim e bebia gim com
gergelim, ao mesmo tempo em que gemia ai meu rim.
...Tava sem dinheiro, sem amor,
sem nada, querendo cafuné e café. Pois é, amanheci fragilizada. Ficar
menstruada é uma porcaria!
...E eu dizia:
— Cadê meu pacotim de Modess?
...Acabei não o encontrando, sai
pela rua desnorteada, gritando feito uma louca, acabei desmaiando por causa de
uma forte pressão que se abateu sobre a minha pessoa.
...A vizinhança, apavorada ligou
para a policia e para o jornal Super, contando uma prosa absurda. O resultado
estampou o dito cujo assim, no dia seguinte:
...Vítima de um tarado é encontrada
pelada, suja de sangue e inconsciente na rua. Suspeita-se de ligações com o
tráfico ou com o caso Renam Calheiros... É do carvalho! Venho a público
desmentir tudo isso, mas, que eu fiquei famosa, fiquei.
...Beijocas gordurosas, bye-bye.
+ SEÇÃO TERNURA
...Sob o pseudônimo Isaura escrava
nossa leitora nos escreve, dizendo que está a procura de um namorado, com idade
compatível, moreno, educado, carinhoso, cheio da grana, pé de mesa (não precisa
ser carpinteiro), para relacionamento um pouco sério... Nas segundas, quartas e
nas sextas, pois, nos demais dias já tem compromisso com um tal de Leôncio das
Couves, dono de uma loja de chibatas, chinelas de ferro e outros trecos
sadomasoquistas.
+ SEÇÃO GRELHADOS E BABADOS
...Não deixe de assistir ao filme
Tromba de Elite, enquanto come um delicioso feijão tropeiro, com bala de todo
tipo.
...Não deixe de ler o livro
contendo a biografia do bispo Edir Mancebo, enquanto come uns deliciosos
biscoitos papo de anjo com língua recheada, ao suco de limão capeta.
+ SEÇÃO A PORRETADA DA HORA
...Para você refletir:
...Quem com ferro fere, com roupa
passada há de servido ser.
...Beijocas coloridas, hasta la vista, baby.
C 93 – UM DESGRAÇADO SENSACIONALISMO IMBECIL?
(NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 4)
+ EDITORIAL
...Encontrei pela rua uma
desafeta, dia desses, ainda tá ksi acha, só porque ainda tá com um ex-bofe meu,
o John Edredom, um pilantra de marca maior. Ela tava usando uma sandália de
prástico que tava percisando de prástica, um horror, um lixo só.
...Como sou praticante da monstrocacia (diz
aí meu velho chapa Wellington Francisco de Souza, vulgo WFS) sorri que nem nota
de três real, num guento a safada... Ela e seu rádio véio ligado, escutando
Good Times, da rádio BHZ FM, vê se pode?
...A insuportável tava com uma
bolsa de oncinha, me imitar agora vale? Faça-me o favor! Quer saber? Nem dei
bola, detesto imitações!
...A prova tá aqui meu leitor
gostoso, minha leitora felpuda, meu jornal é único! É ou não é? Se alguém
disser o contrário eu vou me zangar! Não gosto de ser imitada, nem questionada,
nem deixar de ser notada – estou à procura de gente que me queira por inteiro e
também pelas metades.
...Beijo de beiço, tchau!
C 94 – UM DESGRAÇADO
SENSACIONALISMO IMBECIL? (NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 5)
+ EDITORIAL
...Onde estamos afinal?
...Isso eu sei, quero mesmo é
saber:
...Aonde vamos parar?
...Quem gosta de brincar com faca
é aquele cara do circo, e como não sou lacraia, nem lambisgóia e nem mocréia,
deixo a coisa ficar dura, que é prá ver se espirra, entendeu?
...Se você não entendeu nada, nem
eu; de uma coisa posso tirar conclusões:
...O barraco tá pegando fogo, e
tem gente tentando apagar com gasolina.
...É isso ai, goodbye.
...OBS:
...Este jorná tá incompreto...
Tô mei qui bêbada dismais pra
iscrevê...
...É só isso, se quiserem!
C 95 – UM DESGRAÇADO
SENSACIONALISMO IMBECIL? (NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 6)
...Este número é atípico, pois:
Em nome da liberdade disponibilizo
agora uma coisa diferente, uma seqüência só com editoriais ainda não
publicados... Sou uma escritora compulsiva, a prova tá aqui; observem o quanto
sou diversificada e inteligente, observem o tamain du meu negoçu...
+ EDITORIAL A
...Quando entrei numa loja de
roupas íntimas e vi aquele monte de calcinhas da hora eu gritei:
...Uia! Tem dias que tenho dificuldade
de amar, sim, claro, não foi o caso quando desembolei uma grana e desejei ir
embaçar o meu orçamento com (fu) tilidades, mas tudo bem.
...Pensei:
Chega de ficar amarrando mixarias,
inté andei usando as calcinhas que tenho do lado avesso pra não gasta-las tanto
assim, mas, essa apelação não faz sentido, a maresia tava demais.
...Dentro do recinto escolhi a
mais sexy (de oncinha) para os momentos picantes e as calçolas para os momentos
avermelhantes.
...Até ai tudo bem, o problema foi
na hora de pagar, desisti, fui embora, vou continuar virando as dita cujas do
avesso, ainda bem que tenho três, já pensou se fossem só duas?
...Mas, uma pergunta não quis se
calar:
...O que é que eu fiz com a grana?
...Bem, noves fora nada deu
vontade de comprar uma garrafa de pinga com mel e um pedaço de fumo de rolo,
mas, ando muito intoxicada, acabei comprando balas, tantas que vou chupá-las
até o Armageddon ou a menopausa cheguem, o que vier primeiro, se bem que há
dias em que prefiro um pedaço de torresmo gordurento, acompanhado de Fogo
Selvagem e três fichas de sinuca. Sou muito decidida:
...Deu vontade eu caio pra drento.
+ EDITORIAL B
...No início, quando decidi
escrever o jornal no meu banheiro, estranhei um pouco, mas, agora... Lugar mais
gostoso, impossível!
...O clima é de circo, misturado
com festa Punk, meio que fico umidamente inspirada ao som do rock’n’roll.
Instalei no lugar a mesinha, a cadeira, o computador e outras tralhas, pra dá
um toque vanguardista no lugar.
...Falando assim, até parece que o
espaço é grande, puro engano, mas, esse clima de fusquinha é que faz a coisa
ficar um tesão, assim produzo de montão. Tem mais, deu vontade de mijar?Já to
na área, deu vontade de fazer ploft-ploft-ploft; já é!
...Sabe... Algo mais, digamos que,
profundo, e faço ali mesmo, no capricho, é uma delicia.
+ EDITORIAL C
...Perai pensei, e se eu (a coisa
mais fofa do mundo) mostrasse ao mundo o outro lado da mídia? Foi com esse
pensamento que decidi soltar os Ratos de Porão e abrir a Sepultura, falando
coisas como um Pato Fu... Só sei que foi assim, pois, só eu sei que o Jota é
Quest – e, de dentro de meu útero (ao som de Odair José, Amado Batista, Nelson
Ned, Falcão e um pouco de Fagner, Belchior e Trio Parada Dura) nasceu este
fantasmagórico jornal underground, com um toque de classe e cabelo de sovaco,
se é que vocês me entendem.
...Sinto-me aleijada e sem muletas
se eu não tascar a mão na massa e escrever muito.
Se eu não fizer isso tô ferrada e
mal paga!
Macacos me mordam, preciso por pra
fora o que enfiam dentro de mim! (falo da sociedade, é claro).
...Só não sei fingir que não vi
(como certo presidente), enfio o dedo no buraco mesmo!
...Se der errado fujo, só
aparecendo tempos depois, com uma cara dengosa, meio que arrependida, e pronto,
fica tudo no zero-a-zero...
Lavou tá novo!
...Eu sei que eu sou bonita e
gostosa, e sei que você me olha e me quer, afinal sou irresistível, rosada e
cheirosa.
+ EDITORIAL D
...A vida é como um pêndulo oscila
o tempo todo, de repente está aqui, de repente não tá mais, se eu não fosse
centrada tava toda arregaçada, fazendo terapia e tal – mas, eu odeio ter que me
abrir com psicólogos, eles fuçam demais, além disso, se eu contasse tudo esses
caras teriam orgasmos múltiplos, por isso deixo tudo como está pra ver como é
que fica.
... Sofia Santelly sou, e outra
coisa qualquer, que nem sei o que é, só sei que são dois lados de uma mesma
moeda, rara e deliciosa, sou uma show-girl de primeira.
...Se eu faço strip-tease? Claro
que não! Tá pensando que eu sou o que?
...Se bem que a idéia não é de
todo ruim.
C 96 – UM DESGRAÇADO
SENSACIONALISMO IMBECIL? (NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 7)
+ EDITORIAL
...Este número é dedicado a um
tema exclusivo, da mais alta relevância, é sobre mais abundante das desgraças:
...A traição!
...Sem mais delongas, vamos direto
ao ponto G (bolinado por mãos fortuitas, aquelas, que não são as que constam
dos contratos, mas, que permeiam as entrelinhas de casos, de amantes, de
cornos, de safadezas de toda sorte).
...Eis uma carta espinhenta e
chifruda:
...Querida Fifi, andei dando o
fiofó para um sujeito enquanto pensava nos dezoito centímetros do trololó de
meu amante (de quem nunca estive tão
afastada assim mas, também nem sempre presente),
ele tem família, sabe como é.
...Deu-me um preto no branco (ou
será o contrário?). Lembrei-me... Do dito cujo atual só posso tirar meus
atrasos e ganhar presentes... Dividir o mesmo teto o cara não quer, além do
mais tenho filhos bastardos, sou muito doente, sem estudos e vivo de faxina...
Fui comida muitas vezes por ele e até gostei,
tô querendo me casar, só que o otário desconfiou geral e pula fora toda
vez que eu toco no assunto... O que é que eu faço?
...Resposta:
— Vai se fundir minha filha, que
eu tenho mais o que fazer, ordinária!
+ SEÇÃO GRELHADOS E BABADOS
...Queria tanto mostrar (ensinar)
a vocês (deliciosos leitores) uma receita, feita com muitos peixes, da hora, à
base de Namorado e Piranha, com chifre de bode em pó, bagos de cobra não encontrei, o que é uma pena... Ficamos assim:
...Sirva-se com Baiacu e Leitão,
ao molho de Paca e uma porção de Cará com Mandioca brava.
...Para o lava pé tome um pouco de
rum ou aguardente, com lascas de Pau-Brasil.
... Ando meio que desgovernada na
cozinha, essa seção já tá me enchendo o saco e o forno, quer saber? Vou desligar
esse fogão, e se me der na telha vendo pro ferro velho, tá um bagaço só!
+ SEÇÃO PORRETADA DA HORA
...Vão falá de coisa mais ou
menos?
...Esse jornal acaba aqui e agora,
até nunca mais!
...Tô de saída, estou indo à festa
de comemoração do funeral deste jornaleco (com o melhor do visual prega,
coladinho em mim:
... Peruca pichain vermeia, calça
listrada de roxo e amarelo-balão, camisão bem largo ( de manga comprida, meio
que desabotoado, mostrando um dos meus peitos, toda florida), óculos quadrados,
com aro poin-nho-nho-ion e várias correntes enbijouteiradas no pescoço e
nos braços – segui a cantar:
...Você é a
ciganinha, dona do meu coração, não tenho sangue cigano, mas, vou pedir a sua
mão! ).
...Aproveitando
uma carona de um chinês mineiro chamado Ju Ma Kumb Eiro, subi num jegue chamado
Lobato Monte Eiro (parece que o último sobrenome indica um certo parentesco
longínquo entre ambos, sei não...) e fui ao Sítio do Espiga Paulo Amarelo!
Lugar tão-tão
distante nunca vi!
Lá chegando
conheci uma galera muito louca, boa de gole e de truco.
Foi
sensacional aquele bacanal perto do bananal com Dona Eh Milha, o Visconde de
Rabugento, o Peidinho, a Nhá Bentia, a Nariguda, a tia Anastícia, o tio
Barnabil, o Rabicóz, o Sacim e a Dona Kuca.
...É isso aí,
enfim fui!
... It’s all over!
C 97 – VOCÊ SABE FILOSOFAR COMO
SOFIA?
*Independente de toda e qualquer
manifestação, pipocam, em mim, tantas coisas e vontades na dita cuja quanto são
carnavalescas as minhas vontades... Assim sendo deixo como está pra ver como é
que fica.
*Não, mil vezes não! Apenas sou
enérgica No quesito barba/cabelo/bigode/cama/mesa/banho e tosa... Barraca
armada me atrai...
*Sou gostosa e assumo, ovo frito
de primeira! Buchada de bode com limão capeta, e uma pitada de fubá... Delícia
só!
*Operação belezura – sem medo de
doer... Escândalos por encomenda... Sirvo-me na frente de todo mundo...
*Tiro a seiva, na selva, a
salivar... Que seja num cafofo, à beira-mar ou num pomar... Para mim o
importante é gozar.
*Meu passado me condena? Que seja
bem amarrotado então! Mal passado ou bem passado? Pelo menos que o ferro esteja
quente...
*Pois é, se você ficar lá trás a
gente pode rachar a Graça lá mesmo, ou ainda, achar graça lá mesmo... Não me
importa o lugar aonde você vai me fazer cócegas, se na frente ou atrás, vai me fazer rir do
mesmo jeito.
*O que eu tenho para mostrar nem
todos gostam de ver, em
público... Mas , nas entrelinhas. quase todos gostam de pegar.
*Em meu circo até o palhaço se
descabela... Gosto de outras coisas que o mágico faz sumir também.
*Meu magnetismo animal faz com que
meu zoológico interior aflore como rosa e girassol que se mistura com chocolate
e pimenta; Fico doida pra abrir o botão (a blusa me incomoda, meu calor é assim
mesmo). Moralismo de araque? Pornográfica, eu? Santa chantagem, santa
sacanagem!
*Vinte vezes fugi, em todas fui
capturada... Cinqüenta e sete vezes gritei, quis me libertar, outra vez me
pegaram de jeito (brincar de gato e rato com meus amores marmanjos inté qui num
mi dá desarranjus; yes, inté tão bão quantu cumê chuchu).
*Não vou mais esconder-me, chega
de bancar A medrosa... Toda vez que eu vejo o Brad Pitt eu fico assim, nervosa;
é que pode rolar uma química especial entre nós e a Angelina Jolie pode querer
entrar...
*Minha boca fica até Inchada de
tanto beijar em vão certas bocas, que sei que nunca serão mais do que
orifícios, em prol de tudo o que sei que não é mais do que uma simples
diversão...
*A tremedeira descontrolada das
minhas pálpebras é resultado de uma falha horrível na transmissão de sinapses,
de impulsos nervosos que chegam aos músculos ao redor dos meus olhos, e talvez
da perseguida. Os especialistas afirmam que tal sintoma está quase sempre
relacionado a stress, fadiga, falta de sexo, insônia... E desaparece sozinho -
poucas vezes acompanhado... Em raros casos, o tremor freqüente das dita cujas
podem sinalizar algo mais sério, como a esclerose múltipla ou a presença de
tumores... Mas, esse não é o meu caso, é só frescura mesmo.
Só que o assunto continua
polêmico: porque as mulheres têm as mãos e os pés mais frios do que os homens?
Ora, pílulas!
*Eu tenho uma alma nietzscheana,
sou um amálgama entre a doença e o que é salutar, entre o que é angelical e o
que é demoníaco, entre a loucura, o instinto
e a racionalidade, entre o que é decadência e o que é evolução, entre o
que é útil e o que é fútil... Eu sou Sofia Santelly, deliciosamente doce, azeda
e salgada; não presto mesmo, mas sou essencial, Perspectivamente falando, para
além do bem e do mal... Beijando ao mesmo tempo a boca de Zaratustra e do
Anticristo, sou extra-moral, sou a desmedida em pessoa...
*Ai eu disse:
— Que zona é essa?
E o cara perguntou:
— Cumé qui é? Tá falando cumigo
mulher?
E eu retruquei:
— Que parte da zona você não
entendeu?
Entrecortei o assunto, dei um
chute no saco do cara, chamei a polícia e acabei com aquela invasão no meu
domicilio; o miserento tava na final de roubar meu barraco! Cara–de–pau!
Bandido! Safado!
*Eu sou bocuda mesmo, Jurei que nunca deixaria
ninguém roubar-me, mas, quem disse que pilantra precisa de autorização? Só não
deixei ele sair de mãos abanando; ele
não Insistiu mas, eu dei pra ele assim mesmo!
*Prezada mãe, estimada mulher,
mesmo quando você estiver toda produzida, indo pro trabalho pela manhã, mas,
tendo antes que deixar seu filho na escola (e ele estiver num momento de
pirraça pública) sorria, mesmo que trincando os dentes! Afinal é preciso manter
a pose de gostosa e de tolerante , sem descer do salto, ok? Isso, É claro, só é
válido para quem não abre mão das aparências... Para as que são práticas uns
bons berros e sacudidelas costumam resolver...Mas, cuidado com o conselho
tutelar, ele pode te ferrar!
*Diálogos neuróticos...
Neurose:
– Penso que nada sei...
Sofia:
– Por quê?
Neurose:
– Aprendi com Sócrates.
Sofia:
– Não é possível saber?
Neurose:
– Sabe que eu não sei?
Sofia:
– Eu sei.
Neurose:
– Sobre o que?
Sofia:
– Sobre o seu não saber.
Neurose:
– E ai?
Sofia:
– És uma ignorante.
Neurose:
– Eu não sabia...
Sofia:
– Acho que vi um gato verde...
Neurose:
- Tenho certeza que vistes.
Sofia:
– Não vais duvidar disto?
Neurose:
– Só depois que me disseres a cor...
Sofia:
– Mas, eu já disse...
Neurose:
– Não ouço tolices...
Sofia:
–Tudo posso naquilo que me guia, e
nem sempre és tu...
Neurose:
– Quem vos guia?
Sofia:
– Algumas toxinas deliciosamente sólidas ou
pastosas, não me esqueço, inclusive, da cachaça, coragem líquida, de primeira,
de segunda e também de terceira qualidade... Tudo isso em um só produto!
*11 de agosto de 2008...
O que foi que aconteceu comigo? Eu
não sei de nada... Eu sei de tudo... Tive uma alucinação? Fui abduzida? Ou
estive por aí? Fui a Três Corações ou vivi apenas ilusões? Em São Tomé das letras
aportei ou será que me enganei? Baependi levou-me consigo em cima de uma
caminhonete, após eu ter aspirado muito pó de uma estrada de terra? Isso foi
antes ou depois de ter visto uma cachoeira bela como a Izabella; um véu de
noiva? Viagens de ônibus? Caronas? Andanças? Fugas ou libertações? De Caxambu
fui parar na igreja São José, em BH?
De lá fui parar na rodoviária?
Depois fui encontrar-me com algum amor na Avenida dos Bandeirantes, e de lá
acabei voltando para meu quase doce lar, onde me encontrei com parte de minha
família (with my strange momy
Angel-monster and with my beautiful son), ou não? Quanto do que descrevi é
verdadeiro? Quanto é hipocrisia?
C 98 – SUA VIDA É PRIVADA E
ÚMIDA? UM CONTO SUJO DEMAIS...
Mal a tarde havia começado naquele
abençoado cinco de julho de 2007, e o velhinho adentrou no pronto-socorro, com
passos rápidos, suando frio e, com as mãos na bundança implorou para mim:
— Pelo amor de Deus, onde fica a
casinha?
— No final do corredor, à esquerda...
— Obrigado, é uma emergência, tô
com uma diarréia danada, não sei se conseguirei chegar lá (disse com os olhos
umedecidos, cansados e esbugalhados, e com uma fala trêmula, de dar dó).
O fato é que não conseguiu chegar
lá a tempo, foi deixando pelo caminho um rastro estranho, indesejável, sujo e
fedido.
Mal chegou ao banheiro, sentou-se
no vaso sanitário, e num misto de agonia e prazer, gemeu com tudo aquilo que
seu interior libertou; a sonoridade das coisas que caiam parecia uma
tempestade, só que líquida e intestinal, lembrava também um avião em queda
livre, com o motor avariando, dando estalos e engasgando, rumo a uma montanha
de aço.
Eis que chega a auxiliar de
serviços e, sentindo um cheiro mórbido dispara:
— Meu Deus! Abostalharam o mundo!
Que nojo, tem buesta pra todo
lado!
Que carniça! Alguém aí comeu gambá
podre? (Ela foi informada do incidente nojento, e até teve uma pena do pobre
velinho), só que não teve jeito, teria que limpar toda aquela tragédia
bostômica - o corredor estava de matar, mas, pior mesmo foi a carne deixada no
banheiro, restos de uma possível feijoada infeliz (ou teria sido uma
macarronada ao molho de lingüiça?).
O vovô além de ter deixado todo o
ambiente em estado deplorável, deixou por lá também sua cueca, toda breada,
irreconhecível, pra que a funcionária jogasse fora.
E ele, ao sair, para finalizar, me
perguntou :
— A senhora tem desinfetante ai?
Preciso limpar as mões...
Eu até que tentei perguntar-lhe de
quantos litros ele precisaria, mas, não consegui dizer nada, pois, me virei e
fui embora, sem lhe dar a resposta que ele tanto queria, entre ofendida e toda
suja, pois, havia vomitado corredor afora.
C 99 – LIMA BARRETO E SOFIA COMBINAM COM
CACHAÇA E LETRAS?
Sete de outubro de 1922... 19hs...
Encontrei-o bêbado a sete quadras
de sua casa em Todos os Santos, interior do Rio de Janeiro – ele estava sentado
no meio-fio, com a cabeça por entre as pernas, que abraçava fortemente.
Balbuciava coisas sem nexo, ao
mesmo tempo em que repetia várias vezes:
- Miseráveis!
Custei a chamar a sua atenção,
mas, insisti:
- Afonso... Afonso, olhe para mim.
Surpreso com a forma com que lhe
chamei ele levantou a cabeça e me disse:
- Ninguém tem por hábito chamar-me
pelo primeiro nome, quem é você? O que está fazendo parada aí? Desapareça da
frente do resto de homem que sou neste momento... Lima Barreto, apenas assim é
que chamam por este combalido mulato, entende?
- Certamente... E, a propósito,
sua mãe Amália deve estar orgulhosa de você, esteja onde estiver, e eu também –
muito prazer, meu nome é Sofia extemporânea, digo, Sofia Santelly, a impura e
hipócrita viajante extemporânea pelas trilhas do sem fim.
- Que seja, senhorita poesia
doentia... Você falou de minha mãe... De orgulho... Não passo de um homem a
quem consideram inválido para o serviço público, de um louco a quem os médicos
chamam de neurastênico (sabe, me ofertaram uma aposentadoria precipitada por
causa disso)... Sou apenas um sujeito que dá mais trabalho para a polícia do
que assaltantes e criminosos de toda sorte... Francamente, sua hipocrisia é
tocante! Depois sou eu o delirante...
- Sabe Lima, fazendo um
retrospecto de sua vida o saldo é até positivo... Fazes uma literatura de
excelentíssima qualidade... Seus contos, seus romances...
- Tenho muitos manuscritos ao
editados, isso sim – o que fiz de palpável não me foi suficiente para adentrar
nem mesmo na Academia Brasileira de Letras, e note que tentei três vezes! Isso
não é ridículo?
- Um homem não pode ser medido
apenas por isso...
- A minha valência é a cachaça,
ela me dá o que essa sociedade hipócrita nega a quem não nasceu em berço de
ouro.
- Lá como cá a vida tem suas
mazelas, você sabe disso.
- Antes eu fosse o que sou,
afinal, não tenho como não sê-lo mesmo, mas, que estivesse com o bolso recheado
de notas para poder estar em outro lugar; eu, que aprecio o socialismo, eu sei,
é contraditório o que digo, em função do teor capitalista de minhas vontades,
pode ser, os fins talvez justifiquem os meios... Gostaria de viver ao lado dos grandes mestres
da literatura russa, isso sim. Sob este ponto de vista gostaria de ter o
dinheiro que a meu padrinho, o Visconde de Ouro Preto, nunca faltou.
- Mas, com seus ganhos, obtidos
por ter trabalhado na Imprensa você, se não teve todo o dinheiro de que precisa
(ou precisava) ao menos teve muitas oportunidades de divulgar suas obras
literárias... Houve-se por aí que és tão bom quanto Machado de Assis.
- Só me faltava essa!
Comparações... Palavras ao vento... O que sei que dizem de mim é que meus
textos são enviesados por um português que é doméstico demais, popular e
regional em excesso, de um modo que não condiz com o academicismo reinante, que
para mim mais aprisiona do que liberta, eis a verdade.
Deviam mesmo é prestar mais
atenção a pelo menos algumas de minhas “crias”, sei lá, talvez olhar de um modo
especial para “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de 1915... Talvez para alguns
manuscritos do tempo de algumas internações psiquiátricas em sanatórios imundos
e desumanos; tenho um diário íntimo e um calhamaço de escritos interligados a
esses eventos bizarros, cheios de sangrias, sofrimentos e lágrimas (ele tem um
nome, que talvez seja definitivo: “O cemitério dos vivos”, que resume bem as
coisas pelas quais passei).
Nunca respeitaram minhas
depressões, não se pode nem ficar triste nessa pseudo-república brasiliense,
que mantém os privilégios de famílias aristocráticas e também militares em
detrimento dos mais humildes – bando de calhordas!
Sabe, para mim o escritor tem uma
função social, desmascarar essa sociedade mórbida, revelando suas entranhas
mal-cheirosas.
- Eis o ponto! Seu maior mérito
está justamente ai Lima, isso você conseguiu! Quem sabe, um dia uma escola de
samba pode vir até mesmo a te homenagear em um desses carnavais...
Percebi que por um instante os
olhos dele brilharam quando eu disse isso, sem dizer mais nada ele,
levantando-se, meio cambaleante, colocou as mãos na barriga, e, simulando um
desfile carnavalesco disse, dando risadas fartas:
- Salve, salve subterrâneos unidos
desse meu Rio de Janeiro! Abram alas para o estandarte da literatura! Segue à
frente o porta-bandeira Lima Barreto e sua trupe de escritores alcoólatras,
boêmios, pobres e loucos!
Não resisti à sua brincadeira,
rindo deliciosamente simulamos estar vivendo o que ele decretou, ficamos a
girar como menestréis, pirilampos, confetes e purpurinas, numa festa
imaginária... Beijei-o no rosto e o abracei, ele nem se deu conta de que no
momento seguinte eu já estava com ele em sua casa, deitado, de roupa trocada,
limpo e tranqüilo em seu leito, de olhos cerrados, repousando com uma aparência
suave, pelo menos naquele instante.
Sua boca esboçava um leve sorriso, que foi se
diluindo a medida que seu sono se aprofundava, em direção ao mundo dos sonhos
dos homens de valor, embora alquebrados – beijei sua fronte e me fui,
silenciosa e emotiva, com os olhos rasos d’água.
C 100 – SOFIA TEVE UM CASO COM
FOCAULT?
17 h: 57 minutos... Transcorrer de
1960...
Esperei que ele terminasse de
tomar sua sétima taça de champagne, assim que o fez se dirigiu até a janela da
sala, calmamente – suspirou pesadamente (parecia estar preocupado), se debruçou
sobre a mesma e fixou seu olha no horizonte por sete minutos. Passou uma das
mãos em sua cabeça desnuda, olhou para traz, e, como se tivesse tido uma idéia
voltou-se para dentro, dirigiu-se até seu quarto, em direção à mesa, colocou as
duas mãos na cintura delicadamente e ficou observando carinhosamente todos
aqueles papéis, numa pose sensual e ao mesmo tempo gentil.
Pegou sua caneta e colocou por
entre os dentes, levou a mão ao queixo e remexeu nas muitas folhas que
continham suas anotações filosóficas sobre a história da loucura – ele
pretendia fazer uma arqueologia da alienação a partir de um “grau zero” no
tempo. Isso demandava uma profunda pesquisa nos diversos livros que estavam
espalhados pelo quarto, cada um esperando sua vez para ser esmiuçado.
Repentinamente ele voltou seu
olhar uma vez mais para a sala, pela sua fisionomia ele pareceu não estar
disposto a escrever nada naquele momento.
Eu tudo percebia sem ser notada
por ele, pois, estava translúcida – flutuei até a entrada principal, restabeleci
minha forma física, ajeitei meus cabelos e minha roupa e bati em sua porta.
Ele veio atende-la,assim que abriu
a mesma deu um sorriso ao me ver e disse:
- Sofia, que saudades! Dê-me um
abraço bem apertado! Venha, entre, estava mesmo precisando de uma boa
companhia, a solidão às vezes me incomoda e sufoca.
-Também senti sua falta,
precisamos compartilhar nossos porquês, o interesse por questões fronteiriças,
poder, sexualidade, opressão, hipocrisia, loucura, essas coisas...
- Nem me fale, minha cabeça tem
fervilhado de idéias – mas, diga-me deseja um líquido lilás para aquecer o peito?
- Qual dos dois senhor Paul-Michel
Focault? Perguntei dando uma gargalhada.
- Me esqueci que você tem dois,
que inveja – retribuiu-o dando risadas também.
- Se você está querendo me
embebedar com licor de uva não quero, prefiro o seu champagne francês.
- Você não tem jeito, volto já -
já com duas taças transbordando.
Assim que ele voltou perguntei:
- Como vai a composição de sua
tese de doutorado sobre a loucura?
- Está indo bem, embora esteja
consumindo minha alma. Sabe o que é mais curioso? Estou me aprofundando na
história da dita cuja na época clássica, entre os séculos VXII e VXIII, nem
tanto pela ótica da medicina, pois, não foi ela quem definiu, em princípio, os
limites entre a razão e o seu inverso; nos meandros da família e da política,
desde sempre, transbordaram preconceitos, desinformações e coerções de todo
tipo no que se refere a “mágicas renovadas de purificação e exclusão com
relação aos loucos. A loucura sucedeu à lepra e às doenças venéreas, tão comuns
na idade média e na Renascença como instrumento de medo, figurando como um novo
espantalho social”.
- E os desdobramentos disso?
- Surgiu a nau dos loucos...
Barcos recheados de gente insana conduziam sua carga de um lado para o outro,
expurgando essa “tralha” temida e indesejada, tais pessoas eram escorraçadas de
suas cidades, eram deixados em lugares obscuros, onde ficavam, errantes... Toda
a Europa aderiu a essa prática de “limpeza”... Uma mórbida aliança entre a
água, a loucura e a segregação.
- E a idéia de internação?
- Surgiu depois, associada à
pobreza e à marginalização. O século XIX tiraria os loucos das prisões, onde
eram tratados com menos respeito do que porcos, os chamados loucos sofriam
sangrias e tomavam vomitórios para tentar curar ou aplacar alguns de “seus
males” – passariam a ser colocados em hospitais, lembrando que nos registros de
internação figuravam como sendo ríspidos, libertinos, blasfemadores, pregadores
de cartazes, revoltados de toda sorte, grandes mentirosos, de espíritos
inquietos e tristes.
Foi preciso que surgissem aqueles
que desejassem compreender tudo isso, nesse ponto Freud tentou estabelecer um
diálogo possível com o desatino, embora tenha permanecido mais ao nível da linguagem...
Ele não acrescentou muito à lista dos tratamentos psicológicos uma adição
maior, entende?
- Aaahm... E amanhã, o que você
vai fazer?
- Praticar um pouco da minha
anti-psiquiatria, de meus “mantras” nietzschianos... Devo muito a Sartre
também, embora tenha tido uma certa dificuldade em reconhecer isso em
princípio.
- Uma borboleta precisa ter asas
fortes para alçar vôos cada vez mais altos, sabe como é, os predadores...
- Sem dúvida, preciso sempre
ultrapassar as limitações que a natureza determinou para a minha genitália...
- Você é um caso sério, tem
estilo!
- Eu sei querida, eu sei... O
estilo é o homem – quem sabe não venham um dia a me chamar de “o intelectual
absoluto, fora do tempo”?
- Modesto...
- Falando sério, Sofia, às vezes
acho que morrerei de forma trágica, tenho tido sonhos com uma praga me
carcomendo por dentro até a morte inevitável; tenho bebido muito por causa
disso, não somente, mas, inclusive.
- Você é um bobo, vem cá me dá um
abraço, preciso ir embora, mas, quando puder voltarei, está bem?
- Fazer o que... Adeus minha doce
cara metade, vá em paz.
- Beijos, e no mais, até breve.
Dizendo isso me fui, sabendo de
fato que nunca mais voltaria a vê-lo.
C 101 – O QUE DIZER DA RELAÇÃO
SAFADA ENTRE O MARQUÊS DE SADE E SOFIA?
1814...
Lá estava ele, um homem polêmico,
a olhar pela janela gradeada do manicômio que lhe servia como prisão; caia uma
chuva fina, e ele parecia possuir ainda um quê de virilidade, embora estivesse
cansado, afinal estava com plenos 74 anos – marcado pelo tempo e pelas
constantes lutas que travou durante toda a sua vida. Chamando a sua atenção fiz
com que se virasse ao dizer:
- Sade... Podemos conversar um
pouco?
Ele se virou, me olhou com certa
curiosidade e perguntou:
- Como entrou aqui deliciosa
jovem, quem é você?
- Isso importa?
- Na verdade não, sua beleza
desvanece muitas perguntas, exceto algumas, o que deseja aqui?
- Quero que me fale um pouco de
sua vida...
- Você deseja algum tipo de
confissão de minha parte? Não sou cristão...
- Não é o caso, embora você nunca
tenha me visto pode te fazer bem dialogar, embora eu lhe seja estranha.
- Tens razão, é melhor falar
contigo, estou cansado de conversar com estas velhas paredes... Isso me fará
bem... Muitos me consideram um pornógrafo, um louco, um libertino, mas, minha
vida e meus textos, analisados por um viés racional, contém em suas
entrelinhas, paradoxalmente, a negação de certo tipo de vida, em prol de uma
maior valorização dela própria, negando-a confirmo-a, exalto-a. Sempre
vislumbrei além dos limites do homem, no que ele tem de pior e melhor... Não é
desse duplo paradigma torto de que nos servimos diariamente?
Só que a sociedade tenta negar a
realidade dos fatos, a violência, o erotismo, a hipocrisia como instrumento
pragmático nas relações humanas, a falibilidade geral de todos nós, e
consequentemente de nossos sistemas, sejam eles políticos, filosóficos, morais,
existenciais, culturais, religiosos, sexuais ou sociais.
- Concordo com você, a corrupção é
evidente, desde sempre, e é preciso expô-la em sentimentos e letras.
- É assim que sou, é isso o que
sei fazer melhor. Não sou nem nunca fui compreendido por todos, mas, esse é a
menor das minhas preocupações... Sou um espírito livre, embora o que eu mais
tenha provado em minha vida é o gosto da prisão e das transgressões contra a
minha pessoa.
- O verdadeiro mundo está às
avessas, não é mesmo? Não é este, cheio de máscaras, mergulhado em
aparências...
- Tal vida, a natural, deve ser
vivida até as últimas conseqüências! Como extrair o outro lado de uma mesma moeda?
Que a ignorância seja banida deste mundo!
Que as pessoas leiam mais minhas
obras, e porque não dizer as de Voltaire e de Rousseau também? O povo também
precisa de conhecimento filosófico...
Cito tais homens expurgando suas tendências cristãs, elas não condizem
com meus critérios de dor e prazer.
Que o verdadeiro Deus, que é,
certamente, a própria natureza encarnada, floresça nos corações, mentes e
genitálias humanas! Que as excentricidades transbordem!
- Muitos dizem que o que defendes
são monstruosidades, pecados, patologias e bizarrices...
- Nada dizem... Na intimidade dos
quartos muitas coisas acontecem, isso é sabido, só não são assumidas, somos
obscenos por natureza doce donzela, e isso não é uma ofensa, é apenas uma
constatação incomum, porém verdadeiramente excitante.Que o pseudo-puritanismo
seja estraçalhado!
- Sua origem nobre e próspera não
foi o bastante para te fazer ser ouvido e respeitado por todos, não é mesmo?
- Não é este o ponto, não me
ouviriam de qualquer modo... Se aqui estou é porque precisam sempre de “bodes
expiatórios”...
- Certamente.
- Senhorita, já falamos demais,
agora quero me deitar um pouco, sinto que a morte se avizinha, mas, antes
disso, que tal se me fizeres companhia? Façamo-nos um pouco mais felizes, nus,
que tal se preenchermos nossas bocas com as carnes um do outro por alguns
momentos?
- Sim, porque não? Desça suas
calças, me penetre por todos os meus orifícios.
- Não precisa pedir duas vezes,
estou velho mais meu mastro ainda fica em riste, quero cravar-lhe em vossa
pessoa – vire-se sua vagabunda!
- Já começamos bem seu sádico...
- o termo é novo para mim...
- Eu sei, mas, o tempo irá
consagrá-lo, pode ter certeza!
- Espero que sim, comecemos...
Isso... Assim, Aaahm...
C 102 – SOFIA FOI MESMO O
GRANDE AMOR DE NIETZSCHE?
Transcorrer de 1872...
Quando dei por mim (e olha que
vivo dando) estava na Alemanha, onde pude conhecer um homem surpreendente -
passei diante de uma linda casa, e me detive com o delicioso som de piano que
vinha de seu interior, fiquei estática, momentaneamente magnetizada por uns
sete minutos. Pouco depois saiu de dentro dela um homem de semblante firme, ele
tinha um espesso bigode e um cabelo bonito, volumoso, levemente desalinhado,
usava um terno escuro, e um sapato marrom seminovo, nas mãos segurava uma pasta
cinza, despediu-se de seus amigos, chamando ao homem de Wagner e à mulher de
Cosima.
Os donos da casa me olharam com um misto de musicalidade, rebeldia,
ciúme e curiosidade, mas, depois entraram, sem nada dizer. O visitante, vindo
em minha direção perguntou:
- Você deseja alguma coisa
senhorita? Responda-me enquanto caminhamos, o que acha? Qual é seu nome?
- Sofia, Sofia Santelly... Eu
fiquei impressionada com o belíssimo som que vinha do interior da residência em
que você estava.
- Wagner é um grande amigo meu, um
excepcional compositor, maestro, teórico musical e ensaísta, é também poeta... consideram-no, com
justiça, um dos mais influentes compositores de música
erudita em todos os tempos... Aquela encantadora senhora ao seu lado é sua segunda
esposa, Cosima. A primeira, Minna, não lhe ofereceu uma vida
feliz, o temperamento doméstico e
burguês dela, somado à seu baixo nível cultural fizeram dela uma companheira
inapta para o gênio extravagante e inquieto de Wagner.
- Mulher tem que ter gabarito em
qualquer época, não é mesmo? E você, como se chama?
- Nietzsche.
- Um nome lindo e forte.
- Não compactuo com nada que seja
fraco... Para onde você está indo?
- Estou a caminho do porto, vou
passar antes no hotel, pegar as minhas coisas e partir para o Brasil ainda
hoje... Tenho outros meios metafísicos de voltar para casa, mas em princípio
vou pelas águas mesmo. Foi um prazer conhecê-lo, espero voltar a vê-lo um dia,
será que posso anotar o seu endereço para uma visita posterior?
- Creio que não seja possível,
mas, não me entenda mal, tenho um espírito andarilho, não sei onde poderei
estar amanhã, mas, posso lhe dar uma sugestão, não siga meus rastros, mas, se o
fizer procure por um livro meu, publiquei este ano, chama-se O Nascimento da
Tragédia no espírito da música...
- E sobre o que ele fala?
- Tem a ver, guardadas as devidas
proporções com seu nome...
- Como assim?
- A Grécia... Em parcas linhas
digo-te que lido nele, entre outras coisas, com as questões que envolvem o
drama teatral grego, onde o dionisíaco se opõe ao apolíneo...
- Falar desse país me faz lembrar
Sócrates...
- Pelo contrário, em mim tal nome
remete ao nojo, é descartável.
- Você pode explicar isso?
- Leia o livro se puder e
futuramente tire suas próprias conclusões... Siga algumas pistas e você talvez
venha a me encontrar ao se encontrar consigo mesmo, não metafisicamente, por
favor!
- Não há outro modo?
- Sou filólogo e filósofo, pode ser que você
me encontre em algum lugar em que eu esteja dando alguma palestra, encontre-me
se for capaz!
- Que tal se experimentássemos uma
sangria futuramente?
- Cuidado com as palavras minha
jovem, elas seduzem e enganam... O que desejas de fato? Tal termo tem, no
mínimo, duas acepções, uma diz respeito à Medicina... Você pretende extrair de
mim certa quantidade de sangue, seccionando uma de minhas veias, com algum fim
terapêutico, ou pensou culinariamente na auspiciosa mistura de vinho, água,
açúcar e limão, usada como refresco?
- Em princípio pensei na questão
do refresco...
- Pois, bem, que seja, aceito seu
convite, mas, não desejo descartar a ideia de que possamos vir a nos entender
no primeiro sentido, metaforicamente falando, é claro.
- Você não poderia ter feito uma
proposta melhor! Só uma última coisa, o fato de você se dizer um andarilho diz
respeito a mim também, sou uma pessoa extemporânea (ao ouvir isso os olhos dele
brilharam intensamente e ele ficou nitidamente ruborizado, impressionado com a
expressão que ouvira, parecendo ter certa intimidade com ela, mas, nada disse,
apenas pegou na minha mão direita, que estendi a ele - segurando-a
delicadamente beijou-a levemente e se foi lentamente, na direção oposta à
minha).
Antes que ele se fosse de vez chamei-lhe
pelo nome e ele, virando-se perguntou:
- O que deseja jovem extemporânea?
- Quando lhe vir novamente posso
lhe chamar de um modo especial?
- Claro, como queira - qual será a
nominação que receberei de tão instigante mulher?
- Você é um delicioso sedutor!
Bem, que tal Nix?
- Nunca fui chamado assim, mas,
isso me soa bem, que seja... Ah, e antes que eu me esqueça, boa viagem.
- Obrigado, no mais, até breve.
C 103 – FILME PORNÔ, MARMITEX E
MOTO-GIRL REALMENTE COMBINAM?
Primeiro de janeiro de 2010... Em um
subúrbio de BHZ...
O telefone toca, porém, antes de
atender Sofia praguejou umas sete vezes por ter que estar trabalhando
justamente quando todo mundo ainda estava festejando a virada do ano...
Primeiro dia de um novo tempo, uma oportunidade a mais para tentar sair do
vermelho; o ano anterior foi muito difícil e com tantas dívidas ela teve que
apelar para o serviço temporário de moto-girl.
O pior da história foi ter que
fazer tudo sozinha, atender telefone, anotar os pedidos, fazer faxina, e, claro,
entregar os marmitex da Dona Cremilda Pinto Melo Rego, uma senhora que também
decidiu começar algo novo na vida. Sendo cozinheira de mão cheia decidiu fazer
um tele-entrega de comida caseira na região onde morava... Sofia chegou em um
momento oportuno, negócio novo, falta de funcionários, uma mulher endividada e
outra querendo melhorar de vida... Bingo!
A sorte estava lançada, e o
telefone toca pela primeira vez. Sofia atende:
- “Comida Por Vós”, bom dia...
- Preciso de um marmitex até
meio-dia, pode ser?
- Já é, o que vai querer?
- Qualquer comida serve meu bem
(disse uma voz meio que doce demais de um homem nitidamente afeminado) - minha
musa maior está rodando um filme aqui no bairro, para a minha empresa, aluguei
um galpão especialmente para este projeto cinematográfico, ela está muito
atarefada, trabalhando em um ritmo frenético e não pode sair para comer já que,
no momento é o prato principal... Vi um panfleto de sua empresa e decidi ligar,
coração.
- O Senhor vai fazer o pedido ou
tá fazendo propaganda eleitoral?
- Desculpe amor, estou tão
emocionada, digo, emocionado, com meu novo filme, “Comendo Aquilo”... Mande um
arroz com feijão, bife, batatas fritas e salada no capricho, ok? Aliás, o nome
do seu e do meu empreendimento é tão parecido, não é mesmo?
- É, comida é tudo igual... Peraí,
é um filme pornô?
- Sim meu docinho, nada de mais
para os dias de hoje, né?
- Normal... Chega aí em cinqüenta
e sete minutos, eu mesmo vou levar, passe aí o endereço coisa fofa.
- Anota aí... Rua dos Amantes nº.
69, o bairro é o dos Prazeres, tchau, te espero, beijinhos...
Sofia repassou o pedido para dona
Cremilda, o primeiro da empresa tinha que ser para um set pornô? Fazer o quê?
Cliente é cliente em qualquer tempo e lugar, dando ou comendo...
Cinqüenta e sete minutos depois...
Sofia desceu de sua moto rosa,
pegou o marmitex no baú, bateu no enorme portão de aço, aguardou um momento, a
porta subiu e um homem delicado atendeu e pediu que ela que ela entrasse
rapidamente - um crachá avisava: Diretor.
- Seu Diretor, é sete pilas o
rango, não posso demorar...
- Calma meu bem, relaxe, sei que
vai gostar de conhecer o lugar, que tal?
- Tudo bem, tô morrendo de
curiosidade mesmo...
Muita gente estava no local,
maquiadores, câmeras-men, figurinistas, eletricistas, uma provável faxineira,
divisórias, muito papel higiênico,
copos, garrafas d’água e café aos montes sobre uma mesa, gente pelada
com fartura, e muita, muita e vaselina... Provavelmente oito pessoas (dois
homens e seis mulheres, fora a estrela máxima que estava em plena atividade em
uma das dez camas de casal espalhadas pelo lugar).
O Diretor disse:
- Fique à vontade enquanto eu
sirvo comida à Lady Sexy, Mi Kaa Gay (quase irmã ultra gêmea de Wando Ma No Ku),
a musa oriental, diretamente do Japão para o Brasil.
- Um momentinho seu Diretor, ela
não vai dar uma paradinha nem prá comer além de estar sendo comida neste
momento? Esse é o nome dela mesmo? Tá meio que “Paraguai’ essa ninja aí...
- Tens razão seu nome é Paulete
Alucineide Pinto, ela é do nordeste, segredinho, tá? Bem, Temos muitas tomadas
ainda para fazer lindinha, ela cobra por hora, tenho que agir com sagacidade -
parava de falar às vezes com Sofia para dar ordens aos caras que estavam
filmando, e aos atores:
- Botelho Pinto, meu filho, dê um
close de cinco minutos nesta posição de “frango assado” com Lady Mi enquanto eu
coloco comida na boca dela, please. Jacinto Pinto, meu pavê de côco,
mantenha-se forte nesse “vuco-vuco” até eu terminar. Oscar Alho, na seqüência
você chega junto com seu parceiro e parta para um tripé à grega, enquanto Tomás
Turbando foca por mais cinco minutos do alto com sua câmera, da cintura para
baixo até eu terminar de dar a comida para minha amada atriz do sexo
explícito... Ilumine mais o centro do Clóvis da minha morena oriental seu
Janjão “Splash” Pinto.
Sofia não sabia se ria ou se chorava,
mas estava no mínimo estupefada com a naturalidade de todos ali, até que se deu
conta de um detalhe, o fato do Diretor chamar a todos pelo mesmo sobrenome
nome, Pinto. Perguntou a ele:
- Por que o sobre nome de todo
mundo é Pinto?
- Essa é fácil queridinha, somos todos primos,
morávamos no sertão da Bahia e resolvemos vir para Minas Gerais tempos depois
que nossas mães desapareceram no mundo, cansadas das vidas miserentas que
levavam; fomos deixados com uma mulher solteirona, que não era nossa mãe de
verdade, mas é como se fosse. Ela cuidou
de nós até partir também. Não a criticamos, entendemos a situação, enquanto
pôde nos deu de seu pirão, de sua água e de seu barracão, deu também o nome que
cada um de nós tem; em homenagem à ela resolvemos todos adotar o seu
sobrenome... Com o tempo montamos uma empresa de filmes eróticos, “A Fogo no
Rabo Produções Artísticas”... Eis nossa história!
- Chega a ser comovente... Como
você se chama Seu Diretor?
- Cremildo Pinto, por quê?
- Acho que tenho uma notícia para
lhe dar... Me empresta seu celular aí que eu vou fazer uma ligação... Alô Dona
Cremilda? É Sofia, entreguei o marmitex e de quebra acho que encontrei sua
família também.
A Velha disse:
- Como é que é? Explica esse caso
direito menina, não se brinca com essas coisas! Sofia explicou e finalizou:
- Inté mais, vou passar o celular
prá sua galera da sacanagem, falô? Ah, mais uma coisa, tô saindo fora, me
demito, depois a gente se cruza por aí... Mas por enquanto seu povo tá
“cruzando” por aqui, e por último, nunca se esqueça desse ditado:
“Família que fornece unida, come
unida”, um beijo, fui!
C 104 – COMO UNIR OURO PRETO,
SANTA LUZIA E BH COM VELÓRIO E CACHAÇA EM PLENO FERIADÃO ?
Sabe aquele feriadão de 15 de
novembro, que este ano caiu numa segunda-feira? Pois é... A bagunça toda
começou quatro dias antes. Na noite de sexta-feira peguei o buzão e fui parar
num bairro obscuro da cidade de Santa Luzia, em Minas, um lugar mal iluminado,
cheio de vacas, cabras e cobras, um chove que molha constante; e eu ali, amassando
barro em uma estradinha torta, rumo a uma biboca de uma de minhas amigas velhas
de guerra – festa de aniversário, essas coisas.
Depois de cinco ou sete tombos
cheguei na bagaça, toda suja, da cabeça aos pés; meus apliques rastafári
multicores e minhas mechas de cabelo postiças vermelhas, verdes e roxas haviam
quase que mudado de cor. Minha calça leg cor de rosa, sob minha mini-saia
amarelo-tifóide, meu top verde goiaba e meu tênis azul merenda estavam quase
que irreconhecíveis, afinal o marron-lama estava dando forçosamente o tom. Meus
óculos estilo pára-brisa de caminhão haviam se perdido pela estrada afora.
Cumprimentei a aniversariante,
Xulipa Chuteira pelos seus 44 anos, revi Mary Provolone, Chucrute Jones e uma
japinha do peito, Sokáki Desgrassari – três amigas de baladas ardentes. Quem se
engraçou comigo foi uma tal de Tereza, que, muito a vontade me deu três
beijinhos, uma afofada de leve na bunda
e foi chegando nos conformes, me pedindo para lhe chamar de Terezão, e
completando disse que seu nome do meio era João e o último era Dos Prazeres.
Deu seu ataque final me convidando para dar umas quebradas por aí, dizendo que
a festa nem tava tão boa assim; concordei, subi em sua lambreta e perguntei
para onde a gente iria; ela foi enfática ao dizer que iríamos para a cidade de
Ouro Preto, quis nem saber, concordei, e a gente se mandou.
Horas depois chegamos à cidade
patrimônio mundial, debaixo de um toró espanta jegue danado, sentamos em um
buteco local e mal tomamos a sétima dose de cachaça e o celular dela tocou, ela
atendeu e o papo foi assim:
— Putz! Brinca não... Morreu
mesmo? Logo a Julinha Torresmão... Sacanagem né? Já dei uns creu nela, maior
delícia a petúnia da mina, mas deixa prá lá... Se vou no velório? Claro! Onde?
Em Contagem? Tô a caminho, vou levar uma colega minha chamada Sofia Santelly,
pode ser? Então tá, rapidinho tamo aí, té já.
Duas horas depois (ou mais) a
gente chegou no lugar, a mulher já tava no caixão e Terezão, toda a vontade
disse, na maior cara de pau, que havíamos chegado para curtir o velório, demos
nossos sentimentos a todos, mas ela emendou dizendo que íamos ficar numa sala
ao lado para dar uma descansada, coisa rápida, canseira de viagem. Sentamo-nos
no chão e ela tirou de sua bolsa hippie a garrafa de cachaça que havia trazido
da cidade presépio, foi com ela que nos aquecemos. Mas, dormimos tanto que nem
vimos o enterro seguir rumo a seu fim, o cadáver se foi e a gente na maior
ronqueira!
Em certo momento acordei, meio que
assustada, e quando dei uma sacada em um relógio pendurado na parede vi as
horas e dei um pulão, eram cinco e cinqüenta e sete, pior mesmo foi quando
cutuquei a Terezão e perguntei que dia era. Quando ela disse que era
terça-feira pirei geral, aos berros clamei por Nossa Senhora das doidas e implorei
que ela me levasse direto pro meu trampo lá na Savassi, em BH, afinal eu
pegaria serviço as sete da matina! Mandamo-nos dalí, e rapidinho ela me deixou
em frente ao salão de beleza onde eu ralo, se despediu de mim, meio que assim
num amasso íntimo e super longo, mão naquilo, aquilo na mão, essas coisas.
Assim que ela se foi entrei, a galera já tava toda lá, me olhando meio que
atravessado, afinal eu tava toda suja, bêbada e, não sei por que, sem minha
calça leg e sem calcinha, por isso tava sentindo um frio danado na garagem...
Acho que minha pufinha e meu fifo vão constipar... Fazer o quê? Entrei
rapidinho no banheiro e dei uma disfarçada no visual e na carniça que envolvia
todo o meu ser. Voltei rapidamente para meu posto e comecei a pintar as unhas
de uma cliente, enquanto eu a enfeitava lhe dei uma revista, não para que ela
folheasse, mas para espantar as moscas que estavam a me rondar... A luta
continua companheiro e minha cara de pau também! Eita feriadão da peste!
C 105 – QUAIS OS RISCOS DE SE
MATAR ASCARIS LUMBRICOIDES, OXYURUS E VERMES AFINS?
Tava encafifada com uma certa
comilança da minha parte nos últimos sete meses, tava com a barriga inchada,
(já não agüentava mais dizer pra vizinhança que não tava prenha). Pelo que já
tinha ouvido falar podia ser culpa de um tal oxyurus, que costuma
provocar as reações acima, e mais, tava com uma coceira brava bem no meio de
minhas entre partes, na somatória úmida das minhas pregas às quais a ciência
batizou de esfíncter.
Em busca de uma melhorança fui até
uma farmácia conhecida perto do meu barraco e pedi um remédio prá acabar com a
tal piorança que estava habitando, crescendo e se multiplicando dentro de meu
bucho, de minhas entranhas ou tripas intestinais, como queiram. Seu Berola me
atendeu e me fez umas perguntas estranhas (creio eu que supondo minha
ignorância, mas pelo tom debochado de sua voz me pareceu o contrário, sei não):
— Sofia, veja bem, de que tipo de
bicho a gente tá falando? Vou citar alguns procê... Ascaris lumbricoides, enterobius
vermicularis, ancylostoma duodenale,
necatur americanus...
Dei uma longa suspirada e respondi
que queria mesmo era fuzilar só um tal de
oxyurus, se matasse o resto prá mim era lucro. Ele me disse que tinha no
estoque um remédio do tipo mata boi-mata boiada, e na rabeira o dito cujo ainda
pegaria toda a marginália verminosa circundante, a grande família invasora ia
se dar mal; só me advertiu quanto aos possíveis efeitos colaterais. Quis nem
saber dos detalhes, paguei e vazei, já guentei coisa muita muito mais grossa e
nem sujei a calcinha. Maldita hora que não levei em consideração os conselhos
do vovô das drogas!
Não é que os tais (de)feitos
colaterais encarnaram todos em mim? Nem Chico Xavier conseguiria expulsá-los!
Tive tonteira e caganeira, vomitei e constipei, meus olhos ficaram muito
vermelhos (e olha que faz tempo que eu não fumo), tive inté dores de cabeça
alucinógenas, meus beiços secaram, meus peitos GG incharam ainda mais (fiquei
parecendo mais vaca leiteira ainda), meus pés racharam e minhas unhas encravaram,
tive pruridos cutâneos e anais (meu curvalino arranjou uma suadeira e um
calorão dos infernos como há tempos não tinha, e olha que o tráfego de entrada
e saída do sistema é bruto!). Cumé que pode um trem desses uai? Puta que o
pariu!
Prá rebater a ziguezira na buzanfa
tomei um corta-desgraça federal, uma raizada feita por índios dos cafundós do
Amazonas com cachaça mineira, que serve pra tudo, seja coisa das boas ou das
ruins. Não deu outra, em sete dias eu tava pronta pra outra, só a tal da
coceira insistiu em ficar por mais algum tempo, nem me importei, isso acabou
virando uma deliciosa distração prá mim, tipo assim, ficar afofando minhas
intimidades no lado negro da força enquanto o sabre de luz não adentrava uma
vez mais em meu asteróide interior...
C 106 - LADY GAGA, JUSTIN
BIEBER, CARLA BRUNI, DILMA E SOFIA FLAGRADOS NUMA FESTA QUENTE NUM A.P. DO
PALMITAL? COMO ASSIM?
A coisa é até difícil de explicar,
mas parece que aconteceu mesmo, pelo menos é o que dizem os boatos... Sofia,
que estava pinguça por demais já há alguns dias, andava meio que de tesão pela
mais nova sensação do momento, o Justino Beer, ele era lindão, a pinta de
boiola nem fazia tanta diferença assim – era carinhosamente chamado por todos de Justin, o apelido de fiuska não
colou... Pois é, essa era a mais nova sensação de BH, que tava morando no
bairro Palmital, em Santa
Luzia , provisoriamente.
Ele veio do México, parece que fugido, dizem que tava devendo uma grana
a certos sujeitos mal-encarados de lá, e como falava bem o português resolveu
fazer uma experiência nova em sua vida, cantar; pegou umas piriguetes e uns
balacobacos locais e montou uma banda que fazia uma mistura de funk, pagode e
axé misturados com umas batidões de macumba — e assim nasceu o Re-Starquix...
Para os efeitos especiais descolaram uma DJ vovó, meio gagá, mas que era fera
nas mixagens, todos a chamavam carinhosamente de Lady gaga, o cavaquinho ficava
por conta de uma russa, chamada Dilma, naturalizada brasileira, a quem chamavam
merecidamente de Self-Self (acho que era muito dada, dizem também que
era chegada numa vodca com lula ao ponto e pimenta, contam que tinha um jeitão
militar, não gostava de nada que fosse verde e sentia vertigens quando
olhava em direção à serra... Vai
entender). No rebolation havia só uma
dançarina, que se chamava Carlina Brunette (como o nome era feio prá caceta
arredondaram para Carla Bruni — o pessoal do São Benedito, bairro vizinho,
disse que ficou chique, meio que francês, nada a ver, mas fazer o que né?), o
resto dos instrumentistas da banda morava no caldeirão do inferno, uma parte
mais quente do citado Palmital, eram em número de sete, e tinham os mesmo
apelidos que os sete anões, e nem vale a pena citar o nome deles, só vale
frisar que todos eram anões mesmo.
Na precisão de mais uma dançarina
lançaram um concurso, distribuíram cartazes pela região, além de ter alugado a
Kombi 75 do seu Lu anus Santa Ana para fazer a mídia radiofônica. Não deu
outra, Sofia endoidou de vez, quando ouviu a propaganda estava deitada em sua
cama, deu um salto, tirou sua calcinha e seu sutiã, vestiu seu mini shortinho,
sua micro blusa tomara-que-caia e seu sapato roxo devasso, salto plataforma.
Pegou sua bolsa porta modess, trancou rapidamente seu barracão e ainda teve
tempo de parar na frente da Kombi dizendo:
— Seu Anus, toca pro A.P. do
Justin agora, essa vaga é minha e ninguém tasca, vamos nessa.
— Escuta aqui minha filha, meu
nome é Luanus falô? E não vou te levar lá não, tô trabalhando...
Sofia abriu as pernas e disse que
ele podia dar uma cheirada nas coisas dela se ele atendesse seu pedido; trato
feito, fungada dada e pronto, em poucos minutos já estavam no A.P. do Justin.
Na entrada dois brutamontes armados deram uma geral nela, deixando-a entrar na
seqüência, não sem antes dar uma passada na deliciosa bunda dela, que estava
bem à mostra, diga-se de passagem.
Justin estava sentado
propositalmente em uma cadeira de rodas, com as calças arriadas, com uma mão
segurava um ursinho rosa, com a outra segurava um cigarro do capeta, Bruninha e
Dilminha estavam ajoelhadas perto dele, fazendo suas orações, enquanto a vovó
com as duas mãos fazia uma frenética mixagem com os dois dedos centrais no
ponto G das meninas, os sete anões não estavam por ali, embora fosse nítida a
impressão de que havia um mutirão da limpeza no quarto ao lado, pois todos eram
unânimes em dizer coisas parecidas como: tira daí, põe aqui, enfia ali, agora
bate, depois sacode, empurra, aperta, levanta e depois abaixa; essas coisas,
dia de faxina é assim mesmo...
Justin perguntou o que eu queria,
e eu fui enfática, dizendo que era sua mais nova dançarina. Dei uma viradinha,
puz a mão nos joelhos, fui descendo gostoso, dei umas reboladas e uns gemidos
sensuais, e conclui a apresentação de quatro, com o dedinho na boca, meus olhos
pingavam mel e emoção. Ele se levantou, ajeitou as calças, veio em minha
direção suavemente e disse:
— Leva a mal não coração, mas a
vaga já foi preenchida, por uma mina aqui do andar de baixo, fiz a propaganda
só pra dar uma satisfação prá comunidade, fica pra próxima, adiôs...
Fiquei possessa, em questão de
segundos, tirei o cigarro que ainda ardia em seu beiço, voei na adega dele,
quebrei diversas garrafas de bebidas alcoólicas e ateei fogo em tudo; foi um
corre-corre dos diabos, escapei em meio à bagunça e à fumaça; se a vaga não
fosse minha é claro que não seria de ninguém!
Dei uns bicudos no seu Anus e fugi
com sua Kombi, fiquei desaparecida por sete dias. Me safei de todos aqueles
calhordas facilmente, liguei na miudinha para o disk-denúncia e entreguei a
corja toda, que não demorou a ir em cana. Quando Sofia
se vinga nem o coisa-ruim pia...
Cambada de filhos duma égua!!!
Quer saber? Agora já estou em outra profissionalmente, comprei uns cinqüenta e
sete filmes pornôs piratas e passei a revender pra uma turma selecionada, em
outra freguesia, é claro! No Palmital não volto tão cedo!
C 107 – SHAKIRA E BEYONCÉ DERAM
MESMO UM SHOW EM BH NA
BOATE – MOTEL LE BOSTEL?
Primeira
coisa... Pra variar tava percisando de dinheiro, vi um anúncio num jornal que
pedia uma auxiliar de serviços gerais, para trabalhar à noite no mais novo
inferninho do bairro Concórdia, em BH, chamado Le Bostel. Nem pisquei, fui na
cola, essa vaga tinha que ser minha; mal sabia eu o tamanho da discórdia que
estava por ocorrer por lá nas próximas horas.
—
Bom dia meu nome é Sofia, vim ocupar a vaga que vocês estão percisando...
—
Seja bem vinda minha jovem, a vaga é sua, você tem o perfil que tô na cola.
Muito prazer, meu nome é Bucelina Navhara Thuim, mas pode me chamar de Dona
Bucê; a inauguração é daqui a dois dias e a gente tem que acelerar algumas
coisas, você pode começar agora?
— Sem probrema! Qual é o pó?
— Nossa boate tá com um conceito
novo na praça, é uma mistura de motel, buteco, loja de variedades e artigos
religiosos, um trem muito doido né? A gente pretendemo dar um show de arromba
com dois famosos travecos paulistas, a Shakura e a Bemnocê, que fazem lindas
performances da Shakira e da Beyoncé, só que a gente na percisão de fazê a casa
enchê vai colocar o nome das copiadas em letras gigantes e com letras miúdas
por os nomes das copiadoras nas entrelinhas, avisando que é só um show cover.
— Isso não vai dar certo...
— Confia neu pô, tenho experiência
de longa data com o show bizz, ótimos
conhecimentos com coisas de segundas e terceiras intenções, sabe como é, a
gente já deu muito tombo e cheque sem fundo por aí... De picaretagem, fuga e
chave de cadeia eu intendo, tô vacinada minha filha isquenta não. Vamu intrá
meu bem, a gente tem muita coisa qui fazê tá bão?
— Seja o que o Demo quiser...
Cartazes feitos, mídia toda
informada, funcionários a postos... Eis que chegou a grande noite... Quando a
gente se deu conta a rua tava intupida de gente, muita gritaria, tietes,
cartazes, desmaios, essas coisas, e é claro, polícia, muita polícia na porta,
chamados que foram pelos vizinhos e por um dos fãs, que sacando a embromação
obtida nas letras miúdas de um dos cartazes, quase liderou um linchamento geral
contra todos nós e contra as falsas super estrelas, nos chamaram, injustamente,
com nomes de belos animais da natureza (viados, vacas, galinhas, etc).
Cinqüenta e sete minutos de
exaustivas explicações depois, setenta e cinco pessoas ainda assim quiseram
ficar, entraram e o show transcorreu numa boa, entre plumas, gemidos, paetês,
som no mais alto grau, pinga com torresmo e muita purpurina, sinuca e muita
chave de quarto liberada, era um entra e sai danado! A casa faturou legal... Eu
fiz de tudo: dei geral, digo, dei assistência geral, no caixa, no atendimento
como garçonete, no bar, etc.
No final do evento, como cortesia,
Dona Bucê cedeu gratuitamente um quarto para as quase divas da música pop, para
que descansassem, só pagariam pelo que consumissem no transcorrer da madrugada,
e eu fiquei na incumbência de servir-lhes caso precisassem de alguma coisa;
fazer o que né? Aceitei, assim que o dia amanhecesse eu pegaria meu acero e
desapareceria daquele puteiro dos infernos pra sempre...
Mal sentei num tamborete e a
desgraça do telefone do quarto das bichas tocou, peguei a caneta e um bloquinho
para anotar o que elas pediriam, uma delas solicitou o seguinte:
— Meu bem, traga, por favor, uma
boneca inflável, um penico, dois pintos de borracha de vinte e cinco
centímetros, na cor marrom bom-bom, duas pererecas de silicone, uma branca e a
outra preta, sendo a primeira depilada e a outra cabeluda, dois potinhos de
vaselina com sabor de tangerina, sete camisinhas extragrandes, duas velas, uma
roxa e a outra preta, dois baby-dolls, um na cor azul-bebê stroncho, e o outro
na cor Pink tentação, cinco limões capeta, bem azedos, duas galinhas pretas,
sendo uma perneta, e a outra zarolha, sete charutos bem grossos, duas blusas e
duas calças, todas brancas e largas, dois pares de algemas, um chicote, dois
atabaques, um apito e um reco-reco... Se a gente precisar de mais alguma coisa
a gente liga de novo. Vai demorar?
— Olhei para o relógio, eram cinco
e cinqüenta e sete da matina, respondi que ia demorar um nadica de nada;
desliguei o telefone e saí de fininho, nem meu acerto peguei, desci ladeira
abaixo, no meio do caminho peguei um buzão e fui parar no centro, sentei numa
padaria, pedi um café com leite e um pão com manteiga, ainda tava com o rabo
cheio de cachaça da maldita noite anterior, percisava rebater... Cumé qui eu
paguei a parada? Ora, o que eu afanei de grana dos otários bêbados noite afora
não foi moleza não – tava com o sutiã e a calcinha lotados de dinheiro
amassado! Paguei e fui a pé pra casa, tava percisando espairecer um pouco, a
noite foi realmente um show (de horrores) para mim, vida de artista é foda
mesmo...
C 108 – MINI-NOVELA
EXTEMPORÂNEA: DESGRAÇAS MUITAS OU SÓ VIAGENS ESQUIZÓIDES?
Epígrafe:
“Compreende-se melhor agora a
curiosa sobrecarga que afeta a navegação dos loucos e que lhe dá sem dúvida seu
prestígio. Por um lado, não se deve reduzir a parte de uma eficácia prática
incontestável: confiar o louco aos marinheiros é com certeza evitar que ele
ficasse vagando indefinidamente entre os muros da cidade, é ter certeza de que
ele irá para longe, é torná-lo prisioneiro de sua própria partida. Mas a isso a
água acrescenta a massa obscura de seus próprios valores: ela leva embora, mas
faz mais do que isso, ela purifica. Além do mais, a navegação entrega o homem à
incerteza da sorte: nela, cada um é confiado a seu próprio destino, todo
embarque é, potencialmente o último. É para o outro mundo que parte o louco em
sua barca louca; é do outro mundo que ele chega quando desembarca. Esta
navegação do louco é simultaneamente a divisão rigorosa e a passagem absoluta.
Num certo sentido, ela não faz mais que desenvolver, ao longo de uma geografia
semi-real, semi-imaginária, a situação liminar do louco no horizonte das
preocupações do homem medieval... Ele é colocado no interior do exterior, e
inversamente.”
(Foucault “História da Loucura” – Primeira
parte, página 11 e 12)
I
A data era quatro de dezembro de
1872, uma imponente embarcação, o Mary Celeste, ou apenas MC (um dos mais
exóticos instrumentos turísticos dos setes mares) foi encontrado por outro
navio, o Dei Gratia, abandonado e à deriva, na costa da Espanha; por isso foi
considerado por muitos um assustador navio-fantasma.
Antes de causar espanto com tal
visão terrível ele foi considerado uma das mais harmoniosas criações da
engenharia marítima de todos os tempos, comparável à grandiosa nau dos Argonautas
da Grécia mítica, tão magnífico como o Nautilus do visionário escritor Júlio
Verne; um dos poucos capaz de suportar a fúria de terríveis tempestades,
insubmisso diante de rochas tão imponentes quanto ele – afinal outrora ele foi
um navio de guerra!
Vendido em uma grande feira
marítima ele foi adquirido pelo pacífico capitão Peter Bento. O MC sempre foi
forte, robusto, ordeiro e bem cuidado, mas, muitas manchas de sangue e
arranhões intrigantes estavam maculando o convés, as paredes e os corrimões dele
naquele momento... A maioria das pessoas se perguntava:
Onde foi parar toda a tripulação?
O que ocorreu de fato? Um maremoto? Um assalto de piratas? – só eu sei o que houve... Ou ainda: como eu
soube disso? Darei as respostas gradualmente...
O desolado MC tinha sete lindas
velas, sustentadas por sete mastros colossais, feitas com o mais denso
jacarandá e também com pau-brasil de qualidade indiscutíveis – foi todo pintado
com o melhor verniz da Europa... Já esteve em todos os cantos aquáticos do
mundo... Tinha cinqüenta e sete pavimentos, cinqüenta e um deles eram
utilizados para acomodar os viajantes (seis cabines tinham beliches em função
disso), seis delas eram usadas por sete bravos tripulantes que, quando estavam
cansados precisavam de um aconchegante lugar para dormir.
Como se chamavam os coordenadores
da audaz nave cortadora de águas e ventos? O já mencionado capitão Peter Bento,
um holandês inteligente, sua esposa, Mary Celeste, uma enérgica portuguesa (que
com seu nome batizou a nau), Jean-Paul Donatien (um excelente cozinheiro
francês, especialista em comidas de altíssimo padrão: carnes, legumes, peixes,
suflês, tortas, bolos e pães deliciosos) e quatro marujos destemidos (Lux
Sagratti, um indiano sábio, mas, de poucas falas, o melhor jogador de xadrez e
críquete que eu já vi, Samael Mendes, um excelente navegador espanhol, um
galanteador de primeira, Valentina Ferrari, uma jovem italiana, versátil e
robusta, além de Serena Sanchez, uma mexicana apimentada)... Uma tripulação só
de expatriados, expurgados por sua própria gente – coube ao comandante
recolhe-los nos portos pelos quais passou, em busca de pessoas dispostas a
navegar pelas ondas do sem fim.
Alguns rumores, aqui e ali,
começaram a se formar durante a viagem dentro da nau, tensos e hostis,
destilando farpas nocivas sobre seu capitão, e sua esposa; eles sempre se deram
bem, mas, uma disputa gradual pelo comando da tripulação estava se dando nas
entrelinhas...
Despontaram muitos burburinhos sobre traição, juras de vingança e morte.
Um ciúme excessivo aflorou da parte dela, por causa de um dos cinqüenta e sete
passageiros da recente leva de turistas que haviam embarcado cinco meses antes
– o MC ancorou em um porto da Alemanha, em vinte e sete de junho, e zarpou dez
dias depois.
Constantemente novos visitantes
eram agregados às viagens, pagavam fortunas para navegar turisticamente com o
MC, ficando de sete a nove meses no mar, depois desciam em seu portos de
origem; o capitão quase nunca repetia os mesmos pontos de partida, gostava da
diversidade cultural, e por isso sempre atracava em locais distintos, em busca
de gente e experiências diferenciadas...
O motivo da discórdia foi uma linda mulher, nascida no Brasil, mas, que
residiu em terras francesas por pelo menos sete anos, antes de ser acolhida no
porto alemão, eu Sofia Santelly.
Não sei se todas as histórias
sobre mim estão em conformidade com a realidade, mas, geralmente consigo
abstrair algumas coisas diretamente de sinapses alheias. Não sei determinar se
o que retiro do cérebro das pessoas é veraz ou falso (Mergulho apenas no salão
secundário da consciência, aonde as idéias já chegam prontas, não tenho acesso
ao local em que elas são formuladas, no lugar mais escuro da mente humana) –
sim, eu tenho uma telepatia razoável.
Algumas coisas nela, porém, são
evidentes, externas, ela é um amálgama entre o fogo e o gelo, entre o céu a
terra e o ar, entre a água o breu e o lodo; é sabido por poucos que freqüentei
assiduamente as altas rodas sociais da riviera francesa, só que delas me
cansei, e decidi partir em busca de novos horizontes... Acabei aportando na
Alemanha, mas, não fiquei muito tempo lá (muitas coisas boas me aconteceram,
mas, ter conhecido Nix nas terras germânicas figurou entre as melhores -
voltarei a vê-lo, com certeza!).
Eu tenho um belo porte, aprecio as
finas especiarias da Índia, tais como fumo e bebidas destiladas, sou
simpatizante dos efervescentes movimentos intelectuais modernistas, gostei
inicialmente da metodologia de Descartes em prol de idéias “claras e
distintas”, mas, não me simpatizei com suas questões que apregoam a
predestinação das pessoas rumo ao céu ou ao inferno, algo muito freqüente
nesses dias... Estóico demais para mim,
medieval em
demasia... Resumo da opera, acabei deixando-o de lado, não
sem reconhecer seu mérito na questão do cogito – amo muito o teatro, por isso
admiro tanto Racine, o famoso tragediógrafo francês... Sou uma mulher muito
inteligente e ao mesmo tempo esquizóide, às vezes gosto de ser chamada por meu
verdadeiro nome, Sayzara Zaydan, mas, às vezes prefiro ser chamada de Sofia
Santelly.
Muitas das coisas que falam de mim
são apenas invencionices arcaicas, infundadas por demais... Embora eu possa
transitar nas entrelinhas do enigmático espaço-tempo, ora no passado, ora no
futuro, não sei de todos os detalhes dessas e de outras histórias da minha
vida, embora vislumbre algumas nuances, como já disse – pode ser que tais
vislumbres não venham a ocorrer exatamente como eu os descrevo, mas, esse não é o maior dos meus problemas, há outros
dos quais preciso cuidar mais energicamente... Falarei sobre isso
posteriormente.
Eu estava no convés MC quando ele
aportou no cais francês, uma linda jovem nele adentrou, e confesso:
Foi amor à primeira vista...
Falarei mais sobre ela em breve.
Sou uma viajante extemporânea, um
doce fantasma feminino, embora ocasionalmente possa me materializar; nesta
forma translúcida as pessoas que permito conseguem me entender, ver e ouvir –
assim faço com um duplo objetivo, quando quero fazer novas amizades, ou quando
quero assustar alguns imbecis que me incomodam o viver... Tais criaturas quando
me vêem semi-opaca, suspensa no ar, acham que estão ficando loucas ou que a
mulher do Diabo lhes apareceu em pessoa! Confesso, quando isso acontece é bem
cômico! Nada como fazer algumas picardias ocasionalmente!
Por tudo isso há quem me chame de
Sofia Phanton ou de Sofia Crazy, vou ser sincera, não me importo com a
conotação pejorativa que o segundo codinome carrega, ele tem sua torta razão de
ser, pois, andei dizendo algumas vezes que já fui namorada em tempos pretéritos
da encarnação da Loucura, a grande mãe dos inocentes e dos supra-racionais. Eu
sei, de inocente não tenho nada, qualifico-me como desgarrada dos limites da
razão, estou em um nível de perspectivismo, imaginação, ousadia e de
experimentalismos psicofísicos que muitos jamais irão ultrapassar – por isso
Ela, a Loucura, gostou tanto de mim, embora tenha se cansado de meus beijos
cedo demais, instável por natureza acabaria me trocando por Nix, por quem se
apaixonaria perdidamente... De mim só deseja agora momentos esparsos de prazer
– acabei me tornando para Ela um estepe erótico ocasional; tudo bem não me
importo, afinal também aprendi a buscar por outros amores – chumbo trocado não
dói...
Para aqueles que pensam que me
rotulando como estúpida, demente, retardada, anormal, deficiente (e sei lá mais
o que) me diminuem, deixo a minha gargalhada marginal, e reconheço a
ignorância, não em mim, mas, nestes, que, do que está além dos sentidos e das
aparências nada sabem, imaginando que não existem certos fenômenos circundando
nas entrelinhas da existência.
Aos que me taxam com nomes parvos,
pensando saber muito sobre a Loucura, deixo meu desprezo, e digo:
Apenas parecem ser os detentores
da “verdade”, não são mais que medianos comerciantes, mas, suas balanças
empenadas jamais poderão descobrir o peso e a medida exata que estabelece com
precisão em que grau reside o limite entre a racionalidade (pensamento e
discurso) e a esquizofrenia (poucos sabem, esse termo é do grego clássico, e é
o mesmo que “fuga da mente”).
Quem pode afirmar que está o tempo
todo atrelado à realidade ou à sanidade? Quantos são os que já nascem assim?
Quantos ficam provisória ou permanentemente “fugidios” ao longo da vida, em
função das adversidades, do stress, dos vícios, das dores e das frustrações?
Quantos são os que optam por esse lado obscuro da lua?
Eu escolhi ser quem sou, a vida e
a sociedade sempre me colocaram à margem, sempre fui excluída dos meios sociais
só porque preferi ser mais amiga da verdade do que amiga de Platão
(parafraseando Aristóteles)... Uma verdade, a minha simples e desvairada
verdade, diga-se de passagem.
Fizeram de mim uma paria, e eu
decidi “fugir”... Quando isso ocorreu encontrei-me com a citada Loucura, que
por mim se encantou, e decidiu me dar sete presentes, sete poderes incríveis:
A transmutação espaço-temporal, a
invisibilidade cambiável, a curiosa leitura da mente, a alterabilidade de
tamanho, a capacidade de voar (um par de asas surgem quando eu quero migrar
pelo céu), a capacidade de invocar raios e trovões, também foi me dada a força
de setes gorilas.
Constantemente uso o primeiro
deles, rarissimamente uso os demais, só em situações especiais. Concluindo:
Hoje eu alterei o destino de
muitas vidas, mas, me importo realmente com poucas...
Antes de prosseguir relembrarei,
num átimo, não muito longo, como as coisas chegaram até o citado e fatídico
quarto dia do décimo segundo mês de 1872, que citei no início de minhas
narrativas marítimas...
II
Por que Say deixou o Brasil e passou
a morar em Paris, na França, nos idos de 1865? A resposta não é tão simples,
mas, lendo sua mente pude colher uma série de retalhos mentais, e com eles
montei um mosaico aproximado com as coisas pelas quais ela passou, e, diga-se
de passagem, não foram tão suaves como eu gostaria que tivessem sido, embora em
muitos momentos de sua vida ela tenha vivido situações que muitos gostariam de
ter experimentado, pois, era uma jovem renomada na cidade de Ouro Preto, Minas
Gerais, filha única de pais ricos, donos
de uma enorme fazenda de café nas imediações do lugar, eles eram donos de muitos escravos.
A partir de 1837 o Brasil já era
um grande exportador de café para os Estados Unidos, Inglaterra, França e
Alemanha, a Zona da Mata, em Minas, adaptou-se bem com o plantio desse valioso
produto (um outro tipo de ouro, também preto, que substituiu as já decadentes
minas, que não produziam mais aquela “infinidade” desse metal precioso para a
coroa portuguesa), e gradualmente foi aumentando sua participação na economia
nacional... Dois anos depois ela nasceria, literalmente em berço de ouro preto.
Em 1846, já com sete anos foi
enviada para uma universidade francesa para estudar (qual?), retornou em 1857,
já com dezoito anos; em 1865, com 26 anos se mudou em definitivo para o país
francês, para desgosto de seus pais, que nada puderam fazer. Ela era muito
decidida, e embora os amasse não terminaria seus dias num lugar que para ela
era retrógrado se comparado com o brilho de um dos lugares mais iluminados do
mundo, receptáculo de valiosos pensadores nativos, e mesmo dos que eram
oriundos de outras terras que por lá adentravam direta ou indiretamente.
É digno de nota lembrar que:
Antes de embarcar no MC ela já
tinha lido livros impressionantes, de franceses como Voltaire (por exemplo, o
agradabilíssimo e inteligente Dicionário filosófico, de 1764), Rousseau (e seu
inspirador da liberdade, e político, Contrato social, de 1762) e Augusto Comte
(Curso de filosofia positiva, de 1830-42), do alemão Karl Marx (tais como os
muito instigantes Manuscritos econômico-filosóficos, de 1844) e do inglês
Charles Darwin (A origem das espécies, de 1859).
Sofia viveu tempos felizes em
Paris, a reforma urbana perpetrada por Luiz Bonaparte (mais conhecido como
Napoleão III, sobrinho do famoso falecido Napoleão Bonaparte) transformou a
cidade inegavelmente, muitos prédios seculares foram derrubados (a contragosto
dos tradicionalistas) e deram lugar a construções modernas, bem ao gosto dos
novos tempos da Revolução Industrial, surgiram avenidas largas e
interligadas... Era de certa forma uma ideologia progressista do ideal
positivista que estava triunfando pelos poros franceses, contra o crescimento
desordenado de outrora.
Os tempos, porém, estavam
conturbados, a França não estava vendo com bons olhos a união conjugal entre o
rei da Espanha com uma nobre do império prussiano, para que houvesse um
parentesco com seu rei, Guilherme I; isso fortaleceria perigosamente os laços
entre estes governos (isso foi promovido pelo chanceler de ferro, Otto Von Bismarck,
que estava usando tal fato para provocar uma guerra que imaginava que fosse
ganhar, em função do grande poderio militar que comandava... Ele,
habilidosamente enviou um bilhete achincalhando os franceses, assinado pelo rei
prussiano, os jornais publicaram as ofensas – Napoleão III aceitou as
provocações e declarou guerra à Prússia, era tudo o que Otto desejava!). A
peleja teve início em 1870 (percebendo que as coisas estavam de mal a pior
Sofia, semanas antes, para se sentir mais segura, alugou uma bela e tranqüila
casa, na distante Marselha)...
No ano seguinte a França caiu de
joelhos diante dos prussianos, seu imperador foi feito prisioneiro em pleno
campo de batalha. Foi assinado o Tratado de Frankfurt, a França cedeu a região
rica em minerais da Alsácia-Lorena, além de ter pago uma pesada dívida de
guerra... No palácio de Versalhes o rei Guilherme I foi aclamado imperador da
Alemanha unificada.
Em Paris os republicanos tomaram o
poder no ano anterior, aproveitando-se da instabilidade reinante gerada pela
guerra franco-prussiana, um governo provisório assumiu, convocando eleições
para a Assembléia constituinte... A guerra continuava...
Os prussianos cercaram Paris por
meses! A fome chegou a se instalar entre a população, só os mais abastados
financeiramente sentiram menos (Sofia ficou horrorizada com tudo aquilo, e uma
crescente vontade de sumir dali tomou conta dela, mas, o momento não era bom,
seria preciso aguardar o desfecho desse trágico momento na história francesa).
O governo burguês caiu, cedeu aos
alemães, os subúrbios da capital se revoltaram, a Comuna de Paris (regida por
operários tomou as ruas e a prefeitura da cidade – com isso , o primeiro
governo socialista do mundo saiu vitorioso desse levante!)... Dentre as muitas
providências que tomaram uma se destacou, a Igreja foi separada do Estado... De
uma maneira “quase que milagrosa” os governantes franceses e os militares
alemães acabaram se entendendo, às custas de um acordo que libertou
prisioneiros de guerra franceses, que reorganizados adentraram em Paris,
derrubando o governo da Comuna (soldados armados pelos alemães para matar os
próprios franceses!). De um lado trabalhadores armados com revólveres e facas,
do outro a “morte bélica” personificada, com fuzis, baionetas e mortíferos canhões!
Um banho de sangue se seguiu! No final a burguesia triunfava sobre uma pilha de
cadáveres!
Em meio a essa página triste o
desenvolvimento científico transcorria na França (embora tudo isso tenha
contaminado de vez o espírito de Sofia que não podia mais viver naquele
ambiente estranho, insustentável que se alicerçou entre o povo francês – sua
partida era iminente, com certeza).
Em 27 de junho de 1872 Sofia
passeava pelas agora aparentemente calmas ruas de Marselha, e foi parada por um
panfleteiro, de cor branca, que aparentava ter uns dezessete anos e uma altura
aproximada de um metro e setenta e cinco; estava vestido de pierrô, e usava
roupas de cetim coloridas, nas cores da bandeira francesa, vermelho, azul e
branco – tinha cabelos castanhos, anelados e compridos, usava uma sapatilha
confortável nos pés, embora descorada.
Ele lhe entregou um papel com os seguintes dizeres:
“Se você deseja conhecer o mundo
esta é a sua chance! Dirija-se ao cais do porto, estamos fundeados no Golfo de
Lyon, e fique sabendo como tornar esse sonho possível. Nosso navio, o Mary
Celeste, estará zarpando dentro de alguns dias, em sete de julho, não perca
tempo. Venha ser feliz conosco!”
Sofia lhe perguntou se já havia
almoçado, mas, ele gesticulou com a cabeça e com as mãos negativamente, ela
entendeu que ele era mudo. Tirou do bolso de sua blusa branca algumas moedas e
lhe deu, provavelmente ele deveria ser alguém do subúrbio que fora contratado
para fazer esse serviço extra... Os tempos estavam mesmo difíceis para muitas famílias
francesas.
As idéias de Sofia ganharam corpo
com aquele convite, e ela se dirigiu até o porto imediatamente, pois queria
saber mais detalhes sobre essa fantástica novidade, que poria termo à sua
vontade de se libertar.
Ao chegar lá procurou pelo navio,
pediu uma informação a um dos muitos carregadores que por lá transitavam, com
sacos pesados em suas cabeças, um deles lhe apontou onde a nau estava acostada,
ela então se dirigiu até ela.
Lá chegando foi recebida pelo
próprio capitão da embarcação, que se apresentou como Peter Bento. Ele usava um
vestuário azul claro, incluindo seus sapatos, tirou seu quepe da mesma cor, de
copa redonda e com uma pequena pala sobre os olhos, e se curvou suavemente para
a bela dama que estava à sua frente, com um lindo chapéu bege, uma delicada
blusa branca, uma saia azul e um par de sapatos scarpin também bege – ela segurava uma pequena sombrinha florida em uma das mãos,
com a outra o cumprimentou, ele retribuindo o gesto pegou sua mão máscula e
levou a dela até seus lábios rápida e
gentilmente, perguntando a seguir no que poderia ser útil, ao mesmo tempo em
que perguntou seu nome.
Após as apresentações formais ele
deu as informações que ela queria, para a sua surpresa Sofia ficou sabendo que
estava garantindo a última vaga, e a tarde ainda mal havia começado, o que de
certa forma é compreensível, afinal, o trâmite de pessoas nas redondezas era
grande, gente vinda de todos os lados do país, em busca de uma oportunidade
para viajar, muitos a trabalho, outros tantos em busca de aventuras e descanso
(principalmente depois dos últimos acontecimentos que mergulharam a todos nas
tensões dos ainda recentes traumas pós-guerra).
Ambos foram até a cabine do
capitão Peter Bento para acertar os detalhes da viagem: preço, condições, roteiro,
entre outras coisas... Partiriam assim que a carga de mantimentos e outras
provisões estivesse completa, o que ocorreria em breve. Ela recebeu o
bilhete de número cinqüenta e sete, e dividiria seus aposentos com uma jovem
senhora francesa, de 57 anos, chamada Simone Jean de Beauvoir, oriunda de
Toulouse.
Ciente de que teria poucos dias
para organizar suas coisas Sofia retornou para sua casa para fazer os devidos
preparativos, seria preciso se despedir dos amigos, devolver a casa, acertar o
aluguel e dispensar os empregados – uma nova vida para além do litoral francês
estava por começar.
Eis que o aguardado dia chegou,
sete de julho...
Assim que todos os passageiros
adentraram no MC, a tripulação providenciou que a âncora fosse levantada...
Içaram-se também as sete belas velas, presas aos imponentes mastros; lentamente
a porção de mar próxima à terra foi ganhando corpo, e as águas foram se
tornando cada vez mais volumosas, deixando para traz mazelas de toda sorte, e
abraçando novos sonhos e esperanças de tempos melhores.
Que tenham início as narrativas
marítimas alucinóides de um amor entre iguais!!! Alucinóides por quê? Ora,
falar de tudo o que se refere à Sofia deixa-me quase que completamente fora de
órbita, um êxtase interior toma conta de mim, me dá um energético conforto, uma
sensação de bem-estar incalculável, afinal, só mesmo ela para extrair de mim
(órfã que sou, sem lar, sem pátria) algo menos pior do que a brusca solidão – não sei de onde vim e nem para
onde vou, quando dei por mim já estava jogada no mundo na condição de fantasma,
fui acolhida por uma graciosa amante, a
maior de todas as damas, a Loucura, que me amparou e me ensinou tudo o
que sei da árdua vida (mas, essa é uma
história para outro momento, se é que irei sobre isso falar com todas as
letras; há coisas que devem ficar bem
guardadas dentro do peito, trancafiadas inclusive).
E por falar em amor, isso foi o
que senti quando vi Sofia pela primeira vez, ela deixou seus pertences em seus
aposentos, e foi até a proa do MC, para dar um último olhar e um breve suspiro
em direção à plataforma francesa onde embarcou, deu seu adeus, com um terno
olhar, à terra que lhe serviu de esteio por tantos anos. Eu estava na popa, mas, dentre todos que por
lá transitavam eu só tive olhos para ela, a mais linda mulher que já vi.
Flutuei em sua direção, ela, é claro, em princípio não me viu, preferi ficar
momentaneamente observando seu curvilíneo corpo, sua tez suave, seus lindos
olhos azuis e sua tenra boca de cereja...
Que cabelo angelical! Que seios lindos! Que ombros largos! Que nádegas
salientes! Que pernas e braços rijos! Ela parecia ser auspiciosa, mas, eu teria
que comprovar, por isso me solidifiquei a seu lado; ela não me notou de
imediato, estava absorta em pensamentos, então
a toquei levemente e a cumprimentei, ela olhou para mim, sorriu,
retribuiu com um aceno e disse:
– Eu não tinha notado antes sua presença, me
desculpe, disse, faz muito tempo que você está a meu lado? (Disse levemente
ruborizada com a presença repentina daquela jovem, a quem silenciosamente fitou
com apreço, pois, a considerou bela e graciosa).
– Sim e não.
Ela achou engraçada a resposta, mas, mudando
de assunto perguntou:
– De onde você é?
– Sou de algum lugar do mundo.
– Essa resposta não é válida, é
muito vaga (retrucou sorrindo).
Lendo sua mente fiquei sabendo de
seu verdadeiro nome e também do pseudônimo com que gostava de ser chamada, e,
respondi:
– Eu sei, fiquemos assim, sou de
uma terra distante, chamada Sayzara.
– Você não vai acreditar! Disse ela – esse também é meu nome! Que
coincidência, não é mesmo? Me chamo Sayzara Zaydan, e, a propósito, nunca ouvi
falar do lugar de onde você veio, até onde eu saiba é um nome judeu, um pouco
incomum, é verdade, mas, que eu me
lembre não é o nome de algum lugar
conhecido.
–-
Bem... Esse nome é de um pequeno lugarejo no coração da África, é por isso.
–-
Este mundo é realmente grande; diga-me, qual é seu nome?
–-
Me chamo Bárbara Ventura.
–-
Não me parece ser um nome africano...
–-
Eu sei, é que meu pais gostavam de literatura brasileira...
–
Mais uma coincidência! Sou brasileira! E como seus pais também gosto muito de
literatura, até estou escrevendo um romance, na qual a personagem principal se
chama Sofia santelly, e vou confessar para você, acho muito interessante que
seja assim: as pessoas que me conhecem ora me chamam de Say, ora de Sofia,
estimulo-as a fazer isso, me agrada muito essa aparente confusão... E, por
falar em confusão creio que na literatura do Brasil, não aja, pelo menos não oficialmente,
uma personagem com o seu nome...
- Você está me apertando sem me abraçar...
- Não quero constrangê-la, mudemos de
assunto...
- Tudo bem, antes que comecemos espere um
pouco, vou buscar um refresco para nós duas, está bem?
- Vai ser ótimo, te espero aqui mesmo.
Quase que no mesmo instante que em
Bárbara se retirou o capitão Peter Bento se aproximou e disse:
- Posso falar um pouco com a
solitária turista?
- Sim, claro, embora estivesse
conversando ainda a pouco com uma senhorita muito simpática...
- Não notei, me pareceu que
estivesse sozinha o tempo todo, devo ter me enganado; diga-me está se sentindo
triste?
- Sim e não (parafraseando
Bárbara), estou parcialmente triste, mas, não pretendo voltar para a França, e
sim, estou feliz por estar nesse lindo navio turístico, rumo a novas
experiências.
- Onde pretende estabelecer sua
nova morada?
- Não sei, o tempo dirá.
A esposa do capitão, se aproximou,
segurando-o pela cintura deu-lhe um rápido beijo na face e disse:
- Querido, apresente-me esta bela
jovem...
- Sim, é claro, Sayzara, esta é
minha mulher, Mary Celeste, de quem extraí o nome dessa excepcional ex-máquina
de combate marítima.
- Muito prazer senhora, é uma
honra conhecê-la.
Os três ficaram conversando
trivialidades, de longe Bárbara, percebendo a situação não se aproximou,
bateria em sua cabine logo mais à noite, desde que sua companheira de viagem,
Simone, estivesse ausente ou dormindo...
Enquanto o MC abria caminho por
entre as águas eu transitava aleatoriamente, tentando encontrar pessoas que
fossem tão interessantes quanto Sofia, reconheço que sou voyeur, estou sempre a
espreitar pensamentos e gestos (serei uma prostituta mental? Talvez, mas, não
me importo). Fiquei observando por alguns minutos arrogância naval mal
disfarçada de Mary, ditando ordens para seus marujos - eles viviam
desconfortáveis dilemas: Peter Bento dava suas ordens, e ela as modificava,
quando questionada dizia que era tão comandante quanto ele, e que não deveria
ser desobedecida.
Um a um ela os importunou, e as
reações foram as mais diversas, mas, cada um, a seu modo, lhe repelia, pois ela
era mesmo insuportável – observei os seguintes comentários deles, para com ela,
cito, a título de exemplo, o que Lux Sagratti lhe disse certa vez:
- Senhora Mary, curvo-me como
bambu diante de vossa eminência, és poderosa como uma ventania; lembro-lhe
apenas que, como a gramínea bambusácea, envergo-me sem me quebrar, isso quer
dizer que estou a seu dispor até onde isso não me trouxer prejuízos, é claro,
com licença, tenho muito que fazer agora.
À noite fui até o quarto de Sofia,
materializei-me e bati na porta... Quem me recebeu foi a senhora Simone,
perguntei:
– Sofia se encontra?
- Sim, ela está deitada...
- Sabe se está dormindo?
A própria Sofia respondeu:
- Não Bárbara, entre, por favor,
sente-se na cadeira à sua direita (disse, ao mesmo tempo em que se levantava),
vou até o espelho do banheiro ajeitar meu cabelo e já nos falamos.
- Sim, meu anjo, sinta-se à
vontade - virando-se para Simone pediu que as deixasse a sós por alguns momentos,
pois, precisava falar-lhe em particular.
- Tudo bem senhorita Bárbara,
fique à vontade, vou até o salão de jogos para me divertir um pouco, até mais
tarde (dizendo isso, pegou sua bolsa e saiu – Bárbara não respondeu ao gesto de
despedida, só fez um aceno com uma das mãos, dando ao mesmo tempo um leve
sorriso por ter conseguido se livrar da incômoda companheira de quarto de sua
pretendente).
Quando Sofia voltou perguntou onde
estava a senhora Simone, eu lhe disse que havia ido ao salão de jogos para se divertir...
Pedi que se sentasse na outra cadeira, que eu havia colocado mais perto de mim.
Assim que se acomodou lhe perguntei se alguma vez já sentiu, por dentro, algo
semelhante a um incêndio, e ela respondeu:
- Sim, quer dizer, acho que sim,
talvez. Por quê?
Eu, sem dizer mais nada segurei
seu rosto suavemente com as duas mãos e apliquei-lhe um ardente beijo de
língua. A volúpia de meu gesto não foi rechaçada por ela, não houve nenhum tipo
de resistência, tanto que, de olhos fechados colocou, m princípio, suas mãos em
meus seios, e a seguir abraçou-me fortemente.
Só que, cinqüenta e sete segundos
depois, perdeu o equilíbrio e quase caiu
no chão, desfalecida, a amparei, mas, ela estava inconsciente e eu chamei por
ela energicamente:
- Sofia! Sofia! O que houve?
Responda meu anjo! Por favor!
Um chamado voltou a ser repetido:
- Acorde! Acorde meu amor! O que
houve com você?
III
Lentamente Sofia recobrou a
consciência, e viu que estava nos braços de seu marido, Samael Blackburn, o
justiceiro mascarado a quem todos chamam de Dr. Minas... Ele voltou a dizer:
- Miss Artifício, o que houve?
- Dr. Minas... Eu, bem... Eu acho
que perdi os sentidos por alguns momentos.
Ela, olhando à sua volta percebeu
que estavam nos destroços do centro administrativo do governo do Estado de
Minas Gerais, no bairro Serra Verde, em meio a muita fumaça, pedaços de
concreto e de ferro retorcido.
O maior super-herói brasileiro
propôz então:
- Acho que devíamos voltar para o
nosso Quartel-General, a Torre de Vigia... Sideral está lá, monitorando todo o
caos decorrente desse famigerado atentado terrorista (ainda bem que, pelo menos
ele, permaneceu em nosso agora fragmentado grupo... Nós somos tudo o que restou
dos Vigilantes da Pátria, não é mesmo? Os demais miseráveis, O Sentinela, Cheque-Mate,
Princesa Oiapoque e o Homem Primordial se debandaram para o “lado negro da
força”, liderados por Lótus Branca e seus vermes)...
Nosso herói estelar deve ter
informações importantes para nos dar. Vou pedir mentalmente que ela use seus
poderes espaço-temporais e nos tire daqui. Voltaremos aqui mais tarde, quando
você estiver restabelecida.
Em sete segundos eles já estavam em seu QG.. .
Assim que abriu os olhos Sofia
continuou a descascar as batatas que estava preparando para a janta, e, ao
observar mais detidamente a mesa da cozinha percebeu que sobre ela havia um
pequeno barquinho à vela a enfeitar-lhe, muitas cebolas, alguns peixes frescos
recém comprados na peixaria próxima, um queijo Minas da melhor qualidade e
cinco ou sete garrafas de cachaça que ela trouxe de uma recente viagem feita à
cidade de Ouro Preto, todas vazias.Teve a impressão que estava completamente
bêbada depois que viu suas mãos sujas de sangue (andou errando os cortes
"batatínicos"), percebendo que ia vomitar tentou sair correndo rumo
ao banheiro, mas, deu de cara com a porta, caiu no chão como um melão podre,
com a cara colada em um panfleto com a foto do candidato ao senado nas eleições
2010, Aécio Neves, na seqüência desmaiou; acordaria só cinco ou sete horas
depois (provavelmente não se lembrando de mais nada pelo qual havia ter
imaginado passar enquanto enchia a fuça ao tentar preparar um almoço para
saciar sua fome de "galinha esquizóide", misturada com "ondas
marinhescas" alcoólicas e
"viagens espaço-temporais "super-heroísticas".
C 109 – COMO VASENILDA AJUDOU SOFIA A SE LIVRAR DE VALCELINA DAS
FRÔ?
Água e óleo não se misturam diz a
química e o ditado popular, pois é, pressentindo que eu estava por começar uma
amizade colorida e até certo ponto profunda e íntima com uma tal de Valcelina
das Frô, Vasenilda, uma chegada minha, me contou um causo, uma prosa que teve
com essa fulaninha. O que ouvi me tirou de uma roubada, depois do alerta
debandei geral, e nem terminei o que nem comecei com a destrambelhada. Foi
assim que eu, a super Sofia, saí por cima da carne seca. A coisa se deu assim:
— Sofia, há dentro de uma ex-colega minha uma peste, uma praga, um jeito
tosco de ser e viver que me dá nojo, ela devia se chamar Severina! Um morenaço
paradoxal, linda por fora e torta por dentro. Ela tem um jeito espanta homi, é
do tipo vaselina vencida, pois, curiosamente não deixa o trem duro nem entrar
nem sair de dentro de si. A expurguei, e espremi, exorcizei a mardita das
prefundas de minha alma. Afinal, o que ela fez contra meu jeito Cráudia de ser?
Desejo a mesma debandada pro cê minha prenda; explico-me...
Pra começar... Depois que tive uma
conversa com essa tal Valcelina das Frô, a última (em 19 de dezembro de 2010,
um domingo cinza e roxo, em que meu coração estava excessivamente desajustado e
com raiva), a coisa desandou de vez, passei a não suportá-la mais e nem ela a
mim. Ela queria desabafar comigo, estava tendo alguns dilemas sexuais (ate ai
tudo bem, sou foda mesmo), mas depois que vi a profundidade de seu dilema
amarguei um gosto de capim carniça na guela, e agora toda vez que a vejo, saio
de fininho, quero nem ver mais!
Na época dessa conversa imbecil ela, que é evangélica, estava pelas
tampas! Com as calçinha em chamas! Ela até pode ser uma filha de Deus, mas ora
é crente, ora é quente como o fogo do inferno, ora é doida de pedra e sermão
(não sabe ainda o que quer da vida, é indecisa por demais, ignorante, medrosa e
preconceituosa – chega! Já perdi muito tempo com essa pirua. Depois de nossa
desavença ela nunca mais me procurou, nem via carta, que alivio!
O qui é qui tava pegando? Tudo isso dependia de como ela recebia
certas cantadas que levava no lombo vez ou outra, pessoalmente, via celular ou
por meio de suas redes sociais internéticas (e prá quem sobrou? Prá mim!). Sai
fora miséria! Essa mulher só pode ser bipolar! A miserenta às vezes ataca de
Maria pureza, às vezes de Vampirella, mas acabou mesmo foi clamando pela minha
ajuda, vai entender... Inexplicavelmente confiava em mim, dizia que de certa
forma éramos parecidas, guardadas as devidas proporções. Sei não, posso dizer
que, no máximo existem algumas coincidências entre nós, sou única e excrusiva,
como você Sofia.
Na tal dessa prosa ela me confessou
que estava vivendo alguns dilemas sexuais, e inocentemente me pediu prá lhe
ajudar a vencer certas barreiras sem ter que cair numa surubenta tentação
físico-mental, profunda, trairenta e triplamente qualificada: com seu marido,
com seu pastor e com seu chefe maior, Jesus (ou J.C. como ela gostava de
chamá-lo). Ela ia se arrepender de ouvir o que ouviria, mas eu tinha que honrar
minha fama de lady putz.
Disse-lhe muitas coisas, inclusive o
que faço para que minhas vitimas "pacsem" as mão ni minhas
intimidades, como fazer os gostoso dar uns mega esfrega neu, que sou a maior pedaçuda da região, depois de você, é claro, né
senhorita Santelly?
Antes de qualquer coisa nunca saio pro batente sem antes tomar uns
tarja preta com umas caneca de cagibrina com pimenta, cebola e alho (que é prá
turbinar a paranóica genital, a bichinha chega ao ponto de ficar num entorta
ferro da peste!). Sem demora, sem muito disse - me - disse e lero-lero já chego
pros sujeito e pergunto se eles vai querer ou vai correr (a maioria fica, pois,
já vou logo engatando uma ré no dito cujo, que é pra nem dar tempo dos cabra
fugir), dou um banho de língua geral (de cabeça a cabeça, se é que me faço
entender...).
Ela me disse
que isso não tinha como se realizar, era sacanagem por dimais!
Na verdade ela falou que tava mesmo só namorando por telefone com um
cara, que lhe disse que era casado com uma muié di quem ele num gostava mais, e
por isso estava exageradamente carente, percisando di um novo love - esse
contato aconteceu depois que ele lhe ofereceu por telefone um kit prá limpar
cozinha, privada e esgoto (que ele chamou de santíssima trindade da
purificação, sem ter que gastar muito com água e sabão) – sua doce, filosófica
e imponente voz de operador de tele marketing a fez sentir uns calores na
partes altas e baixas, e ela, a partir desse dia, disse que começou a
namorá-lo; ele retornou a ligação por meses seguidos, e ela não conseguia dizer
não pra esse rala e rola on-line, achou aquela situação nova, ótima e
inexplicável, mas não sentia que isso era algo assim do tipo meio que love-love, nem mesmo love-flesh
(acho mesmo que ela é uma imbecil que nunca brincou de médico ou de casinha
quando era menina, que nem nóis). O cara disse pra Das Frô que sentia um fogo
intenso na arma, digo, na alma quando falava com ela, que tinha muita vontade
de sair por ai a seu lado, beijá-la muito, ir ao cinema ou a um barzinho
qualquer. Mas ela me disse que ele mostrou seu lado safado rapidinho, começou a
falar que queria ir a um motel! E ela disse "como assim, se não fumo e nem
bebo?" A idiota falou que iria terminar tudo se ele não parasse com
aquelas putarias!
Pra terminar ela então me perguntou o que é que eu achava que estava
acontecendo com ela, pois, achava-se alguém tão certinha, tão boa mãe de seus
sete filhos, tão religiosamente protestante e tão estudiosa (até fez uma prova
prum concurso federal que boiou este ano... Certamente seu sucesso não se dará
quando o resultado sair, em função de suas piruás limitações neurônicas).
Fui curta e grossa, lhe disse que o cara tava a fim mesmo era de lhe
comer, mas que ela tava com medo de dar, e eu lhe dei uma de suas pérolas
filosóficas, Sofia: “perereca quente que não entra na lagoa não se refresca,
nem sobe em pau liso”. O sinal VIVO do cara era muito OI, mas nem assim a coisa
tava do tipo TIM, não tava tão CLARO assim – tava tudo muito escuro e besta por
dimais! Uma perda de tempo sem quê nem prá quê! Como diz o jargão popular de
uma propaganda: “troca o chip”!
Disse-lhe que ela tava usando
lustra-móveis estragado no pau de sua cruz, e lhe propus que fosse num centro
de macumba prá resolver esse estrupício, pois, esse encosto nem o pastor da sua
igreja tirava! Ela, furiosa, meteu a mão
na minha fuça e se mandou toda indignada. Fui tentar ajudar e tomei na bufa...
Tudo o que te relatei é pro seu bem
meu quindim... Sofia, sai fora dessa carniça, bosta quanto mais fede mais mexe
(ou é o contrário?). É isso aí, vou nessa, a gente se vê por aí pra tomar uns
engasga gato juntas, sem a Valcelina por perto, é ou não é?
— Concordo com cê Vasenilda, vai no ferro, digo vai na fé brother, no mais até breve...
C 110 – PROBLEMAS COM IMPOTÊNCIA SEXUAL?
ACESSE O
DISK DESGRAÇA JÁ!
Meu nome é Sofia Santelly, sou especialista em dar conselhos que podem mudar a
vida das pessoas, pra pior ou pra melhor, depende de como cada um vai encarar a
coisa, o mais importante é que não vou ficar calada, vou meter o dedo na
ferida, cutucar o estrume, chutar o pau da barraca, descabelar o palhaço; o
mundo anda precisando de uma porta-voz a altura, pra dizer na chincha o que
quase ninguém tem coragem de dizer. Vai que dá certo? Então tá... Aqui é o
canal dos fracos e dos oprimidos, se com isso eu puder dar um pouco de luz ao
mundo, melhor, mas, se houver quem veja isso como um campo minado, uma sucursal
do inferno, que seja, vou dizer o que tiver que dizer assim mesmo...
Pra início de conversa... O nome disk-desgraça é
só um chamariz, não vou atender ninguém por telefone, isso é só um meio para
escrever que encontrei prá chamar a atenção dos desprevenidos que não me
conhecem... Marketing, estratégia, embuste levemente hipócrita, sou boa nisso,
entendeu? Chega de papo furado, vamos ao que interessa:
Impotência sexual é uma desgraça que não é tão cabeluda
assim, se seu "relógio só marca seis e meia" há muitos meios de fazer
com que ele marque "meio dia", uma das possibilidades é colocar uma
tala rente ao dito cujo e amarrar o quase falecido com um barbante depois de
dar uma esticada manual nele, vai que "ele" gosta e se acostuma? Jamais
o espanque, a culpa não é dele...
A impotência quase sempre tem cura, entre outras coisas você tem à sua
disposição vários expedientes que vão desde o leve estapeamento
terapêutico do infeliz (tente o famoso "cinco contra um",
preferencialmente com gel) até injeções e próteses super modernas. Não tenha
medo da impotência, mas cuidado o medo de falhar desperta e aumenta a tragédia!
Não gosto do nome que dão prá esse problema, disfunção erétil, é feio
prá cacete! Acho que traumatiza os que sofrem desse sobe que não sobe... A penetração
vaginal fica estronchada e o sujeito não chega às vias de fato, é uma merda!
(Ou seja, que falta de foda viu!) isso impede a satisfação sexual e o Titanic
afunda... Você pode procurar um médico, mas há quem procure um pai de santo,
outros buscam solução no Viagra, em casos mais drásticos há quem afunde a cara
na cachaça, e a única loira que o caboclo pega é a cerveja... Se com tudo isso
o molenga não levantar viva das lembranças dos tempos de outrora, vai que
ajuda! De consolo também se vive (no bom sentido, mas, se você começar a buscar
objetos de borracha ou silicone prá amenizar suas angústias o problema é
seu)...
Não se desespere, impotência sexual tem cura! Se estiver tendo ereções
enquanto dorme isso pode ser um bom sinal, depende de quem estiver na sua
frente ou atrás de vossa pessoa (isso não é problema meu, ok? Engatar um ré ou
acelerar compete a cada um, que deve ser feliz do jeito que quiser, bem sei dos
que buscam em bonecas infláveis um alívio prás suas tempestades... Só tome
cuidado com certas bombinhas que prometem fazer o bicho crescer ou com certos
anéis penianos, há muita falcatrua por aí, o danado pode cair viu? Todo cuidado
é pouco... Se suas raras ereções espontâneas não forem
satisfatórias, isto denota que seu sangue anda ralo demais, tome uns
energétitos (ovo cru, amendoin, etc), vai que tudo não passa de um engano e
você tá só com anemia? Se não for isso não descarte a possibilidade de estar
querendo mudar de preferência genital inconscientemente (isso não vale
prá todos certamente). Todo distúrbio tem uma causa e como não te conheço não
sei qual é... Vá procurar ajuda com um psicólogo, ou um urologista falô? Prá
finalizar... Por acaso seu canal peniano pode estar apenas entupido, quem sabe
um encanador não resolva essa disgreta? Eita ferro!!!
Só não deixe de sonhar, quando os mesmos são apimentados podem trazer
algum alívio prá sua serenata erótica (uns sonham com piranhas outros sonhas
com trutas, cada um escolhe o peixe que quiser), antes de dormir ponha na
vitrola o rei do bolero, Altemar Dutra... Ficar em "ponto de bala"
não é tarefa das mais simples pra quem passa por essa situação, se esse finado
cantor te fizer mais mal do que bem quebre o cd do camarada só não tente se
matar, amanhã há de ser um novo dia... Tenha fé em seu mastro antes que ele
apodreça de vez! Beijos em seu pau Brasil...
C 111 - TESTEMUNHOS DE UMA
EX-PECADORA (O REENCONTRO DE SOFIA COM JESUS, SEU GRANDE AMOR)
Estava em stand-by, parada no tempo como aquelas luzes dos aparelhos
eletro-eletrônicos, esperando que alguém me desse um clique, estava inativa, na
esbórnia, na sacanagem, na putaria, mas não estava morta, ainda que moribunda.
Sentia em meu íntimo, em meu útero espiritual, que precisava sair da vida
desgraçada que levava, foi então que me lembrei de duas coisas, primeiro:
Vivi quatro fases altamente
religiosas, produtivas e férteis, ainda que curtas. Eu havia conhecido o maior
amor da minha vida e o abandonei, e hoje, dia 16 de fevereiro de 2011 eu
finalmente voltei a olhar para as coisas do Senhor, não vou negar, tive uma
“mãe espiritual”, irmã Celinálvia (mas, isso eu conto em um momento oportuno,
tenho muita lenha santa pra queimar).
Segundo:
Antes de qualquer coisa, preciso,
forçosamente, para expiar minhas culpas, relatar outra vez como tudo começou se
desenvolveu e definhou; seguem abaixo algumas infelicidades desse período
obscuro.
Portanto, antes de partir para os
relatos de meus atuais testemunhos de redenção e vida religiosa plena, espero
que o que aqui está escrito sirva de inspiração para que os que são ateus,
atoas e falsos crentes (que acendem uma vela para Deus e outra para o Diabo),
que tais se voltem para Jesus, o único caminho, a verdade e a vida. Boa leitura
irmãos e pretendentes às glórias celestiais. Amém.
Primeiro alguns flash-backs, depois minhas novas
aventuras e desventuras nesse tortuoso, mas gratificante caminho para as luzes
eternas...
C 42 – VOCÊ JÁ SONHOU COM O ARMAGGEDON?
Fiquei assombrada com um pesadelo
que tive certa noite, que misturou cenas do Armaggedon (aquele troço ligado ao
Apocalipse, final dos tempos, essas coisas). Sonhei com um lugar cheio de
cobras e bodes multicores, ao mesmo tempo... Dava a luz a um menino (a quem
chamei de Pornélio) e me casava com um nordestino porreta, chamado Maurélio
Fudênzio, dentro de um cemitério! Misericréu! Tá Amarrado!
Durante a sessão uma estranha luz
invadiu o lugar e, de uma só vez, peguei bicho de pé, sarna, mau hálito e
frieira, no sovaco e na cabeça, além de ter ficado com piolhos aos quilos até
dentro da calcinha!
Desesperada comecei a me coçar com
caco de vidro, levei o pé a boca e comecei a morder uma bolinha gorda que no
dedão surgiu, fiquei tonta por um momento, o chulé tava de matar!
Disse para o Senhor, aos berros:
— Obrigado por essa provação, eu
tava precisando de uma lição, mas, da licença que eu vou ficar pelada, pois,
estou ardendo em brasa, da cabeça ao fiofó!
Mal tirei a roupa e me deparei com
algo estranho, dois auxiliares do pastor também estavam desesperados, batendo
os queixos, de tanto frio (a tal luz também lhes iluminou)...
Começamos a nos ajudar, uns
coçavam, outros aqueciam.
Pra piorar, quem chegou a seguir?
O pastor, que entrou derrapando na
história, também pelado, a gritar:
— Me chupem, me lambam, me cuspam,
me alisem, que eu também tô pegando fogo, irmãos, valei-me, uma luz quentinha
me pegou bem no meio das pernas!
Engalfinhamos-nos no chão, nos
ajudando mutuamente, que muvuca doida!
Não teve jeito, era para ser um
ato de solidariedade pura...
Terminou em pura sacanagem!
O nosso tesão foi crescendo,
crescendo e nos absorvendo, e nós nos vimos assim, completamente profanos, numa
suruba dos infernos!
O fato é que gozamos (como os
anjos, se é que eles gozam, ou como os quatro cavaleiros do apocalipse).
A seguir saímos correndo, meio que
envergonhados, mas, felizes, só que sem entender que putaria foi aquela dentro
daquele recinto eclesiástico.
Melhor esquecer tudo, não é mesmo?
Esquecer? De que jeito?Tô assombrada até hoje... Tô encantada, ou melhor,
destrambelhada... Mas, vou guardar isso na memória pra sempre!
C 75 – SOFIA JÁ FOI UMA
EX-PECADORA? (FASE 1)
Foi assim que a (curta) vida
católico - evangélica de Sofia começou...
Noite do sétimo dia, do sétimo mês
de 2007...
Sofia, vinda, não se sabe de onde, descia a
Avenida Olegário Maciel, em BH... Cheirava a bebida e perfume barato... E,
quando se abaixou para apanhar uma bituca de cigarro, em frente ao templo da
Igreja Universal, tropeçou e caiu de quatro.
No que ia soltar uma rajada de
palavrões, ouviu uma voz, que veio de uma jumenta, saída, não se sabe de onde
também, que lhe disse:
— Porque me maltratas? Pegue a sua
Cruz, siga-me! Entre aqui comigo, agora, se não vai tomar coices até ficar
abestada!
E Sofia disse:
— Fazer o quê?
Vamos nessa, que o trem vai ficar
bão a bessa!
Agora sou uma fervorosa defensora
das coisas celestiais, comigo o buraco é mais embaixo, digo, é mais em cima,
meu negócio é com Deus, para o inferno com o capeta! Sai pra lá desgraçado! Sou
rápida no gatilho, minha conversão foi instantânea, mas, poderosa!
Sigo os caminhos de Jesus, mas,
sou fã de um atalho, e, quando me dou conta já me lasquei.
Prefiro pecar
pelo excesso, não aceito que façam coisas que vão ofender aos céus perto de
mim, custe o que custar, afinal sou uma guerrilheira do Senhor, uma
ex-condenada, que tinha mil vícios esquizóides, mas, mudei, e agora faço parte
do lado branco da força! Lux triumphanx!
Quero ser sábia e santa como o meu
nome, só uma coisa me impede fazer mais, minha imperfeição, essa safada, que
tanto tenta tirar o brilho da minha cruzada, mas, tá amarrado!
Com o Senhor vencerei, quando me
sentir fraca é que serei forte! Tenho muitos espinhos na carne, mas, não vou
desanimar!
A lei e a ordem divina hão de
prevalecer, nem que eu tenha que dar qualquer tipo de show, pela fé hei de combater
a galera do chifre e da foice! O sangue de Jesus tem poder, e não vou desistir
de minha missão de resgatar almas, nem que seja na marra ou na marreta!
Essa batalha vai ser infernal,
digo, celestial, contra quem ficar no meu caminho – tô andando armada não é à
toa, tô de armadura pela causa... Minha espada é o evangelho, e o penduricalho
é o fogo da vitória divina! Tremam infiéis!
C 76 – SOFIA JÁ FOI UMA
EX-PECADORA? (FASE 2)
Sou muito talentosa, não preciso
ser modesta, afinal, a força está comigo, como já disse, a força do Senhor.
Isso causa a fúria e a inveja das
hordas do mal. Que venham então!
Estarei com o porrete da fé e o
escudo da salvação diante dos cavaleiros da capa preta e as caveiras de fogo,
em meio às trevas ou na esquina da favela, com o evangelho debaixo do sovaco,
digo, aberto, com a garganta arreganhada expulsarei, demônios, corcundas, lobos
e dragões obscuros.
Dia desses tava a caminho da
igreja, e dei de cara com um padre, ele me convidou para ir à missa, e ficou
elogiando meus dotes (não, tava olhando muito para minhas coisas íntimas não,
tava falando de meus dons religiosos, etc e tal).
Eis que chegou um pastor, e foi só
ver o dito cujo começou a dar chiliques, dizendo:
— Dando testemunho a essa alma
perdida Sofia?
O padre nem bem deixou o pastor
falar, e já emendou uma gravata no cidadão, enquanto dizia que ovelha
desgarrada era ele.
Foram só batina e gravata que
voaram.
O pastor, em retribuição deu um pescoção no
seu oponente...
Engalfinharam-se no chão por
cinqüenta e sete minutos!
Deixei o pau quebrar e saí em
disparada rumo a um boteco...
E fiquei lá até aquela crise
passar. Fui uma covarde, mas, depois pedi perdão a Deus.
Pior mesmo foi ter me adentrado em
um antro de cachaça que outrora tanto amei, minha boca inté salivou, mas, eu,
com muito custo resisti.
Aleluia Senhor da Glória! Sem
vossa proteção o que seria de mim?
Sou apenas uma alma depenada, mas,
do teu lado, sob a sua proteção as minhas penas chegam até a brilhar!
C 77 – SOFIA JÁ FOI UMA
EX-PECADORA? (FASE 3)
Sabe a tal briga de que falei
daqueles ministros religiosos? Pois é, ela teve um final surpreendente, pena
que não fiquei lá para ver mais esse milagre celestial, fui saber só depois.
Estavam eles a se digladiar no
chão, cada um com a mão nas coisas do outro, falando mil bobagens, um em cima,
o outro embaixo, num rala e rola nada cristão, numa capoeira de boxe no estilo
Saikieudô.
O pastor, desgovernado, começou a
falar mal da mãe do padre, que não gostou:
— Da minha mãe, a doce Cleonésia Gioconda das
Dores Barra Funda ninguém fala mal não heim?
O pastor, petrificado, parou por
um instante, e pediu com os olhos cheios de água, que ele repetisse o nome da
dita cuja.
O milagre estava consumado!Ambos
eram irmãos, e não se viam a mais de trinta anos!
A vida se encarregou de separá-los
no passado, mas, os uniu naquele momento de tensão, de forma espetacular!
Ambos eram cearenses, advindos do
vilarejo de Coquinhos Morenos, e foram embora dali, ainda jovenzinhos, para
tentar vencer na vida, cada qual em seu ritmo.
Chegaram a conclusão, inclusive,
que eram gêmeos, só não descobriram antes porque, à sua maneira, cada um era
mais feio que o outro!
Dias depois fundaram uma nova
igreja, e seguiram felizes a louvar a Deus.
O meu Senhor é fantástico! Gloria, Glória,
Aleluia! Adonai, xarope anay!
C 78 – SOFIA JÁ FOI UMA
EX-PECADORA? (FASE 4)
Sangue, suor e lágrimas são o que
se espera de um pregador no altar, mas, tem uns que parecem estar com anemia,
assim não dá! Uma pregação é como um show de rock tem que ter adrenalina! Cadê
o carisma, a explosão, a garra, o feeling?
Há dias que até penso em levar
travesseiro e coberta, mas, desisto e ponho os pés pra traz (oro de joelhos),
com a cara no pó, pelos fracos.
PQP! Que mocoronguisse! (Quando
uso a sigla acima não a associo ao palavrão correspondente para mim significa
Perdão, querido Pai, e quando digo FDP Quero dizer Filha do Pai, ok, maldosos infiéis!).
Dia desses, assistindo a um
programa de TV, vi um pastor, que mais parecia um astro de cinema, coisa fina,
bem ao estilo do padre Marceleza, aquele, da outra galera. O fato é que me
apaixonei pela sua mensagem (e por ele!), que sacrilégio, suada, estava
disposta a conhecer aquele homem, digo, aquele servo de Deus, de qualquer
jeito!
E foi o que fiz... Só que me arrependi
profundamente! De perto o cara era um bagaço, e mais, a TV, só o filmava da
cintura para cima porque o cara era um tampinha, ao estilo Nelson Mad! Que
desilusão! Por causa disso a minha fé esfriou, e não sei quando voltarei para a
igreja, seja do tipo católica ou protestante – fraquejei, eu sei, mas, eu sou
humana!
Sou assim mesmo, volúvel se assim
não fosse não seria quem sou!
Até mais...
C 112 – VOCÊ GOSTA DE GALINHA
CAIPIRA?
(União entre os contos 02 e 03)
I
Sou mesmo uma boba... Às vezes tenho
vontade de pensar errado, de falar errado, de agir como se eu fosse um bicho da
roça, esquecer meu lado society, que sou quase formada (tenho uma honra sétima
série do ensino fundamental.)...
Sou cheia de cultura, o esperma da
sabedoria está dentro de mim, não estou para cochinha ou quibe, estou mais para
scargot e caviar...
Comigo ninguém pode...
Decidi usar minha imaginação e
vivenciar as coisas do campo, deu até vontade de comer capim comum e dar um
beijo na boca de uma égua magrela, isso me dá sempre vontade de comer peixe
(quem sabe um Pintado, um Pacu ou um Pirarucu? Pode ser... Tanto faz).
Senti vontade de escrever e falar
errado...
Se for assim, vamos nessa então:
Caipirage inté qui é bão... Qui
tal bebê cachaça e cuspí bem grosso nu chão?Qui tar coçar a periquita cum a
ponta dum facão? Fumá? Só si fô cigarru di paia, e o fumo tem qui sê ruliço e
cheiroso. Êta nóis! Tô com umas coisas garradas na guela... Cumi farofa demais.
Caipira muié também mija sangue,
nóis usa é umas tira de pano limpinho pra sigurá as sangria... Minhas podre
ignorânça só levanta nessas ocasião... Êta ferro! Qui trem chato sô! Larga deu
nojeira!Sô pobre, mas, sô limpinha, num gosto di sujera em excessu...
Sou apaixonada pur criação, meu
leitão é minha paixão, só num gosto dus bichos- de- pé... Si bem qui as coceira
é inté gostosa!
Num gosto é di carrapatu, catá eles é inté
fácil, difícil é istralá eles nus dente... Agora eu vô drumi, o jumento do meu
vizinho tá me esperando pra modi nóis fazê uns trem gostoso...
Ensopado de piranha inclusive, dá
pra nóis, dispois, inté brincá di pescá Truta e cumê umas coisa cremosa
misturadas com uns trem macio e uns trens duro.Óia sê e fazê qui nem eu é uma
diliça, ocês num acha?
II
Mês de junho e julho... Época de
inverno, de festas, de canjica, fogueira e quentão uai!Não tem jeito não, meu
lado caipira aflorou uma vez mais:
Gosto di dançá quadrilha, é danado
de bão! Aprecio o frio batendo nas minhas coisa, mas, ando percisando apará os
cabelo do suvaco e da perseguida... Tô com as unhas rachada...Das frieiras já
cuidei, o povo fala muito... Gostu de galinhas e pacas, na panela de pressão de
preferência...
Não sô muito religiosa, mas, toda
vez que vou às festa junina da vila onde moro acabo sempre ficando com os
bichos jovens, que ficam fantasiados de padres, uns peixim bunito, nóis brinca
do tipo Namorado... É que dá vontade de vê o que é qui tem debaixo daquelas
batina que eles usa.
Gostu muito de caldo, bebu vários,
bem apimentados! Sou apaixonada com eles! É cada mandiocão que eu vejo... Dá
umas ziguezira nas entranha!
Arremato as noitadas cum muito
quentão, dá uma suadeira dentru da carcinha qui é uma diliça!
A prosa tá boa, mas, vô me
retirar, já é hora de drumi... Não tenho marido, mas, tô ajeitada com um
espantalho que fiz... Gostu muito de abraçá-lo, principalmente quando ele
incosta aquele sabugão de milho ni mim, inté riviro os zói...
E pru falá em cumida, óia eu aí de
novo me lembrando dos pe(s) cadores e de suas vara enorme e dus peixão qui eles
traça, óia só a lista grandona qui fiz dos danado:
Surubim, Bicuda, Barbado,
Cachorra, Pacamum, Mantrixã, Piapara, Piraputunga, Trairão, Truta arco-íris,
Bijupirá, Caranha, Cavala, Pampo, Pirapema e Xaréu... Sabe qui é qui acontece
cumigo? Quandu falu ou façu umas peixada cuns parcero meu, nóis brinca de
apelidá uns aos outro dessa nomaiada toda... Inté batizamo umas coisas íntima
qui nóis faiz com us nome dus bichu; nóis ri até inquanto faiz uns trem moiado
na cama, na rede, na varanda, inté nas barraca ou nas casinha de sapé...
Inté mais vê!
C 113 – O QUE
PODE AGRADAR A TODAS AS VÂNIAS E MARIAS? E QUANTO ÀS CELINAS E SOFIAS DESTE
MUNDO?
Quem é Vânia Bento? Uma Brisa do
mar? Uma bruma intensa? Ou um vulcão em erupção? Que sirva para todas as Marias,
Celinas e Sofias deste mundo também...
Vendo tudo acontecer nestes dias,
Assim, tão lenta e sensualmente
Não poderia deixar de dizer que seu ser
Intensamente incendeia
Almas e indivíduos que te conhecem!
Benta mesmo só és no nome,
Enquanto o mundo deixa de ponderar
Não deixo de pensar em você...
Teu corpo é pura magia, lascivo, imponente,
Outra parte de ti, tua mente, é um
delicioso manjar.
Mais do que falar delas quero mesmo
é vê-las face-a-face, só que o ritmo de vida que tais mulheres possuem é tão
intenso que isso acaba inviabilizando encontros futuros; ou não? Vou esperar pra
ver vocês mais de perto, pacientemente, só assim nos falaremos sem restrições
(já percebí que quando falo com essas musas on-line é como se estivéssemos
correndo na fórmula um)... Isso é desgastante e ao mesmo tempo instigante, mas
merecemos muito mais do que o corre-corre doido dessa vida, não é mesmo?
Um alerta, o que digo só vale pra
elas porque são deliciosamente liberais, cada uma a seu próprio modo. Que
possamos saborear as presenças uns do outros com calma, respeito e
disponibilidade de tempo, caso contrário vamos ficar nos falando apenas fria e
tecnicamente pela Internet (acho isso muito pouco, gostamos de fartura não é
mesmo?). Não apreciamos migalhas... Vocês são muito importantes pra que eu
possa ter a companhia de seus corpos e mentes aos pedaços...
Vocês me fazem falta, eu faço
falta pra vocês? Não sei ao certo, vocês são muito enigmáticas... Mas isso faz
parte da natureza das mulheres – dá pra entender um pouco... Não quero vocês
fora de minha vida (que pena, nem mesmo entraram ainda)... Mas eu sou um
sonhador, de ilusão também se vive...
Experiências assim precisam ser partilhadas
pra que todos possam ver e saber quem é quem neste jogo (que é hora racional,
ora passional), o que fazemos e porque fazemos as coisas que fazemos e sentimos.
Espero que o que eu disse possa agradar a todas as “Vânias Bento”, “Marias”,
“Celinas” e “Sofias” deste mundo...
Se não foi desta vez outras
oportunidades virão, sou persistente...
C 114 - PORQUE A SESSÃO DE FOTOS ABSURDAS DE SOFIA
DEU TANTO O QUE FALAR NA INTERNET?
... “Não sei, só sei que foi
assim”... (Parafraseando Chicó, a personagem do maior ator do inigualável filme
brasileiro “O Auto da Compadecida”, Selton Mello, este o maior ator tupiniquim
da atualidade)... Bem, em uma noite excitante de sonhos férteis e imaginações
orgásticas, Sofia acabou tendo no dia
seguinte uma idéia absurda, bem ao estilo do fantástico filme “Sucker Punch”, e
acabou ligando para um grande fotógrafo amigo dela, uma mente profunda e ao
mesmo tempo dócil e humana diante desse mundo raso, chamado carinhosamente por
ela de “Irmão Urso”, não por acaso...
Sessão de fotos marcada e eis que
ela chega ao estúdio dele com um saco de linhagem encardido, cheio de roupas e
apetrechos diversos, naturalmente inusitados. O homem do “Click” lhe disse que
faria seu melhor, mas deixou claro que não faria milagres; algo com o estilo da
magnífica filósofa Viviane Mosé seria impossível, embora talvez pudesse extrair
de Sofia algumas nuances gregas do “eros grego clássico”.
As fotos foram registradas, num
misto trágico-cômico, próprio do modus
operandi do jeito único Sofia Santelly de ser, esta agora numa pretensão a
aspirante a modelo, num visual ultra-mega-impactante. Por exemplo:
FOTO Nº. 01:
Sofia estava de cabelo preso,
tingido ruiva e intensamente com mechas dourado-picantes, óculos de professora
na cara, blazer preto e saia bege (num
tom cor de burro fugido) curta, cheia de bolinhas roxas e rosas, com alguns
exemplares da exótica, oriental e comestível flor Kalina no cabelo, nas mãos, e
espalhadas pelo chão... Deitou-se em um divã, tendo colocado ao fundo um pôster
da banda Rammstein de pé sobre o nome de um de seus vídeo-clipes, “Pussy”. Ao
seu redor havia um série de brinquedos tais como um patinho de borracha, um
porco grande, acinzentado e inflável, algumas velas de macumba, um crachá com
sua foto de uma empresa não identificada, alguns diários de classe de uma
escola também não identificada, além de uma Naja de verdade enrolada em seu braço
direito.
FOTO Nº. 02 (com desdobramentos):
Sofia estava de cabelo solto,
gostosa como sua musa inspiradora, a atriz Cláudia Raia (ou seria Cráudia
Celinatte?)... Usava apenas uma micro calcinha preta com lacinhos verdes,
amarelos e azuis nas laterais. Seus dedos centrais cobriam muito pouco os bicos
de seus seios GG; ela estava sentada em uma cadeira vermelha, levemente
arredondada. Só que, sentindo uma intensa indecisão ânus- vaginal preferiu
tirar várias fotos, ora na cadeira, de lado, com as pernas cruzadas, ora de
frente, com as pernas abertas.
Não satisfeita ainda retirou a
cadeira do cenário e pediu pra ser fotografada em outras posições... De pé
(usando um sapato de salto alaranjado, com as pernas outra vez abertas e com as
mãos na cintura), de quatro (olhando sensualmente pra traz e chupando o dedo
central, com a calcinha enfiada no fiofó, até o talo) e sentada no chão de
pernas arreganhadas (usando uma toca alvi-negra de seu time predileto, o Clube
Atlético Mineiro), tendo posto na boca uma chupeta preta, segurava numa mão um
vibrador marron extra-grande e na outra um sapinho verde de pelúcia).
Fim do causo:
Sofia foi ao banheiro, retirou
toda a maquiagem glacê-puta que estava usando, trocou de roupa, guardou suas
coisas no saco e pediu que o fotógrafo postasse tudo no Orkut profissional que
ele usa pra divulgar seus trabalhos na internet, marcou de pagar pelos serviços
prestados com seu bichinho peludo, chamou um táxi, e assim que ele chegou ela
se mandou... Detalhe: Ela não percebeu, mas era inevitável que ele a
fotografasse da forma que ela estava vestida antes de ir embora: usava um
pijama verde com coelhinhos brancos estampados, em um pé calçava uma pantufa
fofa vermelho-sangue, no outro usava uma sandália desgastada marrom, estilo
Maria Bonita/Maria Betânia Blogger.
Dizem que depois de postadas as
fotos bombaram na internet, muitos disseram que ela conseguiu superar até
mesmo as extravagâncias de Lady Gaga
(afinal o tal fotógrafo postou tudo o que capturou de Sofia, mesmo as da
tal despedida. Sofia quando viu não se
importou com toda aquela desgraceira fotográfico – experimental - esquizóide
pelo qual passou naquele dia quente de abril de 2011),na verdade foi bem melhor
do que imaginou.
C 115 - ZECA PAGODINHO TEVE UM CASO VIRTUAL COM SOFIA?
Essa
frase está muito conectada com o que ela pensa da vida, do ser humano em si;
tem dias que muitas pessoas sentem vontade de nada entender mesmo. É da
natureza humana achar que entende as coisas, quando percebe que não consegue se
cança e vive sem querer desvendar o que está além de sua compreensão...
Sofia só queria mesmo
pensar em si própria como sendo um luminoso pedaço de luz, uma energética força
mineira ou carioca (tanto faz)... Carente fica às vezes, mas nega até a morte
tal trololó, pois, dentro dela está uma coisa que entrou sem ter pedido para
entrar... Tudo e nada ela é, estranho devaneio bom, rara beleza distante,
realidade virtual e misteriosa ansiedade, raiva e prazer provocam nela
necessidade e contingência (puro paradoxo), pura ilusão platônica, onda do mar
que afoga e satisfaz, algo bento só no nome –
intenso fogo voraz!
E o que o tal pagodeiro
tem a ver com isso? Sofia não sabe direito, nem quer saber, afinal o que
importa é o batuque que a falta de seu batuque dá... E nisso o cara é bom, pois ela teve um caso
virtual com ele com direito a muito samba no pé, torresmo, sinuca, cerveja e
cachaça on-line... Difícil de entender, mas foi algo mais ou menos assim a quase relação dos dois:
Mais do que falar com ele ela queria
vê-lo pessoalmente, só que seu ritmo de vida é tão intenso que o dito cujo
sempre acabava inviabilizando os possíveis encontros entre os dois... Sofia
queria mesmo era ter o prazer de mostrar-lhe seu pandeirão cara – a – cara
pacientemente, só assim sentiriam coisas sambísticas sem restrições (Sofia
pensou e percebeu que só se falavam ao celular como se estivessem correndo na
fórmula 1)... Isso era desgastante por demais para os dois, eles mereciam muito
mais do que o corre – corre doido dessa vida desgraçada... Que ao menos
pudessem saborear a presença um do outro com calma, respeito e disponibilidade
de tempo, caso contrário ficariam só se falando apenas fria e tecnicamente pela
Internet (ela achava acho isso muito pouco, pois, ela e ele gostam de fartura
não é mesmo?). Não apreciam migalhas (ele acabou se tornando muito importante
para que ela pudesse ter sua companhia aos pedaços)...
Se o ser humano é assim, então já era hora de parar de chamar os outros de “amigo”,
seria preciso inventar outro nome para tanta requebrança... Zeca parecia estar
mais amargo do que imaginava, seu modo de colocar todo mundo no mesmo balaio deveria
ser motivo de muita oração com apito e zabumba... Parecia que o mundo dele era cheio
de gente esquisita e que só queria ferrá-lo, e os justos que o cercavam acabavam
pagando pelos pecadores... Ela até pensou em voltar para a igreja por causa
disso, mas desistiu na primeira hora, pensou que ser evangélica faria as
pessoas serem mais amorosas consigo, embora não precisassem ser tolas... Ela se
aprumou, levantou a cabeça (tem muita gente que gosta dela além do Zeca! E de graça...
E quanto aos imbecis? Sofia os descartou, não ficou jogando pérolas aos
porcos)...
As palavras dele parecem ter sido
retiradas de livrinhos de auto-ajuda... E isso não é mais impactante nem positivo, só que Sofia sentia muita falta
dele, que falta ela fazia para ele? Vai saber... Ficar só teclando no
computador era desgastante... Ele e ela estavam já estavam entrando naquele
estágio de ficar “rangendo os dentes” um para o outro faz tempo, dá para
explicar porquê? Saudade enrustida ou vontade de dar pancada verbal mesmo?
Sofia não o queria fora de sua vida, ele era importante
demais para efêmero ser feminino... Já não o chamava mais de “meu amor”, mas também
não ficou lhe chamando de “amigo”... Zeca
estava para além dos rótulos... Qualquer coisa que ela dissesse seria pouco para
definir o que sentia por ele... Tem mais, se às vezes sentia raiva dele, e isso
até que era positivíssimo, Sofia não sente
raiva de quem odeia, gente assim ela despreza...
Só que Zeca precisava parar de ficar
fugindo dela! “Ou É ou deixa de É”...
Ela então, num rompante de
doideira e lucidez decidiu deletá-lo de vez de sua vida internética, mandou ele
para o inferno de vez! Não só ele como também o falso deus dele. Ela odeia
gente hipócrita que usa “Deus” como brinquedo, que acende uma vela para “Ele” e
outra para o Diabo!
O tempo curaria suas feridas, essa
história foi tão marcante para ela que, levando em consideração seu lado escritora,
decidiu postar essa quase história de amor via Internet... Zequinha baby do meu coração, aprenda com a
lição que tomou a respeitar mais os sentimentos dos outros e não faça a mais
ninguém de palhaço, ok?
C 116 -
CHORA, ME LIGA
(Música de João Bosco e
Vinícius)
(FILOSOFA, ME LIGA) -
Paródia nº. 01
Não era pra “ocê”
se afundar
Era só KANT estudar
Eu te avisei!
ESPINOSA eu te dei
Era só KANT estudar
Eu te avisei!
ESPINOSA eu te dei
“Ocê” sabia
que DAVIDSON é assim
PLATÃO: suas idéias sem começo nem fim
PLATÃO: suas idéias sem começo nem fim
Eu te falei,
do RORTY eu te falei
MARX não é
tão fácil assim ou
GASSET ter nas mãos
LÓGOS “ocê” que era acostumada
A brincar com ROUSSEAU em seu coração
GASSET ter nas mãos
LÓGOS “ocê” que era acostumada
A brincar com ROUSSEAU em seu coração
Não venha me
perguntar
Se JAMES é a melhor pedida
Se JAMES é a melhor pedida
HANNA sofreu
muito por amor
HEIDEGGER
foi curtir a vida
Chora, me
liga, implora
HOMERO de novo
Me pede ESPINOSA
LEIBNIZ vai
te salvar?
Chora, me
liga, implora
PARMÊNIDES
meu amor
SÓCRATES por
favor
Quem sabe TALES volte a te procurar
Quem sabe TALES volte a te procurar
Era “procê” com BRUNO “xonar”
Era só HERÁCLITO
ficar
Eu te
avisei!
VOLTAIRE eu
te dei
“Ocê” sabia
que AGOSTINHO é assim
ARISTÓTELES
e sua LÓGICA que não tem fim
Eu te falei do
ROUSSEAU eu te falei
TOMÁS não é
tão fácil assim
Ter ADORNO nas mãos
LÓGOS “ocê” que
era acostumada
A brincar
com SARTRE em seu coração
Não venha PASCAL
perguntar
Se STRAUSS é
a melhor pedida
ODISSEU sofreu
muito meu amor
EPICURO foi curtir
a vida
Chora, me
liga, implora
Meu NIETZSCHE
de novo
Me pede ERASMO
MONTAIGNE
vai te salvar?
Chora, me
liga, implora
Pelo amor de
ZEUS
PÉRICLES por
favor
Quem sabe JASPERS
volte a te procurar
Chora, me liga,
implora
DESCARTES de
novo
Me pede
“seu” HOBBES
PITÁGORAS vai
te salvar?
Chora, me
liga, implora
Pelo amor de
ZEUS
Pede GALILEU
Pede GALILEU
Quem sabe HUME
volte a te procurar
25-07-11
C117 - VOU SIM, VOU NÃO
(Música do
grupo Molejo)
(VOU SIM OU NÃO?) -
Paródia nº. 02
EI,
TU QUER SABER?
QUERO NÃO
NÃO QUER POR QUÊ?
POR NADA NÃO
TU QUER FORMAR?
ÃH,
ÃH...
NÃO QUER POR QUÊ?
VOU NÃO, QUERO NÃO, POSSO NÃO
“MINHAS IDÉIA” DEIXA NÃO
NÃO
VOU NÃO, ASSIM TÁ BÃO...
EI, SEU “CALANGO”, “VAMO ACORDÁ”?
“SIMULADÃO”!!!, PASSO AI PRA TE PEGÁ...
LIBERADÃO...
VAMO ESTUDÁ!
VAI COM VONTADE QUE
VAI COM VONTADE QUE
ESTUDO
VAI ROLAR...
VOU NÃO, QUERO NÃO. POSSO NÃO,
“MINHAS IDÉIA” DEIXA NÃO,
NÃO
VOU NÃO, ASSIM TÁ BÃO...
EI, TEM AS “MATÉRIA”...
“VAMO
AVANÇÁ”...
A
GENTE TEM AULA PARTICULÁ”...
AH,
QUAL É, HEIM?!
QUER
ME “ENDOIDAR”...
SE EU FOR MINHA IDÉIA VAI “APAGÁ”...
SE EU FOR MINHA IDÉIA VAI “APAGÁ”...
VOU NÃO, QUERO NÃO, POSSO NÃO,
“MINHAS IDÉIA” DEIXA NÃO
NÃO
VOU NÃO, ASSIM TÁ BÃO...
- É, PELO JEITO BARCO NOVO
- É, PELO JEITO BARCO NOVO
QUE
NUM NAVEGA, AFUNDA...
-
POIS É, NEM SÔ “RETARDADO”,
SOU
APENAS “MIGUÉ”, NÉ?!
FICO
NA MINHA,
QUIETINHO
ALI, TÁ?
PERGUNTA
PRA MIM:
EI, TU “QUÉ VENCÊ”?
EI, TU “QUÉ VENCÊ”?
QUERO
SIM...
“QUÉ SÊ O QUÊ?
UM
“GRÃO-VIZIR”...
TU
QUÉ FORMÁ?
QUERO
SIM...
FORMAR
PRA QUE?
AHHHH...
VOU SIM, QUERO SIM, POSSO SIM,
“MINHAS IDÉIA” DIZ QUE SIM,
EU
VOU SIM, QUERO SIM...
EI, SÔ MALANDRO, SEM PROFISSÃO,
SEM
PRESSÃO, EU SÓ QUERO PASSEÁ...
SÔ
“PARADÃO”... PRÁ QUÊ PENSÁ?
VAI
A VONTADE QUE TUA VIDA VAI MUDAR...
VOU SIM, QUERO SIM, POSSO SIM,
“MINHAS IDÉIA” DIZ QUE SIM,
EU
VOU SIM, QUERO SIM...
EI,
TEM “MIL MATÉRIA”...
“VÔ
ME ACABÁ”...
A
GENTE NUM LEVA JEITO,
NUM
DÁ PRA GUENTÁ”...
QUAL É? VAMO FIRMAR...
TÔ
CALIBRADO E PREPARADO, “VÔ ME LANÇÁ”...
VOU SIM, QUERO SIM, POSSO SIM,
“MINHAS IDÉIA” DIZ QUE SIM,
EU
VOU SIM, QUERO SIM...
E “OCÊ?
VOU NÃO, QUERO NÃO, POSSO NÃO,
E “OCÊ?
VOU NÃO, QUERO NÃO, POSSO NÃO,
“MINHAS IDÉIA” DEIXA NÃO,
NÃO
VOU NÃO, ASSIM TÁ BÃO...
VOU SIM, QUERO SIM, POSSO SIM,
VOU SIM, QUERO SIM, POSSO SIM,
“MINHAS IDÉIA” DIZ QUE SIM
EU
VOU SIM, QUERO SIM...
É, O TREM TÁ FEIO...
“PROCÊ”
É TUDO NÃO,
TÁ
COM DEFEITO?
PRA MIM COMPLICA
TU
BEM, SABE QUE EU SÔ
“MEI
TAPADIM”, NÉ?!
NUM
LEVO JEITO...
TSHIII
HÓ HÓÓ...
SÓ
QUE POR MIM ESTUDO SIM!
01/08/11
C 118 – METEORO
(Música de Luan Santana)
(“METEU O DEDO” NA RAZÃO) – PARÓDIA N. 03
TE DEI O SOL
“INTÉ” BEM MAIS,
CÊ SÓ GANHOU UM BARRIGÃO...
CÊ ERROU MEU CIDADÃO
“METEU O DEDO” NA RAZÃO
EXPLODIU O SENTIMENTO,
NINGUÉM PÔDE ACREDITAR!
AAAHH...
COMO É RUIM CÊ VACILAR...
DEPOIS QUE “OCÊ” DESISTIU
NUM FOI MAIS FELIZ...
NEM SUA CABEÇA TAMBÉM É O QUE SE DIZ,
É UMA CAIXA DE “BEBÊ” SEM FIM,
VOSSO QUEBRA-CABEÇA É ASSIM:
SE FOR SONHO NUM SACODE,
SE FOR SONHO NUM SACODE,
PRECISAVA “INTÉ” FUMAR?
PARA COM ESSA MACONHA!
CONTINUA A ZOAR...
NEM GIRASSOL
NEM BEIRA-MAR VAI TE DAR A TAL RAZÃO,
MAS QUE RAIO DE MALDADE!
“METEU O DEDO” NA RAZÃO
EXPLODIU SEU SENTIMENTO,
NINGUÉM PÔDE ACREDITAR!
AAAHH...
COMO É RUIM CÊ VACILAR...
DEPOIS QUE “OCÊ” DESISTIU,
NUM FOI MAIS FELIZ...
“OCÊ” ERRA ONDE NEM SEMPRE SE QUIZ...
AQUELES “TARJA PRETA” TAMBÉM USOU,
DESOSSOU SUA CABEÇA BEM ASSIM...
NEM SANFONA TE ACORDOU...
DESANDOU A “CHEIRAR”...
NEM CONSEGUE MAIS DANÇAR...
TE DEI UM SAL,
TE DEI MARMITA
PRA GANHAR COLORAÇÃO,
VOCÊ RASGOU A SANIDADE,
“METEU O DEDO” NA RAZÃO
EXPLOSÃO DE PALIDEZ
QUE EU NEM PUDE ACREDITAR!
AAAHH...
COMO ERA BÃO “OCÊ” PENSAR,
TÃO SEM VOZ QUANTO URUBU,
NUM SÓ VERSO VIAJOU,
VAI SEM GUIA E SEM LUZ,
QUE É ISSO? DESGARREI!
TÁ SEM O SOL
TÁ SEM AMOR PRA GANHAR MEU CORAÇÃO,
“OCÊ É
RAIO DE VAIDADE,
“METEU O DEDO” NA RAZÃO
EXPLOSÃO DE ESTUPIDEZ
QUE EU NEM PUDE ACREDITAR!
AAAHHH...
COMO É RUIM NÃO PENSAR...
06/08/2011
C 119 – ENGANATION – PARÓDIA N. 04
(Rebolation
- Música do Parangolé)
AÍ NÓIS TE ENGAMBELA, PASSANDO O FACÃO:
IGNORATION É
A NOVA SENSAÇÃO!
MENINO E
MENINA, SÓ FICAM POR FORA,
VAI COMEÇAR
A ENGANAÇÃO...
O SUÍNO É
BOM, GOSTOSO DIMAIS...
MULHERES-SERPENTE
E HOMENS-VULCABRÁS...
MÃE, AI
MINHA CABEÇA, VOU VOMITAR!
REBOBINATION
DE BATON! TON!
BOSTA NA
CABEÇA E VALSA NO ARRAIÁ...
O DETONATION, O EMBROMATION…
O REUMATATION, TCHON, MISERATION!
O ESJACULATION, TCHON, O SUTIATION…
O BESTALATION, TCHON, IMAGINATION…
SORVETE SÉMPRE É KIBON! BON!
SAFADATION É
BÃO! BÃO! BÃO!
DESINFORMATION
É BUNDÃO! BÃO!
SE OCÊ FIZÉ
FICA PIOR...
MÃO NA
CARNIÇA QUE VAI AFUNDAR...
O REUMATATION, O DESMAIATION...
O MASTURBATION TCHON, DETURPATION…
O CEBOLATION, TCHON, O LIMONATION…
O RESGATATION, TCHON, RETRUCATION…
INFLAMATION
É BÃO! BÃO!
REFUSCATION
É BÃO! BÃO! BÃO!
ARÔ MINHA
CANELA PREGA A TENSÃO:
REBOSTATION É A NOVA SEM SAL SOM!
REBOSTATION É A NOVA SEM SAL SOM!
MEU LIMO,
MELINA NÃO FISGA DE FOLGA,
QUE VAI TOMÁ
UM PANCADÃO
SANDUICHE É
BOM? GOSTOSO É MAIS...
MUCAMBAS DE
TANGA TEM HOMI QUI ATRAI
BESTA DE MÃE
NA CABEÇA SE O PAI CAFUNGAR
O PINGOLATION, TCHON, O
CHINELATION...
O REBOLA-TCHAN, TCHON,
RECALCITRATION…
O CABRITATION, TCHON, O MACUMBATION…
O MENSTRUATION, MISTURATION…
ENCAFIFATION
É BÃO! BÃO!
INTORTATION
É BÃO! BÃO!
CERVEJATION
É BÃO! BÃO!
SE OCÊ FIZÉ
FICA MAIOR...
BOMBA NA MÃO
NA CABEÇA QUE VAI ESTORÁR
O REFORMATION, TCHON, O MAQUINATION…
OUROPRETATION, MARIANATION…
BELZONTATION, O MINERATION…
O REVOLTATION, RESGUARDATION…
VAI NO HOSPITATION, NO
REMASTIGATION…
NO CAPETATION, TCHON, RELIGIATION…
O JANELATION, TCHON, O LUCASNATION…
O DETRONATION, TCHON, RESBOLATION…
SAFADATION É
BÃO! BÃO!
ORGASMATION
É BÃO! BÃO! BÃO!
MORTIFICATION
É BÃO! BÃO!
ROBERTATION
É BÃO! BÃO!
ERASMATION É
BÃO! BÃO!
CALCIFICATION
É BÃO! BÃO!
O ENGANATION
É BÃO!