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PARE E PENSE:

sábado, 10 de março de 2012

CONTOS ESQUIZÓIDES - Sofia Santelly Show


CONTOS ESQUIZÓIDES
(Sofia Santelly Show)
#1 – MENSTRUAÇÃO FAZ BEM OU MAL À SAÚDE?
— Amanheci assim, com vontade de falar de meus devaneios e memórias, e, desde já admito... Estou em crise, e pergunto:
O que é capaz de me inspirar? O que é capaz de me contaminar? O que (ou quem) conspira contra mim? Quando a ameaça vem de fora é ruim... Pior mesmo é quando vem de dentro (do meu útero, por exemplo), algo assim, volumoso, doidivano, com disposição para fazer de mim o que bem quer, com agilidade para fazer e acontecer... A vitima? Eu mesma... Sofia Santelly.
Ainda ontem, voltando das compras quase enlouqueci, tomei um escorregão daqueles!
Minhas sacolas caíram no chão, foi só laranja que rolou! Tentaram me ajudar, foi um dantesco corre-corre danado, catei laranja daqui, catei laranja de lá, xinguei até ficar vermelha, desfaleci, sentei no chão e berrei como uma cabrita tratei mal a um transeunte que quis me entregar algumas laranjas que conseguiu resgatar em meio a toda aquela confusão... Quem mandou ele falar comigo?
Fiquei ali, parada por cinqüenta e sete minutos, nervosa, zonza, confusa... Depois, mais serena, fui para casa, não sem antes picar o pé na sacola.
Aqui estou, em meu barraco, de barbeador em punho, quero acertar as contas comigo, de hoje não passa!
Quero extrair de mim, à força, esses horríveis pêlos indesejáveis... Que o processo seja no estilo tosquia de ovelha felpuda, sei que não sou desse naipe, estou mais para corvo ou gralha...
Nem tantos pêlos assim eu tenho, é que sou meio exagerada. Minhas tendências obscuras precisam ser extirpadas, quero tosquiá-las, arrancá-las de mim (estou viajando na maionese)...
Bem, existem alguns problemas... Primeiro, elas não me abandonarão com uma simples depenada... Segundo, tendências, digo, pêlos nascem novamente... Que vou fazer? (Uma faca é avistada... De posse dela a jovem destrambelhada retorna à cena do possível crime).
Agora não tem jeito eu tô numa cilada... Só tenho eu por mim (contra mim) e mais nada, huuummm... Eu quero morrer como eu quero! (só parafraseando o grupo oitentista Kid Abelha para tomar coragem)... Vou arrancar minha própria pele! Vou desfigurar meu corpo! (O barbeador é lançado ao chão repentinamente, com força, já não serve mais para consumar o ato masoquista e selvagem, a faca é a opção escolhida) mas, eis que surge um momento de hesitação:
O que é que eu tô fazendo? Por um instante quase ponho tudo a perder! Esse meu rostinho lindo, de miss, precisa ser preservado! Tudo bem que em meu dia-a-dia uso diversas máscaras, tenho muitas personalidades, cada uma mais charmosa que a outra, sem elas fica difícil dar meus shows shakespereanos... Fica difícil me deitar no divã com Freud... Como poderei representar Jackyl & Hide ou Rapunzel assim?Como ser Hitler ou dar uma de Madre Teresa de Calcutá? Não é fácil ser quem eu sou... Só eu sei a delicia e a dor de ser assim, versátil...
Todo mês é assim, a mesma coisa! Minha depressão aflora; meu lado senhora se esvai quando estou de TPM, meu lado Aristóteles se transforma em Nietzsche, fico menos serena...
(Após um rápido corre-corre Sofia finalmente encontrou seu absorvente, e a tão preciosa paz voltou àquele lar).
Lenta e escarlate conclusão:
— Em tempos de sangria fico mais convulsiva, fico doida mesmo, quando tô nervosa atiro primeiro e pergunto depois.
Onde foi que eu deixei o meu absorvente mesmo? Não consigo encontrá-lo!Sem ele eu fico pelada e sem rumo, o que é que eu vou fazer?
Acho que minha menstruação desceu...
(Após um rápido corre-corre ela encontrou novamente o seu absorvente, e a tão preciosa paz voltou àquele lar).
 Ela estava mais lúcida agora, antes não estava conseguindo nem pensar direito, continuou, porém a dialogar consigo mesma:
— Que dia é hoje mesmo? Dois de novembro... Dia dos mortos segundo os religiosos... (Alguém muito importante para mim nasceu nessa data, mas, não consigo me lembrar quem é, quer saber? Que se dane, tanto faz), se bem que é muita coincidência, eu tinha que menstruar logo hoje?
 Em determinados dias costumo amanhecer poeta, hoje fiquei com vontade de acabar com tudo, de enfiar o pé na jaca, logo eu, que sou tão doce e meiga!
Não gosto de cemitério, não gosto de flores, não gosto de defuntos, não gosto desse negócio de céu, purgatório ou inferno... Eu mereço! Eu aqui, toda calminha e pronto, sempre surge alguma coisa para me tirar do sério!
Eu tinha que pensar em defuntos logo hoje? Nesse mato tem Carcará! (Depois de confabular consigo mesma e descobrir que não havia nada de anormal em seu lar, exceto ela mesma, deu vários berros, rodopiou, caiu no chão e bateu a cabeça na parede, desmaiando desengonçadamente a seguir – só assim deu sossego a si mesma).
Ter uma crise atrás da outra não é para qualquer mulher não!

 C 02 – VOCÊ GOSTA DE GALINHA CAIPIRA? (Este conto foi unificado ao de 03, ambos agora fazem parte do conto 112)
Sou mesmo uma boba...
Às vezes tenho vontade de pensar errado, de falar errado, de agir como se eu fosse um bicho da roça, esquecer meu lado society, que sou quase formada (tenho uma honra sétima série do ensino fundamental.)...
Sou cheia de cultura, o esperma da sabedoria está dentro de mim, não estou para cochinha ou quibe, estou mais para scargot e caviar...
Comigo ninguém pode...
Decidi usar minha imaginação e vivenciar as coisas do campo, deu até vontade de comer capim comum e dar um beijo na boca de uma égua magrela, isso me dá sempre vontade de comer peixe (quem sabe um Pintado, um Pacu ou um Pirarucu? Pode ser... Tanto faz).
Senti vontade de escrever e falar errado...
Se for assim, vamos nessa então:
Caipirage inté qui é bão... Qui tal bebê cachaça e cuspí bem grosso nu chão?Qui tar coçar a periquita cum a ponta dum facão? Fumá? Só si fô cigarru di paia, e o fumo tem qui sê ruliço e cheiroso. Êta nóis! Tô com umas coisas garradas na guela... Cumi farofa demais.
Caipira muié também mija sangue, nóis usa é umas tira de pano limpinho pra sigurá as sangria... Minhas podre ignorânça só levanta nessas ocasião... Êta ferro! Qui trem chato sô! Larga deu nojeira!Sô pobre, mas, sô limpinha, num gosto di sujera em excessu...
Sou apaixonada pur criação, meu leitão é minha paixão, só num gosto dus bichos- de- pé... Si bem qui as coceira é inté gostosa!
 Num gosto é di carrapatu, catá eles é inté fácil, difícil é istralá eles nus dente... Agora eu vô drumi, o jumento do meu vizinho tá me esperando pra modi nóis fazê uns trem gostoso...
Ensopado de piranha inclusive, dá pra nóis, dispois, inté brincá di pescá Truta e cumê umas coisa cremosa misturadas com uns trem macio e uns trens duro.Óia sê e fazê qui nem eu é uma diliça, ocês num acha?

 C 03 – VOCÊ GOSTA DE GALINHA CAIPIRA? (Este conto foi unificado ao de 02, ambos agora fazem parte do conto 112)
Mês de junho e julho... Época de inverno, de festas, de canjica, fogueira e quentão uai!Não tem jeito não, meu lado caipira aflorou uma vez mais:
Gosto di dançá quadrilha, é danado de bão! Aprecio o frio batendo nas minhas coisa, mas, ando percisando apará os cabelo do suvaco e da perseguida... Tô com as unhas rachada...Das frieiras já cuidei, o povo fala muito... Gostu de galinhas e pacas, na panela de pressão de preferência...
Não sô muito religiosa, mas, toda vez que vou às festa junina da vila onde moro acabo sempre ficando com os bichos jovens, que ficam fantasiados de padres, uns peixim bunito, nóis brinca do tipo Namorado... É que dá vontade de vê o que é qui tem debaixo daquelas batina que eles usa.
Gostu muito de caldo, bebu vários, bem apimentados! Sou apaixonada com eles! É cada mandiocão que eu vejo... Dá umas ziguezira nas entranha!
Arremato as noitadas cum muito quentão, dá uma suadeira dentru da carcinha qui é uma diliça!
A prosa tá boa, mas, vô me retirar, já é hora de drumi... Não tenho marido, mas, tô ajeitada com um espantalho que fiz... Gostu muito de abraçá-lo, principalmente quando ele incosta aquele sabugão de milho ni mim, inté riviro os zói...
E pru falá em cumida, óia eu aí de novo me lembrando dos pe(s) cadores e de suas vara enorme e dus peixão qui eles traça, óia só a lista grandona qui fiz dos danado:
Surubim, Bicuda, Barbado, Cachorra, Pacamum, Mantrixã, Piapara, Piraputunga, Trairão, Truta arco-íris, Bijupirá, Caranha, Cavala, Pampo, Pirapema e Xaréu... Sabe qui é qui acontece cumigo? Quandu falu ou façu umas peixada cuns parcero meu, nóis brinca de apelidá uns aos outro dessa nomaiada toda... Inté batizamo umas coisas íntima qui nóis faiz com us nome dus bichu; nóis ri até inquanto faiz uns trem moiado na cama, na rede, na varanda, inté nas barraca ou nas casinha de sapé...
Inté mais vê!

 C 04 – SUA VAIDADE É EXCESSIVAMENTE NOJENTA?
Não me levem a mal... Eu me amo demais, reservo mim as primícias, sou exagerada na distribuição dos meus afetos por mim... Se eu não me amasse tanto assim como poderia gostar dos outros? Sim... Eu também sei filosofar!
Eu não me idolatro, só não vou fingir que não penso em esculpir uma imagem de mim mesma para que eu fique a me venerar, gosto de me admirar, sou vaidosa sim, sou, como dizia Parmênides (o filósofo grego) a medida de todas as coisas... Seria uma idiotice desperdiçar tanta formosura.
Lembro-me de quando comprei um espelho grande, oval, cheio de detalhes exóticos, um luxo!
 Quando ele chegou nem acreditei, fiquei horas estudando todos os meus ângulos, mas, minha alegria durou pouco, uma pedra, vinda não sei de onde, atravessou a janela e detonou meu precioso espelho! Que tragédia!
Descabelei-me toda, corri até a rua, mas não vi ninguém, sentei no meio-fio e desandei chorar – fiquei cinqüenta e sete minutos em estado de choque, na seqüência fui até a casa da minha vizinha, dona Andróbia, expliquei o que houve, pedi que arrumasse a bagunça na minha casa e, assim que lhe entreguei as chaves saí sem rumo pelas ruas da vila Fogaréu, onde moro, um lugar muito doido...
Dias depois comprei um outro espelho, dessa vez bem mais simples do que o outro não, não foi a minha vaidade que se acomodou, foi meu dinheiro, que encurtou, e, além do mais não posso deixar de retocar minha maquiagem, e tem mais, ainda não consegui deixar de jogar beijinhos para mim – esse meu espelho é mesmo lindo!

C 05 – CERTAS FALSIDADES SE EXTENDEM ÀS MANICURES?
Falsidade é como vidro lapidado, pode até parecer diamante, mas, tem pouquíssimo valor real – quis fazer uma média com um namoradinho meu e me dei mal, ele me pediu para ir com ele até sua casa, queria me apresentar sua mãe, eu, fingi do gostar da idéia, concordei (só por concordar), eu não queria ir, mas ele disse:
— Então tá (tirou as mãos de dentro de mim e me fez largar o cigarro que eu estava segurando dele). Limpei meus lábios com uma toalhinha que ele tirou do porta-luvas do seu carro, um Chevette 77; ele penteou seu cabelo e devolveu minha blusa de frio e minha calcinha amarrotada, que estava jogada no banco traseiro daquela furreca amarela.
Seguimos então em direção à casa da velha, digo, da mãe dele.
No caminho ele me disse coisas lindas, estava até pensando em se casar comigo (é ruim heim?!). Eu, por via das dúvidas, pedi a ele que me desse logo o meu dinheiro (não, eu não estava fazendo programa, é que ele já estava mesmo me devendo uma grana a um tempão, sou muito esquecida e não quis me arriscar).
Chegando lá, cinqüenta e sete minutos depois, descemos, ele foi à frente, para abrir a porta, e adentrou no velho barracão, chamando por sua mamãe, virou-se para mim e disse que eu ficasse à vontade, que já-já voltaria... Não me fiz de rogada, peguei um CD, liguei o som e comecei a ouvir uma música qualquer, enquanto analisava o conteúdo da sala (poderia haver ali alguma coisa para afanar, digo, afagar, não é mesmo?).
            Fiquei toda arrepiada quando ele trouxe a coroa pela mão, ela também ficou branca que nem cera, tonteou quando me viu, respirou fundo, e numa fração de segundos já estava com as unhas cravadas na minha garganta, já foi logo berrando:
— Mundo pequeno em sua vagabunda! Paga! Paga agora o que você ficou me devendo lá no salão de beleza! Sua cadela sem-vergonha!
 Eu rolei com ela pelo chão e disse que não tinha dinheiro suficiente para quitar tudo, pois estava desempregada...
O rapaz, sem entender nada, e desesperado, tentava nos separar; consegui sair debaixo dela e desci ladeira abaixo, entre correndo e rolando, e sumi na primeira esquina.
Ficar devendo não é fácil, principalmente para manicuras com memória de elefante!

C 06 – VOCÊ FICA DOIDO QUANDO BEBE?
(Os “provérbios” de Sofia, alcoolizada) ou (Em prol da Neurose Filosófica)
De gole em gole, de torresmo em torresmo, Sofia quando fica embriagada sabe ser verborrágica, digo, filosófica como ninguém.
Vejamos algumas pérolas de sua mente brilhante...
1 – Se alguém fizer feito foi, se ninguém fizer ninguém que há de vir.
2 – Se tiver que ser... Cereja!
3 – As substituições intuem diferenças entre si mesmas.
4 – O que não foi superado, superstição ainda é, e será enquanto for assim.
5 – Tudo posso se alguém me empresta... Tudo devo, e um pouco mais, por causa disso.
6 – Se doer é porque houve dor.
Paranóias sem céu e sem véu! Trevas! Escarcéu! Pobres formas foscas! Pobres formas tortas! Minhas lamas e minhas alvinegras banhas! Podre é o meu pensar! Podre é o meu andar, algo assim rastejante... Sabe o que é? Acordei de mau humor...
7 – Podres ignorâncias! Podres tardes de sábado! Podres noites de sexta! Podres nóias!
8 – Sou patologicamente saudável, sou organicamente úmida e única, sei representar muito bem!sou algo assim esquizóide... Razões aristotélicas... Saliva e gazes.
9 – Finalmente triunfei, aqui estou, poderosa e descartável – quem sou? Meu nome é Sofia, qual é minha função? Filosofar! Sou assim, doidivana, mas sou intestinalmente sábia.
10 – Se conseqüências houver é porque algo ocorreu – ou deu certo ou deu errado.
11– Desde quando haverá se não houver quem possa?
12 – Nunca é tarde para que nunca seja!
13 – Antes tarde do que nunca, antes torto que rasgado, antes faltar um pedaço do que nada ter! Se nunca mais, sinuca antes!
14– Desde sempre pouco se soube, desde nunca muito pouco é sempre muito, se há ignorância é porque há mesmo!
15 – Nem todo pretexto procede, nem todo contexto condiz.
16 – Se utopias houver, ornamentadas ficarão as ilusões... Se a mente entorpecida ficar, mentiras e tremores hão de se juntar à meleca resultante.
17 – Se óbvio for é porque tinha que ser mesmo, algo assim pálido e sem consistências maiores, mas, ainda assim verdadeiro.
18 – Andai com os bons e serás um gostoso!
19 – Se estiver podre, perfumado como talco há de deixar de estar...
20 – Andai com os porcos se quiserdes, mas, não terás direito à toalha e sabão.
21 – Uva-passa, desaforo não.
22 –Toco torto e fosco toca fogo em foca tonta, mesmo se a touca for pouca e frouxa; não haverá salvação.
23 – Tudo o que já me deram podem não ter para me da outra vez.
24 – Nem tudo o que reluz seduz, nem ao âmago conduz.
25 – Dai-me, se me deres terei, se não me deres, tomarei.
26 – Se assim for, que seja... Que esteja por ai, sem peleja, que pelo menos sertanejo não.
27 – Alguns mais do que outros, são menos do que imaginam ser, outros são mais do que gostariam.
28 – Uma vez nunca poderá ser duas, se duas houver, três é que não será.
29 – Se houver gritos é porque não houve falas, se houver sussurro é porque assim se quis.
30 - Uma vez mais poderá ser, quer seja bem menos, ou mais.
31 – Nada do que for será? E se vier a ser do mesmo jeito? Não será isto, mas, aquilo, grilo ou um felpudo e esquisito esquilo.
32 – Se não houver um caminho rasgue um por sua conta e risco, se quiser furar outro, que fure!
 ser toupeira compete a cada um.
33 – Tudo é frágil, mas, nem tudo é, ser ou não ser – ser assim compete ao Parmênides interior de cada um.
34 – Se do que digo nada sei, tu, com certeza, também não sabes.
35 – Se deu certo é porque alguém se deixou seduzir.
36 – Caso vejas... Observe então.
37 – Toda marcha pressupõe dois pés, mas, pode ser que se seja perneta, ai não será marcha, mas, racha!
38 – Deslocamentos podem acontecer, mas, se houver avanço prossiga.
39 – Se há cicatriz é porque houve a intenção antes da queda do facão, mas, nem sempre.
40 – Não nego, mas, insisto.
41 – Tentar sempre não é a sua única opção – desistir também.
42 – Quem nada quer nada terá, ou melhor, terá tudo... De muito nada.
43 – Doa a quem doer, caso sangres vais gritar.
44 – Se estiveres com sono, durma um pouco, caso haja sede, beba, caso tenhas fome, coma, caso contrário vai dormir.
45 – Que eu aborreça os outros antes que façam o mesmo comigo! Detesto cabeças de bagres; peixe que muito esperneia a gente corta a cabeça e come o rabo!sou curta e grossa, comigo ou vai ou racha!
46 – Caso vejas um cobrador, fujas.
47– Pra sempre é tempo demais, porém, é algo assim, que pode ser muito diante do que pode ser menor.
48 – ontem, hoje, amanhã... Quanta coisa em prol do tempo! Que tanto pode ser ou não, se o relógio não parar!
49 – Pra mim todo mundo é um Zé; pois é...
50 – Amortecedores verbais? Não mesmo!não lido com palavrinhas, só com palavrões, isso ajuda a colocar cada um no seu devido lugar! Sai pra lá totó!
51 – Se eu conversar com alguém exigindo um não significa que estou tento sucesso em minhas manipulações, não importa; de todo jeito farei o barco navegar a meu favor... 
Se não der certo basta afundá-lo! É preciso conduzira mente alheia em meu próprio beneficio, não importa o artifício,para mim nada é difícil, principalmente se eu usar a lei da opressão e da intimidação a meu favor, seja de que jeito for!
52 – Pra que eu não sofra... Alcachofra! Pra que eu não morra... Borra!

C 07 – VOCÊ É UMA PIRIGUETE DO TIPO “SANTA DO PAU OCO”?
Minha carne às vezes é creme, às vezes é crime, suor, emoção... Sacramento ou profanação; existo, não nego, desapareço quando puder...
Tudo isso depende do dia e também da ocasião... Coisas do meu falho coração.
Tem dia que minha carne é lama, tem dia que é bacana, tem dia que não passo de uma banana...
Às vezes se sujar faz bem, não é o que diz certa propaganda de sabão em pó? Às vezes me sinto um doce, as vezes um pavê estragado, o que tenho não me basta, as vezes cobiço ao que a mim deveria pertencer, odeio dividir, sou egoísta sim...
Se eu não puder ter algo planejo tomar à força, e se não conseguir aprecio a idéia de um incendiozinho básico... Não gosto de deixar evidências de meus fracassos.
Quer saber? Preciso controlar certas iniqüidades, afinal sou uma pessoa boa, pelo menos teoricamente, se eu perder a pouca moral que eu tenho estou perdida...
Que eu reflita, que eu pense mais em Deus, que eu use mais meus olhos da Fé, onde anda o meu amor ao próximo? Preciso controlar as minhas ilusões e malícias... A quantas andam minhas emoções? Um dia desses ouvi em uníssono, de um padre e de um pastor:
— Contenha-se Sofia, que de Santa só tem o nome, ou você vai acabar colhendo os destroços do vendaval divino, se conseguir sobreviver a ele (hei! Por acaso isso é uma ameaça? Não vem me oprimindo não heim?); palavras condenatórias sempre me chegam aos ouvidos, e nem sempre me importo, só sei que me basta assumir (bem resumidamente) o que faço, o resto se vê depois...
Belas palavras, só que eu sou tão safada que vivo passando a perna até em mim mesma, finjo que não é comigo, desconverso, e, quando me assusto, já fiz o que deveria ter evitado, é foca!
Tudo isso me lembrou Schopenhauer, um filósofo alemão, ele, em seu livro O mundo como vontade e representação não deixa dúvidas, não deixa pedra sobre pedra, parafraseando-o digo:
Sou fruto do que quero; tudo que faço é consciente (se bem que Freud diz que é o subconsciente (ou inconsciente) quem a tudo comanda... Quer sabe? Não acredito muito nisso não, pelo menos no meu caso, tudo o que faço é cem por cento consciente... E ai? Quem tem razão?)...
Vivo traçando planos, com princípio, meio, rota de fuga e fim...
Só sei de uma coisa:
Se eu não tomar jeito vão acabar me colocando dentro de uma jaula, e com certeza não mereço isso, borboletas devem viver soltas, pousando de pau em pau, digo, de galho em galho, ou melhor:
De flor em flor.

C 08 – THOR E SOFIA JUNTOS NUMA MESMA DESGRAÇA? COMO ASSIM?
Noutro dia estava eu na fila do banco, pronta, disposta a esperar a minha vez, que já estava chegando, eis que um velhinho chegou e se posicionou bem à frente do primeiro da fila, querendo ser atendido, o jovem, impaciente, disse que o vovô deveria pegar a fila, como todo mundo; no mesmo instante me subiu um fogaréu na rota calcinha-coração, e me envolvi na peleja como um guerreiro nórdico, do tipo Thor, o deus do trovão...  Aos berros fiz que o pirralho entende-se que ele estava errado, e que o idoso tinha prioridade, não só existencial, mas, também legal, jurídica.
O rapaz, num misto de vergonha e raiva, me mandou para os quintos dos infernos e foi-se embora, indignado, todos ficaram boquiabertos, mas, e daí?
Às vezes eu preciso praticar meu pacifismo, nem que seja aos berros!
Toda satisfeita por ter colocado para fora meu lado super-heroina aguardei minha vez, eu sabia que as pessoas estavam me admirando, quase pude sentir a capa vermelha tremulando em minhas costas (morra de inveja Super-Homem), passei, a mão por meu imaginário martelo encantado e me dirigi até o caixa, minha vez chegou finalmente. Mal sabia eu o que me aguardava na saída...
Saí contando meu lindo dinheiro, descontraída e satisfeita, mas, repentinamente fui surpreendida por um grito de ódio, e quando dei por mim já estava no chão me engalfinhando com o rapaz que humilhei dentro do banco (possesso ele mais parecia o vingativo deus do mal, Loki, meio-irmão de Thor), clamei pela ajuda de Odin, o deus dos deuses...
Imediatamente senti minhas forças voltarem, enfiei a mão na cara do meu inimigo, que caiu para o lado, fiquei de pé, cerrei o punho, disposta a quebrar os dentes dele, com a outra mão peguei minha bolsa e a girei no ar (fiz dela o meu martelo invencível e disparei); a danada da bolseta foi parar no meio das pernas do meu opositor, que deu um berro de dor, revirou os olhos e caiu no chão, tremendo e babando como um cão recém castrado venci a indesejada batalha, fui aclamada pela multidão que tudo tinha visto...
Os Guerreiros de Asgard, digo, a policia, veio e grampeou o safado, tive que ir à delegacia também para prestar depoimentos.
Meu pacifismo é assim mesmo, se fez valer mesmo em meio às trevas, à custa de muita pancadaria.

C 09 – VOCÊ ASSUME QUE DISSIMULA QUEM DIZ SER DE FATO?
Passeava eu pela Avenida Afonso Pena (lá pelas bandas de Belo Horizonte), toda gostosa e bem arrumada...
Estava com um top ultra rosa e uma mini - saia de listras verdes e vermelhas, um sapatinho básico, tipo Xuxa vem que vem, e meias de bolinhas roxas...
Um charme só.
Deixei meu sutiã em casa (também com os melões que tenho nem preciso deles), estava sem calcinha (que é pra não machucar a ordinária) e com uma bolsinha porta-tudo debaixo do sobaco...
Meu destino?
Estava a caminho da zona, não ia rodar minha bolsetita na Praça Sete e nem nas imediações da Rodoviária, pretendia mesmo era ver um daqueles filmes de qualidade duvidosa, para relembrar como é que se faz o que há muito tempo não faço (engatar uma ré, se é que vocês me entendem), há muitos cinemas classe B por ali, pra mim que, sou uma excelente desclassificada, o ambiente lá é até acolhedor.
Eu só não contava com um imprevisto, um não, vários; primeiro, quanto mais eu avançava mais era observada (as pessoas estavam me admirando ou me depreciando?)...
Acho que estavam é me confundindo com alguma celebridade, alguns até me perguntaram quanto era um programa, e eu disse que estavam enganados, eu não faço nenhum programa televisivo, só faltaram me pedir autógrafos...
E por falar em pedir teve um mendigo que me pediu uns trocados, é claro que eu não dei afinal eu tinha um sessão de cinema para assistir.
Novos problemas ocorreram depois disso, quase que instantaneamente, o tal mendigo bateu minha bolsinha e se mandou, sai correndo atrás dele, quem nem uma desesperada, gritando pega ladrão, digo, pega mendigo...
Corri e berrei até cair (sim, eu cai), um comparsa do safado maltrapilho colocou seu pé (com unhas grandes, rachadas, fedorentas e pretas) bem no meu caminho, cai em cima de uma barraca de frutas e foi só banana e goiaba que voaram...
O camelô me deu uma gravata achando que eu estava tentando lhe roubar, uma velhinha me deu uma cutucada com a ponta fincuda de sua sombrinha (tipo aquela do inimigo do Batman, que não é o Duas - Caras e sim, o Pingüim).
O final dessa história? Fácil, não vi meu filminho básico, e ainda fiquei presa por sete horas, por tentar roubar bananas, nas imediações do baixo meretrício belo-horizontino...

C 10 – VOCÊ É ESTÚPIDO(A) O BASTANTE AO PONTO DE PENSAR QUE É MAIS INTELIGENTE QUE OS OUTROS?
(ALGUMAS MANEIRAS PARA SE VIVER BEM EM MINAS GERAIS)
Uma das coisas mais importantes para Sofia é a comunicação, especial é o jeito que ela tem de pensar e falar, seu cérebro é uma bomba!
E ela, acreditando que o que disser de negativo influenciará no resultado dos fatos, de forma positiva, decidiu elaborar, cuidadosamente, algumas maneiras para que cada um consiga viver se bem consigo mesmo.
 O importante é ser feliz! Ela não aceita humilhações, por isso não leva desaforos para casa, acha que guardar rancores só faz mal, por isso põe suas coisas para fora.
Achando que os seus conselhos poderiam ser úteis a alguém ela resolveu registra-los, por escrito:
1 – Que eu use palavras como não... Mas... Talvez e nunca. Negar e relativizar também tudo pode me tirar de grandes confusões!
2 – Que eu use o verbo ser no lugar de ter, por exemplo:
Sou preguiçosa, no lugar de estou preguiçosa... É que a gente deve admitir o que se é de fato!
3 – Que eu substitua a frase isso ou aquilo dará certo por espero que dê certo ou não vai dar certo, afinal quase nunca dá mesmo.
E mais, se acabar dando certo ficarei surpresa, pois, é legal receber o que não se esperava que viesse... Não dando certo poderei dizer então:
Eu sabia que não daria certo mesmo, isso é bem melhor do que ficar ansiosa à toa!
4 – Que eu diga estou nervosa! Se eu disser que estou calma poderão se aproveitar de mim, dizendo que sou brava as pessoas pensarão mil vezes antes de me encher a paciência latir às vezes; espanta gente mal intencionada, mas, se for preciso, eu mordo também!
5 – Que eu diga como sou ignorante! Assim fazendo poderei deixas as pessoas à vontade, isso fará com que muitos mostrem as suas garras – ai eu descubro no ato quem é amigo ou inimigo. Tem gente que é exibicionista e gosta de aparecer, e é ai que eu arrebento a sapucaia, colocando os folgados pra correr!

6 – Que eu não tenha objetivos na vida, é bom ser como o peixe, que só nada, o que vier eu traço! A vida tem que ser misteriosa, sem essa de pensar no amanhã, meu negócio é com o agora, viver a vida, instante a instante, é bem melhor!

C 11 – SOFIA TEM A ILUSÃO DE CHEGAR À PRESIDÊNCIA DO QUÊ?
No dia em que eu for presidente(a) (pode ser de qualquer coisa, dos vendedores de caixa de fósforos artesanais, por exemplo), emitirei decretos que terão os seguintes enunciados:
1 – Fica decretado que toda mulher deve ser chamada de senhora para o deleite do público GLSBT, pois todos os sexos, inclusive os quase femininos são o que são, e ponto final.

2 – Fica decretada a entrada gratuita em sítios, fazendas, forrós, cinemas, boates, puteiros e pardieiros de qualquer ordem, com permissão de usufruto liberado do conteúdo integral desses recintos (desde que haja algum evento programado, churrascos, shows, etc, que impliquem em pagamento de entradas, que serão desconsideradas, como ficou estabelecido no início da frase).

3 – Fica decretado que toda mulher poderá ser o que quiser na vida, inclusive ser sapatona, com direito a usar o tipo de sapato que quiser; inclusive os da moda, com concessão gratuita deste governo, através da arrecadação mensal de valores a serem estipulados numa ocasião oportuna...
Afinal precisamos nos solidarizar com aquelas que têm pés grandes...

4 – Fica decretado que todas as mulheres poderão dormir até meio-dia, ou mais. Todos os dias... Depois de ter dado muito o que elas acharem que devem dar, por traz ou não.

5 – Fica decretado que viverão a pão de ló e caviar, recebendo na boca, se quiserem tais petiscos, da parte de seus maridos ou amantes (caso tenham).

6 – Fica decretado que não mais menstruarão, exceto quando quiserem (é que algumas se sentem mais fêmeas assim).

7 – Fica decretado que farão uso de salões de beleza quantas vezes quiserem no mês, com direito a cabelo escovado, maquiagem, manicura e pedicura grátis, pagos pelo governo.

8 – Fica decretado que quem arcará com todos os gastos acima serão os homens de todo tipos, raça, cor, credo ou condição sexual, econômica e política... Gente da Terra ou de outra dimensão; isso me é indiferente, o que me importa é deverão pagar a coisa em si.
 Que os dito cujos acima se danem, que se virem e consigam dinheiro do modo que bem entenderem se não o coro vai comer!

9 – Fica decretado que as mulheres frescuróides não terão direito às regalias aqui propostas, que sumam de nossas vistas, e passem a viver em túmulos de cemitério...

Mocréias? Dispenso! Mutungas? Víche, tô fora! Zan-nha-nhans? Nem Pensar!

C 12 – VOCÊ JÁ TEVE “CURTO-CIRCUÍTOS” MENTAIS?
Para Nietzsche convicções são prisões... A questão é:
Devo ser dogmática ou devo em cima do muro ficar, lambendo meu ceticismo como David Hume e Kant... Não quero falar de ceticismo ou de idealismo agora... Como posso ter certeza de que não estou a errar?
Aprecio a esperança, costumo apostar nos verdes tempos, nos verdes ventos, nos verdes adventos (que a Aurora de um novo dia desponte, que o alvorecer flua, que verdes ondas de otimismo borbulhem, há um mundo a se desbravar, há cores mais vibrantes por aí, dispostas a nos cativar.).
A maldade que me oprime é a mesma que te comprime, as obscuras tendências estão a me rodear; que eu não me deixe sucumbir, esse meu jeito tosco tem me deixado fosca, carente dos rubros tons do amor, tenho estado cada vez menos azul, sem a brancura da serenidade, há muito cinza em meus neurônios.  Vivo em um intenso curto-circuito mental.
Ando assim, sem convicções, que me sirvam de âncoras medianas, pelo menos... Tempos atrás o cristianismo já me serviu de ópio, hoje? Não sei certo...
Não lhe fechei as portas, ela está entreaberta, mas, pouquíssima luz adentra em meu coração. Às vezes minha Fé é rica, as vezes se desvanece.
Sabe o que costuma ocorrer comigo? Chamo de estática o que me acontece...
Dia desses estava na igreja, sentada, ouvindo o sermão do pastor, e uma frase dele me lembrou uma letra de uma canção de rock’ n’ roll, pouco depois, na hora do hino, um trecho dele me lembrou uma balada roqueira.
Estou contaminada, dispersa, se eu contar isso para os outros ouvirei comentários do tipo:
Estas endemoniada ou estas com probrema de cabeça, mas, poderá haver quem diga estas com probrema de orgasmo.
Mas, se alguém disser que meus níveis de convicção estão baixos não vou discordar tanto assim.
Que ninguém me leve a mal, mas, o que é que está acontecendo comigo?
Só me falta concordar com as idéias de filme Matrix, pelo menos por enquanto...

C 13 – VOCÊ TEM NOJO OU NÃO DE MENDIGOS?
Moscas? Aos montes! Morre uma, outras surgem no lugar, a ziguezaguear (eu sou mais Raulzito, sacou?)...
Enquanto houver sujeira existirão banhos a serem dados.
Água é saúde, excelente bem-estar, suavidade, essências podem perfumá-las agradavelmente.
Estou a falar de higiene, mas, e quanto à falta de moral? Água não surte efeito nela.
E quanto á falta de caridade? Difícil também...
Passeando pelas ruas vejo a mendicância e a vadiagem pedindo passagem, pessoas perambulam pelas ruas (essas grandes passarelas da vida), lixo é purpurina, é enfeite para elas, suas roupas são um show à parte, rasgadas, sujas compõem um visual sempre vistoso; a maquiagem? Fuligem e graxa.
Essa festa não tem hora para acabar, a todo dia tem desfile, gordinhos aqui não tem vez, ser magro aqui é regra, diversão? Tem de sobra, um carnaval bizarro, doenças, puz, fome, canivete, porrada, sirene, polícia, bandido, ladrão, cola de sapateiro, cocaína, crack, maconha, sangue, suor, mortandade.
Os mendigos não têm do que reclamar! Tá tudo oskey, né? Tá tudo inté mió... Qui sê um vermi é pió... Qui sê prolíticu é du kux riscadix...
Há fartura geral (farta tudo, é como muitos dizem), e a cidade? Vive a varrer para debaixo do tapete o cartão postal da insensibilidade geral.

C 14 – VOCÊ É REALMENTE SENSUAL OU VIVE NUMA IMBECIL ILUSÃO?
Meus problemas terão a dimensão que eu der a eles, meus limites serão sempre aqueles que eu me impuser, se é assim que eu imagine pequenos os meus inimigos, internos e externos, que pela inteligência eu possa vencer as armadilhas e os lobos da floresta do mal.
Que eu, de posse da segurança almejada, consiga viver de êxtase (Epicuro, outro daqueles filósofos gregos antigos, já falava sobre algo assim), esse doce mel, pelo meu corpo a fluir, pelas entranhas a subir, mágico, febril, incendiando meu fifo, fagulha fecunda de ardor, desnudando minha gentil genitália perfumada, sangrando de paixão, rasgando meu útero, me fazendo singelamente gemer e ronronar de prazer.
Eis a pura emoção, eis o tesão, liricamente me pondo de quatro e introduzindo seu falo em minha fala, enchendo minha boca de letras e orgasmos, me satisfazendo com sua apetitosa e grossa língua, invadindo meu reto pensar, manjar pleno de sonhar e penetração quântica.
Fazendo-me mijar poesia, fazendo meu coração fervilhar, percorrendo meu corpo de norte a sul, se espalhando, lavando e melecando meu ser.
Quero mais dessa fissura emoliente, que nutre meus neurônios e rins; não quero mais nada a seguir, só um cigarro e papel higiênico para me limpar... Foi bom pra você meu bem?

C 15 – VOCÊ E OS OUTROS VIVEM NA GRAÇA OU NA DESGRAÇA?
Falsidade é como vidro lapidado, pode até parecer diamante, mas, tem pouco valor real, não é saudável como a vida no campo, mas, dá pro gasto.
Se as pessoas conseguem se contaminar fumando e achando isso cool, que aproveitem isso ao máximo, em suas vidas mandam elas mesmas, embora nem sempre.
 Ser falso também pode ser interessante... Sofisma? Nem tanto... A transparência deveria estar no lugar desse vômito social, mas, não é bem assim, a flatulência da falsidade fede longe, há quem se satisfaz fungando-lhe, há até que consegue tragar-lhe como se estivessem deliciosamente fumando (porque não metem a boca diretamente nas pregas do problema? Podem vir até a revirar os olhos de prazer).
Há falsidade no seio familiar? Com certeza! Para muitos a questão família não passa de migalhas sem valor algum, de flores plásticas, artificiais por demais (mas ela é o pilar da sociedade! Sim de fato é, mas, quem disse que ela está imune ao caos?) – família, nesses casos, é uma foto velha, desbotada, mas, pior é não tê-la, se assim é melhor é acalentá-la, mesmo que hipocritamente.
Quando é que a sinceridade irá prevalecer? Difícil, dizer, não é mesmo?
Muitos me perguntam se eu tenho família, pois moro sozinha, sim tenho uma mãe que é meio degringolada (tive a quem puxar), tenho um pai omisso (nunca veio se quer me visitar, tratou foi de constituir outra família; por causa disso tenho uma madrasta e vários irmãozinhos)...
Minha mãe também se casou de novo, me deu um irmãozinho desgraçado (nunca nos demos bem, ele se casou oficialmente e vive até hoje como um homem ridículo), já meu padrasto é um Zé dentro de água ausente, cachaceiro de marca maior, é cheio de manias (não o suporto, já tentou até me comer, como não dei mole, espalhou pra todo mundo que eu era sapatona, prostituta, maconheira, essas coisas).
Sou como sou em parte, por causa da família que me serviu qual modelo - agrego, é verdade, muitas coisas do meio... Desde sempre, sou uma esponja, retenho e solto meus podres conforme a ocasião, tudo bem, posso até escolher o que ser e ter, mas, o passado ficou indelével no meu cérebro, posso até nem usar o material que tenho em meus arquivos mentais, mas, esquecer que eles existem não dá – não vivo remoendo tragédias, estou só comentando a coisa por comentar (tudo bem, estou a mentir, mas, nem tanto assim).
Nem tudo está perdido, no dia em que eu constituir uma família vou tentar não repetir os erros da família que ganhei. É sempre possível recomeçar outra vez, mesmo mancando, devido às cicatrizes e amputação interna (no futuro eu tentaria algumas vezes, oficialmente, e quebraria a cara em todas elas – coisas diretamente ligadas a traições descaradas das companhias que escolhi – fazer o que? Ninguém tem a estrela da virtude na testa – e por falar nisso o que me sobrou disso tudo foram chifres bovinos da pior qualidade em minha testa, por causa de alguns relacionamentos tortos com umas pessoas com as quais morei por um tempo)...
Eu só tomo no fifo, não tem jeito!

C 16 – VOCÊ É PERFECCIONISTA OU ISSO É SÓ PATOLOGIA?
Se assim for, que seja... Fazer o que? Só me resta gritar viva a imperfeição! Cinqüenta e sete horas por dia de dor e prazer, cinqüenta e sete mil segundos diários de agonia, meleca e fragmentações, em meio ao pus despontam enfim.
Mesmo quando eu a ignoro a tal da imperfeição tá lá, sentada em seu trono, imponente, sarcástica, podre e poderosa, zombando de mim, de todos os povos da terra, criminosa, fazendo vítimas aos milhões, massacrando jovens e velhos.
Monstrenga maldita, medonha tutuzona entranhada dentro de nós!
Como farta-la com a ausência de meu ser? Não tem jeito, essa coisa me devora de um jeito ou de outro, entupindo minhas vísceras com excrementos ácidos.
Sou uma faca de dois gumes, fatio e fatiada sou, senhora e escrava de mim mesma (culpa-se Adão por sermos assim, tortos... Adão, Adão, você é um FDP!), sou uma flor despedaçada, cheia de espinhos, que me fazem sangrar. Quanto perfume, quanta dor!
 Eu não pedi pra nascer, eu não pedi pra sofrer, e só me resta viver (não vou defender o filósofo Schopenhauer nesse momento, que acalentava o suicídio, futuramente concordarei com ele, e até experimentarei a coisa em si)...
Nesse instante só me resta sofrer, sorrir, chorar e por fim dormir ao término de cada dia, não sem antes praguejar e berrar!

C 17 – DE QUE COISAS VOCÊ MAIS GOSTA (ILUSÓRIA E VAIDOSAMENTE FALANDO)
Coisas do tipo vida, coisas do tipo reais... Coisas incertas demais, coisas sensatas... Coisas incendiárias, coisas vãs, ilusórias, sem nexo... Coisas racionais, anormais, legais... Nem todo tipo de coisa pode ser algo mais, nem tudo é farto, às vezes o fato se sobrepõe ao nada... Quem uma coisa quer deve por ele se dedicar, quem não quer coisa com coisa pode vir a se machucar.
Certas coisas podem ser do tipo assim, sem volta, do tipo vermelho-sangue, do tipo necrose, algo assim descartável demais.
A todo instante tudo muda; adaptar-me é o que há! Quero ser feita de persistência e adaptabilidade, coisas do tipo vim, vi e venci.
Se a vida é do tipo única, toda e qualquer situação trará em si a marca da novidade.
Conflitos, estagnações e derrotas fazem parte do meu processo, sou do tipo aprendiz. Porque coisas do tipo comodismo, desespero e falência, infestam meu coração? Não tenho respostas definitivas, só opiniões paliativas, do tipo:
Dúvidas mais que certezas... Porque a misericórdia, o perdão e o afeto me são negados com freqüência do tipo comuns? A fratura está exposta, e coisas do tipo desespero, costumam por ela passar...
E eu, no auge de minhas limitações poéticas... Sigo a diante, soluçando sem parar.

C 18 – VOCÊ TEM OU NÃO UM MEDO TRÁGICO DA MORTE?
Que eu tenha por metas melhores concepções, evitando agora (e depois) desnecessárias decepções.
Que eu almeje o bem viver, evitando agora (e além) sofrer, pois isso não me fica bem.
Que haja consolo, que eu seja confortada, mas, sem muita esfregação (o que é muito alisado ou cresce ou logo desaparece, o sabonete que o diga).
Sem motivos vou vivendo por ai, por viver (dá de mil José Augusto! Ou será Roberto Carlos?)...
Não sou assim todo dia, costumo ser estrela às vezes, incandescente, cheia de luz, motivada; só que um calafrio percorre minha pele toda vez que eu penso na morte, essa bestalóide, nada a ver, dirão muitos, menas, por favor...
Só de saber que ela anda à espreita, fazendo vítimas por aí, bem debaixo do meu nariz, fico toda arrepiada – odeio velório, caixão, cemitério, essas coisas são fúnebre por demais (não serão no futuro, vou tentar me suicidar para ver como é que a coisa é).
Sabe o que é pior? Eu sei que vou morrer! Vê se pode?
Uma gostosa como eu morrendo devido a uma fatalidade ou de velhice! (Eu, enrugada? É ruim heim!)...
Fazer o que? Serei estuprada pela grossa língua da morte, murcharei como maracujá e por fim virarei farelo, do pó ao pó, repito sempre... Virarei resto, estrume, adubo para as plantas, meu bem, virarei purpurina.
Quer saber? Prefiro ser abduzida... Prefiro não preferir a tudo o que não me é nada, exceto um mero não, sacou? Prefiro calar a boca, ando falando demais... É que estou sem meus remédios. Prefiro... Nem sei mais o que dizer.

C 19 – VOCÊ TEM ALGUM TIPO DE RETARDAMENTO OU ISSO É PURO FINGIMENTO?
Quando eu era uma fosca forma, não mais do que uma pequenina nuvem, vivia livre, leve e solta, vivia uma falsa maciez, desejando extrapolar prazeres ilusórios, disposta a viver de brisa, singrava sem rumo, navegava ao sabor do acaso, instável demais, estável de menos, zonza.
Vivia num falso céu anil, de pura ociosidade, de pura banalidade, de intensa morosidade, de intenso escarcéu.
Puro fogaréu fugaz. Hoje ainda sou nuvem, porém muita coisa mudou:
Mais agregada, plena, serena, densa, menos tensa, menos torta, hoje sei mais para onde vou, erro menos, minha malícia é mais refinada, encorpada, pelo menos faço esforços mais planejados, mais coerentes. Mais diligentes.
 Ser nuvem me convém, isso eu posso afirmar (pelo menos por enquanto), amanhã não sei, enquanto eu puder sonhar estarei bem assim, satisfeita, sem medo de voar – não me importa o nexo, você pode até não entender, mas quando eu era nuvem ainda sou o que sempre quis ser quando hoje fui o que sempre serei (eu sei, as palavras estão doidivanas), mas, não se preocupe não estou drogada, só estou brincando com as letras... Essa é uma das vantagens de ser nuvem, entendeu agora?
Elas mudam de formato constantemente...

C 20 – VOCÊ TEM UM JEITO PORCO DE SER? GOSTA OU NÃO DE RESTOS?
A primeira coisa que pensei filosoficamente foi assim:
Mal me conheço, mas insisto em desvendar as nuances de meus semelhantes, diferenciados por demais.
Anos depois escrevi isso:
O resto é resto, é purpurina e carnaval, quanto ao resto o que fazer? Nada me resta a não ser rastejar? Longe disso! Que me restem alternativas! Que não fique a comer restos, migalhas? Não! Que eu não fique assim só vendo restos passarem, resta-me bem mais, que eu reaja então.
Tem a ver com flexibilidade? Tem, tem a ver com convicção? Tem só que eu sou uma medrosa (mas, eu já não disse mais de uma vez que sou corajosa? Não confunda, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Tem a ver com vaidade, tem a ver com masoquismo.).
Minha irritabilidade me conduz direto ao rancor, deixa marcas em mim que quase sempre não consigo apagar, nem sempre procuro esquecer, alimento a fera dentro de mim (ela só pensa em vingança, sexo, essas coisas).
Uma coisa leva a outra coisa que me conduz ao prazer – não tento esquecer, só procuro me lembrar, e eu passo de vítima a culpada pelas mãos desse sentimento asqueroso e gostoso.
Muitas coisas estão a meu dispor por força de convenções sociais, ou seja, decidiram que certas coisas deveriam ser assim ou assado, e pronto, adotaram como regra para todos, mas, a verdade em si está toda impressa nisso? Longe disso!
Finalizando:
O que eu quero mesmo é colocar o meu bloco na lua e na rua, brincar, gozar e gemer – é flutuando no espaço que consigo suportar tantos devaneios e desventuras. Fui!

C 21 – COMO VOCÊ REAGE DIANTE DA TRAGÉDIA E DA VITÓRIA?
Você tem muitas opções, e, entre elas a superação, a reação – isso mesmo:
A vitória ou a derrota.
            A super frase abaixo é clichê até demais, porém funcional sempre:
A vida é como um jogo de xadrez, diário, ininterrupto; que a isso se some outra coisa:
Você só tem uma bala na agulha de sua arma – ou acerta o alvo, em cheio ou está fora.
E, você só tem uma vida, uma única oportunidade, uma única possibilidade, disponível, para jogar, dar algumas avançadas pelo tabuleiro...
Se toda vez que você jogar conseguir não perder peças (pelo menos não as mais importantes, poderá avançar, rumo á vitória).
 Perguntas:
            Qual é o tipo de vitória a que me referi aqui? Quem é o adversário? O adversário é a morte (e como no fim, quem ganha é ela, há algum tipo de vitória nisso?).
Há sim, ficar vivo o mais que se puder (isso é muito pouco, dirão alguns, é xeque-mate, dirão muitos).

C 22 – SUAS FANTASIAS SÃO PURAS OU IMPURAS?
As fantasias são como brisas, são quais vinhos bons, também me servem de ninhos, podem ser velório ou festa, podem ser delícias evidentes, desgraças decadentes, podem ser tempestades ou benditas beldades, podem ser roseirais ou profundos lamaçais, são como douradas jóias ou venenosas najas letais.
São cem por cento ilusão, me servem de navios rumo a diversas expedições infinitas, às vezes são excessivas, não mais do que grandiosas confusões.
Certas fantasias que tenho são não mais do que paliativos analgésicos, verdadeiramente não podem curar os males da minha realidade, mas, sonhar me faz bem!
Por meio delas descarrego todo meu stress feminino, injeto uma densa masculinidade no meu ser, e isso me revigora, e eu fico com um saco enorme para suportar as agruras do dia-a-dia.
Eu não vivo só disso, isso me aniquilaria, mas, eu vivo muito com elas, nem sempre sou comedida, e me deixo estuprar, e gozo feito uma égua!
Só que no reino da fantasia eu peido, acho graça e ainda por cima cheiro, a esterilidade da imperfeição se estanca momentaneamente por causa disso, e eu consigo ser mais gente ocasionalmente, mesmo comendo a meleca que sai do meu nariz.
Se minhas objetividades se esvaem ficu tonta, distorcida, vurgá.
Se minhas plasticidades se desplastificá eu fico assim, meio qui pelada, entendem?
Se minhas alianças se alinhavá com as sua, preenchidos taremos; nó só num vai casá...
Se minhas necessidades percisá eu inté vô, só num sei si vô vortá...
Se minhas vontades acabam é pru quê acabo mermo...

C 23 – PROSTITUTAS... TRAFICANTES... PALHAÇOS... POLÍTICOS... POLICIAIS (SOFIA TEM ALGO A DIZER?)
E se eu fosse prostituta? Êita profissãozinha fácil... Abrir as pernas, lucrar muito, conhecer novas pessoas assim:
Intimamente, por dentro, sabe? Trocar fluidos, olhares, suores, lucrar mais (sem fazer esforço, é só deixar, deita ou em pé, relaxar e se entregar – depois basta dar só uma lavadinha na danada, pois, ficar fedena nem pensar!). Comprar tudo o que eu quiser; gastar até o zói rivirá... E quando o dinheiro acabar volto lá, deito na cama e faturo de novo!
E se eu fosse maconheira? Viajar sem sair do lugar, melhor impossível! Não seria uma traficante, não faz meu estilo, muito gente seria prejudicada, e isso, definitivamente, nem pensar! Eita erva farta, é pequenininha, mas, que potência! Espairecer, rir que nem doida, depois ficar muda, com a boca seca, doida por litros d água e doces, muitos doces. Um colírio, por favor! Meus olhos parecem estar cheios de grãos de areia... Meus bofes iam inté inchá di tanta fumaça e azeitona com cachaça e pão de mel... Uma fumaceira esperta, muitas reflexões, tonteiras e uma vontade doida de dormir a seguir, para recomeçar quando acordar.
E seu fosse palhaça? Cara pintada, roupa engraçada, folgada, sapatos enormes, uma bola vermelha, de prástico, no nariz e um arsenal de piadas para fazer todo mundo rir.  Profissão difícil essa... Não é tão simples assim agradar ao povo, tem tanta gente amarga por ai...
E se eu fosse política? Senhoras e senhores sou mentirosa, sou egoísta, e só quero o salário gordo a que tenho direito, vocês são só um mero detalhe, instrumentos das minhas realizações pessoais.
E seu eu fosse um PittBull do asfalto? Tipo assim, uma bad-girl inconseqüente de uma gangue qualquer? Chutar latas, apertar companhias... Essas coisas, não mais... Demais! Superfaturar! Lucrar! Enrolar! Lucrar! Viajar! Lucrar! Iludir! Lucrar! Eis uma verdadeira mina de dólares, adrenalina e corrupção... Sei não!
E se eu fosse policial? Em nome da lei e da ordem? Da sociedade em geral? Não, essa vou deixar passar batido; se eu fosse policial eu ia me dar mal... Ou melhor, passar mal, De tantu trem bão qui eu ia fazê... Seriam tantas as emoções, lutar contra o crime; essas coisas... Eu não resistiria...
C 24 – O QUE VOCÊ FAZ DE ERRADO ENTRE QUATRO PAREDES?
Nem todo tipo de coisa é algo de bom, pode ser lixo, pode ser lama... Possivelmente bacana, pode ser ouro, pode ser nada, pode ser nádegas.
Eu sou assim, uma coisa bem especial, descartável, mas, essencial (pelo menos pra mim), sou única, uma fruta única, exótica, especial, que incomoda, mas, que se arrasta sem nunca parar.
Vivo andando pela superfície das coisas, sem nunca me aprofundar em nada, comendo pelas beiradas, repleta de trivialidades – às vezes sofro, mas, isso passa logo. Quantas tribulações!
Em meio a tantos escombros verborrágicos, vou sobrevivendo sem um arranhão da caridade de quem me detesta, a minha piscina está cheia de ratos, minhas idéias não correspondem aos fatos... O tempo não para, não para não, não para (Só mesmo me baseando na música é que eu consigo dizer alguma coisa, sem Cazuza fico confusa) – se bem que também sou dependente do Renato Russo, do Humberto Gessinger e do grandioso Marcelo Nova... Eu sei, tem também o Lenine e o Zeca Baleiro... Tô bem amparada, com as bênçãos do Chico Buarque, do Fagner, do Belchior, do Djavan e do Caetano Veloso, sem contar a Elis Regina e a Cássia Eller...
A maior prova de minhas trivialidades está no que faço entre quatro paredes, fico plantando bananeira na cama, arroto, desenho, danço as músicas do É o Tchan, pelada; fico imitando coisas, às vezes finjo que sou uma bailarina, e até quando imito galinha fico desengonçada (a parte em que eu tenho de ajustar o espanador na caverna é o que mais me incomoda, mas, depois que eu relaxo fico linda como um pavão).
Há muito tempo atrás eu tentei fazer yoga, não deu certo, fiquei toda desconjuntada, e ainda por cima quebrei a cama tentando sair da posição que estava (tirar a perna de traz do pescoço foi a pior parte), da próxima vez vou treinar algumas posições do Kama Sutra,
Farei isso acompanhada por um lindo garoto-de-programa (não tenho conseguido arranjar namorados, é o que eles não aceitam a idéia de fazer tudo ao mesmo tempo agora, já propus o uso de um creme de goiaba nessas confraternizações, mas ninguém aceita. Bando de anormais insensíveis!).
Sou muito criativa entre quatro paredes, até dormir eu consigo!

C 25 – EVA E ADÃO DÃO TESÃO OU DECEPÇÃO EM SOFIA?
A culpa é toda de Adão, tudo bem, de Eva e Adão (fiquei tentada a usar o famoso trocadilho é viadão, pois é, usei!).
 Por ser como sou, imperfeita, mortal, pecadora e doida, são vinte e quatro horas por dia assim, de dor e prazer, são 3.600 segundos diários de agonia e limitações.
Às vezes acho que eu sou um monstro, um tutu torto e sanguinário, às vezes sou angelical (já doei até meias velhas para um asilo!)... Fazer o bem é comigo mesmo, depois que almoço sempre penso em dar os restos para um cachorro qualquer, mas, sempre me esqueço.
Não me esqueci de Eva, aquela égua despeitada, foi ela quem pôs tudo a perder!Cobra? Que cobra? Ela foi só uma vítima das artimanhas do anjo das trevas – ou será que ela também sabia do plano de rebeldia daquela corja toda? Não sei, e nem quero saber, só me resta seguir em frente, já que somos aleijados só nos resta pegar nossas muletas e avançar rumo ao desconhecido.
Por falar nisso dia desses decidi andar de muletas para ver qual seria a reação das pessoas, fiquei muito satisfeita com os resultados... Para dar um toque especial coloquei meus óculos escuros e me dirigi até a porta de uma igreja, joguei meu chapéu no chão e aguardei.
Não demorou muito e o dito cujo estava transbordando de moedas! Fui para casa toda feliz, daria para comprar um monte de sorvete, garrafas de uísque e camisinhas!
Meu desgosto foi total quando comecei a contar o din-din, não havia nem uma única moeda de valor no chapéu, só dinheiro sem respaldo sócio-econômico (quem gosta de ser passada para traz? Até pensei em voltar lá e reclamar, mas, eu poderia ser linchada! Descobririam que eu enxergo muito bem... Deixa estar, um dia eu dou o troco!).
Imperfeição é isso ai, um dia dá tudo errado, no outro também (pelo menos prá mim).
E tem mais, como é possível que haja tanta gente por ai, assim, maldosa, fingindo que está a fazer o Bem? Onde é que esse mundo vai parar?
Fiquei decepcionada!


C 26 – VOCÊ ODEIA OU NÃO PESSOAS IDOSAS? (SKATE NA VÉIA)
Sonhei que tinha cinqüenta e sete anos, estava me sentindo tipo assim:
Cheirando a naftalina e mofo, uma nojeira só; eu sei que geralmente não se fica tão na bagaça como eu estava, mas, é que abusei demais de coisas lícitas e ilícitas até recentemente, se é que me estou fazendo entender...
É que estava aposentada por invalidez (não sei como nem porque).
Era uma solteirona, ainda imprevisível, como sempre, tinha uma charmosa bengala que me servia de consolo nas noites solitárias (não é o que você está pensando, é que eu ficava conversando com ela quando queria fazer uma fofoquinha básica).
Todas as minhas tragédias se intensificaram, já não tinha mais dentes naturais na boca, que pena gosto tanto de boquete, digo, croquete, me divertia com uma dentadura que insistia em cair quando eu tentava voar com minha vassoura...
Eu explico, é toda a vez que eu ia varrer dava risadas quando me lembrava que as bruxas voavam em vassouras velozes, e eu ficava me imaginando voando por ai, fazendo zigueziras com meus vizinhos.
Eu não suportava barulho de espécie alguma, apreciava o silêncio mais que tudo, mas, eu não tinha sossego, um bando de moleques da vizinhança cismou de fazer do passeio em frente à minha casa uma pista de Skate, toda tarde – que algazarra infernal!
Não adiantava reclamar, eles não me ouviam e ainda zombavam de mim, me chamavam de bruxa velha, de múmia do Egito, de mocoronga e sei lá mais o que; deu vontade de ir lá e descarregar uma metralhadora giratória cheia de balas neles! Ah se eu tivesse algumas granadas!
Miseráveis!
Teve um dia que eu acordei encafifada, toda torta e neurótica, não achei minha dentadura nem minha calçola, não achei meus óculos fundo-de-garrafa, não encontrei meus remédios e ainda puz sal no café, andava pra lá e pra cá, trombando nas coisas (onde é que a minha bengala foi parar?)... Tudo ficaria pior à tarde, quando aqueles pivetes chegassem; e eles chegaram...
Manobras radicais daqui, manobras doidonas de lá, deram muitas risadas e fizeram farras absurdas que me deixaram desgovernada, e decidi ir até lá acabar com aquela zorra; com muito custo cheguei até eles, que nem se intimidaram, ficaram fazendo malabarismos ao meu redor e debochando de mim; zonza ameacei cair, catei uns cavacos (é assim que aqueles pestinhas falavam).
Ao me virar desengonçadamente para a esquerda dei de frente com um deles, que não teve tempo de se desviar, e pimba, fui atropelada; o moleque se misturou comigo, e juntos caímos no chão, o susto se transformou em pânico, ao berrar de susto e dor, abri tanto a boca que minha dentadura deu um salto tríplice e saiu pulando como se estivesse viva.
A gangue do mal fugiu e nunca mais voltou - dos males o menor, o skate na véia surtiu efeito, minha paz finalmente chegou.
E eu acordei morrendo de rir dessa bagunça toda... Pior mesmo foi ter que ir ao médico, isso me custou caro! Remédios, pomadas, banhos quentes, calmantes... Achei bom também comprar um fixador de dentaduras melhor, meus dentes postiços estavam caindo demais – será que racharam?

C 27 – VOCÊ É ALGUÉM CONVÍCTO OU SE SENTE UM MERO VERME?
Pra mim convicções são prisões, não gosto delas como fins imutáveis (ainda mais que aprecio ir e vir pelas avenidas da vida), não sou muito dogmática, gosto mesmo é de ser problemática, gosto ficar lambendo meu ceticismo moderado, ficar em cima do muro é comigo mesmo, não gosto de ficar em baixo da cama, ficar debaixo dos lençóis é uma delícia, principalmente acompanhada.
Aprecio a esperança, mas, sei me desesperar facilmente, arrancar os cabelos enche meu coração de adrenalina, é melhor do que ver filme de terror.
Minhas ondas de otimismo borbulham como bolinhas de sabão dentro de uma bacia velha, furada, torta e enferrujada.
A maldade que me oprime também comprime tudo à minha volta, por causa dela dou shows gratuitos até sem querer - minhas obscuras tendências fazem de mim uma mulher mais doida do que quem usa loló, tenho estado cada vez menos azul (afinal sou atleticana por convicção, glória e puro sofrer... Ser rubro-negra não é fácil não, a segunda divisão vive lambendo nossas botas, digo, chuteiras; já estivemos lá uma vez, inclusive, foi de quase morrer).
Ando assim, cheia de convicções medianas, sem ancoras firmes, vivo a deriva.
Tempos atrás o cristianismo já me serviu de ópio, hoje não mais, fico assim, que nem rádio velho, nem ligo, parei de ir à igreja, fico muito dispersa lá, fico cantando rock‘n’roll mentalmente enquanto o pastor sua a camisa para convencer suas ovelhas – eu sei, não presto mesmo.
Sou uma pecadora, estou contaminada com a minha liberdade (e gosto disso). Se eu contasse isso para alguém diriam que estou endemoniada, há quem diria que estou com depressão, com problemas financeiros ou com orgasmos raros, sei lá, porque simplesmente não podem dizer que não estou com vontade de não fazer nem isso e nem aquilo?
O que é que está acontecendo comigo afinal? Só me falta concordar com as idéias do filme já citado filme Matrix:
O que é real ou imaginário? O que é verdade ou mentira? É muito complexo tudo isso... Nem sei quando estou com fome ou com dor de barriga, tipo assim diarréia.
Será que Sócrates estava certo? Só sei que nada sei...
            A vida é meio assim, muitas opiniões e poucas certezas. Ou será que estou errada? É muito difícil – é ou não é Geraldo Magela? Meu amável doce de côco! (Diga aí, qual é a cor do sobredito? Vê se não me ferra com tua bengala, ok meu chapa belzontino?)...
Não pensem que eu me esqueci de Como sobreviver a festas com Buffet escasso e das Pérolas do Tejo do melhor ator dessas Minas Gerais, Carlos Gomes, né?
            Quer saber? Cansei, não tenho mais nada a dizer por agora, daqui a pouco talvez...

C 28 – ATÉ QUE PONTO VOCÊ É UMA PESSOA MISERAVELMENTE ILUDIDA?
Eis meus novos devaneios:
 Estou sentada em meu gabinete, dourado, cravejado de pedras preciosas. Não sei por onde começar. Já sei, vamos esclarecer uma coisa, eu não sou a mulher do padre, eu sou o G.W. Bush, negro de saias, eu sou o Barak Obama, branco, de calcinha.
Façamos algumas reflexões:
Há tantas pessoas precisando ouvir o que tenho a dizer... Elas precisam muito de conforto social... Mas eu preciso mesmo é de um sanduíche duplo, de uma cerveja bem gelada, e de uma boa noite de sono; gostaria que as pessoas que estão aguardando meus decretos fossem embora para suas casas e me deixassem em paz, estou tão cansada, já não agüento mais!
Onde é que eu fui me meter? Fazendo-me de entendida! Estou mesmo é fud...
Já sei! Cancelarei todos os meus compromissos hoje, alegarei que estou menstruada e com dor de cabeça! Não quero mais chefiar a comunidade de ninguém, não consigo nem controlar meus gazes!
Quero sair do meio desses abutres que ficam o tempo todo desejando estar no meu lugar.
Quero mesmo é estar perto dos meus verdadeiros amigos (de gole, principalmente), há muito tempo não sei o que é fazer amor, estou cansada do prazer solitário.
Quero tirar essas roupas pesadas, por demais enfeitadas, exageradas, gostaria de usar um vestidinho bem curtinho agora...
Quando optei pela vaga de prefeita (de onde mesmo?) só pensei em prestígio, dinheiro e poder, mas, me cansei de tanta hipocrisia.
Acho que vou renunciar. Se não for envenenada antes...
Acho que vou me deitar agora, amanhã o circo e o teatro recomeçam novamente, tenho muito que fingir ainda, há dividas a serem perdoadas (Francamente! Mal posso perdoar a mim mesma!) fazer o que? Tem besta pra tudo nessa cidade, que é bela, diga-se de passagem, que horizonte!
Vou ordenar um ataque mundial contra todos os líderes, não só aos políticos, como também aos filósofos, e não vou me esquecer dos comerciantes que roubam na balança
 (se pelo menos eu ainda recebesse uma porcentagem... Mas, não, eles querem tudo para eles! Cambada de FDP!).
Vou dormir sem calcinha, de novo! Fui!

C 29 – POR QUE CREMILDA PINTO MELO REGO E JOANA CRUZ DO PAU PODRE SE ODEIAM?
Detesto uma mulher com todas as minhas forças, ela também sente o mesmo por mim; seu nome é Jocasta Batista da Cruz. Alguns a chamam de J.B.C., e, não sei, por que alguns a denominam ora de Joana Cruz do pau podre ou Joaninha Edredon, alguns apelam e a chamam sarcasticamente de Joana de São Tomás Medieval da Silva... Tudo bem, tem mais: alguns a chamam de folha de taioba também, outros a definem como chaga de Cristo e o ser-em-si do saco de bosta universal...
Vou fazer um exercício de imaginação e me colocar em seu lugar, pensando coisas estranhas, tipo assim, falando como se fosse ela, sobre alguns vizinhos que temos em comum, entende? Vamos lá então:
— Sou vizinha da Dona Luzia, uma jovem senhora muito batalhadora, que ganha a vida como faxineira (já ouvi falar que se exercita como manicura, mas, tenho minhas dúvidas)... Ela é casada com o Seu Benedito, um santo homem, calmo, honesto, bom pai, não bebe e nem fuma (sua mulher é que é chegada numas cachaças de vez em quando); Petrônio é o filho deles, um capeta bagunceiro, morbidamente mal-educado, não gosta de estudar (vive matando aula) e vive roubando doce na padaria ao lado da casa de Sofia, uma solteirona doida, seu sobrenome deveria ser Dionísia Nietzschiana (já ouvi dizer algo sobre seu verdadeiro nome, dizem que é Cremilda Pinto Melo Rego, também conhecida como capitão Cacilda), ninguém sabe ao certo, mas acho que ela é sapatíssima, se não for isso com certeza é galinha, pois, acho que já a vi rodar bolsinha na Praça Sete.
Ao que tudo indica ela também é roqueira, dia desses ela estava ouvindo um som barulhento na maior altura, dizem que não gosta de tomar banho, é preguiçosa e não trabalha (como é que ela faz para pagar suas contas? A explicação só pode estar na tal vida noturna, em sua condição galinácea).
A tal de Sofia vive explorando a coitada da Dona Luzia (a pede para fazer todo tipo de serviço, e ouvi dizer que está lhe devendo uma boa grana há muito tempo, e está enrolando pra pagar).
Outro dia a coisa ficou preta na casa do Seu Benedito, Dona Luzia chegou da rua com a cabeça cheia de água-que-gato-não-bebe, meteu a mão em seu marido, chutou o rabo do vira-lata, o Paçoca, que ela tem como cão de guarda (só que ele não guarda nada, só vive a se coçar, a comer ou a dormir, é um imprestável), deu uns Safanões até no seu filho, O Pepeu... Foi só panela que voou!
Pouco tempo depois a policia chegou... Ouvi dizer que foi a desvairada da Sofia que chamou, algemaram a coroa e levaram pra delegacia. Cinqüenta e sete minutos depois Dona Luzia voltou do cárcere, toda envergonhada, por causa disso há dias ela não põe o pé na rua; coitada, é uma sofredora...
Essa gente se arrebenta demais, passa por necessidades incríveis (pra complicar Seu Benedito está desempregado, o cachorro pegou sarna, o Pepeu está com diarréia e Dona Luzia anda com muita dor de dente, também com aquela boca podre... A desengonçada da Sofia anda meio que sumida (será que ela tá usando drogas? Não quero nem saber, quero é distância desse tipo de mulher), antes só do que mal acompanhada... Dá licença que eu vou ali e já volto.

C 30 – O “ARRANCA-RABO” ENTRE CREMILDA PINTO MELO REGO E JOANA CRUZ DO PAU PODRE TEM OUTRA VERSÃO?  
Pra quem não me conhece meu nome é Sofia, vizinha de Dona Luzia, uma mulher que luta muito na vida, ela tem um filho pra criar, o jovem Pepeu, que é até muito bonzinho...
Ela é casada com o seu Barbosa, ou será Seu Benedito? Não importa, só sei que ele é um otário de marca maior, um preguiçoso, um egoísta, um cara que não gosta de tomar banho e um mal-educado nojento, não passa de um vigia qualquer.
O grosso da sustentação da casa vem sempre por meio dela, que além de cuidar do lar ainda quer ajudar mais, trabalha fora, como manicura (ela é uma gordinha linda, tem olhos lindos, levemente puxadinhos) ele, seu marido, é um gorducho semi-careca (ambos têm dentes podres em suas bocas, têm sovacos fedorentos e peidam demais).
Dona Luzia tem o cabelo sarará, Seu Barbosa é baixinho, o menino, deles, dizem, tá cheio de vermes, vira-e-mexe adoece, e anda mal na escola... É um vagabundinho safadão...
Eles têm um cãozinho Poodle que se chama Elvis, encardido de dar dó, e vive cheio de sarna, carrapatos e perebas de toda sorte.
Às vezes eu faço minhas unhas com Dona Luzia, coitada, vive levando cano dos outros (eu mesma já fiz isso com ela, quando a dita cuja reclama lhe dou uns pacotes de feijão e ela fica toda feliz, é uma otária mesmo, uma trouxa).
Ainda ontem o bicho pegou lá em sua casa, seu marido chegou bêbado, deu umas tapas nela, enfiou o pé no rabo do cachorro e deu um cocão no menino – a cobra fumou!
Ela revidou e a coisa fedeu, deu até polícia... Por mim não estou nem me defendo, já meus vizinhos...
Tem uma vizinha minha, mais conhecida como J. B. C. que é uma fruta pra lá de podre, nunca fui com a cara dela, quero mesmo é distância dessa ralé toda!
Dá licença que eu vou ao banheiro dar uma mijada... Quem disse que eu num possu saí assim, de finim?

C 31 – POR QUE CERTAS MULHERES SE ODEIAM TANTO?
 Minha irritabilidade me conduz direto ao rancor, deixa marcas em mim, que quase sempre não consigo apagar, que nem sempre quero esquecer, fico alimentando a fera dentro de mim, e só fico pensando em vingança.
Fiquei sabendo que uma moradora da vila chamada vulgarmente de J.B.C. estava falando mal de mim pra todo mundo, tive notícias tortas disso no açougue, na quitanda, na farmácia e até na padaria... Cretina, como é que pode?
Andou dizendo por ai que  sou uma sem-vergonha, que não pago ninguém, que sou burra e finjo ser inteligente, que sou “politiqueira”,andou dizendo inclusive que meu nome verdadeiro é Cremilda Pinto Melo Rego (ou algo parecido, não me lembro bem, mas, pouco me importa – o que vem de fora não me atinge, eu é que gosto de atingir o que vem de fora com uns pescotapas bem dados).
Isso não ficará assim, ele não ficará impune, eu me vingarei...
 Fiz alguns contatos, e alguns elementos tipo especialistas em violência urbana aceitaram dar uma sova na linguaruda, dei a eles o que eles me pediram (doeu um pouco mais passou rápido); eles ficaram de tocaia já na mesma noite, esperando a dita cujo passar (ela faz supletivo à noite, nas proximidades da Vila), o que ninguém esperava é que tudo daria errado por demais (eu mereço!).
Nessa mesma noite um amigo da minha vizinha, Dona Luzia, resolveu fazer uma visitinha às escondidas à sua casa (fiquei sabendo depois que o Seu Barbosa, digo, o Seu Benedito estava fazendo um bico nessa noite pra ganhar uns extras... Muito estranhas todas essas coisas, mas, não tenho nada a ver com a vida dos outros mesmo)... O lerdo do tal visitante tinha algumas características similares à da vitima que eu queria descascar, com uma diferença:
Ele desceu de um Monza preto tipo segunda divisão (como é que os imbecis não se tocaram? Quem faz supletivo e mora onde a gente mora pode ter um carrão desses? Só que o leite derramou, não teve jeito, a galera cobriu o sujeito de pancada e se mandou).
Cinqüenta e sete segundos depois cinqüenta e sete viaturas da Polícia Civil cercaram todo o bairro, o homem que apanhou era delegado! Cinqüenta e sete minutos depois todos estavam presos, inclusive eu, os desgraçados deram com a língua nos dentes...
Fiquei cinqüenta e sete dias presa, estou respondendo processo até hoje!
O crime não compensa mesmo, da próxima vez que eu resolver me vingar de alguém que eu faça a coisa certa ou me esqueça de tudo o que me fizeram de ruim; a safada da J. B. C. não pode me ver que faz “top-top” com as mãos, mas, o que me mata é a cara de deboche que faz pra mim, dói mais que tudo.
Quando eu ficar outra vez com as entranhas quentes ela há de se ver comigo, isso ainda não acabou; me aguardem! Não me darei por vencida, agora é uma questão de honra, a pancada vai comer, a poeira vai levantar e será um Deus nos acuda. De uma coisa eu sei: a impunidade não ficará impune! Tenho meios para reverter a situação, afinal sou a melhor naquilo que nem sempre faço, sou um côco du bão, coisa fina qui nem agulha pontuda, mas não vivo assim tão a toa, tô numa boa... A coisa ainda vai feder, eu juro!

C 32 – O ÓDIO ENTRE CERTAS MULHERES PODE ACABAR?
O resto é resto, é purpurina e carnaval, quanto ao resto o que fazer? Rastejar é que não vou! Que me restem alternativas! Que eu não fique com os restos! Migalhas? Não! Que eu reaja então quando for ameaçada!
Sou corajosa, mas nem sempre, o medo, digo o pavor costuma ser uma companhia pra mim às vezes... Odeio morcegos, esse é meu segredo (ou pelo menos era), tenho recebido pelo correio algumas caixas pelo correio cheias deles! Mortos e ensangüentados! Eca!!!
Da última vez que abri uma delas senti todo o meu sangue fugir, tonteei, as pernas fraquejaram e vomitei uma gosma esverdeada (não foi a bílis, é  que eu havia comido uma farofa de couve com ovo na noite anterior).
Quem havia descoberto o meu segredo? Kafka que me desculpe, mas baratas, digo, morcegos nem nos livros de Biologia! Desconfiei de imediato da J. B. C. (de novo), mas como provar?
Deveria eu me mudar pra longe dali? Deveria incendiar a casa da minha inimiga? Deveria dar queixa a policia? Nenhuma dessas alternativas era interessante, mas tal afronta tinha que ter um fim a todo custo!
Decidi que vigiaria todos os passos dessa fedorenta... Comecei a fazer anotações, comprei uma luneta e ficava observando-a à noite de cima de uma árvore... Descobri coisas incríveis sobre ela:
Havia um entra e sai de homens fora do comum na casa dela, quase caí do galho quando descobri que ela tinha umas protuberâncias meio que esquisitas por entre as pernas... Será que... Não, acho que não... O que eu faria com informações tão preciosas? Era macho pur dimais entrando e saindo dela ao mesmo tempo só pela porta dos fundos da vagabunda, ninguém nem colocava a mão nos penduricalhos da frente, dela se é que me entendem...
Das duas uma, ou eu enviaria uma série de ameaças a ela pelo correio, ou chegaria nela pessoalmente e contaria tudo o que descobri a seu respeito?
Optei pela segunda sugestão, mas preferi não vacilar, gastei toda a minha grana na aquisição de uma máquina fotográfica digital de alta resolução; registrei tudo, e mandei revelar.
Assim que o material chegou fui até a casa dela, nem pisquei, assim que a filha duma égua atendeu na porta entreguei-lhe as cópias das fotos, e lhe disse que possuía os originais, ela manteve-se firme, como toda bicha, digo, como todo bicho acuado, recuou alguns passos, e já foi logo dizendo que não mandaria mais as cartas com os morcegos ensangüentados pra mim – aí eu disse:
— Tudo bem, negócio fechado, virei as costas e fui embora toda lambuzada por entre as pernas de emoção! Venci a maldita vaca malhada!
Simples assim... O gosto da vingança, digo, da vitória é danado de bão!

C 33 – DUAS MULHERES PODEM VIR A SE AMAR?
Jogo de xadrez é assim mesmo, tem que ter paciência, sei jogar, mas não sou calma, fico roendo as unhas, com a calcinha encharcada, ansiosa, querendo vencer, querendo que o jogo acabe, me dá um formigamento nos miolos, as vistas escurecem, o bico do peito esquerdo coça, dá vontade de peidar, de fumar charuto, de beber cachaça.
Eu amo esse jogo, ou melhor, eu amo odiar esse danado desse jogo de tabuleiro, o melhor do mundo, diga-se de passagem...
A vida é como um jogo de xadrez, duas são as opções, a vitória ou a derrota, esse jogo é ininterrupto, pelo menos enquanto houver vida, quem morre é porque tomou um xeque-mate, fora isso é batalha atrás de batalha.
Nesse tabuleiro gigante é importante estar bem posicionado, é preciso perder o menor número de peças possíveis; avançar? Sim, retroceder? Por que não?
Das últimas vezes que eu joguei xadrez com a J. B. C., nossos conflitos sobre o tabuleiro foram descomunais (ué, ele não era minha inimiga? Era, mas acabamos ficando amigas, eu acho; depois daquele episódio dos morcegos e  de protuberâncias suspeitas ela veio até a minha casa, disse que tinha inveja de mim, por isso fez o que fez... As intrigas, as caixas com aqueles bichos escrotos... Esclarecemos tudo e decidimos ficar brothers – foi a melhor coisa que fizemos, a coisa estava indo de mal a pior... Ela, digo, ele (ou ela mesmo? Deixa pra lá), acabou se tornando minha melhor amiguinha).
Por mais que passamos a nos gostar e chupar ocasionalmente, num delicioso sessenta e nove, a disputa entre nós é (e sempre será) muito grande, quando jogamos então quase nem nos falamos, não queremos perder, aproveitamos esses momentos e lavamos muita roupa suja, ficamos tensas, eu de grelim duro e ela com as tais protuberâncias duríssimas... Nos levantamos, suamos, comemos nossas unhas, rodopiamos como frangas malucas! Ás vezes trocamos de posições, às vezes ela me come no meu tabuleiro, às vezes eu a como no seu mesmo... Da última vez a chapa esquentou, J. B. C. perdeu de vez o controle, ameaçou não voltar nunca mais, fincou o pé no meu tabuleiro e foi embora, acabou voltando no dia seguinte, pedindo desculpas... Ela é temperamental demais, mas também sou, por isso somos assim, duas bichas do mato).
A vida é mesmo assim, bestalóidica, costumo dizer:
— Basta! Sem essa, por favor! Chega dessa coisa misteriosa que nem jogo de Xadrez, imprevisível; às vezes perdemos, às vezes ganhamos, que tortura da peste! O resultado parcial de minhas disputas com a J.B.C. está assim, empatado (e assim as coisas vão seguindo, ocasionalmente estamos pra piões, às vezes pra cavalos ou éguas... Não dá pra ser rainha todo dia).

C 34 – POR QUE HÁ TANTAS RELIGIÕES NO MUNDO? EIS BABILÔNIA (A GRANDE MERETRIZ)...
Eis-me aqui, bancando a escritora teóloga de novo... Sentada no banco da igreja, entre sonolenta e desperta adormeci e sonhei que era uma mulher muito curiosa chamada Sofia Nietzsche, e que ouvia a pregação de um tal pastor Eros Sagratti, mais desatenta que o normal, estava o cansada, trabalhei até as dezoito e cinqüenta e sete na única mercearia de minha vila, mesmo sendo sábado tive que ficar até mais tarde, a pedido do Seu Horse, que decidiu arrumar as prateleiras de mercadorias de um jeito diferente, pela terceira vez na semana... Fazer o quê? Não pude dizer não... Vida de empregada é assim mesmo, cheia de desmandos...
Num dado momento o tal pastor, citou o Evangelho de Atos Capítulo onze, versículo vinte e seis, e teceu um comentário que prendeu minha atenção, me despertando de vez!
Disse assim:
— Por isso, prezados irmãos, notamos que foi por obra do Espírito Santo que desde o primeiro século somos todos conhecidos como cristãos; se permanecermos no caminho espiritual seremos todos salvos, por que o Senhor quis assim, desde os tempos daquela santa reunião, na congregação de Antioquia.
 Custei a me conter, ansiosa para que o culto acabasse para que pudesse fazer perguntas da mais alta importância ao pastor.
Vieram as palavras finais, o cântico, a oração e o amém, a seguir me pus de pé e passando por entre os irmãos que se confraternizavam cheguei até o pregador, cumprimentei-o, e fui logo dizendo:
— Pastor Sagratti, tenho uma pergunta importante a fazer ao senhor.
Pergunte, disse ele...
—Veja bem, pelo que pude entender a Providência Divina determinou que todos os que seguissem Jesus deveriam ser chamados apenas de cristãos, por que então existem tantas religiões nesse vasto mundo? Isso me fez lembrar do que o Apóstolo Paulo disse em Efésios capítulo quatro, versículo quatro, sobre um só corpo, um só espírito, um só Senhor, uma só fé e um só batismo – o que o senhor tem a dizer sobre isso?
Senhorita Sofia Nietzsche, é simples, todos os que são evangélicos, e que estão sob a ideologia de Lutero, é quem, por direito, devem ser chamados de cristãos, mais ninguém (mal acabou de falar me pediu licença para atender a outros que o chamavam). Que falta de educação! Filho da puta!
            Saí cabisbaixa, cumprimentando a todos mecanicamente, minha cabeça fervilhava... Essa seria a última vez que freqüentaria a Congregação Luterana Nacional.
Algumas perguntas não se calavam:
Porque tantas denominações religiosas? Porque tantas interpretações diferentes da Bíblia?
O que dizer da Religião Católica? O que dizer da Inquisição (praticada não só pelo catolicismo, mas, também por certos setores do protestantismo?) Onde é que minhas dúvidas teológico-filosóficas iriam me levar afinal? Não sei...
O tempo me proporcionaria respostas? Realmente estava disposta a tirar satisfações com Deus; esse Deus pra mim está morto da silva e já que assim é, concluo:
— Qual é mesmo o nome verdadeiro, oficial, do Deus que não sirvo mais? O de meu ex-pastor, rude, nem quero mais me lembrar... Parece nome de ator pornô... Quero um deus novo pra mim, que seja Dionísio, o da mitologia grega... Sei que sou safada, pois, de vez em quando dou meus dotes a seu concorrente, o deus Apolo, quando ele me fode eu adoro...

C 35 – VOCÊ GOSTA DE FICAR FUÇANDO A VIDA ALHEIA?
Reflexões monetárias:
— Tô sem grana, tô numa pior, o que vou fazer? Vender Caqui (só caqui que é bom; acho que não levo jeito para comerciante). Já sei, vou alugar um dos dois quartos de meu barraco... Vou ter que fazer umas mudanças aqui e ali, mas, tudo bem.
Sofia abriu uma porta para os fundos de seu meio-lote (a que dava para a sala ela fechou).
No terreiro ela fez um banheiro, colocando água e luz... Abriu um portão lateral, no muro, ao lado do seu (inquilino precisa ter independência, não é mesmo?).
Só uma coisa ficou estranha:
Seu quarto ficou parede e meia com o quarto que seria do novo inquilino que viria a ocupar aquele novo espaço (a possessividade de Sofia não tem limites! Ela queria saber o que se passaria do outro lado, usando a tática do copo na parede; êta mulher bicuda!).
Ela pôs uma placa de aluga-se quarto na frente de sua moradia e ficou aguardando algumas semanas.
Eis que um homem todo engravatado apareceu, cabelo lambido, terno xadrez, óculos de grau no rosto, magro, cara fechada, e uma Bíblia debaixo do braço (era um católico fundamentalista).
Conversaram daqui, conversaram dali, um acordo surgiu, e o homem se mudou para seu novo endereço (Beco Labareda Nº. 666, vila fogaréu, Bairro São Lucas, Belo Horizonte, Minas Gerais) no mesmo dia.
Trouxe apenas uma cama, um fogão de duas bocas, um penico, um filtro, uma cadeira, uma mesa e alguns utensílios domésticos... Pouca coisa... Coube tudo na carroça do seu Zé das Couves.
Seu nome? Matilson Madeira Machado (vulgo MMM), esse era o mais novo inquilino de Sofia.
Ele era um homem fervoroso, gostava de fazer cruzadas em prol do Senhor.
 Ele só não sabia que armou sua tenda ao lado de uma filha da perdição... Em breve ele descobriria isso da pior maneira...

C 36 – O QUE VOCÊ ACHA DO NÚMERO 666, O SINAL DA BESTA?
Sofia bateu a porta violentamente, saiu furiosa, praguejando, insatisfeita, e impaciente desceu as escadas do hotel Glória às pressas, não quis esperar pelo elevador; os muitos degraus não a intimidaram...
Atravessou o hall principal a passos largos, passou pela porta giratória tão rapidamente que quando se deu conta já estava dentro de um táxi que estava parado em frente ao estabelecimento (direto para a rodoviária, por favor, disse ela) – cinqüenta e sete minutos depois ela deixava o Rio de Janeiro rumo a Minas Gerais.
Foi confabulando consigo mesma durante a viagem:
— O que me cança mais é ter que descer em Belo Horizonte, ter que pegar outro ônibus e encarar mais alguns longos quilômetros até meu lar, a Vila Vésper, um cantinho bom de viver, bem perto da cidade mineira de Barbacena...
Ah Cassiovaldo, seu tonto... Quer saber? É bem feito, quem mandou me fazer raiva? Onde já se viu? Tá pensando que eu sou dessas que circulam por aí? Comigo não gavião! Não é fácil conviver com você, estou mais para vampira e você para lobo, e romances assim não se misturam bem...
Fui perguntar a ele para quando marcaria a data do nosso casamento e ele teve o desplante de me perguntar:
— Como assim?
Aquela foi a gota de água! Já estava mesmo por aqui com essa história dele ficar me enrolando, quando ele voltar vai ser ver comigo. Também quem mandou eu aceitar viajar com ele, ficar lhe importunando? Ele viajou a trabalho, eu não tinha nada que ficar na cola dele.
Entre um pensamento e outro, Sofia começou a chorar baixinho, acabou adormecendo durante sua longa viajem.
Rodopiando de um lado para o outro Cassiovaldo ainda podia ver a cena, a briga, a saída abrupta, a porta batendo violentamente.
 Pensou:
— Sofia, você é nervosa demais... Eu, pensando na enorme quantidade de tarefas que o Seu Horse me pediu para executar aqui em São Paulo e você me azucrinando...  Sou mesmo um pobre office-boy de luxo e do lixo... Além de fazer meus serviços internos na mercearia ainda tenho que fazer os externos e ainda ficar agüentando chilique de mulher desvairada...
Ter que viajar para resolver problemas dele já é demais! Fazer o que... Tô pensando em deixar de trabalhar com ele; embora meu salário não seja lá essas coisas, aproveito para relaxar um pouco quando viajo, ele me deixa em bons hotéis, essas coisas... Também com tantas lojas... Até me deixa trazer a Sofia, desde que eu não abusemos, é claro.
Eu cheio de coisas na cabeça e ela querendo falar de casamento!
Pouco depois a campainha tocou, ele atendeu, um senhor com um boné tipo Milton Nascimento o cumprimentou, entregou-lhe um envelope aberto (estava no banco de tráz do meu táxi, disse ele); como você sabe que é meu? (Perguntei), estava com uma passageira, que se identificou como Sofia (continuou o taxista), durante todo o percurso até a rodoviária ela me falou de seus problemas com você, seu nome é Cassiovaldo, não é mesmo? (Ele confirmou com a cabeça).
— Peguei sua noiva aqui, na porta do hotel... Aqui estou, expliquei tudo à recepcionista, que me disse em qual quarto você estava.
Ah, e a propósito não precisa de gorjeta não, tchau, até um dia, se precisar fico sempre parado na frente do Hotel (quem disse que ele ia lhe dar gorjeta?)... Antes de o motorista ir ele fez uma pergunta desconcertante para o noivo abandonado:
— Sabe não resisti e olhei o que tinha dentro do envelope. Por acaso vocês são de alguma seita satânica? (É claro que não! Cassiovaldo responde; que pergunta idiota meu caríssimo senhor!).
Pediu-lhe licença, fechou a porta de seu quarto, indignado, e só depois que viu o que estava dentro do envelope é que entendeu o porquê daquela pergunta estranha daquele senhor...
Aquilo, escrito com uma tinta prateada, num pedaço de papel vermelho o deixou arrepiado e cheio de dúvidas assombrosas – qual seria o que significado do número, seis, seis, seis, impresso de forma bem grande, com a letra S seguida de um ponto, escrita no cantinho daquele papel?
Sua cabeça disparou, ele ficou boa parte da noite andando pra lá e pra cá, pensando... Só conseguiu pegar no sono de madrugada. Estaria Sofia fazendo parte de uma seita do mal? E aquela misteriosa letra, o que representava? Seria talvez a inicial de Satã? Ou talvez Senhor das Sombras? Ele realmente ficou apavorado... Não era dado às coisas ocultas.
Cassiovaldo acordou mal humorado, suando frio, com dor de cabeça, o dia ia ser longo, ele não via a hora de se encontrar com Sofia e tirar essa história a limpo. Ligou imediatamente para um amigo seu, James, conservaram:
— Cara, tô mal, preciso de ajuda...
— Sofia ou tá me traindo ou tá aprontando alguma coisa feia.
— Que isso Cass, que piração, explique isso direito pô!
— É o seguinte... (E foi se explicando gradualmente, concluiu que quando chegasse à vila Vésper voltariam a falar mais sobre toda aquela macabra confusão).
A vida é mesmo engraçada, quando Cassiovaldo voltou de viajem nem passou em casa, foi direto para a casa de Sofia e já foi logo metralhando quando ela atendeu a porta:
— Conta! Conta tudo agora! Tô sabendo que tem coelho nesse mato (disse asperamente, com o papel em mãos, mostrando-o pra ela).
— Bem que eu sabia que tinha deixado alguma coisa naquele táxi, só não me lembrava o que era, estava nervosa com você e nem terminei de escrever o que tinha em mente, acabei foi dando uma desabafada com aquele taxista e deixei esse papel dentro de um envelope jogado no banco traseiro, onde estava sentada.
— Isso não explica nada! Pelo menos não tudo, desembucha vai! Tá mexendo com macumba? Tá fumando maconha? Tá tendo um caso com alguém?
— Você é mesmo um tonto docinho, se acalme, é o seguinte, lembrasse que brigamos porque falei em casamento e você desconversou?
— Me lembro, e daí?
— Daí que o que está contido aí nesse rascunho é o dia, o mês e o ano da data que eu gostaria de me casar contigo, se esqueceu que estamos em maio de 2006? A letra é a inicial no papel é a inicial do meu próprio nome seu abestado!
— Aaah... Agora tá explicado (disse ele todo sem jeito), se é assim, para apagar esse equívoco podemos falar sobre nosso casamento então, a data é meio estranha, mas, como foi você quem escolheu tudo bem.
— Tudo bem o escambau! Vai tirando seu time de campo, já tava meio que na dúvida se queria ficar com vossa pessoa, depois dessa, nem morta! (ao mesmo tempo em que concluiu a frase já foi logo batendo a porta na cara dele – depois disso nunca mais ela se quer olhou para ele, vai ser desconfiado assim lá no inferno!).

C 37 – O QUE VOCÊ ACHA DAS BANDAS DE ROCK?
Se Sofia trabalhasse numa agência de bandas de rock a disritmia digo, a melodia seria mais ou menos assim:
Sofia:
— Agência de bandas de rock, boa noite.
Cliente:
— Por favor, senhora, quanto custa contratar o Iron Maiden, O Black Sabbath ou Judas Priest? Vê também o preço do Ozzy, do Dio e também do Saxon, ok? Vê aí o preço médio da coisa...
Sofia:
— Você quer o preço de cada um separado ou todo mundo junto?
Cliente:
            — Tanto faz...
Sofia:
— Tanto faz uma ova, vamos ser mais claros, por favor? Tá quase na hora de eu ir embora, e telefone anda muito caro por sinal, e tem mais, aqui não tem esse negócio de média não, as bandas são de primeira linha e o preço é um só, todas cobram cinqüenta e sete pratas, com estrutura de show completa, e senhora é a sua mãe.
Cliente:
— Escuta aqui, se tá com pressa por que atendeu? E quem tá pagando a ligação sou eu, desembucha logo, vai dar ou não?
Sofia:
— O que você disse antes não vem ao caso, e se eu dou ou não isso é problema meu.
Cliente:
—Dona, vamos parar de frescura?
 Sofia:
— Aqui não tem esse negócio de dá pra ser ou vai demorar não, ok? Quem tem pressa come cru, e se o senhor quiser, sabe como é, os honorários vão se multiplicar por quatro, vai querer ou vai correr?
Cliente:
— Vamos ver... E se eu contratar cinco bandas, tipo o Scorpions, O Bon Jovi, o Arch Enemy, o Guns’ N’ Roses, o Metallica e também o Stratovarius, o Nightwish, o Angra e o Sepultura?
Sofia:
— Por acaso você é burro? Não sabe fazer conta não? Pede cinco, mas, cita nove? Santo Heavy Metal!
Cliente:
— É que me empolguei.
Sofia:
— O negócio é o seguinte, aqui não é mercado pra gente ficar dando desconto, mas, em todo caso, se você levar quinze pagas doze, entendeu?
Cliente:
— Aonde é que eu vou colocar tanta banda? O lugar que eu tô descolando só cabem duas, pô!
Sofia:
— Esse papo não tá meio louco não heim? Tá parecendo papo de pagodeiro...
Cliente:
— De fato, sou um dissidente do Grupo Molejo, tentei uma vaga no Fundo de Quintal e na banda do Zeca Pagodinho, mas, não deu; a coisa tá feia!  Resolvi tentar um novo ramo musical.
Sofia:
— Não trato nada com ninguém do pagode, do axé, do funk, nem do rap... Vê se te manca, vai procurar sua turma, traíra!
Cliente:
—Alô!Alô! Não é que a danada desligou, só pra contrariar?

 C 38 – VOCÊ GOSTA OU NÃO DE SUPER-HERÓIS?  
Se Sofia trabalhasse em uma agência de super-heróis a confusão, digo, (des)ventura seria tipo assim:
Sofia:
— Agência de super-heróis, bom dia, boa tarde, boa noite...
Cliente:
— Já começamos mal heim? Não sabe que horas são não? Deixa pra lá, e por falar nisso, não tem nada de bom acontecendo aqui, tô na maior roubada! Acabei de ser assaltado, ainda agorinha! Mande um desses seus super-heróis para a Rua dos Desesperados, meia-meia-meia, centro dessa joça de capital. O cara afanou minha carteira e se escafedeu, tá virando a esquina ainda!
Sofia:
— Não se agonize; ok? Já iremos resolver isso já-já. Vai ser a vista ou no cartão de crédito?
Cliente:
— Tô sem um pulto no bolso e você me vem com negociatas? Francamente!
Sofia:
— Aqui não é casa de caridade não meu filho, mas, como a coisa tá feia a gente manda junto uma nota promissória, depois você acerta – e a propósito, vai querer o Thor com seu martelo encantado, o Capitão América com seu escudo imponente, o Homem de Ferro com sua mais nova armadura high tech, ou o Hulk com suas pancadas verdes e possantes? Temos o Homem-Aranha também, os Vingadores, os X - Men...
Cliente:
— Eu quero é o Batman ou o Super-Homem ou a Mulher-Maravilha ou a Liga da Justiça!
Sofia;
— Então o senhor ligou para a agência errada, esses nomes aí são da nossa concorrente...
Cliente:
— Ai caceta... Que seja então...
Sofia:
— Qual vai ser? E seja menos histérico, por favor, que meu ouvido não é penico! E se tá com pressa ligasse mais cedo!
Cliente:
— Sua desalmada, isso lá é hora para me dar sermão? Manda então o Demolidor ou o Justiceiro, tanto faz! Eu quero é minha carteira de volta! Eu quero é uma solução para o meu caso, dá pra ser ou vai demorar?
Sofia:
— Quem tem pressa come cru, e se o senhor quiser o Quarteto Fantástico vai sair mais caro, com ele a gente multiplica o preço por quatro!
Cliente:
— Claro que não os quero, manda dos mais baratos, pode ser o Homem-Formiga, a Vespa, o Pantera Negra... E anda logo com isso que os créditos do meu celular estão acabando...
Sofia:
— Eu entendo o seu problema, eu já falei com o Pantera Negra pra instalar o serviço 0800, mas, ele diz que a coisa tá preta, que tem que economizar. Nossa agência não anda bem das pernas...
E me diz uma coisa, por que você não muda para um celular de linha? E por falar nisso, que ladrão mequetrefe é esse que leva sua carteira e deixa o celular pra traz? O cara não sabe nem roubar... Parece o Duende Verde.
Cliente:
— Como é que é! O herói vem ou não vem? Ah, é quanto vai me custar o serviço? Só posso pagar até cem pratas...
Sofia:
— Só isso? Por esse preço eu vou te mandar o Super F.
Cliente:
— Nunca ouvi falar...
Sofia:
— Esquenta não, ele vai dar um jeito, ah, só pra finalizar, o F é de faxineiro, viu?
O telefone ficou mudo de repente.

C 39 – VOCÊ TEM A CARA DE PAU DE NEGAR QUE NÃO TEM OS “SETE PECADOS CAPITAIS” DENTRO DE SUA CARCAÇA?
Dizem que sou cheia de defeitos, que nada! Só tenho sete, e eles não são tão cabeludos assim, tire a prova das nove e você verá. Sou nota dez:
Avareza...
Eu sei... Eu sei... Não sou muito dada...
Sou mão de ferro, admito, mas, se ponha no meu lugar! O que tenho consegui sem muito esforço, por isso a possibilidade de perder tudo é fácil demais, preciso cuidar do meu patrimônio, entendeu?
Não me levem a mal, não sou avarenta, pelo menos não com todas as letras, digamos que sou precavida.
Gula...
Comigo a vaca vai pro brejo mesmo! Adoro vaca atolada! Quando começo a comer ninguém me segura, sou como um caminhão sem freio! Depois de cheia fico com as quatro rodas pra cima. Mexer só se for com os olhos, entro na história de ovelhinha e saio como uma porca...
Não consigo me controlar, guloseimas, chocolates, feijoadas, pizzas. Ai como é bom comer! Gostaria de ser comida, não me entendam mal, tô falando da dita cuja mesmo...
Inveja...
  Não é bem assim uma inveja, mas, o que vejo no corpinho das meninas me atrai e me traio, aprecio os balangandãs alheios...
Não levem a mal, é em nome da estética que estou a me pronunciar... Pego emprestado nas coisas delas por empréstimo, só não consigo devolver com facilidade – seguro e não quero largar! E tem mais, quando vejo minhas colegas acompanhadas dou mole mesmo, fico fácil-fácil, para quem quiser pegar.
Ira...
 Minha ira todo mundo já conhece, dou show de graça, arrebento as ventas e dou bordoada três por quatro, comigo a sanfona geme de fato. A rebimboca da parafuseta fica desgovernada e, quando acho que não vou já fui, e é só poeira que levanta! Fico até fedorenta de tão nervosa! Sai de baixo que eu fico doida mesmo!
Luxuria...
 Só gosto do bom e do melhor, meu negócio é ficar desenfreada, meus prazeres apitam e pedem passagem, gosto de ficar encharcada, comigo não tem lomba, sou libertina, sensual, supérflua. Sou luxenta com orgulho... Miss é assim mesmo!
Preguiça...
 Dá até sono quando eu toco neste assunto, meus olhos ficam pesados, procuro o aconchego do colchão, do travesseiro e da coberta. Fico assim, querendo cafuné, querendo um dengo.
Eu olho pra cama, ela olha pra mim e a gente se entende com muita facilidade!
Soberba...
 Como couve e arroto lombo, sou nariz empinado sim, orgulhosa com H maiúsculo! Poderosa com pH! Gostosa com Jota de qualquer tamanho!
A vida me fez assim, o que eu posso fazer? Que se danem as mal amadas e feias, eu sou eu e dobro!
Pra encerrar:
 Valho por sete, mas, de lambuja deixo na banguela, se alguém precisar vai ter que pagar.

C 40 – VOCÊ BEIJARIA UM JUMENTO?
Dia desses, sentada na praça, vi um jovem carroceiro sentando o cacete em seu jumento, o cara batia e berrava com o bicho, sem dó nem piedade!
Tomei as dores do pobre coitado, me levantei, corri e dei um salto mortal bem na cara do sujeito, que caiu no chão feito fruta podre.
Eu gritei:
— Seu desgraçado! Vai bater na sua mãe, não tem alma não?
Sabe qual foi a resposta dele? Puxou um facão de sua mochila, e partiu com tudo para cima de mim! Só não me arregaçou toda porque na hora H o jumento me salvou, dando um coice no meio do saco do safado!
Deixei o vagabundo sangrando, não resisti (não sei bem porque), e levei o jumento comigo para casa.
Chegando lá rolou uma química estranha e, quando dei por mim já tava com ele na cama!
Olhos nos olhos, aquilo na mão, a mão naquilo, beijos de língua, uma delicia só.
A coisa só não engrenou mais porque ele tentou uma entrada por trás, eu não agüentaria um carinho tão grande dentro de mim!
Ele insistiu muito, relinchando sem parar, eu tive que fugir! Saltei a janela, desesperada, e desci em disparada ladeira a baixo, o miserável tava atrás de mim, de mastro em pé!
Atravessei o cruzamento a mil, mas, ele não teve a mesma sorte, morreu atropelado ali mesmo, por um caminhão carregado de porcos que estavam indo para o abate!
Só então me dei conta que estava pelada, no meio da rua, pagando o maior mico!
Depois desse vexame todo ainda tive que gastar um troco dobrado com dois caixões:
Um pro jumento e outro pra mandioca dele, afinal morreu com a coisa dura! (Foi algo muito difícil pra mim, perdi o que tanto temi e ao mesmo tempo amei!).
Eu sou mesmo uma desorientada, só me meto em confusão, e essa foi das grandiosas... Se bem que vou sentir saudade daquele bafo quente de capim molhado em meu corpo... Misericredo!

C 41 – VOCÊ GOSTA DE BARATA COM ARROZ DOCE?
Estava comendo um delicioso arroz doce um dia desses (com direito a copo, colher, canela e côco ralado, extraído de um panelão que fiz com o dito cujo, com leite de cabra, creme de leite, de vaca, e leite condensado de leitoa, numa boa).
Ainda arde na lembrança de me ver ali, tão contrariada, pensando na sopa de jiló, com abobrinha e bucho de bode que comi na noite passada com jurubeba...
A coisa pesou geral e, tive um contato extraterrestre com o bocão, meu vaso (in)sanitário, por mais tempo do que gostaria, na manhã seguinte, voltemos porém, ao doce supra citado.
Estava eu super bem, me deliciando com aquele manjar branco, quando (vinda não se sabe de onde) uma barata tonta, voando assimetricamente, com um absurdo espírito de porco pousou dentro do meu copo!
Quase cai de costas, odeio esse bicho (já não me bastam aqueles morcegos gigantes e roxos da Indonésia? Já não me basta a mosca que caiu na minha sopa e na do Raul Seixas?).
Por muito pouco não lhe dei uma dentada!Que perfume! Que asas compridas! Que antenões! Que buzanfa gorda e cremosa! Que nojo miserável!
Estiquei a mão, peguei a vassoura, disposta a empalar a bicha, suando frio me afastei e sentei o braço, digo, a piaçava, naquela maldita!
A parede ficou toda lambuzada de arroz doce, foi caco de vidro pra todo lado, mas, a desgraçada saiu rodopiando pelo ar, indo se esconder atrás da geladeira.
Para me acalmar tomei um Prozac com cachaça e pensei em dois antigos namorados meus, um era especialista em detetização, se chamava Denis, Pé- de –mesa, o outro era pedreiro e filósofo autodidata nas horas vagas, se chamava Zé Tripé – ambos eram unânimes:
Barata é igual a mulher feia, tem que ser exterminada!
Decidi acabar com aquela bandida, revirei a cozinha, que ficou de pernas para o ar, e nada! A safada escapou!
Algum tempo depois, já descansada, peguei outro copo, me servi outra vez, e fiquei a degustar aquele néctar.
Pouco depois senti um gosto estranho na boca (após ouvir uns estalos crocantes), a ordinária, não sei como, conseguiu entrar, de novo, no copo, e se misturou com o arroz doce, sem que eu visse! Cheguei à seguinte conclusão:
— Ela também era viciada na coisa como eu!
Caí no chão, tremendo, espumando, revirando os olhos e vomitando tudo o que comi, até os restos daquela sopa infeliz – na seqüência não vi mais nada, depois, desmaiei por sete horas.

C 42 – VOCÊ JÁ SONHOU COM O ARMAGGEDON?
Fiquei assombrada com um pesadelo que tive certa noite, que misturou cenas do Armaggedon (aquele troço ligado ao Apocalipse, final dos tempos, essas coisas).Sonhei com um lugar cheio de cobras e bodes multicores, ao mesmo tempo... Dava a luz a um menino (a quem chamei de Pornélio) e me casava com um nordestino porreta, chamado Maurélio Fudênzio, dentro de um cemitério! Misericréu! Tá Amarrado!
Durante a sessão uma estranha luz invadiu o lugar e, de uma só vez, peguei bicho de pé, sarna, mau hálito e frieira, no sovaco e na cabeça, além de ter ficado com piolhos aos quilos até dentro da calcinha!
Desesperada comecei a me coçar com caco de vidro, levei o pé a boca e comecei a morder uma bolinha gorda que no dedão surgiu, fiquei tonta por um momento, o chulé tava de matar!
Disse para o Senhor, aos berros:
— Obrigado por essa provação, eu tava precisando de uma lição, mas, da licença que eu vou ficar pelada, pois, estou ardendo em brasa, da cabeça ao fiofó!
Mal tirei a roupa e me deparei com algo estranho, dois auxiliares do pastor também estavam desesperados, batendo os queixos, de tanto frio (a tal luz também lhes iluminou)...
Começamos a nos ajudar, uns coçavam, outros aqueciam.
Pra piorar, quem chegou a seguir?
O pastor, que entrou derrapando na história, também pelado, a gritar:
— Me chupem, me lambam, me cuspam, me alisem, que eu também tô pegando fogo, irmãos, valei-me, uma luz quentinha me pegou bem no meio das pernas!
Engalfinhamos-nos no chão, nos ajudando mutuamente, que muvuca doida!
Não teve jeito, era para ser um ato de solidariedade pura...
Terminou em pura sacanagem!
O nosso tesão foi crescendo, crescendo e nos absorvendo, e nós nos vimos assim, completamente profanos, numa suruba dos infernos!
O fato é que gozamos (como os anjos, se é que eles gozam, ou como os quatro cavaleiros do apocalipse).
A seguir saímos correndo, meio que envergonhados, mas, felizes, só que sem entender que putaria foi aquela dentro daquele recinto eclesiástico.
Melhor esquecer tudo, não é mesmo? Esquecer? De que jeito?Tô assombrada até hoje... Tô encantada, ou melhor, destrambelhada... Mas, vou guardar isso na memória pra sempre!

C 43 – VOCÊ DEPILARIA SUAS PARTES ÍNTIMAS?
Só me dei conta que tava pagando mico depois que dei três coçadas na perseguida em plena Avenida Paraná. Tirei a mão da calcinha, dei uma cheirada e constatei:
Tava muito peluda havia suado muito, e percebi que o cheiro de bacalhau com queijo tava de travar... Decidi, pela primeira vez, que precisava dar uma depenada mais showbiz na Fifi, a quem costumo chamar também de Pufinha.
Parei num desses salões básicos da região, perguntei se tinham o serviço de extração básica de anti-petunias hippies (tinham), me perguntaram se era para dar uma geral ou se eu queria só uma parcial (desconhecendo a profundidade da questão disse que já que era para arrebentar que fosse no estilo barba, cabelo e bigode – maldita hora que eu falei aquilo!).
Preço acertado e fui para o abatedouro, digo, mandaram me deitar numa cama semi-alta (deitei)... Mandaram tirar a calcinha (tirei)... Mandaram-me abrir as pernas (abri)... Isso tava até parecendo um filme pornô!
Perguntei:
— Minha senhora, precisa disso tudo? Tô meio que arreganhada de mais, gosto de ficar assim, mas, não tão assim, digo, com a senhora passando esse negócio quente em minha virilha.
Ela não disse nada, estava super compenetrada em sua iminente tosquia, como uma oficial médica nazista, pronta para mais uma experiência esquizóide – colocou uns papéis por cima daquela cera, deu dois ou três puxões e tchan-tchan- tchan-tchan!
Não sei se tava sendo dominada ou se tava tomando uma surra sado masoquista bem na cara. Das minhas coisitas particulares (agora nem tanto assim)... Meus olhos se encheram de água, e eu mordi os lábios nervosa e energicamente, para não berrar como uma cabrita doida no cio!
Puxa daqui, puxa dali, e foi só tufo atrás de tufo saindo, em meio ao mel com papel.
Ai, enfim ela disse:
— Fica de quatro, que agora vou dar uma rapidinha na garagem.
— Mas, o que o Clóvis tem a ver com tudo isso? O que, que a senhora tá querendo? Tá a fim de arrebentar minhas pregas?
Ela disse secamente:
— Faz o favor de ficar no jeito? É só uma depilada, para refrescar sua traseira, e evitar as famosas freadas de Bicicleta.
Concordei com relutância, tanto que fiquei com as nádegas extremamente retraídas, mas, não teve jeito, e ela, já um pouco impaciente disse:
— Querida, use suas mãos e separe uma banda da outra sim?
Concordei de novo, mas, que constrangimento! Se ela ousar enfiar algum instrumento no Clóvis a pancada vai comer!
Ela deu uma breada com aquela coisa quente na minha buzanfa... Eu tava até gostando, mas, no que ela puxou eu vi até estrela! Foi pior do que ter sido arrebentada por um elefante, que tragédia! Entre rindo, chorando e soluçando paguei pelo serviço e sai toda torta avenida a fora.
Maldito dia! Maldita hora!
Sabe o que é pior? Fiquei quase biruta com a coceira desconcertante que toda aquele sebo provocou em mim!
Que os cabelos da Fifi cresçam de uma vez para sempre, e se multipliquem, livres leves e soltos, tô nem ai! Depilação? Nunca mais!

C 44 – O QUE PODE RESULTAR DA FILOSOFIA DE UM URUBU COM A TEOLOGIA DE UM JUMENTO?
A razão não tem primazia em questões de fé... Prova disso é o barulho resultante que fizeram dois bichos com idéias diferentes, que um dia se encontraram por acaso     (um Urubu, que filosofava e um Jumento que teologava)... Quando o orgulho passa longe, tudo o mais também passa, com exceção da ignorância.
O que conversaram foi mais ou menos assim:
— Sou mesmo muito inteligente, dependo apenas de mim mesma para viver, só a minha razão me basta para ser feliz (disse Seu Urubu).
— O que você diz é a mais pura ilusão, as coisas do além são bem mais reais, e dependemos delas para vivermos bem (retrucou Seu Jumento).
Seu Urubu:
— Quem é que vive iludido, eu ou você? Só acredito naquilo que vejo, se estas coisas estão além como é que você pode afirmar que existem se nunca as viu e nunca teve um contato direto com elas?
Seu Jumento:
— Você uma vez mais se engana, existem coisas que a gente não vê, mas, nem por isso deixam de ser reais, o vento, por exemplo.
Seu Urubu:
— O seu exemplo é falho, o vento é real, sendo composto de coisas reais, coisas atômicas, químicas, perceptíveis por equipamentos mais potentes que nossos olhos... Você está cego e deslumbrado com ficções e ilusões de toda sorte.
Seu Jumento:
— Cego é quem não quer ver, você é fruto do acaso ou foi criado por outros bichos?
Seu Urubu:
— Fantástico o seu poder de alucinação!
Só por que nasci de outro bicho quer dizer que há uma outra coisa, superior, que originou todas as outras coisas?
Seu jumento:
— Sim, se essa não for a resposta, qual será então?
Seu Urubu:
— Vou inverter a situação, responda-me, você tem como provar isso? Não precisa responder... Digamos que, se não tens como provar o meu ponto de vista você também não tem como provar o seu, ou tem?
Ambos estamos transitando por um caminho delicado, a única certeza que temos é que não temos certeza sobre essas ou outras questões.
Seu Jumento:
— Assim, com exatidão não tenho como provar mesmo... Mas nem por isso vou me deixar intimidar por você sua criatura preta e asquerosa!Você é um herege! Está querendo me desviar dos caminhos da fé! És um bicho pagão e absurdo! Vou mandar te prender! Eu mesmo vou te incinerar!
Seu Urubu (visivelmente transtornado, como seu opositor, concluiu):
— Se aproxime e vais tomar umas pancadas que é pra deixar de ser burro!Você é um estúpido! Um limitado! Um ignorante! Uma diarréia da inteligência! Um bicho esquizóide e psicopatológico incorrigível! Um fundamentalista metafísico e ilógico!
Mereces mesmo é tomar cicuta, seu safado de uma pinóia!
Qual foi o fim dessa tortuosa seção de acusações, ofensas e verborragias?
Os bichos em questão partiram mesmo para as vias de fato, foi só pena e pêlos que pelo chão ficaram; deixando bem claro o quanto eram ambos ignorantes.
Quando um não quer e o outro também não o que se vê?
A mais plena confusão irracional, nitidamente animal!

C 45 – BICHO-DE-PÉ COM BICHO-DE GOIABA QUE TIPO DE CARNIÇA DÁ?
Dois vizinhos, que a muito não se viam, um bicho-de-pé e um bicho-de-goiaba...
Se encontraram na floresta, numa bela tarde de chuva fina, primaveril, e conversaram muito, colocando as suas aventuras em dia.
— Como vai você?
— Estamos bem, pelo menos eu (respondeu o bicho-de-pé), o caipira que eu ando comendo é um tremendo porco, gordo, sujo e fedorento, o mais incrível é que o bobão gosta da coceira que eu provoco!
— Será que ele um dia não se cansará de você e o espremerá com puz e tudo?
— Já pensei nisso, tanto que já coloquei meus ovinhos na companheira dele, se isso voltar a acontecer faço o mesmo outra vez, ou seja, me garanto lá ou cá, eu e os meus, é óbvio...
— Sua vida é muito complicada, eu tenho uma vida mais tranqüila, vivo numa plantação de goiabas, com fartura, e sem preocupações, com moradia, e raramente me preocupo com predadores.
— Acho que você se esqueceu de um detalhe, o bicho de onde tiro o meu sustento gosta de um suculento doce de goiaba, é bom que você não se esqueça que ele mora bem perto de onde você se instalou.
— Quer saber? Acho que você está é com inveja, pois, eu moro num lugar chique e você mora num chiqueiro de terceira classe.
— Veja lá como fala seu lambisgóia! Semana passada eu acabei com um carrapato, com uma lombriga e com um piolho que se engraçaram comigo, olha que eu te arrebento também!
— Pode vir seu bicho podre, eu não tenho medo de porcarias como você!
Como se viu, mais um caso de confusão generalizada, os contornos mudam, mas, as entrelinhas costumam ser as mesmas:
Os bichos não assimilam com facilidade suas diferenças internas e externas, e o que realmente se vê? A mais plena confusão, de novo!
Talvez, um dia, quem sabe, todos os bichos possam vir a se entender plenamente...
Quem sabe possam ficar um no quadrado do outro, descendo ou subindo, redondamente...Quem sabe possam partilhar as mesmas carícias... Quem sabe possam ficar alternando posições diferenciadas... Quem sabe possam se beijar e se abraçar sem ter medo de se lambuzar...
Quem sabe possam até mesmo vestir as mesmas camisas ou camisolas...

C 46 – SOFIA FOI MESMO AMANTE DE JOHN LENNON?
Sofia sentiu-se mal, caiu e bateu a cabeça no chão, quando acordou deu de cara com John Lennon saindo dos estúdios Abbey Road.
Ele saiu fumando, a passos largos, nervoso, coçando a barba... Havia uma jovem em seu caminho:
Sofia.
Ele tentou se desviar, deu um passo para a esquerda, mas, ela também deu, deu outro para a direita, e ela também; impaciente ele disse:
— O que você quer? Um autógrafo?
— Não, engasgou Sofia, quero te amar, disse engolindo em seco.
— Eu poderia te dar um autógrafo, sei lá, até um beijo, mas, você quer de cara o meu amor! Pensou um pouco, coçou de novo a barba, pegou-a pelo braço e disse:
— Vem comigo, vamos andar um pouco...
Sofia aceitou e, suspirando, o acompanhou, foram se falando pelo caminho:
— Você sabe quem eu sou? Perguntou ele.
— Claro que sei Lennon!
— Não, sou o cara mais triste do mundo! A gente tá quase se separando, sabe... A banda...
– Eu sei.
— Como é que você sabe se isso ainda é confidencial? Nem os bestaloucos da imprensa sabem pó?
— Não é nada disso, quer dizer, vi em seus olhos, em seus gestos nervosos.
— Ah bom! Saca só, tem uma garota na parada, a Yoko. Sabe o que é... Ela é demais, me deu uma nova visão supra-oriental da vida.
Cara, tô a fim de viver de paz e amor, chega de mídia, sucesso e hipocrisia! Quero curtir mais a onde hippie.
 E você, que roupa esperta que tá usando! De onde você é da América?
— Do Brasil.
— Longe paca, bicho! A capital é Buenos Aires, não é mesmo?
— Como é que tu vieste parar aqui?
— É muito complicado, deixa pra lá, exceto que a capital é outra meu chapa...
— Tudo bem, eu entendo seu estado de confusão... Mais complicado do que minha vida com Paul, Ringo e Harrison, te garanto que não é, pode se abrir... Fala que eu te escuto, com carinho e paz... Quer um careta?
— Aceito. Promete que não vai rir de mim?
— Podes crer, vai nessa.
— Bem, eu vim do futuro.
— Depois sou eu quem fuma baseado demais...
— Tô falando sério!
— Foi mal, continue...
— Ando numas de viagens fantásticas, idas para o passado, para o futuro, coisas assim... Bem ao estilo Vestido de Noiva do Nelson Rodrigues:
Realidade, memória e alucinação... São atos cênicos e também cínicos...
— Como assim? Na boa, explica melhor!
— Acho que você não vai entender mesmo, tenho pouco tempo contigo, tipo cinqüenta e sete horas e/ou cinqüenta e sete segundos, sei lá, o processo é muito instável. Deixa pra lá, canta uma canção pra mim?
— Tem uma música que eu tô bolando, para o caso de uma carreira solo, vou te mostrar em primeira mão, quer ouvir?
— Como se chama? Imagine?
— Bicho! Tu leste meus pensamentos?
— Não, imaginei...
Ambos ficaram cantando, fumando, trocando carícias e batendo papo de montão.
Lennon pediu um tempo, voltou de onde veio para buscar mais cigarros, quando voltou não a viu mais. Ficou só pensando nela:
—Que peitões, que mulher maluca, que neura!
Enquanto procurava por ela, ia assoviando Come Togheter.
E Sofia? Sumiu... Nunca mais ele a viu... Sofia Santelly já estava em outra dimensão...

C 47 – FREUD É FODA OU NÃO PASSA DE UMA FRAUDE?
Sofia estava agitada, rolava de um lado para outro na cama, não conseguia dormir. Foi até a cozinha e tomou sete comprimidos para tentar pegar no sono.
Não satisfeita, tirou o garrafão de conhaque do armário, deu umas cinco ou sete goladas caprichadas no mesmo, e voltou a se deitar.
Em poucos minutos apagou, dormiu feito uma pedra, se remexendo e suando feito chaleira no fogo, só se acalmando quando começou a dialogar com Freud, o maior psicanalista de todos os tempos.
Freud:
 — Em que posso ajudá-la minha jovem?
Sofia:
— Se eu soubesse não te procurava; se vira se não vai tomar bordoada.
Freud:
— Agressividade gratuita... Descontrole... Vejamos, fale-me de sua infância, nela pode estar a raiz de alguns de seus problemas.
Sofia:
— Sei lá, tudo é tão confuso... Sinto alguém me bolinando, não, não é isso, é um cão cheirando minha boca... Acho que vomitei; meu pai tá na cozinha berrando com minha mãe... Vejo um facão, muito empurra-empurra. O que é que está acontecendo doutor?
Freud:
— É seu inconsciente aflorando...
Sofia:
— Não tem nada aflorando não, vejo um monte de flores despetaladas, alguns vultos, uma mula sem cabeça, um velório, alguém morreu:
— Eu, sou eu mortinha em cima de uma lápide do Zé do Caixão!
Como tô feia! Descabelada! Derrepentemente me levanto, feito uma disgracenta duma Maria-Zumbi, saio pelada pelas ruas, vejo luzes, muitas luzes, tô num show de rock, encontrei um cara lá.
Vejo um motel, uma bailarina e uma garrafa de conhaque; que neura! Por falar nisso, vejo meu irmão Neurox, agora a gente tá no chão, se engalfinhando, ele me chamando de safada, eu enfiando a mão na cara dele. O que significa tudo isso?
Freud:
— Você está patologicamente perturbada... Precisa fazer várias sessões comigo para acharmos uma cura para seus males. Vou prescrever uns tranqüilizantes para você.
Sofia:
— Alto lá vovô! Perturbado é você! Não tô doente, porque tenho que me curar? Quem tá mal é tu, saca só teu visual:
Cabelo pixaim, olho esbugalhado, estás todo mal arrumado! E tem mais, meu tranqüilizante é pinga com mel ou conhaque com ribite, até nunca mais!
O dia já estava amanhecendo... Cinco e cinqüenta e sete... Sofia acordou assustada, havia urinado na cama, estava trêmula, tinha sido um pesadelo psicanalítico.
Foi até a cozinha, fez um café bem forte, tomou e ficou assombrada o dia todo devido ao seu (des) encontro com Freud.

C 48 – SÓCRATES E PLATÃO REALMENTE AMAVAM SOFIA?
Sofia, remexendo em seus bagulhos, encontrou um livro de Platão com muitos diálogos socráticos.
Após uma rápida folheada, decidiu lê-lo... Cinqüenta e sete páginas depois, já estava dormindo sobre ele, e só acordou quando alguém tocou seu ombro, dizendo:
— Acorde senhorita, babando desse jeito o livro irá estragar!
— Quem é você? Perguntou Sofia.
— Sou Platão, discípulo de Sócrates, maior filósofo da Grécia, vamos filosofar um pouco?
— Com você, nem morta! Não falo com discípulos, quero falar é com o dono dos porcos! Cadê o seu mestre?
— Está ali, veja.
— Hei Seu Sócrates, psiu! Vem cá, vamos trocar umas idéias?
Ele se aproximou e disse:
— Sobre o que desejas falar?
— Sei lá, o inteligente aqui é você.
— Só sei que nada sei, porém mais ignorante é quem acha que sabe algo.
Como pode ver; não me acho inteligente. Porque acha que sou?
— Olha aqui, primeiro quem disse que você é inteligente foi o seu discípulo, eu nem te conheço...
Segundo, como é que você sabe que não sabe de nada? Isso já não é saber algo?
— Ignoro.
— Deixa de embromação, ou é ou deixa de é, que saco!
— O que sabes sobre o ser? Pareces estar bem informada.
— Vou perder a compostura já-já, meu sangue está subindo e quando eu me descontrolo, fico imoral e anormal, viu?
— Insisto e complemento, o que sabes sobre o ser, sobre moral e o equilíbrio das coisas? Ensina-me, digas o que sabes!
— Eu? Quer dizer, saber eu sei só que pra mim mesma e se você é um ignorante o problema é seu!E mais, depois dessa lengalenga toda me vou embora.
Noutra ocasião vou dar uma ligada para o Aristóteles, este sim eu sei que sabe muito.
Tchau mané, e vê se dá uma melhorada no teu visual, falô? Fui.
Sofia olhou para um lado, olhou para o outro, não vendo ninguém.
Levantou-se da mesa, fechou seu livro e foi até o banheiro...
Sentiu vontade de filosofar, mas, desistiu, preferiu mijar...
Sentiu saudades de Sócrates, mas, desistiu, lembrou-se de sua pouca formosura estética...
Pensou em Platão, desistiu também, foi até a cozinha e preparou um mexidão...
— Mesmo que o tal Sócrates fosse o que fosse eu não fui na dele tanto assim, só no começo, no meio em si eu já desconfiava de seu demônio interior, inferior...
Mas, do tal Platão eu pude algo entender, ele era um pratão, cheio de macarrão à grega...

C 49 – SOFIA MATOU MESMO JANIS JOPLIN?
Sentada no chão, Sofia deixou de lado um livro sobre como praticar yoga em cinqüenta e sete lições. Queria levitar... Meditar, fazer viagens astrais, essas coisas...
Assumiu uma postura meio zen, cruzando as pernas, etc e tal...
 Em poucos minutos já estava num estado alfa-beta-gama, mas, uma voz rouca, em princípio estranha, a conectou a uma viagem diferente.
Ela, percebendo que algo de terrível estava para acontecer, e reconhecendo de quem era a voz gritou:
— Janis, não faça isso! Pare! Pare! Pare!
— Não enche o saco! Faço o que bem quero! E tem mais, como é que você entrou em meu quarto? Se manda bicho!
— Qual é Janis, sou tua fã, se você continuar nessa onda vai morrer!
Larga essa garrafa de whisky, apaga esse baseado, solta essas cartelas de comprimidos, mulher! Saca só a bagunça! Tu já detonaste sete garrafas!
Olha só quanta bituca no chão! Pô!
Veja quantas cartelas vazias espalhadas em seu quarto! A vida não é assim não! Tu és amada pelo mundo todo! Tua voz, Teus blues, Teu visual, é tudo fantástico! Não nos deixe, não desista! Que tal fazer yoga? Sei lá, trocar umas idéias com o Bob Dylan, ou com Lennon, desabafa, faça alguma coisa, mas, não se mate; eu te amo!  Vê se me dá um beijo na boca, sua cantora gostosa!
Pros diabos com tudo! Tô cansada! A vida é um lixo! O luxo e a fama são pura ilusão! Essa onda hippie já me deu no saco! Estou sofrendo por amor, é muita dor!
Quer saber? Vou descolar uma corda ou um trinta e oito agora mesmo!
Sai da minha frente!
— Não saio! Só por cima do meu cadáver tu vai te matar!
— É pra já sua vagabunda!
As duas começaram a brigar, a se estapear e a arrancar os cabelos uma da outra.
Sofia deu uma rasteira em Janis, que caiu desengonçada, batendo a cabeça na quina de uma mesa, caindo desacordada, em meio a muito sangue e hematomas.
— Não pode ser! Matei a Janis! PQP!
O que faço agora?
Quer saber?
Vou me mandar!
Cinqüenta e sete minutos depois Sofia abriu os olhos, sonolenta, saindo do transe que havia entrado, lembrou-se de ter matado Janis Joplin...
Olhou para o livro de yoga, foi até a cozinha, rasgou e queimou o miserento...
Yoga? Nunca mais!
              
C 50 – MOISÉS, O FARAÓ E SOFIA ERAM AMANTES?
Caída no deserto escaldante do Egito a vida de Sofia tem sido um só correr... Para não morrer... Os cavaleiros de Set a encontraram lá quase sem vida, com areia por todos os lados, delirando, desejando as águas do Nilo, desejando a improvável sombra de um oásis...
Ela foi levada até o palácio de Ramsés, para se explicar ao todo-poderoso - afinal, que roupas esdrúxulas eram aquelas? O que era um tal de Belo Horizonte, que ela murmurava por entre os dentes? Porque gritava e gemia toda vez que gritava Galo? Que deus era esse? (Estaria ela a blasfemar contra os animais sagrados que a todos protegiam?)... O que significava Oh Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais? Que ela parecia cantar enquanto delirava pedindo também por conhaque?
— Levante-se infiel, ou melhor, proste-se diante do supremo Mon-Aha-Denai do nosso reino (Disse o grão-vizir, aquele que estava segurando um cetro cravejado de jóias e duas serpentes de ouro entrelaçadas).
Sofia, se recobrando aos poucos disse:
— Eu quero... Quer dizer, cadê o Seu Benedito? Eu quero o meu pai! (Disse ainda zonza a dita cuja).
— Seu único pai está diante de vós, insolente! Tragam-me a espada, vou decepar a cabeça dessa bestialidade! Só pode ser uma discípula de Babilônios ou Assírios!
— Cale-se! (Disse o Faraó) Minha jovem, em nome de Therion, quem é você, e o que estava fazendo no deserto incandescente?
— Num sei, só sei que desmaiei, estava no Shopping Oi, numa loja de produtos esotéricos... Acho que foi o cheiro daquele incenso com cheiro de pitanga com jerimum, sei lá – desmaiei com a catinga reinante, e quando dei por mim tava toda mijada naquele monte de areia de depósito de construção. Cara, tu é muito feio, que pintura doida! Que geringonça estranha na tua cara! E que coisa é essa em tua cabeça?E porque tá de mini-saia misturada com cueca, sentado nessa cadeira irada?
— Joguem-na no calabouço! Ou melhor, não! Atirem aos crocodilos do Nilo!
— O que foi que eu fiz seu farofento? Quero falar com Moisés agora! Ele vai me tirar dessa!
-— Conheces o israelita?
— É meu grande chapa!
— Chamem-no aqui agora! (Gritou o soberano).
— Que assim seja.
Pouco depois o dito cujo se aproximou, fez a reverência ao todo-poderoso, e já ciente de toda a confusão disse:
— Sofia, pelo amor de Jeová, outra vez no Egito?
— Como assim outra vez? (Ela perguntou), nunca estive aqui!
— É verdade, mas, só em parte, lúcida assim não, porém embriagada eu já perdi a conta! Só não entendo porque sempre apareces em meus aposentos, quando estou no banho, exceto hoje, é claro...
 Bem, vamos encurtar a história, amado faraó, deixe-a sob meus cuidados, pode ser?
— Sim, suma com essa coisa medonha daqui.
Moisés a levou consigo, e chegando a seu quarto deu a ela uma bebida exótica e a fez dormir, ele sabia que só assim ela sumiria... Para o bem de ambos.
Horas depois Sofia foi encontrada caída perto da Rodoviária de Belzonte – foi embora para casa sentindo um desconforto muito grande na baixa região, afinal sua calcinha estava cheia de areia.

C 51 – CONTO IMPURO Nº. 1:
SOFIA E BRANCA DE NEVE FIZERAM COISAS ESTRANHAS NA CASA DA MÃE JOANA?
Esta quem me contou foi o vovô Noel, quando eu tinha uns cinco ou sete anos, safadamente, digo, carinhosamente, me colocou no colo e fez um cafuné genital, digo genial, legal em minha pufinha, digo, em uma das tufinhas do meu cabelo (nos de cima ou nos debaixo? Deixa pra lá né?)... Apalpou-me, digo, acalmou-me e contou uma história, que era mais ou menos assim:
— Eu nasci há 10 mil anos atrás, não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais (ah que saudades do Raul Seixas)... Era uma vez uma jovem chamada Sofia Cachinhos Dourados do Vale Profundo, andando pela floresta, pelada, digo, gelada (sim, estava um frio de rachar goiaba), ela encontrou uma casinha bonitinha e decidiu pedir abrigo lá... Já era noite (esse negócio de ficar namorando no mato até de madrugada não estava dando certo não).
Bateu na porta e aguardou várias vezes; lá de dentro perguntaram:
— Quem é?
E Sofia respondeu:
— Uma menina da cidade grande, com frio, com fome e com sede, me deixem entrar, por favor!
— Pode entrar! (Todos responderam).
Já lá dentro, Sofia viu muita gente, mas, uma delas, a mais linda entre todas (mas, com alguns dentes podres na boca e semi-banguela) disse:
— Como vai? Sente-se que já lhe dou um guisado, mas, antes, deixe-me apresentar toda a galera:
Eu sou a Branca de Neve, aquele ali é o Príncipe, do outro lado estão os Sete Anões, só não me lembro mais de seus nomes, e aquela, no teto da casa, de cabeça para baixo, é Bruxa, hoje ela está meio que morcegona, tipo uma mulher do Batman às avessas, anda sentindo falta de fazer amor com o Coringa...
— Ué, não tem nada errado aqui não? Na fábula clássica não havia essa casa da mãe Joana não...
— Os tempos ficaram difíceis, a gente tá dividindo um barracão de terceira, é gente cuidando de gente, sabe como é... Depois daquele final feliz, vivido por nós outrora, nos contos infantis, a coisa apertou:
Recessão, queda do dólar, crise mundial, Bush, novas eleições americanas, a coisa ficou preta por lá depois disso, ou melhor, em todo o planeta, minha filha.
O Príncipe, que era rico, perdeu tudo em jogatina e cachaça, eu tive que fazer faxina para que pudéssemos segurar nossas ondas com maconha, os Sete Anões foram todos demitidos da mina, e a Bruxa ficou esclerosada. A gente é quem cuida dela.
            Sofia perguntou:
— Me responde só uma coisinha, porque tá todo mundo vestido de baby-doll?
— Ah minha filhinha, esta é uma outra história... Deixa pra lá, coma essa sopa aí e beba esse líquido aí, sei que você vai gostar...
— Como é que você adivinhou que eu gosto de canjiquinha com cachaça?
— Sei lá, você parece levar jeito pra coisa, tua cara te condena, e a propósito, vê se não demora não, na seqüência vem pra cama você também, que é pra todo mundo dormir pelado, agarradinho...
Vamos fazer umas gostosuras supimpas, genitais, digo, geniais!

C 52 – CONTO IMPURO Nº. 2:
O QUE HAVIA DEBAIXO DAS PARTES ÍNTIMAS DE CHAPEUZINHO VERMELHO?
Vovô Noel tinha um novo caso pra me contar, recheado de confusão e bastante adrenalina – foi assim:
            Sofia estava de caso com o Caçador, que ultimamente estava muito brusco e distante... Desconfiada de uma possível trairagem, de coisas chifrudas e similares, decidiu astutamente segui-lo... Será que ele estava de novo encafifado com aquela piranha da Chapeuzito Vermelho? Se isso fosse verdade ele teria uma desagradável surpresa, pois, ela ia botar pra fundir, ou seja, o desmascararia no ato em si!
Não é que ela estava certa? Só que de um jeito que ela não imaginava...
O Caçador seguiu pelas trilhas do sem fim, pouco depois se encontrou mesmo foi com o Seu Lobo! Juntos eles seguiram rumo à casa do felpudão, que dias antes havia se engraçado com o Patinho Feio e o Bambi... Dizem também que já andou pela noite muito com uma galera até bem conhecida:
O Peter Pan, A Pantera cor de rosa, o Pica-Pau, o Mickey, o Pluto, o Donald, o Shrek, e até com o tonto do Pateta... Esse povo inventa cada coisa!
...Voltemos à central Glóbulo de produções, nas imediações da Sbtão, esquina com a Recortz e a Band - Aid:
O casal Seguiu para a casa de sua rival, que ficava à beira de um penhasco, na cidade de Natal.
            Aguardou um pouco aberas de uma moita, e, bingo! Deu o flagra que queria dar, enfiou o pé na jaca, digo, na porta, de vez, derrubando-a.
Sua surpresa só não foi maior por falta de espaço em sua cabeça de amendoim com esperma, Chapeuzinho Vermelho estava sentada no colo da Miss Brasília amarela 2000 (tava rolando Rita Lee e os Mutantes na radiola), com a mão enfiada dentro da calcinha dela, parecia que estavam atrás do grilo perdido; não estavam dando muito algo do tipo, o maior amasso? Não sei ao certo, estava tudo meio confuso ali naquele ambiente erótico e com pouquíssima claridade, só uma pequena lâmpada vermelha de sessenta watts iluminava o lugar... Mão naquilo, aquilo na mão... Uma segurava dois mamão e a outra umas perereca (coisa das mais estranhas que já vi!).
 O Caçador estava de quatro, e o tal do dentução estava carcando por detrás, não me entendam mal, o sentido é que:
Vestidos até que ainda estavam, mas, coladinhos um ao outro procuravam pelo livro O Senhor dos Anéis, afinal há busca mais interessante do que essa? Pareciam também estar à procura de roscas queimadas e ruelas perdidas... Uma confusão dos diabos!
Sofia, para ser notada disse, aos berros:
— Que zona é essa aqui? Vamos parar com toda essa bagunça? Exigo uma explicação agora! E essa inversão de papéis confusa, alguém pode me explicar também?
A vovó de Chapeuzito (saindo de dentro do armário, sem sua calçola, e chupando três grandes pirulitos, um do Seu Madrusga, o outro do Champolim Coloraço e outro da Chisquinha) pediu a palavra:
— O que está rolando aqui é o seguinte, cada um de nós, a seu próprio modo, com o tempo, descobriu que tinha muita coisa em comum, temos até uma comunidade na Internet, essas coisas de Orkut, você sabe... Caiu na rede é peixe... Depois de muito troca-troca o amor brotou entre nós, somos uma galera do bem, da paz, e também fazemos tudo com muito amor... Una-se a nós.
— Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, se eu não desse uma blitz surpresa aqui nunca teria descoberto o que vi, mas, vocês tão querendo me fazer de trouxa ou o quê? Eu vou é quebrar todo mundo no cacete!
Foi um alvoroço danado, todos queriam tipo no corre-corre, se escafeder, mas, Sofia fez com que se acalmassem ao dizer:
— Vão pará com essa algazarra? Cês não entenderam nada, né? Também quero fazer parte dessa trama, desse trem da alegria, vão me deixar de fora dessa?
Um sonoro não foi ouvido, e a velha disse finalmente:
— Solta o som aí DJ! Mas, vê se não põe pagode, axé, funk ou rap – o clima está mais para os anos setenta, queremos Bee Gees, ABBA, Village People e muito croquete com rabanada, mexilhão à moda, cerveja a zói e muita pinga com limão!
Foi uma das noites mais loucas, longas e prazerosas que já se viu nos últimos tempos... Entrou para a história como o caso do Pacu com Pirarucu...

C 53 – CONTO IMPURO Nº. 3:
O QUE UM CIRCO BIZARRO TEVE A VER COM A SEPARAÇÃO DA BELA E A FERA?
Vovô Noel desta vez me contou uma história simples, mas cheia de emoção:
Em suas caminhadas Sofia se encontrou com uma jovem que era bela muito bela, mas estava chorando muito, perguntou a ela o que ocorreu:
— Diga-me jovem bela, o que a faz sofrer tanto assim?
— Ele me deixou! Covarde! Pilantra!
— Ele quem e por que fez isso?
— A fera, o meu marido, o danado recebeu uma proposta de um circo bizarro para viajar pelo mundo fazendo apresentações, e se foi com eles!
— Mas ele não era rico e cheio de posses?
E por que não te levou com ele?
— Rico até demais, só que é chegado em aventuras, exibicionismo, essas coisas.
— Que fera sem coração! Deixar uma jovem tão bela na rua da amargura.
— Não foi só isso, ele se enrabichou com a mulher-barbada (disse que ela estava mais ao gosto cabeludo dele)...
Depois que a conheceu começou a me maltratar, só voltava tarde da noite para nosso castelo, com muitos fios de cabelo enroscados em seu pêlo, cheirando a fumo de rolo e bebida...
Começou a ficar viciado em sinuca e em bingo! Um homem tão bom!
Mas, mudou de repente, começou a me bater e a me xingar de mocoronga, um horror!
— Que traíra heim? Vou te dar um conselho, segure seu homem, lute por ele!
Vá atrás desse circo, não o entregue de mão beijada àquela Maria-cabeluda de uma figa!
— Mas eu não sei fazer nada, o dono do circo não vai me aceitar!
— Pense bem, você não tem nada de diferente em seu corpo que possa chamar uma a atenção, por exemplo, três peitos ou uma perna de pau?
— Não, sou bela e pura, só sei fazer amor e comida, o que é que você acha?
— Não vai da certo, mas, eu tenho uma idéia, você sabe fazer caretas?
— Não sou boa nisso.
— Pode dar certo se você comer repolho misturado com ovo cozido, vai peidar que é uma beleza!
— Desse jeito quem vai fazer careta é o público.
— Mas se ficar conhecida como a bela mais fedorenta do mundo a coisa pode dar certo!
— Tens razão, obrigada, já estou de partida, até um dia!
— Até nunca mais!
Do jeito que você vai ficar, com o intestino atrapalhado, quero mais é distância!
Desejo-te boa sorte...
Pode até ser que encontres outro bicho por aí, para te preencher com mais profundidade...
Tchau catinguenta!

 C 54 – CONTO IMPURO Nº. 4:
HOBIN HOOD COMANDAVA MESMO UMA GANGUE DE ASSALTANTES?
Segundo vovô Noel a gangue do conto infantil se formou por causa das más influências de uma raposa, foi assim:
Sofia, caminhando sem destino, por ai, tomou um grande susto, quando um tal de Hobin Hood chegou de repente, lhe fazendo uma proposta, puxando-a para um beco escuro - lá estavam também alguns personagens conhecidos do grande público mas,  quem se enveredaram para o mundo do crime por estarem em dificuldades financeiras.
A conversa foi assim:
— Se você nos ajudar vai receber uma boa comissão, o que acha?
— Me conte antes como é que rola o esquema e eu verei se me encaixo ou não nessa tramóia.
— Precisamos que você faça uma sondagem prévia dos lugares que queremos afanar, basta você usar seus peitões como isca, entende?
— Sei... Sei... E depois?
— Depois de tudo esquematizado a gente ataca; na calada da noite, a Bela Adormecida põe os vigilantes para dormir com agulhas envenenadas, Rapunzel jogará suas tranças, e a gangue vai subir o muro com elas – o Pinóquio a gente tá usando como arrombador; ele chega perto do cofre, enfia o nariz na fechadura, conta uma mentira cabeluda e pronto, não tem porta que resista à seu narigão de pau duro!
— E o tal João com seu pé de feijão?
— Alguém tem que dar de comer para essa gangue, né?
— E ele dá conta de dar para todo mundo?
— O sujeito é delicado, mas, é prendado... Ele é nosso cozinheiro de plantão, não entenda mal, viu? Ninguém faz uma feijoada e oferece uma rabada como ele...
— Suas conversas têm duplos, triplos sentidos, não sei não... Cê tá mais pra Dick Vigarista, sabe? Aquele que é dono do Mootley, aquele cachorro sarnento, dos desenhos da Hanna Barbera...
— Sei, sei, mas, aprecio mais o Tião Gavião, aquele que vive tentando comer, digo, capturar a Penélope Charmosa.
— Isso não vem ao caso agora, só preciso saber de uma coisa, como é a divisão da muamba?
— Setenta por cento é meu, vinte e nove por cento é da gangue, pra você darei um por cento, afinal cê vai ser a novata da parada, entende?
— Vou te dizer uma coisita, sou doida, mas, sou gostosa, mas não pense que sou burra, seu malandro miserável! Tá pensando que eu não sei fazer contas? Se eu não ficar com meio por cento de tudo a cobra vai fumar, a vaca vai voa ou vai pro brejo, e vai ter pena de galinha para todo o lado!
— Tá chegando agora e já quer botar banca? A gente começa é de baixo, mas, pensando bem sua proposta é bem melhor do que a minha...
— Não tô chegando a lugar nenhum, tô é saindo, vou nessa, seu interesse rapidíssimo é muito suspeito! Não quis nem negociar um pouco mais! Cambada de trambiqueiros, fui!
O negociador concluiu ao vê-la partir:
— Vai entender essa mulherada de hoje tá cada vez mais não sei o que...

C 55 – CONTO IMPURO Nº. 5:
O LOBO MAU QUERIA COMER OS TRÊS PORQUINHOS EM QUE SENTIDO? UM POSSÍVEL “MÉNAGE À TROIS”?
Vovô Noel continuou a me contar as suas coisas malucas, ultra - fictícias, com um quê de esquisitices realistas aeroespaciais...
            Disse ele:
— Era uma vez, a mesma jovem, Sofia, andando, de novo, pela floresta, pela montanha mágica, catando coquinho e cavaco... Ela estava com o saco cheio quando ouviu um pedido triplo e quase afeminado, de socorro – curiosa, foi ver o que estava acontecendo.
            Chegando ao local, viu a seguinte cena:
            Seu Lobo estava do lado de fora de uma casinha pequenina, tentando entrar de qualquer jeito, mas, como não conseguiu, começou a soprar muito forte, tentando derrrubá-la.
Lá dentro, Os Três Porquinhos, acuados, clamavam por ajuda de Odin, Thor, Ultraman, e de Zeus... No balaio até os nomes de Lucivando Hulk, Silvino Santos, Raul Gilson, Angu Liberado, e também Grevtchen e Risca Cadillac, foram inexplicavelmente mencionados.
            Sofia gritou:
— Pare com essa carniça, Seu Lobo Mau dos infernos de Dante! Doravante, que haja purpurina e paz!
Seu Lobo disse:
— Não paro não, sua intrometida horrorosa! Não sou mais você, sou mais eles, que estão a me dever vários meses de aluguel... Não querem pagar nem desocupar o lugar! Se não saírem por mal sairão em direção a um hospital, a um necrotério, ou para dentro de uma panela de mingau!
— Deixe-me então pelos menos conversar com eles, daqui a cinco ou sete minutos dar-te-ei um retorno, minha buzanfa ou minha pufinha, o que você quiser... Ok?
            Ele concordou, ela entrou e já foi logo perguntando:
— Que disgreta toda é essa aqui? O que aquele gostosão peludo lá fora tá dizendo, é verdade?
Um dos porquinhos respondeu:
— Você não sabe da missa a metade... Ele andou se engraçando com a gente, se tivéssemos o deixado comer-nos, ele perdoaria nossas dívidas assim como nós nem sempre perdoamos aos nossos devedores, é claro que não aceitamos em princípio, mas, estamos quase cedendo, sabe como é, aquela potência toda... Digo... Aquela opressão toda...
— Ué, se ele fizer guisado de vocês, perderá não só seus inquilinos como não terá como obter seus dividendos, não é mesmo?
— Acho que você não está entendendooo...
— Quer dizer que...
— Isso mesmo...
— Mas que lobo safado! Que bicho desavergonhado! Defenderei vocês dele, darei a ele o que vocês não podem dar tão bem como eu, mas que nenhum de vocês fique tentado a dar a ele o que ele tanto quer, deixem isso comigo.
— Que assim seja, ficamos muito tentados, mas tudo bem, nos contentaremos uns com os outros...
— Ué, vocês não são irmãos?
— Que besteira é essa minha filha! Somos apenas amiguinhos coloridissimamente falando, com todos os tons de rosa possíveis, somos frutas frescas, borboletas do ramo da cosmética e da costura, também somos cabeleireiros e manicuros – só que falamos que somos irmãos que é para evitar as fofocas da vizinhança, sabe como é né?
— Entendo... Já que é assim até mais ver, um dia a gente da uma cruzada por aí, tchau.
Sofia então se foi, chamou Seu Lobo de meu bem, deu-lhe as mãos e se foram rumo a um matagal que ficava ali perto... A vida, a natureza selvagem, é assim mesmo... Os instintos precisam ser aplacados – quem tem fogo no rabo precisa apagá-lo rapidamente...
Posteriormente ela voltaria à casa daqueles porquinhos, para tingir os cabelo e fazer outras porcarias...

C 56 – TODA ÉGUA É MUITO LOUCA?
Sofia era uma égua pacata, não vivia empacada, só se servia de mato, e erva da boa, a quem muitos chamam de podes crer. Ser usuária de um cigarrinho do capeta a colocava em situações tortas, esquizóides, vivia se esquecendo de tudo, ás vezes pensava que era uma alcachofra ou uma alfafa aeroespacial. Cera vez imaginou que era o John Travolta!
Sofia tinha uma namorada, uma eguinha do tipo pocotó, que gostava de Bezerra da Silva, gostava de um molho apimentado, de funk e de ouvir a banda Calípso e da raça ruim do bicho homem, do tipo Bossa Nova.
 Por causa de brigas constantes acabaram indo para o xilindró, lá comeram a erva que o Saddam amassou, sofreram muito.
 Mas, um dia ouviram as palavras mágicas de uma dupla de bispos de uma seita sinistra, chamada Renascer das Trevas.
Converteram-se, e foram nomeadas ministras da fé e do dólar.
Cumpriram suas sentenças, e saíram limpas, renovadas, e ricas. Só voltaram a se sujar no terceiro dia, ressuscitando seus monstros interiores.
Um ano depois a égua de sua namorada morreu, e ela foi para uma clínica de recuperação para viciados, lá passou a passou a se relacionar com um pica-pau dos grandes - só que ele cortava dos dois lados, explica-se:
Ele era cortador de cana, gostava de botas rosadas, mas, era macho como uma franga, além de ser muito ciumento.
Por causa disso ela teve que fugir para um convento chamado São Bento, na rua dos romanos, nº. XVI (antiga Paulo, o bom, nº. II), por ter se engraçado com uma cobra das grossas, que se tornou sua senhora, cheia de graça, por uns tempos; rezavam separadas de dia e dançavam juntas a noite, num cabaré qualquer).

C 57 – VOCÊ TEM ALGUM GRAU DE PARENTESCO COM ANIMAIS RASTEJANTES?
Tem gente que é capaz de tudo pra se dar bem... Eu, por exemplo, sou especialista nisso, nasci assim, sou uma cobra, com todo o respeito! Mas, quem não é? Responda quem puder...
Há certo tipo de cumplicidade no ar no serpentário em que vivo, entre todas as rastejantes, que mais do que interessante é interesseira.
Eu sei, são acusações sérias (é que hoje estou envenenada), continuemos...
Há, por aqui, e até em muitos outros serpentários, pelo menos em boa parte deles, as chamadas trocas de favores, trambiques, sutilezas e agrados. Coisas assim, pouco ou nada evidentes, silenciosas, não menos reais, safadas.
Eu sei de tudo, pois, também sou sócia, digo, cúmplice, digo, vítima disso tudo.
Aos que trapaceiam só restam as barganhas, compras e vendas nas relações, ditas naturais, entre os que não têm nada a perder; as negociatas são astutas, quase mudas, nada públicas, impuras, lesivas.
Se pronunciar nesses casos nem sempre é seguro, gesticular, chacoalhar de leve... Ás vezes é melhor apenas sibilar ou sussurrar, subentender-se costuma ser o melhor caminho, sob a relva, por de trás das moitas...  Tudo isso sob a batuta de segundas e terceiras intenções.
Afinal, não estamos todos dispostos a preservar nossas vidas e nosso patrimônio? Muitas negarão... Tudo bem, não generalizemos, mas puríssima nenhuma cobra é – estou mesmo interessada nas que são como eu, imperfeitamente justa; mentira tem rabo curto, o tempo dirá quem tem razão.
Aos que são, tipo assim, anjos, e estão mais pra rolinhas:
Que tal se entre nós rolasse um negocinho? Tipo assim uma agência de proteção a pilantras mal-sucedidos? Eles precisam do quê? De contenção? Foi isso que eu quis dizer... Algemas nessa corja de línguas rasgadas ou não!
É o que eu sempre digo, rasteje conforme as ondas, se não a cobra vai fumar, se não as penas desses, e de outros bichos vão voar!
Ficamos assim, enroladas, que é pra melhor acomodarmos nossas estruturas; e quando a coisa apertar a gente troca de pele e se manda, precisamos proteger nossos ovos, pra que não se quebrem, não é mesmo?

C 58 – VOCÊ GOSTA DE "TROCA-TROCA”?
Quando aquela jovem foca fofa decidiu revelar ao mundo que gostava de mandioca de terceira, ouviu reprimendas de toda a bicharada:
De um castor pastor, de um urso de pelúcia e até de uma enguia radical. A delicada foca, chamada Lili chorou muito, mas foi adiante com seus sonhos e suas vontades.
Lembrava-se sempre de um exemplo bacana, de uma piranha bacana, que era apaixonada por um tubarão, com quem discutia; se aventurava e fazia bolotas, sem deixar de dar toquinhos e selinhos em um frango que vivia ciscando em seu terreiro.
Lili sofreu tanto quanto se podia sofrer, e, pra  se ver livre dos preconceitos, quis mudar, à força, sua natureza:
Deixou a mandioca de lado, e se engraçou com outras frutas e legumes.
Acabou conhecendo um cãozinho poodle, que havia recentemente se separado de uma gatinha feia como uma perereca rosa, com quem havia ido pro brejo por mais de cem vezes, numa moita farta, outrora.
Só que o totó acabou ficando mesmo foi com outra rolinha, cheia de balangandãs, ou seja, decepção na certa para Lili; traição e pilantragem a incomodavam por demais? Um pouco, mas nem tanto assim...
Pensou em se matar, mas preferiu viajar... Quem não gostou nada da história foi a gatinha daquele poodle safado; e foi só pena que voou quando ela o reencontrou – houve óbito no final, é claro.
Todo objeto comum (a muitos) deixa qualquer mandioca com gosto de quero mais (ou não).

C 59 – VOCÊ GOSTA OU NÃO DE PIRANHA?
Seu nome de guerra era Sofia, ela era uma piranha do tipo Raimunda, era feia de cara e boa de língua – erótica por demais, e, não era uma prostituta, como muitos pensavam.
Era uma peixona de família, mãe enérgica, trabalhadora e cheia de filhotes, tinha inclusive um grande coração, apesar de ser pequenina, pois, além de ser gente fina tinha algumas doenças, de chagas, e outras mais.
Ela tinha um quê de intimidade com a religião, só que sem deixar de lado seus vícios (gostava de mentir pra todos, por exemplo) sem se esquecer dos prazeres da carne, é claro... Amava seu Juca, o jacaré (que não amava Maria, sua esposa, uma baleia legal e tonta), só que ela transava também com Bob, o bagre batuta, com José, o cágado esperto, e com Sandro, o boto escroto... Sem deixar de lamber pacus, ou pirarucus, de águas vizinhas.
Seria carência ou excesso de amor?
Seria uma típica sacanagem ou será que ela era um misto de ninfomaníaca, algo do tipo Solange batalhão? Dizem que ela gostava de mesa farta, de farelada, de carne grelhada, de lombo assado na brasa, de lasanha com lascas de bacalhau (sem deixar de ler os Evangelhos, entre um mexidão e outro).
Aos amantes de uma boa comida, Sofia deixa algumas sugestões:
     *Picanha pau-a-pique, com molho shoyo e café...
*Truta ao molho cremoso, com bisteca e mel...
                                                                     
C 60 – VOCÊ GOSTA DE GALINHA COM CACHAÇA?
Sofia era linda, suave e também desequilibrada, tinha um porte bacana, umas penas sedosas e umas nervosas tendências pró-ativas. Como toda galinha, cuidava de seu único pinto, os outros fugiram desesperados...
O que ela mais desejava era dar pra a vizinhança – queria muito amar e ser amada (não sem antes dar de si para a cachaça com milho maduro).
Só assim, bêbada, é que ela se sentia feliz de verdade, só assim ela se sentia desinibida para dar pra alguém o que lhe era mais caro (ou barato, conforme a marca da mardita).
Ela já namorou muitos bichos, galos, cavalos, cabritos, e com tucanos também, mas gostava mesmo era de um jegue preto, por quem era secretamente apaixonada...
Preferência é assim mesmo... Uns preferem sertanejo, outros não abrem mão do rock’n’roll.
Um dia ela acabou conhecendo um belo coelho pequeno, quase se casou com ele, mas esperto como um beija-flor, ele voou pra um outro ninho, a deixando alcoolizada e zangada.
O que pode ser pior do que beber em turvas águas? O que pode ser melhor do que ter como companhia um grande amor, mesmo que seja em forma de garrafa com pinga, e acompanhada com lingüiça Maria Rosa? Vai saber...

C 61 – COMO UMA VACA SAFADA PODE SE PASSAR POR UMA TÍMIDA OVELHINHA? 
Esse povo fala demais... Já disseram que Sofia era meio que assim:
 Uma bela vaca malhada, mas vivia se passando por uma tímida e doce ovelhinha... Que sempre escolhia o que plantaria na vida, mas que nunca saberia o que dela colheria... Ela Tinha um belo jeitoso e um lindo beiço bacana.
Tinha uma simpatia interior latente, mas ocasionalmente seu rabo ficava quente, isso nem sempre de forma evidente, era de fato muito carente... Normal externamente, só que por dentro havia um quê diferente, era quente, ardente, voraz (como até bem pouco delicadamente citou-se).
 Desejava ser desejada, mas era morna e cinza em suas relações florestais.
Só que as paredes de sua toca lilás conheciam as cores vermelhas de seus anseios incandescentes, nada aparentes; só elas sabiam o quanto era criativa no uso de suas curvas, de sua boca e de suas coxas e patas.
Enquanto nada de novo ocorria usava sua imaginação dos modos mais variados e pros mais variados fins, seus orifícios eram manipulados com arte, e deles brotavam suores, tendências e delícias múltiplas, gelatinosamente fartas e fáceis.
Um dia, após ter voltado da mata, e já quase chegando em casa se encontrou, meio que por acaso, com Gugu, um tatu esbelto, com barriga de tanquinho e uma torneira mediana, mas de fluxo constante – se olharam, se apaixonaram, se falaram um pouco e muito se entenderam.
Rompendo com a timidez ela o convidou para conhecer sua coleção, linda e peculiar, de figurinhas fantásticas, em seu cercadinho.
Lá ela lhe deu muitos beijinhos, e ele, em retribuição lhe deu um chá (a quem muitos chamam de boa noite Cinderela).
Três horas depois ela acordou zonza, sem saber direito o que havia lhe acontecido, só mais tarde percebeu que o tatu tinha ido embora com todo os seus dólares, jóias e sua coleção de figurinhas especiais.

C 62 – ROSAS COM MPB E PIPOCA COM FILMES PORNÔ? COMO ASSIM? (A VOLTA DA VACA SAFADA)
Sofia era uma vaca malhada, tinha um belo rabo, e um beiço que era de uma incandescente belezura impar.
Era carente, e extremamente normal, mas, por dentro havia um quê diferente nela, era quente, úmida, voraz.
Desejava ser devorada por um ou três touros carnudos, só que uma volumosa timidez a consumia cotidianamente. Só as paredes de sua gruta (lilás, verde, roxa e laranja, com listras brancas e vermelhas) conheciam seus desejos safados – ela usava sua imaginação e seus orifícios com artifícios criativos e gelatinosos.
Um dia, voltando do pasto, se encontrou com Gugu bode-velho, bicho jeitoso, dono de uma torneira gotejante, mas com pouca ferrugem ainda.
Olharam-se, e, de imediato se apaixonaram. Sofia o convidou para conhecer sua gruta aconchegante – só que antes deram uma rapidinha, ali mesmo, entre a relva e as raízes... Coisas do coração, e do tesão.
Lá dentro, no doce ninho, encomendaram um bichinho, que só não nasceu porque o chifre, que ornamentava sua cabeçorra, furou a bolsa dela, e a coisa não foi adiante.
De uma coisa todos tiveram certeza:
Eles foram felizes para sempre, em meio a rosas, MPB, pipoca e filmes pornôs (que eles alugavam sempre que a locadora tinha uma promoção da hora).

C 63 – VOCÊ JÁ SE SENTIU COMO UMA PATA SUICIDA?
Houve um tempo em que Sofia se sentiu como uma pata suicida, e teve um sonho paticida, tipo assim:
... Quando, entrou em seu quarto, trancou sua porta e se despediu de seu ninho, no jardim. Orou como pôde, afagou suas penas, gemeu, sentiu-se nua e crua, sem rumo, sem esperança – chorou, mas não gritou, abriu a gaveta, tremeu, acariciou um punhal que outro dia encontrou perdido, caído junto ao lago, travou o bico, suspirou, fechou os olhos e cravou o mesmo no coração.
Para os que a amavam restaram lamentos, dúvidas, lágrimas e saudades (nem se quer um bilhete a suicida deixou), para os que a odiavam restaram aplausos, sorrisos, comemorações e alívio (Ainda bem que ela não deixou um bilhete... Disseram aliviados, por entre os dentes).

C 64 – O QUE DIZER DO SUICÍDIO? (A VOLTA DA PATA SUICIDA)
Sofia voltou a se sentir uma pata suicida, sem entusiasmo, sem luz, só pensava em se matar, em morrer, em desaparecer. Desejava o silêncio total, não queria mais ver nem ouvir ninguém.
Quantas vezes sonhou em ser uma águia veloz para poder voar, se isolar, para além de suas relações apáticas? Queria mesmo era paz, aquela do tipo tumular.
Só que certa covardia em seu peito ardia, e o seu máximo que conseguia era travar o bico e morder sua língua, fazendo-a sangrar – apreciava gotas de sangue, vendo-as macular suas penas brancas, só assim é que conseguia acalmar sua depressão suicida...

C 65 – O QUE DIZER DA TRAIÇÃO E OUTRAS DESGRAÇAS DO GÊNERO?
Sofia era uma foca fofa, linda mesmo, excessivamente inteligente conhecia os rituais sagrados, mas jogou tudo por água abaixo e com uma lula chamada Leléx, de bom coração, foi morar.
Trouxeram ao mundo uma cria híbrida, especial, aquática e borbulhante (afinal casamento sem prole é como mar sem peixe), deram a esse ser o nome de Pepê.
Entre idas e vindas ficaram enclausurados numa concha de periferia por muitos anos, pulando de galho em galho (quer dizer, de onda em onda, a sorrir e a chorar à medida que o tempo ia passando).
Um dia uma lagosta obscura, Carlão, ofereceu a ela uma pérola – ela não só aceitou, mas optou também por morar extra-conjugalmente com a tal criatura, usufruindo de sua casa-caracol e deu seu veículo possante, puxado por muitos cavalos-marinhos – não sem antes gozar com suas ferramentas secretamente (se encontravam às escondidas atrás de uma grande rocha).
Foi-se toda feliz, deixando sua cria pra trás e também seu marido simples demais, que nunca lhe bateu... Que não gostava de beber, fumar ou jogar, nem de baladas marítimas... Os excessos no viver não lhe diziam respeito, apesar de que tinha alguns defeitos tais como: imaturidade. Certo grau incômodo de egoísmo e irresponsabilidade.
Ela não apreciava relações desgastadas, mesmo que pudessem ser concertadas.
Leléx, apesar de toda a sua parafernália filosófica, sociológica e psicanalítica ficou inconsciente e sem luz, exceto pela permanência de sua cria com ele.
Quanto sofrimento! Só fragmentos ficaram, mesclando-se com decepções, castrações angústias e ejaculações precoces debilitantes, que fizeram a tal lula ficar torta cheia de nós em seus tentáculos, para o resto de seus dias.
Atualmente a foca fofinha planeja, com gosto, um ou mais monstrinhos lagostinianos, pro mês de agosto, sem desgosto, num esgoto qualquer.

C 66 – VOCÊ CONHECE A VIDA DE LULA (A QUE SOFIA TRAIU)?
A vida dessa lula, não era nada especial, nadava sem rumo no princípio, mas depois pegou uma onda melhor... Algumas nuances de certas guerras interiores fluíam como jatos de água, em meio a um turbilhão de dicotomias triturantes, de essência convulsiva e febril filosofia versus religião, erotismo versus moralismo, válvulas de escape versus razão versus emoção, literatura versus depressão, rock’n’rol versus MPB, experiência versus inatismo, senso-comum versus conhecimento, ilusão versus desprezo, ódio versus amor, angústia versus dor, vingança e guerra versus paz, a parte e o nada versus o todo, a preguiça versus a atividade geral... A inteligência e a ignorância reinante... A permanência versus a tendência esquizóide... O egoísmo versus o altruísmo, a lama versus o ouro, o mel versus a melda, a pancada versus a harmonia, a paz versus o caos; e um monte de excessos utilitaristas/pragmáticos... Disposto a não se entregar sem lutar Leléx rastejava mais que nadava pelas entranhas da vida, ousava, mas nem sempre orava, nem sempre sorria,gozava e amava, mas nem sempre. Vivia, mas nem sempre, sofria freqüentemente por causa de uma certa Sofia, o grande amor de sua vida, que,  sem sofrer, o esfregou de si, arrancando-lhe de seu corpo e de sua vida como um monte de estrume,  o que antes era bolo virou bosta, o que era refeição virou vômito... Sem desgosto jogou no esgoto os restos podres da tal lula...

C 67 – SOFIA TEVE AS VÍSCERAS DILACERADAS POR MALDOSAS HIENAS?
A raiva era o instrumento de que daquela tigreza-de-bengala chamada Sofia e sua dor dispunham para viver, se opor, compor, causar temor, transpor, radicalizar, brilhar, ousar, sonhar e também rugir ou fugir (o intuito de sua própria fuga tinha razão de ser), fazia jus à necessidade de ficar só – lamber e sangrar suas frustrações escaldantes do stress provocado pela hipocrisia das odiosas hienas.
Ela era uma estranha no ninho, viera pelos caminhos da Índia, mas acabou se perdendo pelos caminhos e descaminhos da África, num jardim paradisíaco, mas nem tanto...
Aquele lugar cinza e inóspito era sua agonia, fazia-a suar, ranger os dentes e morder sua própria carne, vermelha e trêmula.
Sim, ela estava doente e já não conseguia mais ir pra muito longe, a bengala (de seu nome) não era só um objeto lingüístico, era seu instrumento de mobilidade fragmentária.
O sangue e as lágrimas resultantes (relutantes e nada triunfantes) proclamaram um basta...
Então, numa noite ébria, ela se deitou, no meio de uma tempestade, entre folhas secas e pedras soltas, e ficou esperando a morte chegar... Esta não veio, ela acabou sobrevivendo... O que veio em seu lugar? Malditas criaturas risonhas que, entre rindo e brincando, rasgaram a essência daquela intrigante e debilitada tigreza triste, sem a matar...
O que dela restou? Estuprada que foi... Tripas, não mais.

C 68 – SOFIA MARIA E CRISTÓX FORAM VÍTIMAS DE JOSÉ? (UMA RELEITURA NATALINA ESQUIZÓIDE)
Para a natureza, a linguagem da dor e do sacrifício é uma só; lágrimas despontam quando os bichos precisam correr para sobreviver.
 Foi assim que aquela lebre, Sofia Maria, meiga e grávida de um filhote, Cristóx (dizem, erroneamente, que, mesmo grávida, era virgem, e que sua cria seria o maior milagre da natureza), passou por aquela trilha oriental:
Aos saltos, desesperada e em fuga.
Logo atrás vieram duas balas, disparadas por José, o caçador; e, como um raio partiram a barriga dela em mil pedaços!
Com a queda, os soluços do felpudo e branco bichinho se misturaram com terra e sangue.
E daí? O contraste entre o Eros e o Tânatos era evidente, aquele decadente dia instantaneamente deixou de existir, e só algumas farpas ficaram no ar:
O riso, o sarcasmo, o sadismo, certa glória, uma volumosa desgraça, a náusea, o vômito e por fim a ausência da luz. Dizem por aí que o filhote dela ressuscitou no terceiro dia, e a toda a Natureza salvou das trevas por ter sido filho de quem foi... Mas por causa disso nunca mais o natal foi comemorado em Cristolândia...

C 69 – VOCÊ É DO TIPO LÉSBICA GRALHA?
Sofia das Graças, a gralha grelhada, queria, um dia, viajar para o céu com seus belos filhotes, mas enquanto não realizava seu desejo angelical passeava pela praça secretamente à noite com seu grande amor, uma cegonha, a quem todos conheciam como Risoleide – é claro, sem que o seu marido o João–de–barro, soubesse de nada. Sofia era mesmo uma vagabunda...
A tal cegonha não era alguém assim tão sem problemas, abusava muito das palavras, fazia delas um instrumento de corte e dor, sua saliva era ácida, sua prosa, venenosa, sua língua e seu bico intoxicavam toda a bicharada constantemente. Gostava de mentiras, disfarces e promessas muito estranhas – sem que seu caso (Sofia) soubesse também arrebitava as penas para uma égua charmosa, conhecida como Tigrão Batalhão.
Sofia, bêbada de amor, não percebia o que acontecia – Risoleide, a obscura, preenchia tudo o que ela precisava, e que João, o bobão, não dava – isso tinha razão de ser, a danada da cegonha sem-vergonha, parecia uma camaleoa, de tão teatral que era... Apenas Sofia não entendia porque  apelidaram Risoleide de Aninha víbora branca, e nas entrelinhas, de Judas.
Como tudo tem fim, o chifrudo do João–de–barro um dia pegou as duas no flagra, no ninho, num sessenta e nove de tirar as penas e o fôlego – desesperado e um tanto irado, quase fatiou de vez as duas com seu facão, mas elas conseguiram fugir, e estão desaparecidas desde então.
Num outro canto daquele lugar, todo sujo de penas, tripas e sangue, sete filhotinhos, agora órfãos, esperavam pela hora de jantar.

C 70 – PAULA COELHA SABE MESMO ESCREVER? (O QUE SOFIA PENSA SOBRE ISSO)?
Muitos bichos gostavam do que aquela coelhinha escritora fazia literariamente (exceto Sofia, é claro), e isso tornava quase improvável que tantos leitores pudessem estar errados quanto à mesma opinião sobre ela...
Sejamos sinceros, porém:
Mil animais enganados não fariam, jamais, de um grande engodo uma grande verdade...
Sejamos honestos uma vez mais:
Muito do que ela escrevia, não era totalmente ruim (pois, bebeu em fontes mais antigas, e melhores, o que dava raiva é que ela quase nunca citava suas fontes nominalmente).
Era uma especialista em maquiagens, sua farofa mágico-literária parecia ser aos olhos de todos (ou quase todos).
Um apetitoso manjar, só que por dentro era cheia de cascalho e serragem, mas por fora, enfeitando, havia uma deliciosa cereja graúda.
Muitos associaram o nome dessa coelha à sabedoria milenar, outros, porém, a associaram a uma safada picaretagem, mesclada com superficialismos e uma audácia marron-ferrujinosa.
Um dia, decidida a se redimir, ela fez um livro contando sobre todas as suas trapaças, costuras e travessuras...
O tal exemplar arrebentou de vender, tendo da mídia uma total consagração. Ela, e o público, aclamaram tal livro como o melhor livro de ficção já feito até então... Paula era mesmo muito espertinha....
Sua alquimia foi perfeita ninguém acreditou que ela estava falando a verdade sobre suas mentiras... Desiludida, nunca mais escreveu nada, e sumiu no mundo, sem deixar pistas.
Na floresta fizeram uma estátua daquela coelha astuta e encantadoramente falsa...

C 71 – TODA TATUZINHA É PUTANESCA?
A massa italiana puttanesca (pasta alla puttanesca) é um prato elaborado com um molho denominado sugo alla puttanesca... Só que no caso de uma tatuzinha chamada Sofia vale só como trocadilho pra não dizer que não se falou de flores (embora chafurdadas de lama e sacanagem)... Um dia ela fez do dinheiro o seu Deus, a tudo o mais disse adeus, reinava nela uma explosiva tendência golpista, que fez dela um retirante, uma gatuna em pele de cordeiro.
Ela nunca ficou por muito tempo no coração de ninguém, inclusive muitos bichos a retiram de suas vidas (à força), tentaram, mas não conseguiram amá-la.
Quantas guerras provocou, quanta solidão cultivou ao saquear seus semelhantes covardemente!
A tatuzinha só queria prestígio, riqueza e poder, os bichos eram um mero detalhe, apenas desejava as coisas materiais que tanto a satisfaziam, instrumentos físicos e emocionais de primeira ordem.
Naquele dia em que aplicou suas tramóias com a tonta de uma lontra, ela se deu bem, levou consigo coisas valiosas, que fizeram muita falta à sua dona, mas ela com isso não se importou, levou-a sim, e dai?
Ela era uma obstinada, usava de todos os meio possíveis para aplicar seus trambiques, essa onda de galanteadora estava dando tão certo que ela resolveu entrar pra a política, um campo farto, um mar de lama onde ela poderia ser sacana e ao mesmo tempo bacana sem se estrepar.
Sabia que nesse meio havia muitos bichos honestos, mas nada que uns golpes funestos não pudessem mesmo sufocar. Ela facilmente se elegeu, prometendo acabar de vez com as sanguessugas. Deu tudo certo... Mas com o tempo a eles se uniu, secretamente, querendo também o seu quinhão, em nome da lei dos mais espertos.
A vida é assim mesmo, cheia de delícias, buracos de tatu, de goiabeiras, pereiras, macieiras, pererecas e pedreiras...
Sabe o que é mais legal? Sabe o que é mais absurdamente legal? Viveu e morreu assim, a impunidade a premiou desde sempre num buraco chamado Brasmil...

C 72 – UM BICHINHO CHAMADO SOFIA ESPERANÇA PODE AMAR OU SÓ SE ESTREPAR?
Leve como o vento, pequenina, mas com uma aura interior valente... Assim era aquele bichinho que Sofia dizia ser:
Um frágil e carismático bichinho verde, que recebeu  da mãe Natureza o nome de Esperança.
Desde o princípio nada foi fácil pra ela, e até hoje, continua não sendo.
Não foi muito feliz no seio familiar, e buscou em dois casamentos a harmonia desejada, do primeiro (com uma traça, que mais parecia uma lombriga doentemente amarela) restou uma cria especial, do segundo (com um besouro) surgiram duas enteadas, duas joaninhas danadinhas.
Nas entrelinhas uma sombra sempre se fez presente, e preencheu (em parte) um vazio enorme e constante em seu coração de melão (porque motiva ela e um amante do tipo minhoca grande não selaram uma tão desejada união, conforme os requerimentos exigidos pelas leis das flores? Ele já estava preso a um juramento com outro bichinho, ou seja, dava de si metade aqui e metade acolá... Desse jeito não tinha mesmo como casar com Sofia)...
Fazendo valer seu nome ela nunca desistiu, trabalha muito (como as formigas) e ora constantemente (como um louva-a-deus), pede sempre à mãe Natureza um bichinho, que a ame verdadeira e integralmente, e que com ela queira de verdade se casar...
Parece que a resposta virá do mar, um dia, à beira da praia, surgirá um molusco simpático, que com seus tentáculos a abraçará e a aquecerá com muito amor... Realmente, ter a esperança sempre presente não decepciona quem quer a luz encontrar. Realmente, de ilusão também se vive...

C 73 – VOCÊ  GOSTA DE PICA-PAU?
Quando aquele jovem pica-pau jovem e excessivamente delicado, que por nome de batismo se chamava Sofiano, decidiu revelar ao mundo sua suave condição, e que passaria a se chamar Sofia, ouviu reprimendas de um castor, de um grande urso e até mesmo de uma enguia radical, sofreu muito, mas foi adiante com seu estilo light purpurinado.
Um dia um cachorro poodle, chamado Chimbó, adentrou na vida de Sofia
( aquele pica-pau simpático e afeminado), se conheceram numa moita roxa, ao sul das entranhas de uma gruta fofa, ou seja, uma paixão doce e meiga surgiu entre eles.
INTERLÚDIO: A MUTAÇÃO DE OUTRO BICHO, DONA POMBA
Quando dona pomba também se revelou para o mundo, desabrochando de vez em prol da cutia, sua namorada, em detrimento do que disseram o tamanduá, a barata e alguns vermes, sofreu tanto quanto se podia sofrer, só que também foi adiante em seus propósitos pró-pererecas...
Um dia o suave Poodle também caiu nas graças daquela pomba bombástica (que estava sem namorada, pois tinha picado o pé naquela cutia vadia)...
Ou seja, era a primeira vez que ela se relacionava com o sexo oposto...
E gostou.
Quem não gostou nada foi Sofia, o pica-pau transformado... Transtornado não quis abrir mão de seu bofe, e partiu pro combate em plena praça pública, foi só pena que voou naquela cena insólita.
O saldo não foi dos melhores pras aves em questão...
Além de terem ficado mutiladas, perderam seu objeto de desejo comum, o tarado cachorro juntou os panos com a cutia e fugiram pra bem longe dali... Deixando a ver navios dois pássaros apaixonados e frustrados e agora também mutilados...

C 74 – VOCÊ GOSTA DE PIRARUCU, BAIACU OU PACU?
Meu sonho dia desses foi assim, disse Sofia:
Vivia em um aquário gigante, era uma pirarucu de nascimento (muitos diziam que eu era uma baiacu, uma pacu ou talvez uma piranha, o que nunca foi verdade); mãe de três sanguessugas – sempre fui apaixonada por um tubarão bacana (que era casado com uma égua-marinha... Sei, com certeza, que só existem cavalos marinhos, mas não resisti ao trocadilho).
Veja bem, já fui casada com um peixe velho e depois com um ouriço do mar, só que o tal tubarão, presente desde cedo em minha vida aquática chegou e tomou conta do pedaço – ele, em princípio, era solteiro, mas mesmo depois que se casou com outra, circulando por aí com os filhotes legítimos que tinha, não deixou de pular a cerca, digo a moita de musgos, comigo, seu grande amor; saíamos por aí de cara limpa, todo mundo sabia, mas eu não tava nem aí, tinha orgulho de ser uma tremenda cara-de-pau... Resultado:
De cópula em cópula comigo, de presente em presente, pra mim e pros meus filhotes, ele acabou sendo considerado por mim um quase marido (muitos pensavam que éramos casados de verdade!). Ele foi inclusive chamado por meus trubufuzinhos de papai... O pai presente que não tiveram, mas que substituiu os anteriores numa boa, afinal ele era o máximo, grandão, forte, carismático, dezoito centímetros de puro prazer, cheio da grana, funcionário municipal, e com veículo próprio!
O amor é cego, surdo e torto? Que nada, sabíamos o que de fato estava acontecendo, até minha família apoiava!
Vivia me separando dele, mas sempre voltava pra ele várias vezes depois.
Num desses distanciamentos acabei ficando com uma lula chamada  Lelé por um ano, talvez mais... Chegamos até a dividir a mesma concha... Eu, ele e o filhote oficial dele – os meus não estavam mais comigo, um passou a morar sozinho, alugou uma moita, paga por mim, as outras duas crias entreguei de bandeja ao verdadeiro pai delas, um abutre gordo e feio (as pegaria de volta no futuro, reuniria a todos de novo, poria fim à diáspora aquática que promovi, é claro que o tubarão estaria no esquema, mas secretamente – mas isso é um momento futuro da história... Tanto é verdade que entre uma bolota e outra eu dava uma beliscada na barbatana desse tal tubarão supimpa, o verdadeiro amor da minha vida! (Amor é amor, né? A trouxa tentacular até que percebeu tudo, sentiu o chifre de corno que lhe apliquei, mas carente, coitada, suportou o mais que pôde... Quer saber? Foi muito cômico ver  o bicho assim, cornélio, na lama).
Sabe o que foi mais engraçado?A lula se mandou, se separou de mim, não por causa disso, sofreu mesmo foi com as crises de meus filhotes que, de tanta saudade do papai tubarão, fizeram de tudo pra que ele voltasse a me ver e me comer quase que diariamente, e deu certo!
 Fiquei aliviada! Livrei-me daquela lula metida a filósofa esperta, mas pobre de fundir - não tinha nem onde cair morta, quanto mais sustentar meus caprichos e os de meus monstrinhos...
 Eu gostava mesmo era de carne de tubarão... De vez em quando ouvia um discurso sobre fidelidade na igreja... Coisas sobre honestidade e honra, entre outras coisas sobre ética e retidão, pois era evangélica, fui batizada nas águas de Netuno há muitos anos, mas fazia “ouvido de mercador” na hora do culto, afinal não sou de aço né? A “perseguida” vivia em chamas, meu negócio era levar ferro grande!
Sabe o que foi mais interessante? Tempos depois acabei ficando com os dois ao mesmo tempo! Senti-me realizada, disputada por duas criaturas distintas!
Sabe qual foi o final desse sonho duplamente picante? Acabei largando o tubarão e me casei de verdade com a retardada da lula Lelé... Ela provou seu amor por mim de um jeito que ninguém tinha feito ainda, tentou suicídio! Até parece que foi pra me comprar... Até na igreja começou a ir comigo, mas essa farsa não durou muito (ele pertencia a outro deus); não me importei, fiquei com ela assim mesmo, pois, estava doida pra me casar de verdade – o desgraçado do tubarão não se separava de sua baranga égua-marinha nunca, que carniça sô)!
Final da história (pelo menos momentaneamente):
 Passei a morar com a tal lula, com seu filhote, e com sua mãe, uma baleia maluca, uma Maria Doida, que nos cedeu seu lar – morar de favor é uma desgraça, mas fazer o quê? Eu não era rica, vivia de fazer faxinas em conchas alheias, não sabia fazer outra coisa...
A lula, meu novo amor (não tinha os centímetros de prazer do mesmo tamanho que o gostosão anterior, além de outros atributos de que eu tanto gostava, mas, quem não tem cão caça com gato) – ela, a lula retardada, acabou, de fato, entrando pra uma faculdade, foi fazer mesmo a tal da Filosofia, e isso nem dava tanto dinheiro assim... Continuou sendo uma besta mesmo – e meus filhotes? Passaram a morar em uma das casas da mãe de minha lula fofunchinha (com o tempo sairiam de lá, voltaria a morar com o pai delas), e eu, claro, sempre odiando seu jeito doido de ser – meus filhotes sempre me jogaram na cara que tomei a decisão errada, também pensei nisso, só que não teve como ser diferente...
Que sonho mais besta, né? Estava mais para pesadelo... 
Eu sou mesmo uma destrambelhada, mas pelos meus filhoticos faço qualquer negócio da China, ou de qualquer outro lugar – no total prejuízo não posso me dar ao luxo de ficar...

 C 75 – SOFIA JÁ FOI UMA EX-PECADORA? (FASE 1)
Foi assim que a (curta) vida católico - evangélica de Sofia começou...
Noite do sétimo dia, do sétimo mês de 2007...
 Sofia, vinda, não se sabe de onde, descia a Avenida Olegário Maciel, em BH... Cheirava a bebida e perfume barato... E, quando se abaixou para apanhar uma bituca de cigarro, em frente ao templo da Igreja Universal, tropeçou e caiu de quatro.
No que ia soltar uma rajada de palavrões, ouviu uma voz, que veio de uma jumenta, saída, não se sabe de onde também, que lhe disse:
— Porque me maltratas? Pegue a sua Cruz, siga-me! Entre aqui comigo, agora, se não vai tomar coices até ficar abestada!
E Sofia disse:
— Fazer o quê?
Vamos nessa, que o trem vai ficar bão a bessa!


Agora sou uma fervorosa defensora das coisas celestiais, comigo o buraco é mais embaixo, digo, é mais em cima, meu negócio é com Deus, para o inferno com o capeta! Sai pra lá desgraçado! Sou rápida no gatilho, minha conversão foi instantânea, mas, poderosa!
Sigo os caminhos de Jesus, mas, sou fã de um atalho, e, quando me dou conta já me lasquei.
Prefiro pecar pelo excesso, não aceito que façam coisas que vão ofender aos céus perto de mim, custe o que custar, afinal sou uma guerrilheira do Senhor, uma ex-condenada, que tinha mil vícios esquizóides, mas, mudei, e agora faço parte do lado branco da força! Lux triumphanx!
Quero ser sábia e santa como o meu nome, só uma coisa me impede fazer mais, minha imperfeição, essa safada, que tanto tenta tirar o brilho da minha cruzada, mas, tá amarrado!
Com o Senhor vencerei, quando me sentir fraca é que serei forte! Tenho muitos espinhos na carne, mas, não vou desanimar!
A lei e a ordem divina hão de prevalecer, nem que eu tenha que dar qualquer tipo de show, pela fé hei de combater a galera do chifre e da foice! O sangue de Jesus tem poder, e não vou desistir de minha missão de resgatar almas, nem que seja na marra ou na marreta!
Essa batalha vai ser infernal, digo, celestial, contra quem ficar no meu caminho – tô andando armada não é à toa, tô de armadura pela causa... Minha espada é o evangelho, e o penduricalho é o fogo da vitória divina! Tremam infiéis!

C 76 – SOFIA JÁ FOI UMA EX-PECADORA? (FASE 2)
Sou muito talentosa, não preciso ser modesta, afinal, a força está comigo, como já disse, a força do Senhor.
Isso causa a fúria e a inveja das hordas do mal. Que venham então!
Estarei com o porrete da fé e o escudo da salvação diante dos cavaleiros da capa preta e as caveiras de fogo, em meio às trevas ou na esquina da favela, com o evangelho debaixo do sovaco, digo, aberto, com a garganta arreganhada expulsarei, demônios, corcundas, lobos e dragões obscuros.
Dia desses tava a caminho da igreja, e dei de cara com um padre, ele me convidou para ir à missa, e ficou elogiando meus dotes (não, tava olhando muito para minhas coisas íntimas não, tava falando de meus dons religiosos, etc e tal).
Eis que chegou um pastor, e foi só ver o dito cujo começou a dar chiliques, dizendo:
            — Dando testemunho a essa alma perdida Sofia?
O padre nem bem deixou o pastor falar, e já emendou uma gravata no cidadão, enquanto dizia que ovelha desgarrada era ele.
Foram só batina e gravata que voaram.
 O pastor, em retribuição deu um pescoção no seu oponente...
Engalfinharam-se no chão por cinqüenta e sete minutos!
Deixei o pau quebrar e saí em disparada rumo a um boteco...
E fiquei lá até aquela crise passar. Fui uma covarde, mas, depois pedi perdão a Deus.
Pior mesmo foi ter me adentrado em um antro de cachaça que outrora tanto amei, minha boca inté salivou, mas, eu, com muito custo resisti.
Aleluia Senhor da Glória! Sem vossa proteção o que seria de mim?
Sou apenas uma alma depenada, mas, do teu lado, sob a sua proteção as minhas penas chegam até a brilhar!


C 77 – SOFIA JÁ FOI UMA EX-PECADORA? (FASE 3)
Sabe a tal briga de que falei daqueles ministros religiosos? Pois é, ela teve um final surpreendente, pena que não fiquei lá para ver mais esse milagre celestial, fui saber só depois.
Estavam eles a se digladiar no chão, cada um com a mão nas coisas do outro, falando mil bobagens, um em cima, o outro embaixo, num rala e rola nada cristão, numa capoeira de boxe no estilo Saikieudô.
O pastor, desgovernado, começou a falar mal da mãe do padre, que não gostou:
 — Da minha mãe, a doce Cleonésia Gioconda das Dores Barra Funda ninguém fala mal não heim?
O pastor, petrificado, parou por um instante, e pediu com os olhos cheios de água, que ele repetisse o nome da dita cuja.
O milagre estava consumado!Ambos eram irmãos, e não se viam a mais de trinta anos!
A vida se encarregou de separá-los no passado, mas, os uniu naquele momento de tensão, de forma espetacular!
Ambos eram cearenses, advindos do vilarejo de Coquinhos Morenos, e foram embora dali, ainda jovenzinhos, para tentar vencer na vida, cada qual em seu ritmo.
Chegaram a conclusão, inclusive, que eram gêmeos, só não descobriram antes porque, à sua maneira, cada um era mais feio que o outro!
Dias depois fundaram uma nova igreja, e seguiram felizes a louvar a Deus.
O meu Senhor é fantástico! Gloria, Glória, Aleluia! Adonai, xarope anay!

C 78 – SOFIA JÁ FOI UMA EX-PECADORA? (FASE 4)
Sangue, suor e lágrimas são o que se espera de um pregador no altar, mas, tem uns que parecem estar com anemia, assim não dá! Uma pregação é como um show de rock tem que ter adrenalina! Cadê o carisma, a explosão, a garra, o feeling?
Há dias que até penso em levar travesseiro e coberta, mas, desisto e ponho os pés pra traz (oro de joelhos), com a cara no pó, pelos fracos.
PQP! Que mocoronguisse! (Quando uso a sigla acima não a associo ao palavrão correspondente para mim significa Perdão, querido Pai, e quando digo FDP Quero dizer Filha do Pai, ok, maldosos infiéis!).
Dia desses, assistindo a um programa de TV, vi um pastor, que mais parecia um astro de cinema, coisa fina, bem ao estilo do padre Marceleza, aquele, da outra galera. O fato é que me apaixonei pela sua mensagem (e por ele!), que sacrilégio, suada, estava disposta a conhecer aquele homem, digo, aquele servo de Deus, de qualquer jeito!
E foi o que fiz... Só que me arrependi profundamente! De perto o cara era um bagaço, e mais, a TV, só o filmava da cintura para cima porque o cara era um tampinha, ao estilo Nelson Mad! Que desilusão! Por causa disso a minha fé esfriou, e não sei quando voltarei para a igreja, seja do tipo católica ou protestante – fraquejei, eu sei, mas, eu sou humana!
Sou assim mesmo, volúvel se assim não fosse não seria quem sou!
Até mais...
C 79 – SOFIA FOI FORJADA DAS TREVAS DO BURACO NEGRO TRANSCENDENTAL?
Em meio aos corpos mutilados Sofia, a jovem guerreira, forjada das trevas do buraco negro transcendental, retirou seu elmo, e beijou a face do líder da resistência de Darkânia, que ainda segurava a cabeça do lorde impiedoso em suas próprias mãos (ele, por sete anos, reinou sobre o vale de Neooon, humilhando, escravizando e massacrando a população indefesa).
— Vencemos (disse ela), relaxe um pouco, exterminamos o exército inimigo.
Passarem-se alguns minutos até que ele disse:
 — Eu sei. Quantos de nós restamos?
— Contando conosco, uns cinqüenta ou setenta guerreiros.
— Éramos cinco mil! Desgraçados sejam os Magistrados!
Com a ajuda de Sofia o guerreiro Zyon se levantou só então se deu conta que estava mortalmente ferido no peito, esvaindo-se em sangue, caiu de joelhos, enquanto sorria satisfeito...
Sua morte não seria em vão, seu triunfo foi maior, Darkânia estava livre para voltar a brilhar uma vez mais.

C 80 – UMA NOVA GUERREIRA DO BURACO NEGRO TRANSCENDENTAL?
Por sete séculos a espada do imperador de Warmag esteve desaparecida, foi retirada de suas mãos por uma horda suicida de bruxos sanguinários, dispostos a destruir Mercúria, e humilhar os adoradores de Xandrázia, a deusa triúnica.
Alternando períodos de guerra e paz a cidade precisava reaver a espada do poder, aquele que a encontrasse seria, por direito, o vingador, justiceiro e rei de um reino que precisava mostrar para os seus inimigos a mão forte da glória.
A espada foi encontrada por uma jovem camponesa, Sofia, nas montanhas de Amoran...
Só que ela era um adorador de Targos, o deus vingador, e, pelas suas mãos Mercúria conheceu o exílio eterno...

O poder aos dois lados convinha.

C 81 – EXISTE ARTE NO ATO DE ROUBAR?
A Torre, toda incrustada por dentro de esmeraldas e outras jóias preciosas, por ficava bem no centro de Dragxilar, rota comercial da mais alta importância entre os povos do norte.
Era imponente e trágica, uma prisão para traidores.
Sofia, a maior ladra de jóias daquela terra miserável, estava disposta a ser presa pela guarda imperial, nunca havia sido capturada, por isso a reação foi imediata quando se entregou espontaneamente:
— Estás presa, infiel filha do mago Dássilon.
Toda a cidade comentou, admirada, a prisão da jovem mercenária...
A aparente surpresa da população só não foi maior do que o desaparecimento da própria Torre!
 Sofia e seu pai conseguiram aplicar o maior golpe que já Dragxilar já viu!

C 82 – O QUE VOCÊ TEM A DIZER SOBRE A HUMILHAÇÃO?
Todo o corpo de Sofia, a mercenária vermelha, estava coberto de lama...
Trincando os dentes para evitar que aquela podridão entrasse em sua boca, ela tentava alcançar as margens do que antes fora um riacho.
Aquela tempestade infernal assustou seu cavalo e ambos caíram ali.
Em vão ela tentou se libertar, mas, uma inesperada ajuda lhe salvou:
D`Xar, robusto esposo de sua pior inimiga, a rainha branca, jogou-lhe uma corda, e assim que ela a segurou firmemente, o cavalo de seu salvador a puxou Dali.
Fizeram amor ali mesmo...
Uma tripla vitória para a lendária guerreira de Foxy Krammer:
Sua vida foi preservada, e teve para si um grande momento de prazer debaixo de uma chuva torrencial, que só não foi maior do que a satisfação de ter arrancado os testículos daquele homem que o humilhou ao salva-la.


C 83 – O SABOR DA VINGANÇA TE SATISFAZ?
Sofia teve seu braço decepado, e um olho perfurado, pelos gigantes de Angster na sua última batalha que travou com eles, seu dragão esmeraldino, num vôo rasante, conseguiu resgatá-la no último instante, abocanhando sua armadura semi despedaçada.
A vingança com certeza viria...
Já na Cidade das Nuvens ela foi medicada e teve sua vida preservada pelo velho e sábio curandeiro mestre; após sete meses, e um implante do membro que lhe faltava, elaborado com a mais pura energia das entranhas do meteoro divino, voltou a treinar incansavelmente com sua espada de Tiburion.
O contra-ataque foi brutal, ela e o exército de cavaleiros alados sob seu comando, deceparam a cabeça de centenas de gigantes, que foram surpreendidos em meio a uma bebedeira descomunal – nem um deles sobrou para contar a seus netos o quanto uma vingança pode ser injusta e sangrenta.

C 84 – VOCÊ GOSTA DE COLECIONAR COISAS BIZARRAS?
Sofia era a mais hábil polidora de lentes da sua comunidade, era cega de um olho e uma apaixonada por sua profissão, entendia tanto dela que extrapolava, era uma profunda conhecedora de fisiologia ocular.
Para ela nada era mais fantástico na anatomia humana do que os olhos.
Cansada de violar túmulos em busca de cadáveres recém-enterrados para compor sua coleção especial de olhos (que guardava em frascos de vidros transparentes) decidiu extraí-los de rapazes, moças e crianças de todo o tipo, em plena luz do dia, com seu punhal prateado...
Dentro da floresta de Valstark havia uma trilha muito utilizada pela população local para chegar de um extremo a outro, passando da vila Gnay para a cidade de Joxtawn – o local era perfeito para que ela se escondesse e agisse; só que não matava ninguém, apenas as mutilava, retirando delas o que tanto deseja para si.
Mas, começou a ter problemas:
As sete pessoas mutiladas estavam falando demais, e a população ficou com medo, e passou a evitar a floresta...
A ausência de doadores poderia comprometer sua linda coleção, ela as matou todas em suas próprias casas, na calada da noite, e dali em diante esse foi seu novo padrão:
Punhaladas no coração, seguidas de extrações oculares.

C 85 – É MÓRBIDO ARRANCAR ASAS DE BORBOLETAS?
Sentada em uma enorme rocha Sofia descansava, olhando com prazer para o saco transparente, cheio de borboletas que ela capturou no bosque de Neoplaza. Ela não estava satisfeita, ainda não havia encontrado a mais bela das borboletas, não sabia como era uma, saberia, com certeza, ao encontrá-la.
Decepcionada esmagou com os dedos as cabeças de todas as borboletas que encontrou, soltando-as correria o risco de pega-las novamente, perdendo um tempo precioso.
Qual seria a solução para o seu dilema?
A resposta estava a poucos metros dela:
Um jovem magnífico passeava por entre as flores, ele sim, era mais bonito do que qualquer s borboleta! Aproximando-se sorrateiramente a golpeou-o com uma pedra, mas, não o matou, só o desmaiou; com ele caído ao chão, ela em êxtase, pode ficar admirando-o!
Porém, havia uma pequena cicatriz em seu rosto! Decepcionada ela esmagou sua cabeça, e partiu em busca de outro ser mais belo.

C 86 – O QUE VOCÊ PENSA SOBRE O CANIBALISMO?
Sofia, uma jovem esplêndida na cozinha, preparava pratos deliciosos, sua especialidade eram as carnes. Ela não só fazia as mais tradicionais receitas com carne de porcos, de bois e de carneiros, como também apreciava fazer exóticos e refinados pratos com javalis, rãs e serpentes.
Seu restaurante começou a ficar cheio depois que ela criou um prato novo, delicioso, com uma receita secreta, ao qual batizou de Snamuh – um requintado e milenar assado africano, à base de sangue de hienas, com muita cebola, azeite e especiarias da Índia e do México.
Alguns meses depois, no final de um dia cansativo de trabalho ela desapareceu misteriosamente... Estaria ela inconsciente dentro de seu frigorífico particular? Sim, ela teve um fulminante ataque cardíaco lá dentro – só que para a surpresa da polícia foram encontrados lá vários sacos, todos tinham rótulos escritos Snamuh, e eles estavam cheios de órgãos humanos!
Foi então que todos descobriram que o nome do famoso prato era humanos (humans, em inglês).

 C 87 – O CONTO MONSTRUOSO AQUI CONTIDO DEVE SER LIDO?
Desde sua infância Sofia tinha uma predileção especial por concertar coisas quebradas:
A boneca de sua irmã estava com a cabeça torta, ela a colocou no lugar. O mergulhador de seu amiguinho, de madeira, precisou ter a perna trocada, e ela o ajudou.
Sua habilidade com seu canivete era genial...
Numa manhã de primavera ela quebrou um vaso finíssimo de porcelana chinesa de seu pai, que além de ter-lhe dado uma surra memorável, a obrigou a reconstituí-lo, sem sucesso, por horas.
Como não obteve resultado desejado teve sua cabeça empurrada contra a parede, violentamente.
Hoje ela nem se lembra mais de ter degolado seu próprio pai com o seu canivete, colocando a cabeça e os pés dele na posição que considerava correta, pra traz...
Assim também ocorre com as lindas jovens encontradas nuas e ensangüentadas, com as cabeças e os pés virados, com letra S, riscada em seus rostos, a canivete.

C 88 – DEPENANDO ANJOS? (OUTRO CONTO MONSTRUOSO)
Sofia da Consolação sempre foi fiel às suas tradições religiosas – sua fé nas coisas espirituais aumentou depois que esteve à beira da morte, após uma forte febre, que só cessou depois que ela foi curada pelas mãos do próprio anjo Gabriel.
Desde aquela ocasião ela passou a ter uma enorme criação de pombos, ela mantinha a todos bem alimentados, dava-lhes remédios e conversava com eles com uma Bíblia enorme nas mãos.
Cantava louvores e vivia fazendo preces a seu anjo salvador. Decidiu então fazer-lhe uma homenagem especial.
Com uma foice bem amolada começou a arrancar as asas de todos os seus pombos, sua indumentária branca em poucos minutos ficou banhado em sangue (e seu corpo todo também), pois, começou a usar as mãos e os dentes naquela tarefa especial:
Confeccionar um novo par de asas gigantes com as asas de todos aqueles pombos, para oferecer como presente a quem tanto a ajudou na vida.

C 89 – QUANDO UM AMOR DOENTIO PASSA A SER ABOMINÁVEL?
Sétimo dia do sétimo mês de 2007...
Adoro a Deus, você não. Eu viverei você morrerá! Eu te amo Madeleine, mas, amo mais a Deus, e não permitirei que você continue a fazer o que está fazendo; queria tanto que tivesse continuado pura, mas, não, você me rejeitou para poder ficar com homens de toda sorte, imunda, incrédula, vadia!
Oitavo dia do sétimo mês de 2007...
Comecei a segui-la:
Minha mente está em chamas, por Cristo e por ela.
Já me penitenciei por isso, estou banhada em sangue, cheia de dores, mas, limpa e pura agora.
Nono dia do sétimo mês de 2007...
Ela se encontrou com um homem, foram ao motel!
Minha adaga clama por vingança e justiça! Estarei com ciúmes? Não é isso! Não pode jamais ser isto!
O que é então?
O que significa tudo isso afinal?
Eu sei o que é, estou agindo em nome do Criador, desejo eliminar a sua mais ordinária criatura, uma mulher infiel, promíscua e que não merece a vida, mas a morte!
Décimo dia do sétimo mês de 2007...
Em princípio amarrei minhas partes íntimas com Nylon, mas, depois decidi costurá-las definitivamente – eu seria pura para sempre afinal... 
Preciso me esquecer da carne, entrar em comunhão com meu Salvador.
Consegui entrar escondido na casa dela, hoje ela morrerá!
Espalhei gasolina por toda parte.
 A amarrei, a estuprei. Pequei, eu sei, mas, a culpa é dela! Fugi, não tive coragem de matar aquela vaca.
Décimo primeiro dia do sétimo mês de 2007...
Hoje deixo esta vida, pago por nós duas os pecados de nossas vidas, adeus, amo ao Senhor, mas idolatro você, Madeleine, meu grande e impossível amor.
Sofia.

C 90 – UM DESGRAÇADO SENSACIONALISMO IMBECIL? (NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 1)
+ EDITORIAL
...Frutas do meu Brasil, minha gente amiga, bons dias!
...Encharcada de prazer dou inicio a este primeiro número de meu jornal, dando tudo de mim, literalmente. Tenho muito que mostrar, por dentro e por fora, de forma popular, light e culturalmente super.
...Vamos nos divertir, refletir, criticar e fazer um monte de gostosuras de agora em diante, juntinhos, ok? Não se esqueçam:
...A maçã tá podre, mas, tem partes boas aqui e acolá, a esperança está no ar, afinal dentro dela há sementes para outras safras melhores!
...Beijo na cara meus fofunchos, e no mais até breve!

+ SEÇÃO TERNURA
...Recentemente recebi uma cartinha de uma moça evangélica, desesperada, dizendo mais ou menos assim:
— Não sei mais o que fazer, não sou santa, mas tô querendo muito, o problema é que tenho um namorado, e quando dou por mim já dei. Quando tudo acaba fico arrependida, querendo termina nosso relacionamento, e ele, todo cínico diz:
— Não te entendo, acabamos de terminar um agora, quer mais não ou tá fazendo mãnha para a gente da mais uma relacionada mais caprichada?
...Tô a fim de contar tudo pro pastor, só que não tenho coragem!
...Ando querendo me matar, mas, enquanto não me decido vou enchendo a cara de cachaça e dando de graça o que me custou tão caro, pro meu libidinoso amor.
...O que é que eu faço?
...Minha amiga, ou você continua dando ou desce, ficar trepando em cima do muro só vai te fazer mal – decida de uma vez a quem quer amar, ao Senhor ou ao seu namorado, só depende de você! Enquanto isso não acontecer vê se pelo menos não toma cachaça ruim, belê?
...Beijo na cara, fofuncha, no mais até breve!

+ SEÇÃO GRELHADOS E BABADOS
...Se a fome apertar, que tal uma galinhada grelhada, pra começar? Jogue numa panela uns peitos de galináceas, dentes de alho, pimenta e manjericão, sal e óleo a gosto. Coloque ½ tablete de caldo de galinha, uma mandioca picada, torresmo sem cabelo e chá de cogumelos frescos.
Modo de fazer:
...Ponha pra cozinhar e depois é só comer... A porção é pra dois, mas, se você quiser comer a três o problema é todo seu.
...Britney Spears ainda é motivo de muito bafafá e ti- ti -ti, a dessa vez é que ela tá gorda, mal acabada e mal arrumada, mal tem conseguido fazer suas coreografias. E até no play-back tem desafinado, mas, a poderosa sempre se recupera...
...Eita minina fuerte qui nem égua da boa! Só falta agora casar com Michael Jackson e fazer musical tipo Disgrace Monster.

+ SEÇÃO PORRETADA DA HORA
...Se beber não dirija!
...Se comer coma gostoso!
...Se dirigir não chame o Renan, alguns Calheiros são do carvalho, trepam, e ainda ficam famosos!
... Se alguma coisa tosca te incomodar faça o seguinte, taca nela um atum véio em chamas.
... Se tudo o que fosse bom fosse realmente interessante que bom seria, né?
... Se antes ir você decidir voltar vá assim mesmo ou não, sei lá... Se faltar é por que houve escassez em demasia, chegou a faltar inté bacia.
...Beijo na cara e na língua meus fofunchitos, meus batatinhas!

C 91 – UM DESGRAÇADO SENSACIONALISMO IMBECIL? (NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 2)
+ EDITORIAL
...Glória, glória, aleluia!
Finalmente uma boa notícia, o Garanhão de Brasília (Renam Calheiros) finalmente se licenciou da presidência do senado, não suportando a pressão, iniciada, pela mídia, em maio – isso, é claro, não o isenta das investigações que tramitam no conselho de ética daquela casa – só não sei se vai acabar em pizza – sei lá, pode ser que acabe em uma bela feijoada – festa eu sei que vai ter!
...Enquanto isso sua ex-amante vai bem obrigado, ganhando uma grana preta com as vendagens da revista daquele bicho comedor de cenouras...
Eita Brasil; vê se acorda! Gostosa mesmo sou eu! Tenho tanto prá mostrar lá...
Quando fico pelada sou um show à parte...
Enquanto isso não ocorre, vou mostrando, do lado de cá, as minhas deliciosas coisas pra vocês, queridos leitores!
...Beijo na cara, fofunchos!
...Inté mais.

+ SEÇÃO TERNURA
...Neste número a seção fica de luto, a razão? Sabe a tal moça evangélica da edição anterior? Pois é, acabou fugindo com o pastor, mas, acabaram sendo presos depois de tentar roubar um armazém de bebidas, especializado em vodka e whisky importado.

+ SEÇÃO GRELHADOS E BABADOS
...A dica de hoje é:
...Café com pão e manteiga, de primeira!
 ...O preço de ocasião é da padaria Rosca Queimada e da lanchonete Vem Comer Gostoso!
...A bola da vez é a do Chicletes Sem Banana, mês das crianças! (Heim? Essa nem eu entendemos!).
...Sabe como é... Não sou chegada em Axé... (Respeito, mas, condeno o assim mesmo, faz mal para meus neurônios e dentes).

+ SEÇÃO PORRETADA DA HORA
...Na verdade a porretada vai com vaselina desta vez:
...Enquanto você não encontrar a mulher certa para a sua vida, não deixe de se divertir com as erradas (essa frase não me pertence, ouvi por ai).
...Beijo na cara pra todos!
...Fui!

C 92 – UM DESGRAÇADO SENSACIONALISMO IMBECIL? (NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 3)
+ EDITORIAL
...Esse número surgiu de algumas reflexões que fiz no jardim do meu barracão, de caneta em punho eu delirava, digo refletia, suspirando ai de mim, enquanto comia aipim e bebia gim com gergelim, ao mesmo tempo em que gemia ai meu rim.
...Tava sem dinheiro, sem amor, sem nada, querendo cafuné e café. Pois é, amanheci fragilizada. Ficar menstruada é uma porcaria!
...E eu dizia:
— Cadê meu pacotim de Modess?
...Acabei não o encontrando, sai pela rua desnorteada, gritando feito uma louca, acabei desmaiando por causa de uma forte pressão que se abateu sobre a minha pessoa.
...A vizinhança, apavorada ligou para a policia e para o jornal Super, contando uma prosa absurda. O resultado estampou o dito cujo assim, no dia seguinte:
...Vítima de um tarado é encontrada pelada, suja de sangue e inconsciente na rua. Suspeita-se de ligações com o tráfico ou com o caso Renam Calheiros... É do carvalho! Venho a público desmentir tudo isso, mas, que eu fiquei famosa, fiquei.
...Beijocas gordurosas, bye-bye.

+ SEÇÃO TERNURA
...Sob o pseudônimo Isaura escrava nossa leitora nos escreve, dizendo que está a procura de um namorado, com idade compatível, moreno, educado, carinhoso, cheio da grana, pé de mesa (não precisa ser carpinteiro), para relacionamento um pouco sério... Nas segundas, quartas e nas sextas, pois, nos demais dias já tem compromisso com um tal de Leôncio das Couves, dono de uma loja de chibatas, chinelas de ferro e outros trecos sadomasoquistas.

+ SEÇÃO GRELHADOS E BABADOS
...Não deixe de assistir ao filme Tromba de Elite, enquanto come um delicioso feijão tropeiro, com bala de todo tipo.
...Não deixe de ler o livro contendo a biografia do bispo Edir Mancebo, enquanto come uns deliciosos biscoitos papo de anjo com língua recheada, ao suco de limão capeta.

+ SEÇÃO A PORRETADA DA HORA
...Para você refletir:
...Quem com ferro fere, com roupa passada há de servido ser.
...Beijocas coloridas, hasta la vista, baby.

 C 93 – UM DESGRAÇADO SENSACIONALISMO IMBECIL? (NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 4)
+ EDITORIAL
...Encontrei pela rua uma desafeta, dia desses, ainda tá ksi acha, só porque ainda tá com um ex-bofe meu, o John Edredom, um pilantra de marca maior. Ela tava usando uma sandália de prástico que tava percisando de prástica, um horror, um lixo só.
...Como sou praticante da monstrocacia (diz aí meu velho chapa Wellington Francisco de Souza, vulgo WFS) sorri que nem nota de três real, num guento a safada... Ela e seu rádio véio ligado, escutando Good Times, da rádio BHZ FM, vê se pode? 
...A insuportável tava com uma bolsa de oncinha, me imitar agora vale? Faça-me o favor! Quer saber? Nem dei bola, detesto imitações!
...A prova tá aqui meu leitor gostoso, minha leitora felpuda, meu jornal é único! É ou não é? Se alguém disser o contrário eu vou me zangar! Não gosto de ser imitada, nem questionada, nem deixar de ser notada – estou à procura de gente que me queira por inteiro e também pelas metades.
...Beijo de beiço, tchau!

C 94 – UM DESGRAÇADO SENSACIONALISMO IMBECIL? (NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 5)
+ EDITORIAL
...Onde estamos afinal?
...Isso eu sei, quero mesmo é saber:
...Aonde vamos parar?
...Quem gosta de brincar com faca é aquele cara do circo, e como não sou lacraia, nem lambisgóia e nem mocréia, deixo a coisa ficar dura, que é prá ver se espirra, entendeu?
...Se você não entendeu nada, nem eu; de uma coisa posso tirar conclusões:
...O barraco tá pegando fogo, e tem gente tentando apagar com gasolina.
...É isso ai, goodbye.
...OBS:
...Este jorná tá incompreto...
Tô mei qui bêbada dismais pra iscrevê...
...É só isso, se quiserem!

C 95 – UM DESGRAÇADO SENSACIONALISMO IMBECIL? (NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 6)
...Este número é atípico, pois:
Em nome da liberdade disponibilizo agora uma coisa diferente, uma seqüência só com editoriais ainda não publicados... Sou uma escritora compulsiva, a prova tá aqui; observem o quanto sou diversificada e inteligente, observem o tamain du meu negoçu...

+ EDITORIAL A
...Quando entrei numa loja de roupas íntimas e vi aquele monte de calcinhas da hora eu gritei:
...Uia! Tem dias que tenho dificuldade de amar, sim, claro, não foi o caso quando desembolei uma grana e desejei ir embaçar o meu orçamento com (fu) tilidades, mas tudo bem.
...Pensei:
Chega de ficar amarrando mixarias, inté andei usando as calcinhas que tenho do lado avesso pra não gasta-las tanto assim, mas, essa apelação não faz sentido, a maresia tava demais.
...Dentro do recinto escolhi a mais sexy (de oncinha) para os momentos picantes e as calçolas para os momentos avermelhantes.
...Até ai tudo bem, o problema foi na hora de pagar, desisti, fui embora, vou continuar virando as dita cujas do avesso, ainda bem que tenho três, já pensou se fossem só duas?
...Mas, uma pergunta não quis se calar:
...O que é que eu fiz com a grana?
...Bem, noves fora nada deu vontade de comprar uma garrafa de pinga com mel e um pedaço de fumo de rolo, mas, ando muito intoxicada, acabei comprando balas, tantas que vou chupá-las até o Armageddon ou a menopausa cheguem, o que vier primeiro, se bem que há dias em que prefiro um pedaço de torresmo gordurento, acompanhado de Fogo Selvagem e três fichas de sinuca. Sou muito decidida:
 ...Deu vontade eu caio pra drento.

+ EDITORIAL B
...No início, quando decidi escrever o jornal no meu banheiro, estranhei um pouco, mas, agora... Lugar mais gostoso, impossível!
...O clima é de circo, misturado com festa Punk, meio que fico umidamente inspirada ao som do rock’n’roll. Instalei no lugar a mesinha, a cadeira, o computador e outras tralhas, pra dá um toque vanguardista no lugar.
...Falando assim, até parece que o espaço é grande, puro engano, mas, esse clima de fusquinha é que faz a coisa ficar um tesão, assim produzo de montão. Tem mais, deu vontade de mijar?Já to na área, deu vontade de fazer ploft-ploft-ploft; já é!
...Sabe... Algo mais, digamos que, profundo, e faço ali mesmo, no capricho, é uma delicia.

+ EDITORIAL C
...Perai pensei, e se eu (a coisa mais fofa do mundo) mostrasse ao mundo o outro lado da mídia? Foi com esse pensamento que decidi soltar os Ratos de Porão e abrir a Sepultura, falando coisas como um Pato Fu... Só sei que foi assim, pois, só eu sei que o Jota é Quest – e, de dentro de meu útero (ao som de Odair José, Amado Batista, Nelson Ned, Falcão e um pouco de Fagner, Belchior e Trio Parada Dura) nasceu este fantasmagórico jornal underground, com um toque de classe e cabelo de sovaco, se é que vocês me entendem.
...Sinto-me aleijada e sem muletas se eu não tascar a mão na massa e escrever muito.
Se eu não fizer isso tô ferrada e mal paga!
Macacos me mordam, preciso por pra fora o que enfiam dentro de mim! (falo da sociedade, é claro).
...Só não sei fingir que não vi (como certo presidente), enfio o dedo no buraco mesmo!
...Se der errado fujo, só aparecendo tempos depois, com uma cara dengosa, meio que arrependida, e pronto, fica tudo no zero-a-zero...
Lavou tá novo!
...Eu sei que eu sou bonita e gostosa, e sei que você me olha e me quer, afinal sou irresistível, rosada e cheirosa.

+ EDITORIAL D
...A vida é como um pêndulo oscila o tempo todo, de repente está aqui, de repente não tá mais, se eu não fosse centrada tava toda arregaçada, fazendo terapia e tal – mas, eu odeio ter que me abrir com psicólogos, eles fuçam demais, além disso, se eu contasse tudo esses caras teriam orgasmos múltiplos, por isso deixo tudo como está pra ver como é que fica.
... Sofia Santelly sou, e outra coisa qualquer, que nem sei o que é, só sei que são dois lados de uma mesma moeda, rara e deliciosa, sou uma show-girl de primeira.
...Se eu faço strip-tease? Claro que não! Tá pensando que eu sou o que?
...Se bem que a idéia não é de todo ruim.

C 96 – UM DESGRAÇADO SENSACIONALISMO IMBECIL? (NEUROSE JORNALÍSTICA Nº. 7)
+ EDITORIAL
...Este número é dedicado a um tema exclusivo, da mais alta relevância, é sobre mais abundante das desgraças:
...A traição!
...Sem mais delongas, vamos direto ao ponto G (bolinado por mãos fortuitas, aquelas, que não são as que constam dos contratos, mas, que permeiam as entrelinhas de casos, de amantes, de cornos, de safadezas de toda sorte).
...Eis uma carta espinhenta e chifruda:
...Querida Fifi, andei dando o fiofó para um sujeito enquanto pensava nos dezoito centímetros do trololó de meu amante (de quem nunca  estive tão afastada assim  mas, também nem sempre presente), ele tem família, sabe como é.
...Deu-me um preto no branco (ou será o contrário?). Lembrei-me... Do dito cujo atual só posso tirar meus atrasos e ganhar presentes... Dividir o mesmo teto o cara não quer, além do mais tenho filhos bastardos, sou muito doente, sem estudos e vivo de faxina... Fui comida muitas vezes por ele e até gostei,  tô querendo me casar, só que o otário desconfiou geral e pula fora toda vez que eu toco no assunto... O que é que eu faço?
...Resposta:
— Vai se fundir minha filha, que eu tenho mais o que fazer, ordinária!

+ SEÇÃO GRELHADOS E BABADOS
...Queria tanto mostrar (ensinar) a vocês (deliciosos leitores) uma receita, feita com muitos peixes, da hora, à base de Namorado e Piranha, com chifre de bode em pó, bagos de cobra não  encontrei, o que é uma pena... Ficamos assim:
...Sirva-se com Baiacu e Leitão, ao molho de Paca e uma porção de Cará com Mandioca brava.
...Para o lava pé tome um pouco de rum ou aguardente, com lascas de Pau-Brasil.
... Ando meio que desgovernada na cozinha, essa seção já tá me enchendo o saco e o forno, quer saber? Vou desligar esse fogão, e se me der na telha vendo pro ferro velho, tá um bagaço só!


+ SEÇÃO PORRETADA DA HORA
...Vão falá de coisa mais ou menos? 
...Esse jornal acaba aqui e agora, até nunca mais!
...Tô de saída, estou indo à festa de comemoração do funeral deste jornaleco (com o melhor do visual prega, coladinho em mim:
... Peruca pichain vermeia, calça listrada de roxo e amarelo-balão, camisão bem largo ( de manga comprida, meio que desabotoado, mostrando um dos meus peitos, toda florida), óculos quadrados, com aro poin-nho-nho-ion  e  várias correntes enbijouteiradas no pescoço e nos braços – segui a cantar:
...Você é a ciganinha, dona do meu coração, não tenho sangue cigano, mas, vou pedir a sua mão! ).
...Aproveitando uma carona de um chinês mineiro chamado Ju Ma Kumb Eiro, subi num jegue chamado Lobato Monte Eiro (parece que o último sobrenome indica um certo parentesco longínquo entre ambos, sei não...) e fui ao Sítio do Espiga Paulo Amarelo!
Lugar tão-tão distante nunca vi!
Lá chegando conheci uma galera muito louca, boa de gole e de truco.
Foi sensacional aquele bacanal perto do bananal com Dona Eh Milha, o Visconde de Rabugento, o Peidinho, a Nhá Bentia, a Nariguda, a tia Anastícia, o tio Barnabil, o Rabicóz, o Sacim e a Dona Kuca. 
...É isso aí, enfim  fui!
... It’s all over!

C 97 – VOCÊ SABE FILOSOFAR COMO SOFIA?
*Independente de toda e qualquer manifestação, pipocam, em mim, tantas coisas e vontades na dita cuja quanto são carnavalescas as minhas vontades... Assim sendo deixo como está pra ver como é que fica.

*Não, mil vezes não! Apenas sou enérgica No quesito barba/cabelo/bigode/cama/mesa/banho e tosa... Barraca armada me atrai...

*Sou gostosa e assumo, ovo frito de primeira! Buchada de bode com limão capeta, e uma pitada de fubá... Delícia só!
*Operação belezura – sem medo de doer... Escândalos por encomenda... Sirvo-me na frente de todo mundo...

*Tiro a seiva, na selva, a salivar... Que seja num cafofo, à beira-mar ou num pomar... Para mim o importante é gozar.

*Meu passado me condena? Que seja bem amarrotado então! Mal passado ou bem passado? Pelo menos que o ferro esteja quente...

*Pois é, se você ficar lá trás a gente pode rachar a Graça lá mesmo, ou ainda, achar graça lá mesmo... Não me importa o lugar aonde você vai me fazer cócegas,  se na frente ou atrás, vai me fazer rir do mesmo jeito.

*O que eu tenho para mostrar nem todos gostam de ver, em público... Mas, nas entrelinhas. quase todos gostam de pegar.

*Em meu circo até o palhaço se descabela... Gosto de outras coisas que o mágico faz sumir também.

*Meu magnetismo animal faz com que meu zoológico interior aflore como rosa e girassol que se mistura com chocolate e pimenta; Fico doida pra abrir o botão (a blusa me incomoda, meu calor é assim mesmo). Moralismo de araque? Pornográfica, eu? Santa chantagem, santa sacanagem!

*Vinte vezes fugi, em todas fui capturada... Cinqüenta e sete vezes gritei, quis me libertar, outra vez me pegaram de jeito (brincar de gato e rato com meus amores marmanjos inté qui num mi dá desarranjus; yes, inté tão bão quantu cumê chuchu).

*Não vou mais esconder-me, chega de bancar A medrosa... Toda vez que eu vejo o Brad Pitt eu fico assim, nervosa; é que pode rolar uma química especial entre nós e a Angelina Jolie pode querer entrar...

*Minha boca fica até Inchada de tanto beijar em vão certas bocas, que sei que nunca serão mais do que orifícios, em prol de tudo o que sei que não é mais do que uma simples diversão...

*A tremedeira descontrolada das minhas pálpebras é resultado de uma falha horrível na transmissão de sinapses, de impulsos nervosos que chegam aos músculos ao redor dos meus olhos, e talvez da perseguida. Os especialistas afirmam que tal sintoma está quase sempre relacionado a stress, fadiga, falta de sexo, insônia... E desaparece sozinho - poucas vezes acompanhado... Em raros casos, o tremor freqüente das dita cujas podem sinalizar algo mais sério, como a esclerose múltipla ou a presença de tumores... Mas, esse não é o meu caso, é só frescura mesmo.
Só que o assunto continua polêmico: porque as mulheres têm as mãos e os pés mais frios do que os homens? Ora, pílulas!

*Eu tenho uma alma nietzscheana, sou um amálgama entre a doença e o que é salutar, entre o que é angelical e o que é demoníaco, entre a loucura, o instinto  e a racionalidade, entre o que é decadência e o que é evolução, entre o que é útil e o que é fútil... Eu sou Sofia Santelly, deliciosamente doce, azeda e salgada; não presto mesmo, mas sou essencial, Perspectivamente falando, para além do bem e do mal... Beijando ao mesmo tempo a boca de Zaratustra e do Anticristo, sou extra-moral, sou a desmedida em pessoa...

*Ai eu disse:
— Que zona é essa?
E o cara perguntou:
— Cumé qui é? Tá falando cumigo mulher?
E eu retruquei:
— Que parte da zona você não entendeu?
Entrecortei o assunto, dei um chute no saco do cara, chamei a polícia e acabei com aquela invasão no meu domicilio; o miserento tava na final de roubar meu barraco! Cara–de–pau! Bandido! Safado!

 *Eu sou bocuda mesmo, Jurei que nunca deixaria ninguém roubar-me, mas, quem disse que pilantra precisa de autorização? Só não deixei  ele sair de mãos abanando; ele não Insistiu mas, eu dei pra ele assim mesmo!

*Prezada mãe, estimada mulher, mesmo quando você estiver toda produzida, indo pro trabalho pela manhã, mas, tendo antes que deixar seu filho na escola (e ele estiver num momento de pirraça pública) sorria, mesmo que trincando os dentes! Afinal é preciso manter a pose de gostosa e de tolerante , sem descer do salto, ok? Isso, É claro, só é válido para quem não abre mão das aparências... Para as que são práticas uns bons berros e sacudidelas costumam resolver...Mas, cuidado com o conselho tutelar, ele pode  te ferrar!

*Diálogos neuróticos...
Neurose:
 – Penso que nada sei...
Sofia:
 – Por quê?
Neurose:
 – Aprendi com Sócrates.
Sofia:
 – Não é possível saber?
Neurose:
 – Sabe que eu não sei?
Sofia:
 – Eu sei.
Neurose:
 – Sobre o que?
Sofia:
 – Sobre o seu não saber.
Neurose:
 – E ai?
Sofia:
 – És uma ignorante.
Neurose:
 – Eu não sabia...
Sofia:
 – Acho que vi um gato verde...
Neurose:
 - Tenho certeza que vistes.
Sofia:
 – Não vais duvidar disto?
Neurose:
 – Só depois que me disseres a cor...
Sofia:
 – Mas, eu já disse...
Neurose:
 – Não ouço tolices...
Sofia:
–Tudo posso naquilo que me guia, e nem sempre és tu...
Neurose:
 – Quem vos guia?
Sofia:
 – Algumas toxinas deliciosamente sólidas ou pastosas, não me esqueço, inclusive, da cachaça, coragem líquida, de primeira, de segunda e também de terceira qualidade... Tudo isso em um só produto!

*11 de agosto de 2008...
O que foi que aconteceu comigo? Eu não sei de nada... Eu sei de tudo... Tive uma alucinação? Fui abduzida? Ou estive por aí? Fui a Três Corações ou vivi apenas ilusões? Em São Tomé das letras aportei ou será que me enganei? Baependi levou-me consigo em cima de uma caminhonete, após eu ter aspirado muito pó de uma estrada de terra? Isso foi antes ou depois de ter visto uma cachoeira bela como a Izabella; um véu de noiva? Viagens de ônibus? Caronas? Andanças? Fugas ou libertações? De Caxambu fui parar na igreja São José, em BH?
De lá fui parar na rodoviária? Depois fui encontrar-me com algum amor na Avenida dos Bandeirantes, e de lá acabei voltando para meu quase doce lar, onde me encontrei com parte de minha família (with my strange momy Angel-monster and with my beautiful son), ou não? Quanto do que descrevi é verdadeiro? Quanto é hipocrisia?

C 98 – SUA VIDA É PRIVADA E ÚMIDA? UM CONTO SUJO DEMAIS...
Mal a tarde havia começado naquele abençoado cinco de julho de 2007, e o velhinho adentrou no pronto-socorro, com passos rápidos, suando frio e, com as mãos na bundança implorou para mim:
— Pelo amor de Deus, onde fica a casinha?
 — No final do corredor, à esquerda...
— Obrigado, é uma emergência, tô com uma diarréia danada, não sei se conseguirei chegar lá (disse com os olhos umedecidos, cansados e esbugalhados, e com uma fala trêmula, de dar dó).
O fato é que não conseguiu chegar lá a tempo, foi deixando pelo caminho um rastro estranho, indesejável, sujo e fedido.
Mal chegou ao banheiro, sentou-se no vaso sanitário, e num misto de agonia e prazer, gemeu com tudo aquilo que seu interior libertou; a sonoridade das coisas que caiam parecia uma tempestade, só que líquida e intestinal, lembrava também um avião em queda livre, com o motor avariando, dando estalos e engasgando, rumo a uma montanha de aço.
Eis que chega a auxiliar de serviços e, sentindo um cheiro mórbido dispara:
 — Meu Deus! Abostalharam o mundo!
Que nojo, tem buesta pra todo lado!
Que carniça! Alguém aí comeu gambá podre? (Ela foi informada do incidente nojento, e até teve uma pena do pobre velinho), só que não teve jeito, teria que limpar toda aquela tragédia bostômica - o corredor estava de matar, mas, pior mesmo foi a carne deixada no banheiro, restos de uma possível feijoada infeliz (ou teria sido uma macarronada ao molho de lingüiça?).
O vovô além de ter deixado todo o ambiente em estado deplorável, deixou por lá também sua cueca, toda breada, irreconhecível, pra que a funcionária jogasse fora.
E ele, ao sair, para finalizar, me perguntou :
— A senhora tem desinfetante ai? Preciso limpar as mões...
Eu até que tentei perguntar-lhe de quantos litros ele precisaria, mas, não consegui dizer nada, pois, me virei e fui embora, sem lhe dar a resposta que ele tanto queria, entre ofendida e toda suja, pois, havia vomitado corredor afora.

C 99 – LIMA BARRETO E SOFIA COMBINAM COM CACHAÇA E LETRAS?
Sete de outubro de 1922... 19hs...
Encontrei-o bêbado a sete quadras de sua casa em Todos os Santos, interior do Rio de Janeiro – ele estava sentado no meio-fio, com a cabeça por entre as pernas, que abraçava fortemente.
Balbuciava coisas sem nexo, ao mesmo tempo em que repetia várias vezes:
- Miseráveis!
Custei a chamar a sua atenção, mas, insisti:
- Afonso... Afonso, olhe para mim.
Surpreso com a forma com que lhe chamei ele levantou a cabeça e me disse:
- Ninguém tem por hábito chamar-me pelo primeiro nome, quem é você? O que está fazendo parada aí? Desapareça da frente do resto de homem que sou neste momento... Lima Barreto, apenas assim é que chamam por este combalido mulato, entende?
- Certamente... E, a propósito, sua mãe Amália deve estar orgulhosa de você, esteja onde estiver, e eu também – muito prazer, meu nome é Sofia extemporânea, digo, Sofia Santelly, a impura e hipócrita viajante extemporânea pelas trilhas do sem fim.
- Que seja, senhorita poesia doentia... Você falou de minha mãe... De orgulho... Não passo de um homem a quem consideram inválido para o serviço público, de um louco a quem os médicos chamam de neurastênico (sabe, me ofertaram uma aposentadoria precipitada por causa disso)... Sou apenas um sujeito que dá mais trabalho para a polícia do que assaltantes e criminosos de toda sorte... Francamente, sua hipocrisia é tocante! Depois sou eu o delirante...
- Sabe Lima, fazendo um retrospecto de sua vida o saldo é até positivo... Fazes uma literatura de excelentíssima qualidade... Seus contos, seus romances...
- Tenho muitos manuscritos ao editados, isso sim – o que fiz de palpável não me foi suficiente para adentrar nem mesmo na Academia Brasileira de Letras, e note que tentei três vezes! Isso não é ridículo?
- Um homem não pode ser medido apenas por isso...
- A minha valência é a cachaça, ela me dá o que essa sociedade hipócrita nega a quem não nasceu em berço de ouro.
- Lá como cá a vida tem suas mazelas, você sabe disso.
- Antes eu fosse o que sou, afinal, não tenho como não sê-lo mesmo, mas, que estivesse com o bolso recheado de notas para poder estar em outro lugar; eu, que aprecio o socialismo, eu sei, é contraditório o que digo, em função do teor capitalista de minhas vontades, pode ser, os fins talvez justifiquem os meios...  Gostaria de viver ao lado dos grandes mestres da literatura russa, isso sim. Sob este ponto de vista gostaria de ter o dinheiro que a meu padrinho, o Visconde de Ouro Preto, nunca faltou.
- Mas, com seus ganhos, obtidos por ter trabalhado na Imprensa você, se não teve todo o dinheiro de que precisa (ou precisava) ao menos teve muitas oportunidades de divulgar suas obras literárias... Houve-se por aí que és tão bom quanto Machado de Assis.
- Só me faltava essa! Comparações... Palavras ao vento... O que sei que dizem de mim é que meus textos são enviesados por um português que é doméstico demais, popular e regional em excesso, de um modo que não condiz com o academicismo reinante, que para mim mais aprisiona do que liberta, eis a verdade.
Deviam mesmo é prestar mais atenção a pelo menos algumas de minhas “crias”, sei lá, talvez olhar de um modo especial para “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de 1915... Talvez para alguns manuscritos do tempo de algumas internações psiquiátricas em sanatórios imundos e desumanos; tenho um diário íntimo e um calhamaço de escritos interligados a esses eventos bizarros, cheios de sangrias, sofrimentos e lágrimas (ele tem um nome, que talvez seja definitivo: “O cemitério dos vivos”, que resume bem as coisas pelas quais passei).
Nunca respeitaram minhas depressões, não se pode nem ficar triste nessa pseudo-república brasiliense, que mantém os privilégios de famílias aristocráticas e também militares em detrimento dos mais humildes – bando de calhordas!
Sabe, para mim o escritor tem uma função social, desmascarar essa sociedade mórbida, revelando suas entranhas mal-cheirosas.
- Eis o ponto! Seu maior mérito está justamente ai Lima, isso você conseguiu! Quem sabe, um dia uma escola de samba pode vir até mesmo a te homenagear em um desses carnavais...
Percebi que por um instante os olhos dele brilharam quando eu disse isso, sem dizer mais nada ele, levantando-se, meio cambaleante, colocou as mãos na barriga, e, simulando um desfile carnavalesco disse, dando risadas fartas:
- Salve, salve subterrâneos unidos desse meu Rio de Janeiro! Abram alas para o estandarte da literatura! Segue à frente o porta-bandeira Lima Barreto e sua trupe de escritores alcoólatras, boêmios, pobres e loucos!
Não resisti à sua brincadeira, rindo deliciosamente simulamos estar vivendo o que ele decretou, ficamos a girar como menestréis, pirilampos, confetes e purpurinas, numa festa imaginária... Beijei-o no rosto e o abracei, ele nem se deu conta de que no momento seguinte eu já estava com ele em sua casa, deitado, de roupa trocada, limpo e tranqüilo em seu leito, de olhos cerrados, repousando com uma aparência suave, pelo menos naquele instante.
 Sua boca esboçava um leve sorriso, que foi se diluindo a medida que seu sono se aprofundava, em direção ao mundo dos sonhos dos homens de valor, embora alquebrados – beijei sua fronte e me fui, silenciosa e emotiva, com os olhos rasos d’água.

C 100 – SOFIA TEVE UM CASO COM FOCAULT?
17 h: 57 minutos... Transcorrer de 1960...
Esperei que ele terminasse de tomar sua sétima taça de champagne, assim que o fez se dirigiu até a janela da sala, calmamente – suspirou pesadamente (parecia estar preocupado), se debruçou sobre a mesma e fixou seu olha no horizonte por sete minutos. Passou uma das mãos em sua cabeça desnuda, olhou para traz, e, como se tivesse tido uma idéia voltou-se para dentro, dirigiu-se até seu quarto, em direção à mesa, colocou as duas mãos na cintura delicadamente e ficou observando carinhosamente todos aqueles papéis, numa pose sensual e ao mesmo tempo gentil.
Pegou sua caneta e colocou por entre os dentes, levou a mão ao queixo e remexeu nas muitas folhas que continham suas anotações filosóficas sobre a história da loucura – ele pretendia fazer uma arqueologia da alienação a partir de um “grau zero” no tempo. Isso demandava uma profunda pesquisa nos diversos livros que estavam espalhados pelo quarto, cada um esperando sua vez para ser esmiuçado.
Repentinamente ele voltou seu olhar uma vez mais para a sala, pela sua fisionomia ele pareceu não estar disposto a escrever nada naquele momento.
Eu tudo percebia sem ser notada por ele, pois, estava translúcida – flutuei até a entrada principal, restabeleci minha forma física, ajeitei meus cabelos e minha roupa e bati em sua porta.
Ele veio atende-la,assim que abriu a mesma deu um sorriso ao me ver e disse:
- Sofia, que saudades! Dê-me um abraço bem apertado! Venha, entre, estava mesmo precisando de uma boa companhia, a solidão às vezes me incomoda e sufoca.
-Também senti sua falta, precisamos compartilhar nossos porquês, o interesse por questões fronteiriças, poder, sexualidade, opressão, hipocrisia, loucura, essas coisas...
- Nem me fale, minha cabeça tem fervilhado de idéias – mas, diga-me deseja um líquido  lilás para aquecer o peito?
- Qual dos dois senhor Paul-Michel Focault? Perguntei dando uma gargalhada.
- Me esqueci que você tem dois, que inveja – retribuiu-o dando risadas também.
- Se você está querendo me embebedar com licor de uva não quero, prefiro o seu champagne francês.
- Você não tem jeito, volto já - já com duas taças transbordando.
Assim que ele voltou perguntei:
- Como vai a composição de sua tese de doutorado sobre a loucura?
- Está indo bem, embora esteja consumindo minha alma. Sabe o que é mais curioso? Estou me aprofundando na história da dita cuja na época clássica, entre os séculos VXII e VXIII, nem tanto pela ótica da medicina, pois, não foi ela quem definiu, em princípio, os limites entre a razão e o seu inverso; nos meandros da família e da política, desde sempre, transbordaram preconceitos, desinformações e coerções de todo tipo no que se refere a “mágicas renovadas de purificação e exclusão com relação aos loucos. A loucura sucedeu à lepra e às doenças venéreas, tão comuns na idade média e na Renascença como instrumento de medo, figurando como um novo espantalho social”.
- E os desdobramentos disso?
- Surgiu a nau dos loucos... Barcos recheados de gente insana conduziam sua carga de um lado para o outro, expurgando essa “tralha” temida e indesejada, tais pessoas eram escorraçadas de suas cidades, eram deixados em lugares obscuros, onde ficavam, errantes... Toda a Europa aderiu a essa prática de “limpeza”... Uma mórbida aliança entre a água, a loucura e a segregação.
- E a idéia de internação?
- Surgiu depois, associada à pobreza e à marginalização. O século XIX tiraria os loucos das prisões, onde eram tratados com menos respeito do que porcos, os chamados loucos sofriam sangrias e tomavam vomitórios para tentar curar ou aplacar alguns de “seus males” – passariam a ser colocados em hospitais, lembrando que nos registros de internação figuravam como sendo ríspidos, libertinos, blasfemadores, pregadores de cartazes, revoltados de toda sorte, grandes mentirosos, de espíritos inquietos e tristes.
Foi preciso que surgissem aqueles que desejassem compreender tudo isso, nesse ponto Freud tentou estabelecer um diálogo possível com o desatino, embora tenha permanecido mais ao nível da linguagem... Ele não acrescentou muito à lista dos tratamentos psicológicos uma adição maior, entende?
- Aaahm... E amanhã, o que você vai fazer?
- Praticar um pouco da minha anti-psiquiatria, de meus “mantras” nietzschianos... Devo muito a Sartre também, embora tenha tido uma certa dificuldade em reconhecer isso em princípio.
- Uma borboleta precisa ter asas fortes para alçar vôos cada vez mais altos, sabe como é, os predadores...
- Sem dúvida, preciso sempre ultrapassar as limitações que a natureza determinou para a minha genitália...
- Você é um caso sério, tem estilo!
- Eu sei querida, eu sei... O estilo é o homem – quem sabe não venham um dia a me chamar de “o intelectual absoluto, fora do tempo”?
- Modesto...
- Falando sério, Sofia, às vezes acho que morrerei de forma trágica, tenho tido sonhos com uma praga me carcomendo por dentro até a morte inevitável; tenho bebido muito por causa disso, não somente, mas, inclusive.
- Você é um bobo, vem cá me dá um abraço, preciso ir embora, mas, quando puder voltarei, está bem?
- Fazer o que... Adeus minha doce cara metade, vá em paz.
- Beijos, e no mais, até breve.
Dizendo isso me fui, sabendo de fato que nunca mais voltaria a vê-lo.


C 101 – O QUE DIZER DA RELAÇÃO SAFADA ENTRE O MARQUÊS DE SADE E SOFIA?
1814...
Lá estava ele, um homem polêmico, a olhar pela janela gradeada do manicômio que lhe servia como prisão; caia uma chuva fina, e ele parecia possuir ainda um quê de virilidade, embora estivesse cansado, afinal estava com plenos 74 anos – marcado pelo tempo e pelas constantes lutas que travou durante toda a sua vida. Chamando a sua atenção fiz com que se virasse ao dizer:
- Sade... Podemos conversar um pouco?
Ele se virou, me olhou com certa curiosidade e perguntou:
- Como entrou aqui deliciosa jovem, quem é você?
- Isso importa?
- Na verdade não, sua beleza desvanece muitas perguntas, exceto algumas, o que deseja aqui?
- Quero que me fale um pouco de sua vida...
- Você deseja algum tipo de confissão de minha parte? Não sou cristão...
- Não é o caso, embora você nunca tenha me visto pode te fazer bem dialogar, embora eu lhe seja estranha.
- Tens razão, é melhor falar contigo, estou cansado de conversar com estas velhas paredes... Isso me fará bem... Muitos me consideram um pornógrafo, um louco, um libertino, mas, minha vida e meus textos, analisados por um viés racional, contém em suas entrelinhas, paradoxalmente, a negação de certo tipo de vida, em prol de uma maior valorização dela própria, negando-a confirmo-a, exalto-a. Sempre vislumbrei além dos limites do homem, no que ele tem de pior e melhor... Não é desse duplo paradigma torto de que nos servimos diariamente?
Só que a sociedade tenta negar a realidade dos fatos, a violência, o erotismo, a hipocrisia como instrumento pragmático nas relações humanas, a falibilidade geral de todos nós, e consequentemente de nossos sistemas, sejam eles políticos, filosóficos, morais, existenciais, culturais, religiosos, sexuais ou sociais.
- Concordo com você, a corrupção é evidente, desde sempre, e é preciso expô-la em sentimentos e letras.
- É assim que sou, é isso o que sei fazer melhor. Não sou nem nunca fui compreendido por todos, mas, esse é a menor das minhas preocupações... Sou um espírito livre, embora o que eu mais tenha provado em minha vida é o gosto da prisão e das transgressões contra a minha pessoa.
- O verdadeiro mundo está às avessas, não é mesmo? Não é este, cheio de máscaras, mergulhado em aparências...
- Tal vida, a natural, deve ser vivida até as últimas conseqüências! Como extrair o outro lado de uma mesma moeda? Que a ignorância seja banida deste mundo!
Que as pessoas leiam mais minhas obras, e porque não dizer as de Voltaire e de Rousseau também? O povo também precisa de conhecimento filosófico...  Cito tais homens expurgando suas tendências cristãs, elas não condizem com meus critérios de dor e prazer.
Que o verdadeiro Deus, que é, certamente, a própria natureza encarnada, floresça nos corações, mentes e genitálias humanas! Que as excentricidades transbordem!
- Muitos dizem que o que defendes são monstruosidades, pecados, patologias e bizarrices...
- Nada dizem... Na intimidade dos quartos muitas coisas acontecem, isso é sabido, só não são assumidas, somos obscenos por natureza doce donzela, e isso não é uma ofensa, é apenas uma constatação incomum, porém verdadeiramente excitante.Que o pseudo-puritanismo seja estraçalhado!
- Sua origem nobre e próspera não foi o bastante para te fazer ser ouvido e respeitado por todos, não é mesmo?
- Não é este o ponto, não me ouviriam de qualquer modo... Se aqui estou é porque precisam sempre de “bodes expiatórios”...
- Certamente.
- Senhorita, já falamos demais, agora quero me deitar um pouco, sinto que a morte se avizinha, mas, antes disso, que tal se me fizeres companhia? Façamo-nos um pouco mais felizes, nus, que tal se preenchermos nossas bocas com as carnes um do outro por alguns momentos?
- Sim, porque não? Desça suas calças, me penetre por todos os meus orifícios.
- Não precisa pedir duas vezes, estou velho mais meu mastro ainda fica em riste, quero cravar-lhe em vossa pessoa – vire-se sua vagabunda!
- Já começamos bem seu sádico...
- o termo é novo para mim...
- Eu sei, mas, o tempo irá consagrá-lo, pode ter certeza!
- Espero que sim, comecemos... Isso...  Assim, Aaahm...


C 102 – SOFIA FOI MESMO O GRANDE AMOR DE NIETZSCHE?
Transcorrer de 1872...
Quando dei por mim (e olha que vivo dando) estava na Alemanha, onde pude conhecer um homem surpreendente - passei diante de uma linda casa, e me detive com o delicioso som de piano que vinha de seu interior, fiquei estática, momentaneamente magnetizada por uns sete minutos. Pouco depois saiu de dentro dela um homem de semblante firme, ele tinha um espesso bigode e um cabelo bonito, volumoso, levemente desalinhado, usava um terno escuro, e um sapato marrom seminovo, nas mãos segurava uma pasta cinza, despediu-se de seus amigos, chamando ao homem de Wagner e à mulher de Cosima.
Os donos da casa me olharam com um misto de musicalidade, rebeldia, ciúme e curiosidade, mas, depois entraram, sem nada dizer. O visitante, vindo em minha direção perguntou:
- Você deseja alguma coisa senhorita? Responda-me enquanto caminhamos, o que acha? Qual é seu nome?
- Sofia, Sofia Santelly... Eu fiquei impressionada com o belíssimo som que vinha do interior da residência em que você estava.
- Wagner é um grande amigo meu, um excepcional compositor, maestro, teórico musical e ensaísta, é também poeta... consideram-no, com justiça, um dos mais influentes compositores de música erudita em todos os tempos... Aquela  encantadora senhora ao seu lado é sua segunda esposa, Cosima. A primeira, Minna, não lhe ofereceu uma vida feliz,  o temperamento doméstico e burguês dela, somado à seu baixo nível cultural fizeram dela uma companheira inapta para o gênio extravagante e inquieto de Wagner.
- Mulher tem que ter gabarito em qualquer época, não é mesmo? E você, como se chama?
- Nietzsche.
- Um nome lindo e forte.
- Não compactuo com nada que seja fraco... Para onde você está indo?
- Estou a caminho do porto, vou passar antes no hotel, pegar as minhas coisas e partir para o Brasil ainda hoje... Tenho outros meios metafísicos de voltar para casa, mas em princípio vou pelas águas mesmo. Foi um prazer conhecê-lo, espero voltar a vê-lo um dia, será que posso anotar o seu endereço para uma visita posterior?
- Creio que não seja possível, mas, não me entenda mal, tenho um espírito andarilho, não sei onde poderei estar amanhã, mas, posso lhe dar uma sugestão, não siga meus rastros, mas, se o fizer procure por um livro meu, publiquei este ano, chama-se O Nascimento da Tragédia no espírito da música...
- E sobre o que ele fala?
- Tem a ver, guardadas as devidas proporções com seu nome...
- Como assim?
- A Grécia... Em parcas linhas digo-te que lido nele, entre outras coisas, com as questões que envolvem o drama teatral grego, onde o dionisíaco se opõe ao apolíneo...
- Falar desse país me faz lembrar Sócrates...
- Pelo contrário, em mim tal nome remete ao nojo, é descartável.
- Você pode explicar isso?
- Leia o livro se puder e futuramente tire suas próprias conclusões... Siga algumas pistas e você talvez venha a me encontrar ao se encontrar consigo mesmo, não metafisicamente, por favor!
- Não há outro modo?
 - Sou filólogo e filósofo, pode ser que você me encontre em algum lugar em que eu esteja dando alguma palestra, encontre-me se for capaz!
- Que tal se experimentássemos uma sangria futuramente?
- Cuidado com as palavras minha jovem, elas seduzem e enganam... O que desejas de fato? Tal termo tem, no mínimo, duas acepções, uma diz respeito à Medicina... Você pretende extrair de mim certa quantidade de sangue, seccionando uma de minhas veias, com algum fim terapêutico, ou pensou culinariamente na auspiciosa mistura de vinho, água, açúcar e limão, usada como refresco?
- Em princípio pensei na questão do refresco...
- Pois, bem, que seja, aceito seu convite, mas, não desejo descartar a ideia de que possamos vir a nos entender no primeiro sentido, metaforicamente falando, é claro.
- Você não poderia ter feito uma proposta melhor! Só uma última coisa, o fato de você se dizer um andarilho diz respeito a mim também, sou uma pessoa extemporânea (ao ouvir isso os olhos dele brilharam intensamente e ele ficou nitidamente ruborizado, impressionado com a expressão que ouvira, parecendo ter certa intimidade com ela, mas, nada disse, apenas pegou na minha mão direita, que estendi a ele - segurando-a delicadamente beijou-a levemente e se foi lentamente, na direção oposta à minha).
Antes que ele se fosse de vez chamei-lhe pelo nome e ele, virando-se perguntou:
- O que deseja jovem extemporânea?
- Quando lhe vir novamente posso lhe chamar de um modo especial?
- Claro, como queira - qual será a nominação que receberei de tão instigante mulher?
- Você é um delicioso sedutor! Bem, que tal Nix?
- Nunca fui chamado assim, mas, isso me soa bem, que seja... Ah, e antes que eu me esqueça, boa viagem.
- Obrigado, no mais, até breve.

C 103 – FILME PORNÔ, MARMITEX E MOTO-GIRL REALMENTE COMBINAM?
Primeiro de janeiro de 2010... Em um subúrbio de BHZ...
O telefone toca, porém, antes de atender Sofia praguejou umas sete vezes por ter que estar trabalhando justamente quando todo mundo ainda estava festejando a virada do ano... Primeiro dia de um novo tempo, uma oportunidade a mais para tentar sair do vermelho; o ano anterior foi muito difícil e com tantas dívidas ela teve que apelar para o serviço temporário de moto-girl.
O pior da história foi ter que fazer tudo sozinha, atender telefone, anotar os pedidos, fazer faxina, e, claro, entregar os marmitex da Dona Cremilda Pinto Melo Rego, uma senhora que também decidiu começar algo novo na vida. Sendo cozinheira de mão cheia decidiu fazer um tele-entrega de comida caseira na região onde morava... Sofia chegou em um momento oportuno, negócio novo, falta de funcionários, uma mulher endividada e outra querendo melhorar de vida... Bingo!
A sorte estava lançada, e o telefone toca pela primeira vez. Sofia atende:
- “Comida Por Vós”, bom dia...
- Preciso de um marmitex até meio-dia, pode ser?
- Já é, o que vai querer?
- Qualquer comida serve meu bem (disse uma voz meio que doce demais de um homem nitidamente afeminado) - minha musa maior está rodando um filme aqui no bairro, para a minha empresa, aluguei um galpão especialmente para este projeto cinematográfico, ela está muito atarefada, trabalhando em um ritmo frenético e não pode sair para comer já que, no momento é o prato principal... Vi um panfleto de sua empresa e decidi ligar, coração.
- O Senhor vai fazer o pedido ou tá fazendo propaganda eleitoral?
- Desculpe amor, estou tão emocionada, digo, emocionado, com meu novo filme, “Comendo Aquilo”... Mande um arroz com feijão, bife, batatas fritas e salada no capricho, ok? Aliás, o nome do seu e do meu empreendimento é tão parecido, não é mesmo?
- É, comida é tudo igual... Peraí, é um filme pornô?
- Sim meu docinho, nada de mais para os dias de hoje, né?
- Normal... Chega aí em cinqüenta e sete minutos, eu mesmo vou levar, passe aí o endereço coisa fofa.
- Anota aí... Rua dos Amantes nº. 69, o bairro é o dos Prazeres, tchau, te espero, beijinhos...
Sofia repassou o pedido para dona Cremilda, o primeiro da empresa tinha que ser para um set pornô? Fazer o quê? Cliente é cliente em qualquer tempo e lugar, dando ou comendo...
Cinqüenta e sete minutos depois...
Sofia desceu de sua moto rosa, pegou o marmitex no baú, bateu no enorme portão de aço, aguardou um momento, a porta subiu e um homem delicado atendeu e pediu que ela que ela entrasse rapidamente - um crachá avisava: Diretor.
- Seu Diretor, é sete pilas o rango, não posso demorar...
- Calma meu bem, relaxe, sei que vai gostar de conhecer o lugar, que tal?
- Tudo bem, tô morrendo de curiosidade mesmo...
Muita gente estava no local, maquiadores, câmeras-men, figurinistas, eletricistas, uma provável faxineira, divisórias, muito papel higiênico,  copos, garrafas d’água e café aos montes sobre uma mesa, gente pelada com fartura, e muita, muita e vaselina... Provavelmente oito pessoas (dois homens e seis mulheres, fora a estrela máxima que estava em plena atividade em uma das dez camas de casal espalhadas pelo lugar).
O Diretor disse:
- Fique à vontade enquanto eu sirvo comida à Lady Sexy, Mi Kaa Gay (quase irmã ultra gêmea de Wando Ma No Ku), a musa oriental, diretamente do Japão para o Brasil.
- Um momentinho seu Diretor, ela não vai dar uma paradinha nem prá comer além de estar sendo comida neste momento? Esse é o nome dela mesmo? Tá meio que “Paraguai’ essa ninja aí...
- Tens razão seu nome é Paulete Alucineide Pinto, ela é do nordeste, segredinho, tá? Bem, Temos muitas tomadas ainda para fazer lindinha, ela cobra por hora, tenho que agir com sagacidade - parava de falar às vezes com Sofia para dar ordens aos caras que estavam filmando, e aos atores:
- Botelho Pinto, meu filho, dê um close de cinco minutos nesta posição de “frango assado” com Lady Mi enquanto eu coloco comida na boca dela, please. Jacinto Pinto, meu pavê de côco, mantenha-se forte nesse “vuco-vuco” até eu terminar. Oscar Alho, na seqüência você chega junto com seu parceiro e parta para um tripé à grega, enquanto Tomás Turbando foca por mais cinco minutos do alto com sua câmera, da cintura para baixo até eu terminar de dar a comida para minha amada atriz do sexo explícito... Ilumine mais o centro do Clóvis da minha morena oriental seu Janjão “Splash” Pinto.
Sofia não sabia se ria ou se chorava, mas estava no mínimo estupefada com a naturalidade de todos ali, até que se deu conta de um detalhe, o fato do Diretor chamar a todos pelo mesmo sobrenome nome, Pinto. Perguntou a ele:
- Por que o sobre nome de todo mundo é Pinto?
 - Essa é fácil queridinha, somos todos primos, morávamos no sertão da Bahia e resolvemos vir para Minas Gerais tempos depois que nossas mães desapareceram no mundo, cansadas das vidas miserentas que levavam; fomos deixados com uma mulher solteirona, que não era nossa mãe de verdade, mas é como se fosse.  Ela cuidou de nós até partir também. Não a criticamos, entendemos a situação, enquanto pôde nos deu de seu pirão, de sua água e de seu barracão, deu também o nome que cada um de nós tem; em homenagem à ela resolvemos todos adotar o seu sobrenome... Com o tempo montamos uma empresa de filmes eróticos, “A Fogo no Rabo Produções Artísticas”... Eis nossa história!
- Chega a ser comovente... Como você se chama Seu Diretor?
- Cremildo Pinto, por quê?
- Acho que tenho uma notícia para lhe dar... Me empresta seu celular aí que eu vou fazer uma ligação... Alô Dona Cremilda? É Sofia, entreguei o marmitex e de quebra acho que encontrei sua família também.
A Velha disse:
- Como é que é? Explica esse caso direito menina, não se brinca com essas coisas! Sofia explicou e finalizou:
- Inté mais, vou passar o celular prá sua galera da sacanagem, falô? Ah, mais uma coisa, tô saindo fora, me demito, depois a gente se cruza por aí... Mas por enquanto seu povo tá “cruzando” por aqui, e por último, nunca se esqueça desse ditado:
“Família que fornece unida, come unida”, um beijo, fui!

C 104 – COMO UNIR OURO PRETO, SANTA LUZIA E BH COM VELÓRIO E CACHAÇA EM PLENO FERIADÃO?
Sabe aquele feriadão de 15 de novembro, que este ano caiu numa segunda-feira? Pois é... A bagunça toda começou quatro dias antes. Na noite de sexta-feira peguei o buzão e fui parar num bairro obscuro da cidade de Santa Luzia, em Minas, um lugar mal iluminado, cheio de vacas, cabras e cobras, um chove que molha constante; e eu ali, amassando barro em uma estradinha torta, rumo a uma biboca de uma de minhas amigas velhas de guerra – festa de aniversário, essas coisas.
Depois de cinco ou sete tombos cheguei na bagaça, toda suja, da cabeça aos pés; meus apliques rastafári multicores e minhas mechas de cabelo postiças vermelhas, verdes e roxas haviam quase que mudado de cor. Minha calça leg cor de rosa, sob minha mini-saia amarelo-tifóide, meu top verde goiaba e meu tênis azul merenda estavam quase que irreconhecíveis, afinal o marron-lama estava dando forçosamente o tom. Meus óculos estilo pára-brisa de caminhão haviam se perdido pela estrada afora.
Cumprimentei a aniversariante, Xulipa Chuteira pelos seus 44 anos, revi Mary Provolone, Chucrute Jones e uma japinha do peito, Sokáki Desgrassari – três amigas de baladas ardentes. Quem se engraçou comigo foi uma tal de Tereza, que, muito a vontade me deu três beijinhos, uma afofada  de leve na bunda e foi chegando nos conformes, me pedindo para lhe chamar de Terezão, e completando disse que seu nome do meio era João e o último era Dos Prazeres. Deu seu ataque final me convidando para dar umas quebradas por aí, dizendo que a festa nem tava tão boa assim; concordei, subi em sua lambreta e perguntei para onde a gente iria; ela foi enfática ao dizer que iríamos para a cidade de Ouro Preto, quis nem saber, concordei, e a gente se mandou.
Horas depois chegamos à cidade patrimônio mundial, debaixo de um toró espanta jegue danado, sentamos em um buteco local e mal tomamos a sétima dose de cachaça e o celular dela tocou, ela atendeu e o papo foi assim:
— Putz! Brinca não... Morreu mesmo? Logo a Julinha Torresmão... Sacanagem né? Já dei uns creu nela, maior delícia a petúnia da mina, mas deixa prá lá... Se vou no velório? Claro! Onde? Em Contagem? Tô a caminho, vou levar uma colega minha chamada Sofia Santelly, pode ser? Então tá, rapidinho tamo aí, té já.
Duas horas depois (ou mais) a gente chegou no lugar, a mulher já tava no caixão e Terezão, toda a vontade disse, na maior cara de pau, que havíamos chegado para curtir o velório, demos nossos sentimentos a todos, mas ela emendou dizendo que íamos ficar numa sala ao lado para dar uma descansada, coisa rápida, canseira de viagem. Sentamo-nos no chão e ela tirou de sua bolsa hippie a garrafa de cachaça que havia trazido da cidade presépio, foi com ela que nos aquecemos. Mas, dormimos tanto que nem vimos o enterro seguir rumo a seu fim, o cadáver se foi e a gente na maior ronqueira!
Em certo momento acordei, meio que assustada, e quando dei uma sacada em um relógio pendurado na parede vi as horas e dei um pulão, eram cinco e cinqüenta e sete, pior mesmo foi quando cutuquei a Terezão e perguntei que dia era. Quando ela disse que era terça-feira pirei geral, aos berros clamei por Nossa Senhora das doidas e implorei que ela me levasse direto pro meu trampo lá na Savassi, em BH, afinal eu pegaria serviço as sete da matina! Mandamo-nos dalí, e rapidinho ela me deixou em frente ao salão de beleza onde eu ralo, se despediu de mim, meio que assim num amasso íntimo e super longo, mão naquilo, aquilo na mão, essas coisas. Assim que ela se foi entrei, a galera já tava toda lá, me olhando meio que atravessado, afinal eu tava toda suja, bêbada e, não sei por que, sem minha calça leg e sem calcinha, por isso tava sentindo um frio danado na garagem... Acho que minha pufinha e meu fifo vão constipar... Fazer o quê? Entrei rapidinho no banheiro e dei uma disfarçada no visual e na carniça que envolvia todo o meu ser. Voltei rapidamente para meu posto e comecei a pintar as unhas de uma cliente, enquanto eu a enfeitava lhe dei uma revista, não para que ela folheasse, mas para espantar as moscas que estavam a me rondar... A luta continua companheiro e minha cara de pau também! Eita feriadão da peste!


C 105 – QUAIS OS RISCOS DE SE MATAR ASCARIS LUMBRICOIDES, OXYURUS E VERMES AFINS?
Tava encafifada com uma certa comilança da minha parte nos últimos sete meses, tava com a barriga inchada, (já não agüentava mais dizer pra vizinhança que não tava prenha). Pelo que já tinha ouvido falar podia ser culpa de um tal oxyurus, que  costuma provocar as reações acima, e mais, tava com uma coceira brava bem no meio de minhas entre partes, na somatória úmida das minhas pregas às quais a ciência batizou de esfíncter.
Em busca de uma melhorança fui até uma farmácia conhecida perto do meu barraco e pedi um remédio prá acabar com a tal piorança que estava habitando, crescendo e se multiplicando dentro de meu bucho, de minhas entranhas ou tripas intestinais, como queiram. Seu Berola me atendeu e me fez umas perguntas estranhas (creio eu que supondo minha ignorância, mas pelo tom debochado de sua voz me pareceu o contrário, sei não):
— Sofia, veja bem, de que tipo de bicho a gente tá falando? Vou citar alguns procê... Ascaris lumbricoides, enterobius vermicularis, ancylostoma duodenale, necatur americanus...
Dei uma longa suspirada e respondi que queria mesmo era fuzilar só um tal de oxyurus, se matasse o resto prá mim era lucro. Ele me disse que tinha no estoque um remédio do tipo mata boi-mata boiada, e na rabeira o dito cujo ainda pegaria toda a marginália verminosa circundante, a grande família invasora ia se dar mal; só me advertiu quanto aos possíveis efeitos colaterais. Quis nem saber dos detalhes, paguei e vazei, já guentei coisa muita muito mais grossa e nem sujei a calcinha. Maldita hora que não levei em consideração os conselhos do vovô das drogas!
Não é que os tais (de)feitos colaterais encarnaram todos em mim? Nem Chico Xavier conseguiria expulsá-los! Tive tonteira e caganeira, vomitei e constipei, meus olhos ficaram muito vermelhos (e olha que faz tempo que eu não fumo), tive inté dores de cabeça alucinógenas, meus beiços secaram, meus peitos GG incharam ainda mais (fiquei parecendo mais vaca leiteira ainda), meus pés racharam e minhas unhas encravaram, tive pruridos cutâneos e anais (meu curvalino arranjou uma suadeira e um calorão dos infernos como há tempos não tinha, e olha que o tráfego de entrada e saída do sistema é bruto!). Cumé que pode um trem desses uai? Puta que o pariu!
Prá rebater a ziguezira na buzanfa tomei um corta-desgraça federal, uma raizada feita por índios dos cafundós do Amazonas com cachaça mineira, que serve pra tudo, seja coisa das boas ou das ruins. Não deu outra, em sete dias eu tava pronta pra outra, só a tal da coceira insistiu em ficar por mais algum tempo, nem me importei, isso acabou virando uma deliciosa distração prá mim, tipo assim, ficar afofando minhas intimidades no lado negro da força enquanto o sabre de luz não adentrava uma vez mais em meu asteróide interior...

C 106 - LADY GAGA, JUSTIN BIEBER, CARLA BRUNI, DILMA E SOFIA FLAGRADOS NUMA FESTA QUENTE NUM A.P. DO PALMITAL? COMO ASSIM?
A coisa é até difícil de explicar, mas parece que aconteceu mesmo, pelo menos é o que dizem os boatos... Sofia, que estava pinguça por demais já há alguns dias, andava meio que de tesão pela mais nova sensação do momento, o Justino Beer, ele era lindão, a pinta de boiola nem fazia tanta diferença assim – era carinhosamente chamado  por todos de Justin, o apelido de fiuska não colou... Pois é, essa era a mais nova sensação de BH, que tava morando no bairro Palmital, em Santa Luzia, provisoriamente.  Ele veio do México, parece que fugido, dizem que tava devendo uma grana a certos sujeitos mal-encarados de lá, e como falava bem o português resolveu fazer uma experiência nova em sua vida, cantar; pegou umas piriguetes e uns balacobacos locais e montou uma banda que fazia uma mistura de funk, pagode e axé misturados com umas batidões de macumba — e assim nasceu o Re-Starquix... Para os efeitos especiais descolaram uma DJ vovó, meio gagá, mas que era fera nas mixagens, todos a chamavam carinhosamente de Lady gaga, o cavaquinho ficava por conta de uma russa, chamada Dilma, naturalizada brasileira, a quem chamavam merecidamente de Self-Self  (acho que era muito dada, dizem também que era chegada numa vodca com lula ao ponto e pimenta, contam que tinha um jeitão militar, não gostava de nada que fosse verde e sentia vertigens quando olhava  em direção à serra... Vai entender). No rebolation havia só uma dançarina, que se chamava Carlina Brunette (como o nome era feio prá caceta arredondaram para Carla Bruni — o pessoal do São Benedito, bairro vizinho, disse que ficou chique, meio que francês, nada a ver, mas fazer o que né?), o resto dos instrumentistas da banda morava no caldeirão do inferno, uma parte mais quente do citado Palmital, eram em número de sete, e tinham os mesmo apelidos que os sete anões, e nem vale a pena citar o nome deles, só vale frisar que todos eram anões mesmo.
Na precisão de mais uma dançarina lançaram um concurso, distribuíram cartazes pela região, além de ter alugado a Kombi 75 do seu Lu anus Santa Ana para fazer a mídia radiofônica. Não deu outra, Sofia endoidou de vez, quando ouviu a propaganda estava deitada em sua cama, deu um salto, tirou sua calcinha e seu sutiã, vestiu seu mini shortinho, sua micro blusa tomara-que-caia e seu sapato roxo devasso, salto plataforma. Pegou sua bolsa porta modess, trancou rapidamente seu barracão e ainda teve tempo de parar na frente da Kombi dizendo:
— Seu Anus, toca pro A.P. do Justin agora, essa vaga é minha e ninguém tasca, vamos nessa.
— Escuta aqui minha filha, meu nome é Luanus falô? E não vou te levar lá não, tô trabalhando...
Sofia abriu as pernas e disse que ele podia dar uma cheirada nas coisas dela se ele atendesse seu pedido; trato feito, fungada dada e pronto, em poucos minutos já estavam no A.P. do Justin. Na entrada dois brutamontes armados deram uma geral nela, deixando-a entrar na seqüência, não sem antes dar uma passada na deliciosa bunda dela, que estava bem à mostra, diga-se de passagem.
Justin estava sentado propositalmente em uma cadeira de rodas, com as calças arriadas, com uma mão segurava um ursinho rosa, com a outra segurava um cigarro do capeta, Bruninha e Dilminha estavam ajoelhadas perto dele, fazendo suas orações, enquanto a vovó com as duas mãos fazia uma frenética mixagem com os dois dedos centrais no ponto G das meninas, os sete anões não estavam por ali, embora fosse nítida a impressão de que havia um mutirão da limpeza no quarto ao lado, pois todos eram unânimes em dizer coisas parecidas como: tira daí, põe aqui, enfia ali, agora bate, depois sacode, empurra, aperta, levanta e depois abaixa; essas coisas, dia de faxina é assim mesmo...
Justin perguntou o que eu queria, e eu fui enfática, dizendo que era sua mais nova dançarina. Dei uma viradinha, puz a mão nos joelhos, fui descendo gostoso, dei umas reboladas e uns gemidos sensuais, e conclui a apresentação de quatro, com o dedinho na boca, meus olhos pingavam mel e emoção. Ele se levantou, ajeitou as calças, veio em minha direção suavemente e disse:
— Leva a mal não coração, mas a vaga já foi preenchida, por uma mina aqui do andar de baixo, fiz a propaganda só pra dar uma satisfação prá comunidade, fica pra próxima, adiôs...
Fiquei possessa, em questão de segundos, tirei o cigarro que ainda ardia em seu beiço, voei na adega dele, quebrei diversas garrafas de bebidas alcoólicas e ateei fogo em tudo; foi um corre-corre dos diabos, escapei em meio à bagunça e à fumaça; se a vaga não fosse minha é claro que não seria de ninguém!
Dei uns bicudos no seu Anus e fugi com sua Kombi, fiquei desaparecida por sete dias. Me safei de todos aqueles calhordas facilmente, liguei na miudinha para o disk-denúncia e entreguei a corja toda, que não demorou a ir em cana. Quando Sofia se vinga nem o coisa-ruim pia...
Cambada de filhos duma égua!!! Quer saber? Agora já estou em outra profissionalmente, comprei uns cinqüenta e sete filmes pornôs piratas e passei a revender pra uma turma selecionada, em outra freguesia, é claro! No Palmital não volto tão cedo!

C 107 – SHAKIRA E BEYONCÉ DERAM MESMO UM SHOW EM BH NA BOATE – MOTEL LE BOSTEL?
            Primeira coisa... Pra variar tava percisando de dinheiro, vi um anúncio num jornal que pedia uma auxiliar de serviços gerais, para trabalhar à noite no mais novo inferninho do bairro Concórdia, em BH, chamado Le Bostel. Nem pisquei, fui na cola, essa vaga tinha que ser minha; mal sabia eu o tamanho da discórdia que estava por ocorrer por lá nas próximas horas.
            — Bom dia meu nome é Sofia, vim ocupar a vaga que vocês estão percisando...
            — Seja bem vinda minha jovem, a vaga é sua, você tem o perfil que tô na cola. Muito prazer, meu nome é Bucelina Navhara Thuim, mas pode me chamar de Dona Bucê; a inauguração é daqui a dois dias e a gente tem que acelerar algumas coisas, você pode começar agora?
— Sem probrema! Qual é o pó?
— Nossa boate tá com um conceito novo na praça, é uma mistura de motel, buteco, loja de variedades e artigos religiosos, um trem muito doido né? A gente pretendemo dar um show de arromba com dois famosos travecos paulistas, a Shakura e a Bemnocê, que fazem lindas performances da Shakira e da Beyoncé, só que a gente na percisão de fazê a casa enchê vai colocar o nome das copiadas em letras gigantes e com letras miúdas por os nomes das copiadoras nas entrelinhas, avisando que é só um show cover.
— Isso não vai dar certo...
— Confia neu pô, tenho experiência de longa data com o show bizz, ótimos conhecimentos com coisas de segundas e terceiras intenções, sabe como é, a gente já deu muito tombo e cheque sem fundo por aí... De picaretagem, fuga e chave de cadeia eu intendo, tô vacinada minha filha isquenta não. Vamu intrá meu bem, a gente tem muita coisa qui fazê tá bão?
— Seja o que o Demo quiser...
Cartazes feitos, mídia toda informada, funcionários a postos... Eis que chegou a grande noite... Quando a gente se deu conta a rua tava intupida de gente, muita gritaria, tietes, cartazes, desmaios, essas coisas, e é claro, polícia, muita polícia na porta, chamados que foram pelos vizinhos e por um dos fãs, que sacando a embromação obtida nas letras miúdas de um dos cartazes, quase liderou um linchamento geral contra todos nós e contra as falsas super estrelas, nos chamaram, injustamente, com nomes de belos animais da natureza (viados, vacas, galinhas, etc).
Cinqüenta e sete minutos de exaustivas explicações depois, setenta e cinco pessoas ainda assim quiseram ficar, entraram e o show transcorreu numa boa, entre plumas, gemidos, paetês, som no mais alto grau, pinga com torresmo e muita purpurina, sinuca e muita chave de quarto liberada, era um entra e sai danado! A casa faturou legal... Eu fiz de tudo: dei geral, digo, dei assistência geral, no caixa, no atendimento como garçonete, no bar, etc.
No final do evento, como cortesia, Dona Bucê cedeu gratuitamente um quarto para as quase divas da música pop, para que descansassem, só pagariam pelo que consumissem no transcorrer da madrugada, e eu fiquei na incumbência de servir-lhes caso precisassem de alguma coisa; fazer o que né? Aceitei, assim que o dia amanhecesse eu pegaria meu acero e desapareceria daquele puteiro dos infernos pra sempre...
Mal sentei num tamborete e a desgraça do telefone do quarto das bichas tocou, peguei a caneta e um bloquinho para anotar o que elas pediriam, uma delas solicitou o seguinte:
— Meu bem, traga, por favor, uma boneca inflável, um penico, dois pintos de borracha de vinte e cinco centímetros, na cor marrom bom-bom, duas pererecas de silicone, uma branca e a outra preta, sendo a primeira depilada e a outra cabeluda, dois potinhos de vaselina com sabor de tangerina, sete camisinhas extragrandes, duas velas, uma roxa e a outra preta, dois baby-dolls, um na cor azul-bebê stroncho, e o outro na cor Pink tentação, cinco limões capeta, bem azedos, duas galinhas pretas, sendo uma perneta, e a outra zarolha, sete charutos bem grossos, duas blusas e duas calças, todas brancas e largas, dois pares de algemas, um chicote, dois atabaques, um apito e um reco-reco... Se a gente precisar de mais alguma coisa a gente liga de novo. Vai demorar?
— Olhei para o relógio, eram cinco e cinqüenta e sete da matina, respondi que ia demorar um nadica de nada; desliguei o telefone e saí de fininho, nem meu acerto peguei, desci ladeira abaixo, no meio do caminho peguei um buzão e fui parar no centro, sentei numa padaria, pedi um café com leite e um pão com manteiga, ainda tava com o rabo cheio de cachaça da maldita noite anterior, percisava rebater... Cumé qui eu paguei a parada? Ora, o que eu afanei de grana dos otários bêbados noite afora não foi moleza não – tava com o sutiã e a calcinha lotados de dinheiro amassado! Paguei e fui a pé pra casa, tava percisando espairecer um pouco, a noite foi realmente um show (de horrores) para mim, vida de artista é foda mesmo...

C 108 – MINI-NOVELA EXTEMPORÂNEA: DESGRAÇAS MUITAS OU SÓ VIAGENS ESQUIZÓIDES?
Epígrafe:
“Compreende-se melhor agora a curiosa sobrecarga que afeta a navegação dos loucos e que lhe dá sem dúvida seu prestígio. Por um lado, não se deve reduzir a parte de uma eficácia prática incontestável: confiar o louco aos marinheiros é com certeza evitar que ele ficasse vagando indefinidamente entre os muros da cidade, é ter certeza de que ele irá para longe, é torná-lo prisioneiro de sua própria partida. Mas a isso a água acrescenta a massa obscura de seus próprios valores: ela leva embora, mas faz mais do que isso, ela purifica. Além do mais, a navegação entrega o homem à incerteza da sorte: nela, cada um é confiado a seu próprio destino, todo embarque é, potencialmente o último. É para o outro mundo que parte o louco em sua barca louca; é do outro mundo que ele chega quando desembarca. Esta navegação do louco é simultaneamente a divisão rigorosa e a passagem absoluta. Num certo sentido, ela não faz mais que desenvolver, ao longo de uma geografia semi-real, semi-imaginária, a situação liminar do louco no horizonte das preocupações do homem medieval... Ele é colocado no interior do exterior, e inversamente.”

(Foucault “História da Loucura” – Primeira parte, página 11 e 12)

I
A data era quatro de dezembro de 1872, uma imponente embarcação, o Mary Celeste, ou apenas MC (um dos mais exóticos instrumentos turísticos dos setes mares) foi encontrado por outro navio, o Dei Gratia, abandonado e à deriva, na costa da Espanha; por isso foi considerado por muitos um assustador navio-fantasma.
Antes de causar espanto com tal visão terrível ele foi considerado uma das mais harmoniosas criações da engenharia marítima de todos os tempos, comparável à grandiosa nau dos Argonautas da Grécia mítica, tão magnífico como o Nautilus do visionário escritor Júlio Verne; um dos poucos capaz de suportar a fúria de terríveis tempestades, insubmisso diante de rochas tão imponentes quanto ele – afinal outrora ele foi um navio de guerra!
Vendido em uma grande feira marítima ele foi adquirido pelo pacífico capitão Peter Bento. O MC sempre foi forte, robusto, ordeiro e bem cuidado, mas, muitas manchas de sangue e arranhões intrigantes estavam maculando o convés, as paredes e os corrimões dele naquele momento... A maioria das pessoas se perguntava:
Onde foi parar toda a tripulação? O que ocorreu de fato? Um maremoto? Um assalto de piratas?  – só eu sei o que houve... Ou ainda: como eu soube disso? Darei as respostas gradualmente...
O desolado MC tinha sete lindas velas, sustentadas por sete mastros colossais, feitas com o mais denso jacarandá e também com pau-brasil de qualidade indiscutíveis – foi todo pintado com o melhor verniz da Europa... Já esteve em todos os cantos aquáticos do mundo... Tinha cinqüenta e sete pavimentos, cinqüenta e um deles eram utilizados para acomodar os viajantes (seis cabines tinham beliches em função disso), seis delas eram usadas por sete bravos tripulantes que, quando estavam cansados precisavam de um aconchegante lugar para dormir.
Como se chamavam os coordenadores da audaz nave cortadora de águas e ventos? O já mencionado capitão Peter Bento, um holandês inteligente, sua esposa, Mary Celeste, uma enérgica portuguesa (que com seu nome batizou a nau), Jean-Paul Donatien (um excelente cozinheiro francês, especialista em comidas de altíssimo padrão: carnes, legumes, peixes, suflês, tortas, bolos e pães deliciosos) e quatro marujos destemidos (Lux Sagratti, um indiano sábio, mas, de poucas falas, o melhor jogador de xadrez e críquete que eu já vi, Samael Mendes, um excelente navegador espanhol, um galanteador de primeira, Valentina Ferrari, uma jovem italiana, versátil e robusta, além de Serena Sanchez, uma mexicana apimentada)... Uma tripulação só de expatriados, expurgados por sua própria gente – coube ao comandante recolhe-los nos portos pelos quais passou, em busca de pessoas dispostas a navegar pelas ondas do sem fim.
Alguns rumores, aqui e ali, começaram a se formar durante a viagem dentro da nau, tensos e hostis, destilando farpas nocivas sobre seu capitão, e sua esposa; eles sempre se deram bem, mas, uma disputa gradual pelo comando da tripulação estava se dando nas entrelinhas...
  Despontaram muitos burburinhos sobre traição, juras de vingança e morte. Um ciúme excessivo aflorou da parte dela, por causa de um dos cinqüenta e sete passageiros da recente leva de turistas que haviam embarcado cinco meses antes – o MC ancorou em um porto da Alemanha, em vinte e sete de junho, e zarpou dez dias depois.
Constantemente novos visitantes eram agregados às viagens, pagavam fortunas para navegar turisticamente com o MC, ficando de sete a nove meses no mar, depois desciam em seu portos de origem; o capitão quase nunca repetia os mesmos pontos de partida, gostava da diversidade cultural, e por isso sempre atracava em locais distintos, em busca de gente e experiências diferenciadas...  O motivo da discórdia foi uma linda mulher, nascida no Brasil, mas, que residiu em terras francesas por pelo menos sete anos, antes de ser acolhida no porto alemão, eu Sofia Santelly.
Não sei se todas as histórias sobre mim estão em conformidade com a realidade, mas, geralmente consigo abstrair algumas coisas diretamente de sinapses alheias. Não sei determinar se o que retiro do cérebro das pessoas é veraz ou falso (Mergulho apenas no salão secundário da consciência, aonde as idéias já chegam prontas, não tenho acesso ao local em que elas são formuladas, no lugar mais escuro da mente humana) – sim, eu tenho uma telepatia razoável.
Algumas coisas nela, porém, são evidentes, externas, ela é um amálgama entre o fogo e o gelo, entre o céu a terra e o ar, entre a água o breu e o lodo; é sabido por poucos que freqüentei assiduamente as altas rodas sociais da riviera francesa, só que delas me cansei, e decidi partir em busca de novos horizontes... Acabei aportando na Alemanha, mas, não fiquei muito tempo lá (muitas coisas boas me aconteceram, mas, ter conhecido Nix nas terras germânicas figurou entre as melhores - voltarei a vê-lo, com certeza!).
Eu tenho um belo porte, aprecio as finas especiarias da Índia, tais como fumo e bebidas destiladas, sou simpatizante dos efervescentes movimentos intelectuais modernistas, gostei inicialmente da metodologia de Descartes em prol de idéias “claras e distintas”, mas, não me simpatizei com suas questões que apregoam a predestinação das pessoas rumo ao céu ou ao inferno, algo muito freqüente nesses dias...  Estóico demais para mim, medieval em demasia... Resumo da opera, acabei deixando-o de lado, não sem reconhecer seu mérito na questão do cogito – amo muito o teatro, por isso admiro tanto Racine, o famoso tragediógrafo francês... Sou uma mulher muito inteligente e ao mesmo tempo esquizóide, às vezes gosto de ser chamada por meu verdadeiro nome, Sayzara Zaydan, mas, às vezes prefiro ser chamada de Sofia Santelly.
Muitas das coisas que falam de mim são apenas invencionices arcaicas, infundadas por demais... Embora eu possa transitar nas entrelinhas do enigmático espaço-tempo, ora no passado, ora no futuro, não sei de todos os detalhes dessas e de outras histórias da minha vida, embora vislumbre algumas nuances, como já disse – pode ser que tais vislumbres não venham a ocorrer exatamente como eu os descrevo, mas, esse  não é o maior dos meus problemas, há outros dos quais preciso cuidar mais energicamente... Falarei sobre isso posteriormente.
Eu estava no convés MC quando ele aportou no cais francês, uma linda jovem nele adentrou, e confesso:
Foi amor à primeira vista... Falarei mais sobre ela em breve.
Sou uma viajante extemporânea, um doce fantasma feminino, embora ocasionalmente possa me materializar; nesta forma translúcida as pessoas que permito conseguem me entender, ver e ouvir – assim faço com um duplo objetivo, quando quero fazer novas amizades, ou quando quero assustar alguns imbecis que me incomodam o viver... Tais criaturas quando me vêem semi-opaca, suspensa no ar, acham que estão ficando loucas ou que a mulher do Diabo lhes apareceu em pessoa! Confesso, quando isso acontece é bem cômico! Nada como fazer algumas picardias ocasionalmente!
Por tudo isso há quem me chame de Sofia Phanton ou de Sofia Crazy, vou ser sincera, não me importo com a conotação pejorativa que o segundo codinome carrega, ele tem sua torta razão de ser, pois, andei dizendo algumas vezes que já fui namorada em tempos pretéritos da encarnação da Loucura, a grande mãe dos inocentes e dos supra-racionais. Eu sei, de inocente não tenho nada, qualifico-me como desgarrada dos limites da razão, estou em um nível de perspectivismo, imaginação, ousadia e de experimentalismos psicofísicos que muitos jamais irão ultrapassar – por isso Ela, a Loucura, gostou tanto de mim, embora tenha se cansado de meus beijos cedo demais, instável por natureza acabaria me trocando por Nix, por quem se apaixonaria perdidamente... De mim só deseja agora momentos esparsos de prazer – acabei me tornando para Ela um estepe erótico ocasional; tudo bem não me importo, afinal também aprendi a buscar por outros amores – chumbo trocado não dói...
Para aqueles que pensam que me rotulando como estúpida, demente, retardada, anormal, deficiente (e sei lá mais o que) me diminuem, deixo a minha gargalhada marginal, e reconheço a ignorância, não em mim, mas, nestes, que, do que está além dos sentidos e das aparências nada sabem, imaginando que não existem certos fenômenos circundando nas entrelinhas da existência.
Aos que me taxam com nomes parvos, pensando saber muito sobre a Loucura, deixo meu desprezo, e digo:
Apenas parecem ser os detentores da “verdade”, não são mais que medianos comerciantes, mas, suas balanças empenadas jamais poderão descobrir o peso e a medida exata que estabelece com precisão em que grau reside o limite entre a racionalidade (pensamento e discurso) e a esquizofrenia (poucos sabem, esse termo é do grego clássico, e é o mesmo que “fuga da mente”).
Quem pode afirmar que está o tempo todo atrelado à realidade ou à sanidade? Quantos são os que já nascem assim? Quantos ficam provisória ou permanentemente “fugidios” ao longo da vida, em função das adversidades, do stress, dos vícios, das dores e das frustrações? Quantos são os que optam por esse lado obscuro da lua?
Eu escolhi ser quem sou, a vida e a sociedade sempre me colocaram à margem, sempre fui excluída dos meios sociais só porque preferi ser mais amiga da verdade do que amiga de Platão (parafraseando Aristóteles)... Uma verdade, a minha simples e desvairada verdade, diga-se de passagem.
Fizeram de mim uma paria, e eu decidi “fugir”... Quando isso ocorreu encontrei-me com a citada Loucura, que por mim se encantou, e decidiu me dar sete presentes, sete poderes incríveis:
A transmutação espaço-temporal, a invisibilidade cambiável, a curiosa leitura da mente, a alterabilidade de tamanho, a capacidade de voar (um par de asas surgem quando eu quero migrar pelo céu), a capacidade de invocar raios e trovões, também foi me dada a força de setes gorilas.
Constantemente uso o primeiro deles, rarissimamente uso os demais, só em situações especiais. Concluindo:
Hoje eu alterei o destino de muitas vidas, mas, me importo realmente com poucas...
Antes de prosseguir relembrarei, num átimo, não muito longo, como as coisas chegaram até o citado e fatídico quarto dia do décimo segundo mês de 1872, que citei no início de minhas narrativas marítimas...

II
Por que Say deixou o Brasil e passou a morar em Paris, na França, nos idos de 1865? A resposta não é tão simples, mas, lendo sua mente pude colher uma série de retalhos mentais, e com eles montei um mosaico aproximado com as coisas pelas quais ela passou, e, diga-se de passagem, não foram tão suaves como eu gostaria que tivessem sido, embora em muitos momentos de sua vida ela tenha vivido situações que muitos gostariam de ter experimentado, pois, era uma jovem renomada na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, filha  única de pais ricos, donos de uma enorme fazenda de café nas imediações do lugar,  eles eram donos de muitos escravos.
A partir de 1837 o Brasil já era um grande exportador de café para os Estados Unidos, Inglaterra, França e Alemanha, a Zona da Mata, em Minas, adaptou-se bem com o plantio desse valioso produto (um outro tipo de ouro, também preto, que substituiu as já decadentes minas, que não produziam mais aquela “infinidade” desse metal precioso para a coroa portuguesa), e gradualmente foi aumentando sua participação na economia nacional... Dois anos depois ela nasceria, literalmente em berço de ouro preto.
Em 1846, já com sete anos foi enviada para uma universidade francesa para estudar (qual?), retornou em 1857, já com dezoito anos; em 1865, com 26 anos se mudou em definitivo para o país francês, para desgosto de seus pais, que nada puderam fazer. Ela era muito decidida, e embora os amasse não terminaria seus dias num lugar que para ela era retrógrado se comparado com o brilho de um dos lugares mais iluminados do mundo, receptáculo de valiosos pensadores nativos, e mesmo dos que eram oriundos de outras terras que por lá adentravam direta ou indiretamente.
É digno de nota lembrar que:
Antes de embarcar no MC ela já tinha lido livros impressionantes, de franceses como Voltaire (por exemplo, o agradabilíssimo e inteligente Dicionário filosófico, de 1764), Rousseau (e seu inspirador da liberdade, e político, Contrato social, de 1762) e Augusto Comte (Curso de filosofia positiva, de 1830-42), do alemão Karl Marx (tais como os muito instigantes Manuscritos econômico-filosóficos, de 1844) e do inglês Charles Darwin (A origem das espécies, de 1859).
Sofia viveu tempos felizes em Paris, a reforma urbana perpetrada por Luiz Bonaparte (mais conhecido como Napoleão III, sobrinho do famoso falecido Napoleão Bonaparte) transformou a cidade inegavelmente, muitos prédios seculares foram derrubados (a contragosto dos tradicionalistas) e deram lugar a construções modernas, bem ao gosto dos novos tempos da Revolução Industrial, surgiram avenidas largas e interligadas... Era de certa forma uma ideologia progressista do ideal positivista que estava triunfando pelos poros franceses, contra o crescimento desordenado de outrora.
Os tempos, porém, estavam conturbados, a França não estava vendo com bons olhos a união conjugal entre o rei da Espanha com uma nobre do império prussiano, para que houvesse um parentesco com seu rei, Guilherme I; isso fortaleceria perigosamente os laços entre estes governos (isso foi promovido pelo chanceler de ferro, Otto Von Bismarck, que estava usando tal fato para provocar uma guerra que imaginava que fosse ganhar, em função do grande poderio militar que comandava... Ele, habilidosamente enviou um bilhete achincalhando os franceses, assinado pelo rei prussiano, os jornais publicaram as ofensas – Napoleão III aceitou as provocações e declarou guerra à Prússia, era tudo o que Otto desejava!). A peleja teve início em 1870 (percebendo que as coisas estavam de mal a pior Sofia, semanas antes, para se sentir mais segura, alugou uma bela e tranqüila casa, na distante Marselha)...
No ano seguinte a França caiu de joelhos diante dos prussianos, seu imperador foi feito prisioneiro em pleno campo de batalha. Foi assinado o Tratado de Frankfurt, a França cedeu a região rica em minerais da Alsácia-Lorena, além de ter pago uma pesada dívida de guerra... No palácio de Versalhes o rei Guilherme I foi aclamado imperador da Alemanha unificada.
Em Paris os republicanos tomaram o poder no ano anterior, aproveitando-se da instabilidade reinante gerada pela guerra franco-prussiana, um governo provisório assumiu, convocando eleições para a Assembléia constituinte... A guerra continuava...
Os prussianos cercaram Paris por meses! A fome chegou a se instalar entre a população, só os mais abastados financeiramente sentiram menos (Sofia ficou horrorizada com tudo aquilo, e uma crescente vontade de sumir dali tomou conta dela, mas, o momento não era bom, seria preciso aguardar o desfecho desse trágico momento na história francesa).
O governo burguês caiu, cedeu aos alemães, os subúrbios da capital se revoltaram, a Comuna de Paris (regida por operários tomou as ruas e a prefeitura da cidade – com isso , o primeiro governo socialista do mundo saiu vitorioso desse levante!)... Dentre as muitas providências que tomaram uma se destacou, a Igreja foi separada do Estado... De uma maneira “quase que milagrosa” os governantes franceses e os militares alemães acabaram se entendendo, às custas de um acordo que libertou prisioneiros de guerra franceses, que reorganizados adentraram em Paris, derrubando o governo da Comuna (soldados armados pelos alemães para matar os próprios franceses!). De um lado trabalhadores armados com revólveres e facas, do outro a “morte bélica” personificada, com fuzis, baionetas e mortíferos canhões! Um banho de sangue se seguiu! No final a burguesia triunfava sobre uma pilha de cadáveres!
Em meio a essa página triste o desenvolvimento científico transcorria na França (embora tudo isso tenha contaminado de vez o espírito de Sofia que não podia mais viver naquele ambiente estranho, insustentável que se alicerçou entre o povo francês – sua partida era iminente, com certeza).
Em 27 de junho de 1872 Sofia passeava pelas agora aparentemente calmas ruas de Marselha, e foi parada por um panfleteiro, de cor branca, que aparentava ter uns dezessete anos e uma altura aproximada de um metro e setenta e cinco; estava vestido de pierrô, e usava roupas de cetim coloridas, nas cores da bandeira francesa, vermelho, azul e branco – tinha cabelos castanhos, anelados e compridos, usava uma sapatilha confortável nos pés, embora descorada.  Ele lhe entregou um papel com os seguintes dizeres:
“Se você deseja conhecer o mundo esta é a sua chance! Dirija-se ao cais do porto, estamos fundeados no Golfo de Lyon, e fique sabendo como tornar esse sonho possível. Nosso navio, o Mary Celeste, estará zarpando dentro de alguns dias, em sete de julho, não perca tempo. Venha ser feliz conosco!”
Sofia lhe perguntou se já havia almoçado, mas, ele gesticulou com a cabeça e com as mãos negativamente, ela entendeu que ele era mudo. Tirou do bolso de sua blusa branca algumas moedas e lhe deu, provavelmente ele deveria ser alguém do subúrbio que fora contratado para fazer esse serviço extra... Os tempos estavam mesmo difíceis para muitas famílias francesas.
As idéias de Sofia ganharam corpo com aquele convite, e ela se dirigiu até o porto imediatamente, pois queria saber mais detalhes sobre essa fantástica novidade, que poria termo à sua vontade de se libertar.
Ao chegar lá procurou pelo navio, pediu uma informação a um dos muitos carregadores que por lá transitavam, com sacos pesados em suas cabeças, um deles lhe apontou onde a nau estava acostada, ela então se dirigiu até ela.
Lá chegando foi recebida pelo próprio capitão da embarcação, que se apresentou como Peter Bento. Ele usava um vestuário azul claro, incluindo seus sapatos, tirou seu quepe da mesma cor, de copa redonda e com uma pequena pala sobre os olhos, e se curvou suavemente para a bela dama que estava à sua frente, com um lindo chapéu bege, uma delicada blusa branca, uma saia azul e um par de sapatos scarpin também bege – ela segurava uma  pequena sombrinha florida em uma das mãos, com a outra o cumprimentou, ele retribuindo o gesto pegou sua mão máscula e levou  a dela até seus lábios rápida e gentilmente, perguntando a seguir no que poderia ser útil, ao mesmo tempo em que perguntou seu nome.
Após as apresentações formais ele deu as informações que ela queria, para a sua surpresa Sofia ficou sabendo que estava garantindo a última vaga, e a tarde ainda mal havia começado, o que de certa forma é compreensível, afinal, o trâmite de pessoas nas redondezas era grande, gente vinda de todos os lados do país, em busca de uma oportunidade para viajar, muitos a trabalho, outros tantos em busca de aventuras e descanso (principalmente depois dos últimos acontecimentos que mergulharam a todos nas tensões dos ainda recentes traumas pós-guerra).
Ambos foram até a cabine do capitão Peter Bento para acertar os detalhes da viagem: preço, condições, roteiro, entre outras coisas... Partiriam assim que a carga de mantimentos e outras provisões estivesse completa, o que ocorreria em breve. Ela recebeu o bilhete de número cinqüenta e sete, e dividiria seus aposentos com uma jovem senhora francesa, de 57 anos, chamada Simone Jean de Beauvoir, oriunda de Toulouse.
Ciente de que teria poucos dias para organizar suas coisas Sofia retornou para sua casa para fazer os devidos preparativos, seria preciso se despedir dos amigos, devolver a casa, acertar o aluguel e dispensar os empregados – uma nova vida para além do litoral francês estava por começar.
Eis que o aguardado dia chegou, sete de julho...
Assim que todos os passageiros adentraram no MC, a tripulação providenciou que a âncora fosse levantada... Içaram-se também as sete belas velas, presas aos imponentes mastros; lentamente a porção de mar próxima à terra foi ganhando corpo, e as águas foram se tornando cada vez mais volumosas, deixando para traz mazelas de toda sorte, e abraçando novos sonhos e esperanças de tempos melhores.
Que tenham início as narrativas marítimas alucinóides de um amor entre iguais!!! Alucinóides por quê? Ora, falar de tudo o que se refere à Sofia deixa-me quase que completamente fora de órbita, um êxtase interior toma conta de mim, me dá um energético conforto, uma sensação de bem-estar incalculável, afinal, só mesmo ela para extrair de mim (órfã que sou, sem lar, sem pátria) algo menos pior do que a  brusca solidão – não sei de onde vim e nem para onde vou, quando dei por mim já estava jogada no mundo na condição de fantasma, fui acolhida por uma graciosa amante, a  maior  de todas as damas, a  Loucura, que me amparou e me ensinou tudo o que sei da  árdua vida (mas, essa é uma história para outro momento, se é que irei sobre isso falar com todas as letras; há coisas que devem ficar  bem guardadas dentro do peito, trancafiadas inclusive).
E por falar em amor, isso foi o que senti quando vi Sofia pela primeira vez, ela deixou seus pertences em seus aposentos, e foi até a proa do MC, para dar um último olhar e um breve suspiro em direção à plataforma francesa onde embarcou, deu seu adeus, com um terno olhar, à terra que lhe serviu de esteio por tantos anos.  Eu estava na popa, mas, dentre todos que por lá transitavam eu só tive olhos para ela, a mais linda mulher que já vi. Flutuei em sua direção, ela, é claro, em princípio não me viu, preferi ficar momentaneamente observando seu curvilíneo corpo, sua tez suave, seus lindos olhos azuis e sua tenra boca de cereja...  Que cabelo angelical! Que seios lindos! Que ombros largos! Que nádegas salientes! Que pernas e braços rijos! Ela parecia ser auspiciosa, mas, eu teria que comprovar, por isso me solidifiquei a seu lado; ela não me notou de imediato, estava absorta em pensamentos, então  a toquei levemente e a cumprimentei, ela olhou para mim, sorriu, retribuiu com um aceno e disse:
 – Eu não tinha notado antes sua presença, me desculpe, disse, faz muito tempo que você está a meu lado? (Disse levemente ruborizada com a presença repentina daquela jovem, a quem silenciosamente fitou com apreço, pois, a considerou bela e graciosa).
– Sim e não.
 Ela achou engraçada a resposta, mas, mudando de assunto perguntou:
– De onde você é?
– Sou de algum lugar do mundo.
– Essa resposta não é válida, é muito vaga (retrucou sorrindo).
Lendo sua mente fiquei sabendo de seu verdadeiro nome e também do pseudônimo com que gostava de ser chamada, e, respondi:
– Eu sei, fiquemos assim, sou de uma terra distante, chamada Sayzara.
          – Você não vai acreditar! Disse ela – esse também é meu nome! Que coincidência, não é mesmo? Me chamo Sayzara Zaydan, e, a propósito, nunca ouvi falar do lugar de onde você veio, até onde eu saiba é um nome judeu, um pouco incomum, é verdade, mas, que  eu me lembre não é o  nome de algum lugar conhecido.
  –- Bem... Esse nome é de um pequeno lugarejo no coração da África, é por isso.
  –- Este mundo é realmente grande; diga-me, qual é seu nome?
  –- Me chamo Bárbara Ventura.
  –- Não me parece ser um nome africano...
  –- Eu sei, é que meu pais gostavam de literatura brasileira...
   – Mais uma coincidência! Sou brasileira! E como seus pais também gosto muito de literatura, até estou escrevendo um romance, na qual a personagem principal se chama Sofia santelly, e vou confessar para você, acho muito interessante que seja assim: as pessoas que me conhecem ora me chamam de Say, ora de Sofia, estimulo-as a fazer isso, me agrada muito essa aparente confusão... E, por falar em confusão creio que na literatura do Brasil, não aja, pelo menos não oficialmente, uma personagem com o seu nome...
- Você está me apertando sem me abraçar...
- Não quero constrangê-la, mudemos de assunto...
- Tudo bem, antes que comecemos espere um pouco, vou buscar um refresco para nós duas, está bem?
- Vai ser ótimo, te espero aqui mesmo.
Quase que no mesmo instante que em Bárbara se retirou o capitão Peter Bento se aproximou e disse:
- Posso falar um pouco com a solitária turista?
- Sim, claro, embora estivesse conversando ainda a pouco com uma senhorita muito simpática...
- Não notei, me pareceu que estivesse sozinha o tempo todo, devo ter me enganado; diga-me está se sentindo triste?
- Sim e não (parafraseando Bárbara), estou parcialmente triste, mas, não pretendo voltar para a França, e sim, estou feliz por estar nesse lindo navio turístico, rumo a novas experiências.
- Onde pretende estabelecer sua nova morada?
- Não sei, o tempo dirá.
A esposa do capitão, se aproximou, segurando-o pela cintura deu-lhe um rápido beijo na face e disse:
- Querido, apresente-me esta bela jovem...
- Sim, é claro, Sayzara, esta é minha mulher, Mary Celeste, de quem extraí o nome dessa excepcional ex-máquina de combate marítima.
- Muito prazer senhora, é uma honra conhecê-la.
Os três ficaram conversando trivialidades, de longe Bárbara, percebendo a situação não se aproximou, bateria em sua cabine logo mais à noite, desde que sua companheira de viagem, Simone, estivesse ausente ou dormindo...
Enquanto o MC abria caminho por entre as águas eu transitava aleatoriamente, tentando encontrar pessoas que fossem tão interessantes quanto Sofia, reconheço que sou voyeur, estou sempre a espreitar pensamentos e gestos (serei uma prostituta mental? Talvez, mas, não me importo). Fiquei observando por alguns minutos arrogância naval mal disfarçada de Mary, ditando ordens para seus marujos - eles viviam desconfortáveis dilemas: Peter Bento dava suas ordens, e ela as modificava, quando questionada dizia que era tão comandante quanto ele, e que não deveria ser desobedecida.
Um a um ela os importunou, e as reações foram as mais diversas, mas, cada um, a seu modo, lhe repelia, pois ela era mesmo insuportável – observei os seguintes comentários deles, para com ela, cito, a título de exemplo, o que Lux Sagratti lhe disse certa vez:
- Senhora Mary, curvo-me como bambu diante de vossa eminência, és poderosa como uma ventania; lembro-lhe apenas que, como a gramínea bambusácea, envergo-me sem me quebrar, isso quer dizer que estou a seu dispor até onde isso não me trouxer prejuízos, é claro, com licença, tenho muito que fazer agora.
À noite fui até o quarto de Sofia, materializei-me e bati na porta... Quem me recebeu foi a senhora Simone, perguntei:
– Sofia se encontra?
- Sim, ela está deitada...
- Sabe se está dormindo?
A própria Sofia respondeu:
- Não Bárbara, entre, por favor, sente-se na cadeira à sua direita (disse, ao mesmo tempo em que se levantava), vou até o espelho do banheiro ajeitar meu cabelo e já nos falamos.
- Sim, meu anjo, sinta-se à vontade - virando-se para Simone pediu que as deixasse a sós por alguns momentos, pois, precisava falar-lhe em particular.
- Tudo bem senhorita Bárbara, fique à vontade, vou até o salão de jogos para me divertir um pouco, até mais tarde (dizendo isso, pegou sua bolsa e saiu – Bárbara não respondeu ao gesto de despedida, só fez um aceno com uma das mãos, dando ao mesmo tempo um leve sorriso por ter conseguido se livrar da incômoda companheira de quarto de sua pretendente).
Quando Sofia voltou perguntou onde estava a senhora Simone, eu lhe disse que havia ido ao salão de jogos para se divertir... Pedi que se sentasse na outra cadeira, que eu havia colocado mais perto de mim. Assim que se acomodou lhe perguntei se alguma vez já sentiu, por dentro, algo semelhante a um incêndio, e ela respondeu:
- Sim, quer dizer, acho que sim, talvez. Por quê?
Eu, sem dizer mais nada segurei seu rosto suavemente com as duas mãos e apliquei-lhe um ardente beijo de língua. A volúpia de meu gesto não foi rechaçada por ela, não houve nenhum tipo de resistência, tanto que, de olhos fechados colocou, m princípio, suas mãos em meus seios, e a seguir abraçou-me fortemente.
Só que, cinqüenta e sete segundos depois, perdeu o equilíbrio e  quase caiu no chão, desfalecida, a amparei, mas, ela estava inconsciente e eu chamei por ela energicamente:
- Sofia! Sofia! O que houve? Responda meu anjo! Por favor!
Um chamado voltou a ser repetido:
- Acorde! Acorde meu amor! O que houve com você?

III
Lentamente Sofia recobrou a consciência, e viu que estava nos braços de seu marido, Samael Blackburn, o justiceiro mascarado a quem todos chamam de Dr. Minas... Ele voltou a dizer:
- Miss Artifício, o que houve?
- Dr. Minas... Eu, bem... Eu acho que perdi os sentidos por alguns momentos.
Ela, olhando à sua volta percebeu que estavam nos destroços do centro administrativo do governo do Estado de Minas Gerais, no bairro Serra Verde, em meio a muita fumaça, pedaços de concreto e de ferro retorcido.
O maior super-herói brasileiro propôz então:
- Acho que devíamos voltar para o nosso Quartel-General, a Torre de Vigia... Sideral está lá, monitorando todo o caos decorrente desse famigerado atentado terrorista (ainda bem que, pelo menos ele, permaneceu em nosso agora fragmentado grupo... Nós somos tudo o que restou dos Vigilantes da Pátria, não é mesmo? Os demais miseráveis, O Sentinela, Cheque-Mate, Princesa Oiapoque e o Homem Primordial se debandaram para o “lado negro da força”, liderados por Lótus Branca e seus vermes)...
Nosso herói estelar deve ter informações importantes para nos dar. Vou pedir mentalmente que ela use seus poderes espaço-temporais e nos tire daqui. Voltaremos aqui mais tarde, quando você estiver restabelecida.
Em sete segundos eles já estavam em seu QG...
Assim que abriu os olhos Sofia continuou a descascar as batatas que estava preparando para a janta, e, ao observar mais detidamente a mesa da cozinha percebeu que sobre ela havia um pequeno barquinho à vela a enfeitar-lhe, muitas cebolas, alguns peixes frescos recém comprados na peixaria próxima, um queijo Minas da melhor qualidade e cinco ou sete garrafas de cachaça que ela trouxe de uma recente viagem feita à cidade de Ouro Preto, todas vazias.Teve a impressão que estava completamente bêbada depois que viu suas mãos sujas de sangue (andou errando os cortes "batatínicos"), percebendo que ia vomitar tentou sair correndo rumo ao banheiro, mas, deu de cara com a porta, caiu no chão como um melão podre, com a cara colada em um panfleto com a foto do candidato ao senado nas eleições 2010, Aécio Neves, na seqüência desmaiou; acordaria só cinco ou sete horas depois (provavelmente não se lembrando de mais nada pelo qual havia ter imaginado passar enquanto enchia a fuça ao tentar preparar um almoço para saciar sua fome de "galinha esquizóide", misturada com "ondas marinhescas" alcoólicas e  "viagens espaço-temporais "super-heroísticas".

C 109 – COMO VASENILDA AJUDOU SOFIA A SE LIVRAR DE VALCELINA DAS FRÔ?

            Água e óleo não se misturam diz a química e o ditado popular, pois é, pressentindo que eu estava por começar uma amizade colorida e até certo ponto profunda e íntima com uma tal de Valcelina das Frô, Vasenilda, uma chegada minha, me contou um causo, uma prosa que teve com essa fulaninha. O que ouvi me tirou de uma roubada, depois do alerta debandei geral, e nem terminei o que nem comecei com a destrambelhada. Foi assim que eu, a super Sofia, saí por cima da carne seca. A coisa se deu assim:
— Sofia, há dentro de uma ex-colega minha uma peste, uma praga, um jeito tosco de ser e viver que me dá nojo, ela devia se chamar Severina! Um morenaço paradoxal, linda por fora e torta por dentro. Ela tem um jeito espanta homi, é do tipo vaselina vencida, pois, curiosamente não deixa o trem duro nem entrar nem sair de dentro de si. A expurguei, e espremi, exorcizei a mardita das prefundas de minha alma. Afinal, o que ela fez contra meu jeito Cráudia de ser? Desejo a mesma debandada pro cê minha prenda; explico-me...
            Pra começar... Depois que tive uma conversa com essa tal Valcelina das Frô, a última (em 19 de dezembro de 2010, um domingo cinza e roxo, em que meu coração estava excessivamente desajustado e com raiva), a coisa desandou de vez, passei a não suportá-la mais e nem ela a mim. Ela queria desabafar comigo, estava tendo alguns dilemas sexuais (ate ai tudo bem, sou foda mesmo), mas depois que vi a profundidade de seu dilema amarguei um gosto de capim carniça na guela, e agora toda vez que a vejo, saio de fininho, quero nem ver mais!
Na época dessa conversa imbecil ela, que é evangélica, estava pelas tampas! Com as calçinha em chamas! Ela até pode ser uma filha de Deus, mas ora é crente, ora é quente como o fogo do inferno, ora é doida de pedra e sermão (não sabe ainda o que quer da vida, é indecisa por demais, ignorante, medrosa e preconceituosa – chega! Já perdi muito tempo com essa pirua. Depois de nossa desavença ela nunca mais me procurou, nem via carta, que alivio!
O qui é qui tava pegando? Tudo isso dependia de como ela recebia certas cantadas que levava no lombo vez ou outra, pessoalmente, via celular ou por meio de suas redes sociais internéticas (e prá quem sobrou? Prá mim!). Sai fora miséria! Essa mulher só pode ser bipolar! A miserenta às vezes ataca de Maria pureza, às vezes de Vampirella, mas acabou mesmo foi clamando pela minha ajuda, vai entender... Inexplicavelmente confiava em mim, dizia que de certa forma éramos parecidas, guardadas as devidas proporções. Sei não, posso dizer que, no máximo existem algumas coincidências entre nós, sou única e excrusiva, como você Sofia.
            Na tal dessa prosa ela me confessou que estava vivendo alguns dilemas sexuais, e inocentemente me pediu prá lhe ajudar a vencer certas barreiras sem ter que cair numa surubenta tentação físico-mental, profunda, trairenta e triplamente qualificada: com seu marido, com seu pastor e com seu chefe maior, Jesus (ou J.C. como ela gostava de chamá-lo). Ela ia se arrepender de ouvir o que ouviria, mas eu tinha que honrar minha fama de lady putz.
            Disse-lhe muitas coisas, inclusive o que faço para que minhas vitimas "pacsem" as mão ni minhas intimidades, como fazer os gostoso dar uns mega esfrega neu, que sou a maior pedaçuda  da região, depois de você, é claro, né senhorita Santelly?
Antes de qualquer coisa nunca saio pro batente sem antes tomar uns tarja preta com umas caneca de cagibrina com pimenta, cebola e alho (que é prá turbinar a paranóica genital, a bichinha chega ao ponto de ficar num entorta ferro da peste!). Sem demora, sem muito disse - me - disse e lero-lero já chego pros sujeito e pergunto se eles vai querer ou vai correr (a maioria fica, pois, já vou logo engatando uma ré no dito cujo, que é pra nem dar tempo dos cabra fugir), dou um banho de língua geral (de cabeça a cabeça, se é que me faço entender...).
Ela me disse que isso não tinha como se realizar, era sacanagem por dimais!
Na verdade ela falou que tava mesmo só namorando por telefone com um cara, que lhe disse que era casado com uma muié di quem ele num gostava mais, e por isso estava exageradamente carente, percisando di um novo love - esse contato aconteceu depois que ele lhe ofereceu por telefone um kit prá limpar cozinha, privada e esgoto (que ele chamou de santíssima trindade da purificação, sem ter que gastar muito com água e sabão) – sua doce, filosófica e imponente voz de operador de tele marketing a fez sentir uns calores na partes altas e baixas, e ela, a partir desse dia, disse que começou a namorá-lo; ele retornou a ligação por meses seguidos, e ela não conseguia dizer não pra esse rala e rola on-line, achou aquela situação nova, ótima e inexplicável, mas não sentia que isso era algo assim  do tipo meio que love-love, nem mesmo love-flesh (acho mesmo que ela é uma imbecil que nunca brincou de médico ou de casinha quando era menina, que nem nóis). O cara disse pra Das Frô que sentia um fogo intenso na arma, digo, na alma quando falava com ela, que tinha muita vontade de sair por ai a seu lado, beijá-la muito, ir ao cinema ou a um barzinho qualquer. Mas ela me disse que ele mostrou seu lado safado rapidinho, começou a falar que queria ir a um motel! E ela disse "como assim, se não fumo e nem bebo?" A idiota falou que iria terminar tudo se ele não parasse com aquelas putarias!
Pra terminar ela então me perguntou o que é que eu achava que estava acontecendo com ela, pois, achava-se alguém tão certinha, tão boa mãe de seus sete filhos, tão religiosamente protestante e tão estudiosa (até fez uma prova prum concurso federal que boiou este ano... Certamente seu sucesso não se dará quando o resultado sair, em função de suas piruás limitações neurônicas).
Fui curta e grossa, lhe disse que o cara tava a fim mesmo era de lhe comer, mas que ela tava com medo de dar, e eu lhe dei uma de suas pérolas filosóficas, Sofia: “perereca quente que não entra na lagoa não se refresca, nem sobe em pau liso”. O sinal VIVO do cara era muito OI, mas nem assim a coisa tava do tipo TIM, não tava tão CLARO assim – tava tudo muito escuro e besta por dimais! Uma perda de tempo sem quê nem prá quê! Como diz o jargão popular de uma propaganda: “troca o chip”!
            Disse-lhe que ela tava usando lustra-móveis estragado no pau de sua cruz, e lhe propus que fosse num centro de macumba prá resolver esse estrupício, pois, esse encosto nem o pastor da sua igreja tirava!  Ela, furiosa, meteu a mão na minha fuça e se mandou toda indignada. Fui tentar ajudar e tomei na bufa...
            Tudo o que te relatei é pro seu bem meu quindim... Sofia, sai fora dessa carniça, bosta quanto mais fede mais mexe (ou é o contrário?). É isso aí, vou nessa, a gente se vê por aí pra tomar uns engasga gato juntas, sem a Valcelina por perto, é ou não é?
            — Concordo com cê Vasenilda, vai no ferro, digo vai na fé brother, no mais até breve...

             C  110 – PROBLEMAS COM IMPOTÊNCIA SEXUAL?

            ACESSE O DISK DESGRAÇA JÁ!

            Meu nome é Sofia Santelly, sou especialista em dar conselhos que podem mudar a vida das pessoas, pra pior ou pra melhor, depende de como cada um vai encarar a coisa, o mais importante é que não vou ficar calada, vou meter o dedo na ferida, cutucar o estrume, chutar o pau da barraca, descabelar o palhaço; o mundo anda precisando de uma porta-voz a altura, pra dizer na chincha o que quase ninguém tem coragem de dizer. Vai que dá certo? Então tá... Aqui é o canal dos fracos e dos oprimidos, se com isso eu puder dar um pouco de luz ao mundo, melhor, mas, se houver quem veja isso como um campo minado, uma sucursal do inferno, que seja, vou dizer o que tiver que dizer assim mesmo...
            Pra início de conversa... O nome disk-desgraça é só um chamariz, não vou atender ninguém por telefone, isso é só um meio para escrever que encontrei prá chamar a atenção dos desprevenidos que não me conhecem... Marketing, estratégia, embuste levemente hipócrita, sou boa nisso, entendeu? Chega de papo furado, vamos ao que interessa:
            Impotência sexual é uma desgraça que não é tão cabeluda assim, se seu "relógio só marca seis e meia" há muitos meios de fazer com que ele marque "meio dia", uma das possibilidades é colocar uma tala rente ao dito cujo e amarrar o quase falecido com um barbante depois de dar uma esticada manual nele, vai que "ele" gosta e se acostuma? Jamais o espanque, a culpa não é dele...
A impotência quase sempre tem cura, entre outras coisas você tem à sua disposição vários expedientes que vão desde o  leve estapeamento terapêutico do infeliz (tente o famoso "cinco contra um", preferencialmente com gel) até injeções e próteses super modernas. Não tenha medo da impotência, mas cuidado o medo de falhar desperta e aumenta a tragédia!
Não gosto do nome que dão prá esse problema, disfunção erétil, é feio prá cacete! Acho que traumatiza os que sofrem desse sobe que não sobe... A penetração vaginal fica estronchada e o sujeito não chega às vias de fato, é uma merda! (Ou seja, que falta de foda viu!) isso impede a satisfação sexual e o Titanic afunda... Você pode procurar um médico, mas há quem procure um pai de santo, outros buscam solução no Viagra, em casos mais drásticos há quem afunde a cara na cachaça, e a única loira que o caboclo pega é a cerveja... Se com tudo isso o molenga não levantar viva das lembranças dos tempos de outrora, vai que ajuda! De consolo também se vive (no bom sentido, mas, se você começar a buscar objetos de borracha ou silicone prá amenizar suas angústias o problema é seu)...
Não se desespere, impotência sexual tem cura! Se estiver tendo ereções enquanto dorme isso pode ser um bom sinal, depende de quem estiver na sua frente ou atrás de vossa pessoa (isso não é problema meu, ok? Engatar um ré ou acelerar compete a cada um, que deve ser feliz do jeito que quiser, bem sei dos que buscam em bonecas infláveis um alívio prás suas tempestades... Só tome cuidado com certas bombinhas que prometem fazer o bicho crescer ou com certos anéis penianos, há muita falcatrua por aí, o danado pode cair viu? Todo cuidado é pouco... Se  suas raras ereções espontâneas  não forem satisfatórias, isto denota que seu sangue anda ralo demais, tome uns energétitos (ovo cru, amendoin, etc), vai que tudo não passa de um engano e você tá só com anemia? Se não for isso não descarte a possibilidade de estar querendo mudar de preferência  genital inconscientemente (isso não vale prá todos certamente). Todo distúrbio tem uma causa e como não te conheço não sei qual é... Vá procurar ajuda com um psicólogo, ou um urologista falô? Prá finalizar... Por acaso seu canal peniano pode estar apenas entupido, quem sabe um encanador não resolva essa disgreta? Eita ferro!!!
Só não deixe de sonhar, quando os mesmos são apimentados podem trazer algum alívio prá sua serenata erótica (uns sonham com piranhas outros sonhas com trutas, cada um escolhe o peixe que quiser), antes de dormir ponha na vitrola o rei do bolero, Altemar Dutra... Ficar em "ponto de bala" não é tarefa das mais simples pra quem passa por essa situação, se esse finado cantor te fizer mais mal do que bem quebre o cd do camarada só não tente se matar, amanhã há de ser um novo dia... Tenha fé em seu mastro antes que ele apodreça de vez! Beijos em seu pau Brasil...

C 111 - TESTEMUNHOS DE UMA EX-PECADORA (O REENCONTRO DE SOFIA COM JESUS, SEU GRANDE AMOR)
Estava em stand-by, parada no tempo como aquelas luzes dos aparelhos eletro-eletrônicos, esperando que alguém me desse um clique, estava inativa, na esbórnia, na sacanagem, na putaria, mas não estava morta, ainda que moribunda. Sentia em meu íntimo, em meu útero espiritual, que precisava sair da vida desgraçada que levava, foi então que me lembrei de duas coisas, primeiro:
Vivi quatro fases altamente religiosas, produtivas e férteis, ainda que curtas. Eu havia conhecido o maior amor da minha vida e o abandonei, e hoje, dia 16 de fevereiro de 2011 eu finalmente voltei a olhar para as coisas do Senhor, não vou negar, tive uma “mãe espiritual”, irmã Celinálvia (mas, isso eu conto em um momento oportuno, tenho muita lenha santa pra queimar).
Segundo:
Antes de qualquer coisa, preciso, forçosamente, para expiar minhas culpas, relatar outra vez como tudo começou se desenvolveu e definhou; seguem abaixo algumas infelicidades desse período obscuro.
Portanto, antes de partir para os relatos de meus atuais testemunhos de redenção e vida religiosa plena, espero que o que aqui está escrito sirva de inspiração para que os que são ateus, atoas e falsos crentes (que acendem uma vela para Deus e outra para o Diabo), que tais se voltem para Jesus, o único caminho, a verdade e a vida. Boa leitura irmãos e pretendentes às glórias celestiais. Amém.
Primeiro alguns flash-backs, depois minhas novas aventuras e desventuras nesse tortuoso, mas gratificante caminho para as luzes eternas...

 C 42 – VOCÊ JÁ SONHOU COM O ARMAGGEDON?
Fiquei assombrada com um pesadelo que tive certa noite, que misturou cenas do Armaggedon (aquele troço ligado ao Apocalipse, final dos tempos, essas coisas). Sonhei com um lugar cheio de cobras e bodes multicores, ao mesmo tempo... Dava a luz a um menino (a quem chamei de Pornélio) e me casava com um nordestino porreta, chamado Maurélio Fudênzio, dentro de um cemitério! Misericréu! Tá Amarrado!
Durante a sessão uma estranha luz invadiu o lugar e, de uma só vez, peguei bicho de pé, sarna, mau hálito e frieira, no sovaco e na cabeça, além de ter ficado com piolhos aos quilos até dentro da calcinha!
Desesperada comecei a me coçar com caco de vidro, levei o pé a boca e comecei a morder uma bolinha gorda que no dedão surgiu, fiquei tonta por um momento, o chulé tava de matar!
Disse para o Senhor, aos berros:
— Obrigado por essa provação, eu tava precisando de uma lição, mas, da licença que eu vou ficar pelada, pois, estou ardendo em brasa, da cabeça ao fiofó!
Mal tirei a roupa e me deparei com algo estranho, dois auxiliares do pastor também estavam desesperados, batendo os queixos, de tanto frio (a tal luz também lhes iluminou)...
Começamos a nos ajudar, uns coçavam, outros aqueciam.
Pra piorar, quem chegou a seguir?
O pastor, que entrou derrapando na história, também pelado, a gritar:
— Me chupem, me lambam, me cuspam, me alisem, que eu também tô pegando fogo, irmãos, valei-me, uma luz quentinha me pegou bem no meio das pernas!
Engalfinhamos-nos no chão, nos ajudando mutuamente, que muvuca doida!
Não teve jeito, era para ser um ato de solidariedade pura...
Terminou em pura sacanagem!
O nosso tesão foi crescendo, crescendo e nos absorvendo, e nós nos vimos assim, completamente profanos, numa suruba dos infernos!
O fato é que gozamos (como os anjos, se é que eles gozam, ou como os quatro cavaleiros do apocalipse).
A seguir saímos correndo, meio que envergonhados, mas, felizes, só que sem entender que putaria foi aquela dentro daquele recinto eclesiástico.
Melhor esquecer tudo, não é mesmo? Esquecer? De que jeito?Tô assombrada até hoje... Tô encantada, ou melhor, destrambelhada... Mas, vou guardar isso na memória pra sempre!

C 75 – SOFIA JÁ FOI UMA EX-PECADORA? (FASE 1)
Foi assim que a (curta) vida católico - evangélica de Sofia começou...
Noite do sétimo dia, do sétimo mês de 2007...
 Sofia, vinda, não se sabe de onde, descia a Avenida Olegário Maciel, em BH... Cheirava a bebida e perfume barato... E, quando se abaixou para apanhar uma bituca de cigarro, em frente ao templo da Igreja Universal, tropeçou e caiu de quatro.
No que ia soltar uma rajada de palavrões, ouviu uma voz, que veio de uma jumenta, saída, não se sabe de onde também, que lhe disse:
— Porque me maltratas? Pegue a sua Cruz, siga-me! Entre aqui comigo, agora, se não vai tomar coices até ficar abestada!
E Sofia disse:
— Fazer o quê?
Vamos nessa, que o trem vai ficar bão a bessa!
Agora sou uma fervorosa defensora das coisas celestiais, comigo o buraco é mais embaixo, digo, é mais em cima, meu negócio é com Deus, para o inferno com o capeta! Sai pra lá desgraçado! Sou rápida no gatilho, minha conversão foi instantânea, mas, poderosa!
Sigo os caminhos de Jesus, mas, sou fã de um atalho, e, quando me dou conta já me lasquei.
Prefiro pecar pelo excesso, não aceito que façam coisas que vão ofender aos céus perto de mim, custe o que custar, afinal sou uma guerrilheira do Senhor, uma ex-condenada, que tinha mil vícios esquizóides, mas, mudei, e agora faço parte do lado branco da força! Lux triumphanx!
Quero ser sábia e santa como o meu nome, só uma coisa me impede fazer mais, minha imperfeição, essa safada, que tanto tenta tirar o brilho da minha cruzada, mas, tá amarrado!
Com o Senhor vencerei, quando me sentir fraca é que serei forte! Tenho muitos espinhos na carne, mas, não vou desanimar!
A lei e a ordem divina hão de prevalecer, nem que eu tenha que dar qualquer tipo de show, pela fé hei de combater a galera do chifre e da foice! O sangue de Jesus tem poder, e não vou desistir de minha missão de resgatar almas, nem que seja na marra ou na marreta!
Essa batalha vai ser infernal, digo, celestial, contra quem ficar no meu caminho – tô andando armada não é à toa, tô de armadura pela causa... Minha espada é o evangelho, e o penduricalho é o fogo da vitória divina! Tremam infiéis!

C 76 – SOFIA JÁ FOI UMA EX-PECADORA? (FASE 2)
Sou muito talentosa, não preciso ser modesta, afinal, a força está comigo, como já disse, a força do Senhor.
Isso causa a fúria e a inveja das hordas do mal. Que venham então!
Estarei com o porrete da fé e o escudo da salvação diante dos cavaleiros da capa preta e as caveiras de fogo, em meio às trevas ou na esquina da favela, com o evangelho debaixo do sovaco, digo, aberto, com a garganta arreganhada expulsarei, demônios, corcundas, lobos e dragões obscuros.
Dia desses tava a caminho da igreja, e dei de cara com um padre, ele me convidou para ir à missa, e ficou elogiando meus dotes (não, tava olhando muito para minhas coisas íntimas não, tava falando de meus dons religiosos, etc e tal).
Eis que chegou um pastor, e foi só ver o dito cujo começou a dar chiliques, dizendo:
            — Dando testemunho a essa alma perdida Sofia?
O padre nem bem deixou o pastor falar, e já emendou uma gravata no cidadão, enquanto dizia que ovelha desgarrada era ele.
Foram só batina e gravata que voaram.
 O pastor, em retribuição deu um pescoção no seu oponente...
Engalfinharam-se no chão por cinqüenta e sete minutos!
Deixei o pau quebrar e saí em disparada rumo a um boteco...
E fiquei lá até aquela crise passar. Fui uma covarde, mas, depois pedi perdão a Deus.
Pior mesmo foi ter me adentrado em um antro de cachaça que outrora tanto amei, minha boca inté salivou, mas, eu, com muito custo resisti.
Aleluia Senhor da Glória! Sem vossa proteção o que seria de mim?
Sou apenas uma alma depenada, mas, do teu lado, sob a sua proteção as minhas penas chegam até a brilhar!

C 77 – SOFIA JÁ FOI UMA EX-PECADORA? (FASE 3)
Sabe a tal briga de que falei daqueles ministros religiosos? Pois é, ela teve um final surpreendente, pena que não fiquei lá para ver mais esse milagre celestial, fui saber só depois.
Estavam eles a se digladiar no chão, cada um com a mão nas coisas do outro, falando mil bobagens, um em cima, o outro embaixo, num rala e rola nada cristão, numa capoeira de boxe no estilo Saikieudô.
O pastor, desgovernado, começou a falar mal da mãe do padre, que não gostou:
 — Da minha mãe, a doce Cleonésia Gioconda das Dores Barra Funda ninguém fala mal não heim?
O pastor, petrificado, parou por um instante, e pediu com os olhos cheios de água, que ele repetisse o nome da dita cuja.
O milagre estava consumado!Ambos eram irmãos, e não se viam a mais de trinta anos!
A vida se encarregou de separá-los no passado, mas, os uniu naquele momento de tensão, de forma espetacular!
Ambos eram cearenses, advindos do vilarejo de Coquinhos Morenos, e foram embora dali, ainda jovenzinhos, para tentar vencer na vida, cada qual em seu ritmo.
Chegaram a conclusão, inclusive, que eram gêmeos, só não descobriram antes porque, à sua maneira, cada um era mais feio que o outro!
Dias depois fundaram uma nova igreja, e seguiram felizes a louvar a Deus.
O meu Senhor é fantástico! Gloria, Glória, Aleluia! Adonai, xarope anay!

C 78 – SOFIA JÁ FOI UMA EX-PECADORA? (FASE 4)
Sangue, suor e lágrimas são o que se espera de um pregador no altar, mas, tem uns que parecem estar com anemia, assim não dá! Uma pregação é como um show de rock tem que ter adrenalina! Cadê o carisma, a explosão, a garra, o feeling?
Há dias que até penso em levar travesseiro e coberta, mas, desisto e ponho os pés pra traz (oro de joelhos), com a cara no pó, pelos fracos.
PQP! Que mocoronguisse! (Quando uso a sigla acima não a associo ao palavrão correspondente para mim significa Perdão, querido Pai, e quando digo FDP Quero dizer Filha do Pai, ok, maldosos infiéis!).
Dia desses, assistindo a um programa de TV, vi um pastor, que mais parecia um astro de cinema, coisa fina, bem ao estilo do padre Marceleza, aquele, da outra galera. O fato é que me apaixonei pela sua mensagem (e por ele!), que sacrilégio, suada, estava disposta a conhecer aquele homem, digo, aquele servo de Deus, de qualquer jeito!
E foi o que fiz... Só que me arrependi profundamente! De perto o cara era um bagaço, e mais, a TV, só o filmava da cintura para cima porque o cara era um tampinha, ao estilo Nelson Mad! Que desilusão! Por causa disso a minha fé esfriou, e não sei quando voltarei para a igreja, seja do tipo católica ou protestante – fraquejei, eu sei, mas, eu sou humana!
Sou assim mesmo, volúvel se assim não fosse não seria quem sou!
Até mais...

C 112 – VOCÊ GOSTA DE GALINHA CAIPIRA?
(União entre os contos 02 e 03)

I
Sou mesmo uma boba... Às vezes tenho vontade de pensar errado, de falar errado, de agir como se eu fosse um bicho da roça, esquecer meu lado society, que sou quase formada (tenho uma honra sétima série do ensino fundamental.)...
Sou cheia de cultura, o esperma da sabedoria está dentro de mim, não estou para cochinha ou quibe, estou mais para scargot e caviar...
Comigo ninguém pode...
Decidi usar minha imaginação e vivenciar as coisas do campo, deu até vontade de comer capim comum e dar um beijo na boca de uma égua magrela, isso me dá sempre vontade de comer peixe (quem sabe um Pintado, um Pacu ou um Pirarucu? Pode ser... Tanto faz).
Senti vontade de escrever e falar errado...
Se for assim, vamos nessa então:
Caipirage inté qui é bão... Qui tal bebê cachaça e cuspí bem grosso nu chão?Qui tar coçar a periquita cum a ponta dum facão? Fumá? Só si fô cigarru di paia, e o fumo tem qui sê ruliço e cheiroso. Êta nóis! Tô com umas coisas garradas na guela... Cumi farofa demais.
Caipira muié também mija sangue, nóis usa é umas tira de pano limpinho pra sigurá as sangria... Minhas podre ignorânça só levanta nessas ocasião... Êta ferro! Qui trem chato sô! Larga deu nojeira!Sô pobre, mas, sô limpinha, num gosto di sujera em excessu...
Sou apaixonada pur criação, meu leitão é minha paixão, só num gosto dus bichos- de- pé... Si bem qui as coceira é inté gostosa!
 Num gosto é di carrapatu, catá eles é inté fácil, difícil é istralá eles nus dente... Agora eu vô drumi, o jumento do meu vizinho tá me esperando pra modi nóis fazê uns trem gostoso...
Ensopado de piranha inclusive, dá pra nóis, dispois, inté brincá di pescá Truta e cumê umas coisa cremosa misturadas com uns trem macio e uns trens duro.Óia sê e fazê qui nem eu é uma diliça, ocês num acha?
                                                                                                      
II
Mês de junho e julho... Época de inverno, de festas, de canjica, fogueira e quentão uai!Não tem jeito não, meu lado caipira aflorou uma vez mais:
Gosto di dançá quadrilha, é danado de bão! Aprecio o frio batendo nas minhas coisa, mas, ando percisando apará os cabelo do suvaco e da perseguida... Tô com as unhas rachada...Das frieiras já cuidei, o povo fala muito... Gostu de galinhas e pacas, na panela de pressão de preferência...
Não sô muito religiosa, mas, toda vez que vou às festa junina da vila onde moro acabo sempre ficando com os bichos jovens, que ficam fantasiados de padres, uns peixim bunito, nóis brinca do tipo Namorado... É que dá vontade de vê o que é qui tem debaixo daquelas batina que eles usa.
Gostu muito de caldo, bebu vários, bem apimentados! Sou apaixonada com eles! É cada mandiocão que eu vejo... Dá umas ziguezira nas entranha!
Arremato as noitadas cum muito quentão, dá uma suadeira dentru da carcinha qui é uma diliça!
A prosa tá boa, mas, vô me retirar, já é hora de drumi... Não tenho marido, mas, tô ajeitada com um espantalho que fiz... Gostu muito de abraçá-lo, principalmente quando ele incosta aquele sabugão de milho ni mim, inté riviro os zói...
E pru falá em cumida, óia eu aí de novo me lembrando dos pe(s) cadores e de suas vara enorme e dus peixão qui eles traça, óia só a lista grandona qui fiz dos danado:
Surubim, Bicuda, Barbado, Cachorra, Pacamum, Mantrixã, Piapara, Piraputunga, Trairão, Truta arco-íris, Bijupirá, Caranha, Cavala, Pampo, Pirapema e Xaréu... Sabe qui é qui acontece cumigo? Quandu falu ou façu umas peixada cuns parcero meu, nóis brinca de apelidá uns aos outro dessa nomaiada toda... Inté batizamo umas coisas íntima qui nóis faiz com us nome dus bichu; nóis ri até inquanto faiz uns trem moiado na cama, na rede, na varanda, inté nas barraca ou nas casinha de sapé...
Inté mais vê!

C 113 – O QUE PODE AGRADAR A TODAS AS VÂNIAS E MARIAS? E QUANTO ÀS CELINAS E SOFIAS DESTE MUNDO?
Quem é Vânia Bento? Uma Brisa do mar? Uma bruma intensa? Ou um vulcão em erupção? Que sirva para todas as Marias, Celinas e Sofias deste mundo também...
Vendo tudo acontecer nestes dias,
Assim, tão lenta e sensualmente
Não poderia deixar de dizer que seu ser
Intensamente incendeia
Almas e indivíduos que te conhecem!

Benta mesmo só és no nome,
Enquanto o mundo deixa de ponderar
Não deixo de pensar em você...
Teu corpo é pura magia, lascivo, imponente,
Outra parte de ti, tua mente, é um delicioso manjar.

Mais do que falar delas quero mesmo é vê-las face-a-face, só que o ritmo de vida que tais mulheres possuem é tão intenso que isso acaba inviabilizando encontros futuros; ou não? Vou esperar pra ver vocês mais de perto, pacientemente, só assim nos falaremos sem restrições (já percebí que quando falo com essas musas on-line é como se estivéssemos correndo na fórmula um)... Isso é desgastante e ao mesmo tempo instigante, mas merecemos muito mais do que o corre-corre doido dessa vida, não é mesmo?
Um alerta, o que digo só vale pra elas porque são deliciosamente liberais, cada uma a seu próprio modo. Que possamos saborear as presenças uns do outros com calma, respeito e disponibilidade de tempo, caso contrário vamos ficar nos falando apenas fria e tecnicamente pela Internet (acho isso muito pouco, gostamos de fartura não é mesmo?). Não apreciamos migalhas... Vocês são muito importantes pra que eu possa ter a companhia de seus corpos e mentes aos pedaços...
Vocês me fazem falta, eu faço falta pra vocês? Não sei ao certo, vocês são muito enigmáticas... Mas isso faz parte da natureza das mulheres – dá pra entender um pouco... Não quero vocês fora de minha vida (que pena, nem mesmo entraram ainda)... Mas eu sou um sonhador, de ilusão também se vive...
Experiências assim precisam ser partilhadas pra que todos possam ver e saber quem é quem neste jogo (que é hora racional, ora passional), o que fazemos e porque fazemos as coisas que fazemos e sentimos. Espero que o que eu disse possa agradar a todas as “Vânias Bento”, “Marias”, “Celinas” e “Sofias” deste mundo...
Se não foi desta vez outras oportunidades virão, sou persistente...

C 114 -  PORQUE A SESSÃO DE FOTOS ABSURDAS DE SOFIA DEU TANTO O QUE FALAR NA INTERNET?

... “Não sei, só sei que foi assim”... (Parafraseando Chicó, a personagem do maior ator do inigualável filme brasileiro “O Auto da Compadecida”, Selton Mello, este o maior ator tupiniquim da atualidade)... Bem, em uma noite excitante de sonhos férteis e imaginações orgásticas, Sofia  acabou tendo no dia seguinte uma idéia absurda, bem ao estilo do fantástico filme “Sucker Punch”, e acabou ligando para um grande fotógrafo amigo dela, uma mente profunda e ao mesmo tempo dócil e humana diante desse mundo raso, chamado carinhosamente por ela de “Irmão Urso”, não por acaso...
Sessão de fotos marcada e eis que ela chega ao estúdio dele com um saco de linhagem encardido, cheio de roupas e apetrechos diversos, naturalmente inusitados. O homem do “Click” lhe disse que faria seu melhor, mas deixou claro que não faria milagres; algo com o estilo da magnífica filósofa Viviane Mosé seria impossível, embora talvez pudesse extrair de Sofia algumas nuances gregas do “eros grego clássico”.
As fotos foram registradas, num misto trágico-cômico, próprio do modus operandi do jeito único Sofia Santelly de ser, esta agora numa pretensão a aspirante a modelo, num visual ultra-mega-impactante. Por exemplo:
            FOTO Nº. 01:
Sofia estava de cabelo preso, tingido ruiva e intensamente com mechas dourado-picantes, óculos de professora na cara, blazer preto e saia  bege (num tom cor de burro fugido) curta, cheia de bolinhas roxas e rosas, com alguns exemplares da exótica, oriental e comestível flor Kalina no cabelo, nas mãos, e espalhadas pelo chão... Deitou-se em um divã, tendo colocado ao fundo um pôster da banda Rammstein de pé sobre o nome de um de seus vídeo-clipes, “Pussy”. Ao seu redor havia um série de brinquedos tais como um patinho de borracha, um porco grande, acinzentado e inflável, algumas velas de macumba, um crachá com sua foto de uma empresa não identificada, alguns diários de classe de uma escola também não identificada, além de uma Naja de verdade enrolada em seu braço direito.
FOTO Nº. 02 (com desdobramentos):
Sofia estava de cabelo solto, gostosa como sua musa inspiradora, a atriz Cláudia Raia (ou seria Cráudia Celinatte?)... Usava apenas uma micro calcinha preta com lacinhos verdes, amarelos e azuis nas laterais. Seus dedos centrais cobriam muito pouco os bicos de seus seios GG; ela estava sentada em uma cadeira vermelha, levemente arredondada. Só que, sentindo uma intensa indecisão ânus- vaginal preferiu tirar várias fotos, ora na cadeira, de lado, com as pernas cruzadas, ora de frente, com as pernas abertas.
Não satisfeita ainda retirou a cadeira do cenário e pediu pra ser fotografada em outras posições... De pé (usando um sapato de salto alaranjado, com as pernas outra vez abertas e com as mãos na cintura), de quatro (olhando sensualmente pra traz e chupando o dedo central, com a calcinha enfiada no fiofó, até o talo) e sentada no chão de pernas arreganhadas (usando uma toca alvi-negra de seu time predileto, o Clube Atlético Mineiro), tendo posto na boca uma chupeta preta, segurava numa mão um vibrador marron extra-grande e na outra um sapinho  verde de pelúcia).
Fim do causo:
Sofia foi ao banheiro, retirou toda a maquiagem glacê-puta que estava usando, trocou de roupa, guardou suas coisas no saco e pediu que o fotógrafo postasse tudo no Orkut profissional que ele usa pra divulgar seus trabalhos na internet, marcou de pagar pelos serviços prestados com seu bichinho peludo, chamou um táxi, e assim que ele chegou ela se mandou... Detalhe: Ela não percebeu, mas era inevitável que ele a fotografasse da forma que ela estava vestida antes de ir embora: usava um pijama verde com coelhinhos brancos estampados, em um pé calçava uma pantufa fofa vermelho-sangue, no outro usava uma sandália desgastada marrom, estilo Maria Bonita/Maria Betânia Blogger.
Dizem que depois de postadas as fotos bombaram na internet, muitos disseram que ela conseguiu superar até mesmo  as extravagâncias de Lady Gaga (afinal o tal fotógrafo postou tudo o que capturou de Sofia, mesmo as da tal  despedida. Sofia quando viu não se importou com toda aquela desgraceira fotográfico – experimental - esquizóide pelo qual passou naquele dia quente de abril de 2011),na verdade foi bem melhor do que imaginou.

C 115 -  ZECA PAGODINHO TEVE UM CASO VIRTUAL COM SOFIA?

Dia desses  Sofia acordou sem vontade de entender o ser humano... Não deu outra, pensou no “grande filósofo” Zeca Pagodinho na hora e em sua expressiva frase “deixa a vida me levar”. Viu-se transportada  então para dentro de sua mente e  parou lá, bem no meio da esquina... Essa frase está muito conectada com o que ela pensa da vida, do ser humano em si; tem dias que muitas pessoas sentem vontade de nada entender mesmo. É da natureza humana achar que entende as coisas, quando percebe que não consegue se cança e vive sem querer desvendar o que está além de sua compreensão...
Sofia só queria mesmo pensar em si própria como sendo um luminoso pedaço de luz, uma energética força mineira ou carioca (tanto faz)... Carente fica às vezes, mas nega até a morte tal trololó, pois, dentro dela está uma coisa que entrou sem ter pedido para entrar... Tudo e nada ela é, estranho devaneio bom, rara beleza distante, realidade virtual e misteriosa ansiedade, raiva e prazer provocam nela necessidade e contingência (puro paradoxo), pura ilusão platônica, onda do mar que afoga e satisfaz, algo bento só no nome –  intenso fogo voraz!
E o que o tal pagodeiro tem a ver com isso? Sofia não sabe direito, nem quer saber, afinal o que importa é o batuque que a falta de seu batuque dá...  E nisso o cara é bom, pois ela teve um caso virtual com ele com direito a muito samba no pé, torresmo, sinuca, cerveja e cachaça on-line... Difícil de entender, mas foi algo mais ou menos assim a  quase relação dos dois:
Mais do que falar com ele ela queria vê-lo pessoalmente, só que seu ritmo de vida é tão intenso que o dito cujo sempre acabava inviabilizando os possíveis encontros entre os dois... Sofia queria mesmo era ter o prazer de mostrar-lhe seu pandeirão cara – a – cara pacientemente, só assim sentiriam coisas sambísticas sem restrições (Sofia pensou e percebeu que só se falavam ao celular como se estivessem correndo na fórmula 1)... Isso era desgastante por demais para os dois, eles mereciam muito mais do que o corre – corre doido dessa vida desgraçada... Que ao menos pudessem saborear a presença um do outro com calma, respeito e disponibilidade de tempo, caso contrário ficariam só se falando apenas fria e tecnicamente pela Internet (ela achava acho isso muito pouco, pois, ela e ele gostam de fartura não é mesmo?). Não apreciam migalhas (ele acabou se tornando muito importante para que ela pudesse ter sua companhia aos pedaços)...

Se o ser humano é assim, então  já era hora de parar de chamar os outros de “amigo”, seria preciso inventar outro nome para tanta requebrança... Zeca parecia estar mais amargo do que imaginava, seu modo de colocar todo mundo no mesmo balaio deveria ser motivo de muita oração com apito e zabumba... Parecia que o mundo dele era cheio de gente esquisita e que só queria ferrá-lo, e os justos que o cercavam acabavam pagando pelos pecadores... Ela até pensou em voltar para a igreja por causa disso, mas desistiu na primeira hora, pensou que ser evangélica faria as pessoas serem mais amorosas consigo, embora não precisassem ser tolas... Ela se aprumou, levantou a cabeça (tem muita gente que gosta dela além do Zeca! E de graça... E quanto aos imbecis? Sofia os descartou, não ficou jogando pérolas aos porcos)...
As palavras dele parecem ter sido retiradas de livrinhos de auto-ajuda... E isso não é  mais impactante  nem positivo, só que Sofia sentia muita falta dele, que falta ela fazia para ele? Vai saber... Ficar só teclando no computador era desgastante... Ele e ela estavam já estavam entrando naquele estágio de ficar “rangendo os dentes” um para o outro faz tempo, dá para explicar porquê? Saudade enrustida ou vontade de dar pancada verbal mesmo?
Sofia  não o  queria fora de sua vida, ele era importante demais para efêmero ser feminino... Já não o chamava mais de “meu amor”, mas também não ficou lhe  chamando de “amigo”... Zeca estava para além dos rótulos... Qualquer coisa que ela dissesse seria pouco para definir o que sentia por ele... Tem mais, se às vezes sentia raiva dele, e isso até que era positivíssimo,  Sofia não sente raiva de quem odeia, gente assim ela despreza...
Só que Zeca precisava parar de ficar fugindo dela! “Ou É ou deixa de É”...
Ela então, num rompante de doideira e lucidez decidiu deletá-lo de vez de sua vida internética, mandou ele para o inferno de vez! Não só ele como também o falso deus dele. Ela odeia gente hipócrita que usa “Deus” como brinquedo, que acende uma vela para “Ele” e outra para o Diabo!
O tempo curaria suas feridas, essa história foi tão marcante para ela que, levando em consideração seu lado escritora,  decidiu  postar essa quase história de amor via  Internet...  Zequinha baby do meu coração, aprenda com a lição que tomou a respeitar mais os sentimentos dos outros e não faça a mais ninguém de palhaço, ok?

C 116  - CHORA, ME LIGA

(Música de João Bosco e Vinícius)

(FILOSOFA, ME LIGA) - Paródia nº. 01


Não era pra “ocê” se afundar
Era só KANT estudar
Eu te avisei!
ESPINOSA eu te dei
“Ocê” sabia que DAVIDSON  é  assim
PLATÃO: suas idéias sem começo nem fim
Eu te falei, do RORTY eu te falei
MARX não é tão fácil assim ou
GASSET ter nas mãos
LÓGOS “ocê” que era acostumada
A brincar com  ROUSSEAU em seu coração
Não venha me perguntar
Se JAMES é a melhor pedida
HANNA sofreu muito por amor
HEIDEGGER foi curtir a vida
Chora, me liga, implora
HOMERO de novo
Me pede  ESPINOSA
LEIBNIZ vai te salvar?
Chora, me liga, implora
PARMÊNIDES meu amor
SÓCRATES por favor
Quem sabe TALES volte a te procurar
Era  “procê” com BRUNO “xonar”
Era só HERÁCLITO ficar
Eu te avisei!
VOLTAIRE eu te dei
“Ocê” sabia que AGOSTINHO é assim
ARISTÓTELES e sua LÓGICA que não tem fim
Eu te falei do ROUSSEAU eu te falei
TOMÁS não é tão fácil assim
Ter ADORNO nas mãos
LÓGOS “ocê” que era acostumada
A brincar com SARTRE em  seu coração
Não venha PASCAL perguntar
Se STRAUSS é a melhor pedida
ODISSEU sofreu muito meu amor
EPICURO foi curtir a vida
Chora, me liga, implora
Meu NIETZSCHE de novo
Me pede ERASMO
MONTAIGNE vai te salvar?
Chora, me liga, implora
Pelo amor de ZEUS
PÉRICLES por favor
Quem sabe JASPERS volte a te procurar
Chora, me liga, implora
DESCARTES de novo
Me pede “seu” HOBBES
PITÁGORAS vai te salvar?
Chora, me liga, implora
Pelo amor de ZEUS
Pede GALILEU
Quem sabe HUME volte a te procurar
25-07-11

C117  - VOU SIM, VOU NÃO
(Música do grupo Molejo)

(VOU SIM OU NÃO?) - Paródia nº. 02



EI, TU QUER SABER?

QUERO NÃO

NÃO QUER POR QUÊ?

POR NADA NÃO

TU QUER FORMAR?

ÃH, ÃH...

NÃO QUER POR QUÊ?

VOU NÃO, QUERO NÃO, POSSO NÃO
 “MINHAS IDÉIA” DEIXA NÃO
NÃO VOU NÃO, ASSIM TÁ BÃO...

EI, SEU “CALANGO”, “VAMO ACORDÁ”?
“SIMULADÃO”!!!, PASSO AI PRA TE PEGÁ...
LIBERADÃO... VAMO ESTUDÁ!
VAI COM VONTADE QUE
ESTUDO VAI ROLAR...

VOU NÃO, QUERO NÃO. POSSO NÃO,
 “MINHAS IDÉIA” DEIXA NÃO,
NÃO VOU NÃO, ASSIM TÁ BÃO...

EI, TEM AS “MATÉRIA”...
“VAMO AVANÇÁ”...
A GENTE TEM AULA PARTICULÁ”...

AH, QUAL É, HEIM?!
QUER ME “ENDOIDAR”...
SE EU FOR MINHA IDÉIA VAI “APAGÁ”...

VOU NÃO, QUERO NÃO, POSSO NÃO,
 “MINHAS IDÉIA” DEIXA NÃO
NÃO VOU NÃO, ASSIM TÁ BÃO...

- É, PELO JEITO BARCO NOVO
QUE NUM NAVEGA, AFUNDA...

- POIS É, NEM SÔ “RETARDADO”,
SOU APENAS “MIGUÉ”, NÉ?!
FICO NA MINHA,
QUIETINHO ALI, TÁ?

PERGUNTA PRA MIM:

EI, TU “QUÉ VENCÊ”?

QUERO SIM...

“QUÉ SÊ O QUÊ?

UM “GRÃO-VIZIR”...

TU QUÉ FORMÁ?

QUERO SIM...

FORMAR PRA QUE?

AHHHH...

VOU SIM, QUERO SIM, POSSO SIM,
 “MINHAS IDÉIA” DIZ QUE SIM,
EU VOU SIM, QUERO SIM...

EI, SÔ MALANDRO, SEM PROFISSÃO,
SEM PRESSÃO, EU SÓ QUERO PASSEÁ...
SÔ “PARADÃO”...  PRÁ QUÊ PENSÁ?
VAI A VONTADE QUE TUA VIDA VAI MUDAR...

VOU SIM, QUERO SIM, POSSO SIM,
 “MINHAS IDÉIA” DIZ QUE SIM,
EU VOU SIM, QUERO SIM...

EI, TEM “MIL MATÉRIA”...
“VÔ ME ACABÁ”...
A GENTE NUM LEVA JEITO,
NUM DÁ PRA GUENTÁ”...

QUAL É? VAMO FIRMAR...
TÔ CALIBRADO E PREPARADO, “VÔ ME LANÇÁ”...

VOU SIM, QUERO SIM, POSSO SIM,
 “MINHAS IDÉIA” DIZ QUE SIM,
EU VOU SIM, QUERO SIM...
E “OCÊ?

VOU NÃO, QUERO NÃO, POSSO NÃO,
 “MINHAS IDÉIA” DEIXA NÃO,
NÃO VOU NÃO, ASSIM TÁ BÃO...

VOU SIM, QUERO SIM, POSSO SIM,
 “MINHAS IDÉIA” DIZ QUE SIM
EU VOU SIM, QUERO SIM...

 É, O TREM TÁ FEIO...
“PROCÊ” É TUDO NÃO,
TÁ COM DEFEITO?

 PRA MIM COMPLICA
TU BEM, SABE QUE EU SÔ
“MEI TAPADIM”, NÉ?!
NUM LEVO JEITO...

TSHIII HÓ HÓÓ...
SÓ QUE POR MIM ESTUDO SIM!
01/08/11



C 118 METEORO

(Música de Luan Santana)

(“METEU O DEDO” NA RAZÃO) – PARÓDIA N. 03

TE DEI O SOL

 “INTÉ” BEM MAIS,

CÊ SÓ GANHOU UM BARRIGÃO...

CÊ ERROU MEU CIDADÃO

“METEU O DEDO” NA RAZÃO

EXPLODIU O SENTIMENTO,

NINGUÉM PÔDE ACREDITAR!

AAAHH...

COMO É RUIM CÊ VACILAR...


DEPOIS QUE “OCÊ” DESISTIU

NUM FOI MAIS FELIZ...

NEM SUA CABEÇA TAMBÉM  É O QUE SE DIZ,

É UMA CAIXA DE “BEBÊ” SEM FIM,

VOSSO QUEBRA-CABEÇA É ASSIM:

SE FOR SONHO NUM SACODE,

PRECISAVA “INTÉ” FUMAR?

PARA COM ESSA MACONHA!

CONTINUA A ZOAR...


NEM GIRASSOL

NEM BEIRA-MAR VAI TE DAR A TAL RAZÃO,

MAS QUE RAIO DE MALDADE!

“METEU O DEDO” NA RAZÃO

EXPLODIU SEU SENTIMENTO,

NINGUÉM PÔDE ACREDITAR!

AAAHH...

COMO É RUIM CÊ VACILAR...


DEPOIS QUE “OCÊ” DESISTIU,

NUM FOI MAIS FELIZ...

“OCÊ” ERRA ONDE NEM SEMPRE SE QUIZ...

AQUELES “TARJA PRETA”  TAMBÉM USOU,

DESOSSOU SUA CABEÇA BEM ASSIM...


NEM SANFONA TE ACORDOU...

DESANDOU A “CHEIRAR”...

NEM CONSEGUE MAIS DANÇAR...


TE DEI UM SAL,

TE DEI MARMITA

PRA GANHAR COLORAÇÃO,

VOCÊ RASGOU A SANIDADE,

“METEU O DEDO” NA RAZÃO

EXPLOSÃO DE PALIDEZ

QUE EU NEM PUDE ACREDITAR!

AAAHH...

COMO ERA BÃO “OCÊ” PENSAR,


TÃO SEM VOZ QUANTO URUBU,

NUM SÓ VERSO VIAJOU,

VAI SEM GUIA E SEM LUZ,

QUE É ISSO? DESGARREI!


TÁ SEM O SOL

TÁ SEM AMOR PRA GANHAR MEU CORAÇÃO,

“OCÊ É  RAIO DE VAIDADE,

“METEU O DEDO” NA RAZÃO

EXPLOSÃO DE ESTUPIDEZ

QUE EU NEM PUDE ACREDITAR!

AAAHHH...

COMO É RUIM NÃO PENSAR...

06/08/2011



C 119 ENGANATION –  PARÓDIA N. 04

 (Rebolation - Música do Parangolé)


AÍ NÓIS TE ENGAMBELA, PASSANDO O FACÃO:
IGNORATION É A NOVA SENSAÇÃO!
MENINO E MENINA, SÓ FICAM POR FORA,
VAI COMEÇAR A ENGANAÇÃO...
O SUÍNO É BOM, GOSTOSO DIMAIS...
MULHERES-SERPENTE E HOMENS-VULCABRÁS...
MÃE, AI MINHA CABEÇA, VOU VOMITAR!
REBOBINATION DE BATON! TON!
BOSTA NA CABEÇA E VALSA NO ARRAIÁ...
O DETONATION, O EMBROMATION…
O REUMATATION, TCHON, MISERATION!
O ESJACULATION, TCHON, O SUTIATION…
O BESTALATION, TCHON, IMAGINATION…
SORVETE SÉMPRE É KIBON! BON!
SAFADATION É BÃO! BÃO! BÃO!
DESINFORMATION É BUNDÃO! BÃO!
SE OCÊ FIZÉ FICA PIOR...
MÃO NA CARNIÇA QUE VAI AFUNDAR...
O REUMATATION, O DESMAIATION...
O MASTURBATION TCHON, DETURPATION…

O CEBOLATION, TCHON, O LIMONATION…
O RESGATATION, TCHON, RETRUCATION…
INFLAMATION É BÃO! BÃO!
REFUSCATION É BÃO! BÃO! BÃO!
ARÔ MINHA CANELA PREGA A TENSÃO:

REBOSTATION É A NOVA SEM SAL SOM!
MEU LIMO, MELINA NÃO FISGA DE FOLGA,
QUE VAI TOMÁ UM PANCADÃO
SANDUICHE É BOM? GOSTOSO É MAIS...
MUCAMBAS DE TANGA TEM HOMI QUI ATRAI
BESTA DE MÃE NA CABEÇA SE O PAI CAFUNGAR
O PINGOLATION, TCHON, O CHINELATION...
O REBOLA-TCHAN, TCHON, RECALCITRATION…
O CABRITATION, TCHON, O MACUMBATION…
O MENSTRUATION, MISTURATION…
ENCAFIFATION É BÃO! BÃO!
INTORTATION É BÃO! BÃO!
CERVEJATION É BÃO! BÃO!
SE OCÊ FIZÉ FICA MAIOR...
BOMBA NA MÃO NA CABEÇA QUE VAI ESTORÁR
O REFORMATION, TCHON, O MAQUINATION…
OUROPRETATION, MARIANATION…

BELZONTATION, O MINERATION…

O REVOLTATION, RESGUARDATION…
VAI NO HOSPITATION, NO REMASTIGATION…
NO CAPETATION, TCHON, RELIGIATION…
O JANELATION, TCHON, O LUCASNATION…
O DETRONATION, TCHON, RESBOLATION…
SAFADATION É BÃO! BÃO!
ORGASMATION É BÃO! BÃO! BÃO!
MORTIFICATION É BÃO! BÃO!
ROBERTATION É BÃO! BÃO!
ERASMATION É BÃO! BÃO!
CALCIFICATION É BÃO! BÃO!
O ENGANATION É BÃO!